Sunday, March 26, 2006

Ouvindo estrelas...

Do confuso diário de Scott Foutley

- Apenas mais meia hora pessoal! Não posso deixá-los aqui por mais que isso, ordens da professora McGonagall!

A voz de Amos Diggory, que era monitor-chefe, ecoou na salinha da Torre de Astronomia e ele bateu a porta ao descer as escadas novamente. Estava com alguns alunos do 5º ano deitado no chão da sala tentando mapear as estrelas que a professora indicou na aula e que certamente seriam pedidas nos NOMs. Fomos implorar para que McGonagall nos liberasse a torre naquela noite para estudos e ela autorizou, mas nosso tempo já estava chegando ao fim.

Alguns alunos iam terminando suas anotações e enrolavam seus pergaminhos a caminho da porta, dando boa noite aos que ficavam. Meu mapa estrelar até que estava cheio, mas o de Louise quase não tinha estrelas marcadas. Fechei meus livros e fui ajudar Alice a encontrar as dela enquanto Megan socorria as meninas com os delas. Sarah já havia terminado e até ido embora, sem nos deixar copiar o seu. Até que eu gostava dessa aula. Nunca vi problemas em mapear as constelações e adorava passar horas procurando planetas e estrelas pelo telescópio. Há quem diga que se pode até conversar com elas...

Direis ouvir estrelas
Certo perdeste o senso
E eu vos direi, no entanto
Que, para ouvi-las muita vez desperto


Estava debruçado no parapeito terminando de colocar os nomes em cada estrela e corrigindo o mapa da Alice quando o grito da Lou me despertou. Olhei para onde elas estavam e minha amiga picava seu pergaminho em vários pedaços, dizendo que não estava conseguindo fazer as conexões certas. Yulli também já desistia exausta, riscando as partes ainda sem desenhos do seu pergaminho. Sam estava totalmente descabelada, com a cara enterrada no telescópio e tentando desesperadamente encontrar alguma constelação diferente. Alex e Megan riam, finalizando seus trabalhos e tentando evitar que elas cometessem um suicídio. Sentei-me ao lado delas e abri meu pergaminho, disposto a explicar como havia conseguido fazer o trabalho.

SF: Primeiro, se acalmem! Descontrole não vai levar a lugar algum.
SW: E como quer que eu fique calma? Só vejo a lua e o céu escuro no telescópio.
LS: E eu os planetas, mas todos já conhecidos, não servem...
SF: Vocês precisam ter paciência. Já pararam pra observar o céu sem compromisso?
YH: Não, estou zangada com ele. Ele não me deixa fazer o dever e vou levar bomba nos NOMs por causa dele!
SF: O problema ta ai, vocês deviam prestar mais atenção, tem gente que diz que as estrelas conversam com você...
SW: Ah Cott, isso não é hora pra fazer piada!
SF: Por que antes de me chamar de maluco, vocês não tentam? Larga a luneta Sam, deita no chão.

Elas me encararam como seu eu fosse biruta, mas como Yulli mesmo disse não se pode contrariá-los, então todas deitaram de costas no chão, olhando as estrelas. Não passou nem 10 segundos até elas começarem a falar.

LS: Não estou sentindo a diferença...
YH: Pra que lado nossas respostas vão aparecer escritas?
SF: Dá pra fazerem silencio? Apenas ouçam...
SW: Mas ouvir o que? – Sam falou baixo e se calou quando a olhei com uma cara feia.

E abro as janelas, pálido de espanto
Enquanto conversamos
Cintila a Via Láctea


Minhas amigas finalmente se calaram, na tentativa de ouvir alguma coisa. Na verdade, você só escuta quando acredita. Era o que minha avó dizia para mim e minha irmã quando éramos crianças. Costumávamos passar horas deitados na grama com ela olhando para o céu estrelado. Vovó dizia que quando se está apaixonado, é possível conversar e entender as estrelas. Lembro-me que por ser criança ainda, todo dia dizia que estava apaixonado por alguém diferente na tentativa de enganar as estrelas e elas falarem comigo, mas é claro que nunca funcionou. Virei-me para Megan e ela parecia estar tendo as mesmas recordações que eu, pois sorria saudosa enquanto encarava a noite de céu claro que fazia.

Como um pátio aberto
E ao vir do sol, saudoso e em pranto
Inda as procuro pelo céu deserto


Levantei devagar e olhei para minhas amigas. Elas agora estavam concentradas olhando para o céu, nem notaram que eu havia me mexido. Pela expressão no rosto delas, pareciam estar entendendo o que eu queria dizer com “conversar com as estrelas”. Era fato inegável que cada uma delas estava apaixonada por um menino diferente, embora todas negassem ate o fim. Então talvez estivessem realmente ouvindo alguma coisa...

Que conversas com elas
O que te dizem quando estão contigo


Louise foi a primeira a levantar e retornar ao telescópio, dessa vez mais calma. Yulli e Sam levantaram logo em seguida e se juntaram a ela. Aos poucos as três iam desenhando novas estrelas no mapa e ligando umas nas outras até que se formassem as constelações pedidas pela professora. Não sei se elas estavam conseguindo fazer do jeito certo, mas sem duvida estavam bem mais relaxadas e anotavam as marcações no pergaminho como se tivessem passado a compreendê-las um pouco melhor...

Ah... Amai para entendê-las
Ah... Pois só quem ama pode ouvir estrelas


********************************************************
N.A.: Ouvir Estrelas – Kid Abelha