Sunday, April 16, 2006
Constelações Marotas...
Do diário de Yulli Hakuna YH: Sarah, qual o nome daquelas estrelas que parecem estrelas duplas reais, mas que não são?
SB: Estrelas Binárias?
YH: Isso! Obrigada!
Estávamos subindo as escadas para a torre de Astronomia, onde faríamos nossos últimos simulados. Todos desesperados com anotações nas mãos e mapas revirados...
Quando chegamos na torre, professora Andrômeda pediu que montássemos nossos telescópios um pouco mais afastados uns dos outros e que nos organizássemos para começarmos a prova. Quando todos estavam a postos e os telescópios devidamente voltados para o céu negro, uma grande folha de pergaminho em branco voou para a mesa de cada um.
AS: Quero o desenho da constelação de Gêmeos, mostrando o sistema binário Castor. E do outro lado do pergaminho, o sistema binário enfatizando as duas principais estrelas binárias espaciais... Vocês terão exatamente três horas para fazer isso, tempo de sobra! Boa prova!
Olhei chocada ao meu redor. Louise tinha as duas mãos na cabeça como se quisesse arrancar o coro cabeludo. Mark estava largado no chão com uma cara desesperada. Alex me olhava com uma interrogação no rosto, e Sarah, Sam e Scott tinham os olhos grudados nos telescópios... Eu? Eu não tinha nem noção do que era sistema binário Castor e muito menos o outro com as duas principais estrelas binárias... Aliás, só fiquei sabendo a definição das ditas cujas quando estávamos subindo!
Tentei me acalmar e olhei ao telescópio. Por sorte, nesse exato momento, uma estrela cadente passou rápida, e eu não tardei em fazer meu pedido desesperado: Abra as cortinas do céu e me mostre esses sistemas!!! É claro que estrelas cadentes não fazem nenhum tipo de milagre e resgate de alunos desesperados, mas notei que algumas outras estrelas começavam a surgir no céu... Só precisava procurar um sistema (conjunto) de estrelas duplas (taradas, aglomeradas) reais (visíveis, dãã)...
Constelação de gêmeos, constelação de gêmeos... Planeta regente? Ai, eu lembro dessa! Mercúrio! Isso! Se o planeta regente é mercúrio, a constelação fica bem perto de mercúrio... Virei o telescópio até onde sei que ficava Mercúrio, e lá estavam elas, piscando sorridentes para mim. Uma, duas, três, quatro, cinco estrelinhas em órbita e uma central! Só podiam ser do Sistema Castor!!! Puxei depressa meu pergaminho e molhei a pena no tinteiro. Louise tinha os olhos marejados de lágrimas e Mark não estava muito diferente. Alex rabiscava distraidamente algumas estrelas no pergaminho dela e Scott, Sarah e Sam tinham os olhos vidrados no esquema: telescópio-papel-telescópio!
Lá fui eu desenhar o esquema... Ta, o desenho não colabora muito, mas acho que dessa vez ele tinha ficado até bonitinho se comparado ao meu caderno de astronomia do dia-a-dia! Escrevi grande em um pedaço de pergaminho: Façam o desenho das estrelas aglomeradas perto de Mercúrio e escrevam em cima: Sistema Castor! Parem de chorar, e ajam! Alex, apaga isso! Quando Andrômeda passou por mim vendo o desenho satisfeita e deu as costas, levantei alto o pergaminho, e logo vi Louise e Mark me mandando beijos animados e agarrando os telescópios, e Alex passando a varinha em cima do desenho, limpando as estrelas intrusas... Primeiro passo, concluído!
YH: Professora, pode repetir o que é pra desenhar no verso do pergaminho, por favor?
AS: Quero o desenho do sistema binário que apresenta as duas principais estrelas binárias espaciais... Se lembrarem do que lhes disse sobre Centro de Massa, ficará muito mais fácil.
Agradeci e fiz aquela cara de “ah, agora eu entendo! como não lembrei disso antes?” mas na verdade, não tinha entendido patavinas da pergunta... Será que eu teria que ir olhando de planeta em planeta as constelações e ver com meu olho crítico qual delas apresentava as duas maiores estrelas binárias? E se a constelação não estivesse perto de um planeta? Sarah que estava pensativa por um tempo, molhou um tanto irritada sua pena no tinteiro, virou o telescópio para o outro lado do céu, e começou a desenhar revoltada o que via... O que me restava era seguir seus passos... Como se um súbito ponto de compreensão estivesse me atingido de repente, virei meu telescópio na mesma direção que o dela e olhei... Não via nada além de um céu muito preto e... duas estrelas? Duas gigantes estrelas!!! Ahá, encontrei!
Louise, Mark e Alex me olharam confusos quando viram as duas estrelas no meu pergaminho, mas desenharam sem contestar... Assinei meu nome e fui entregar para a professora Andrômeda. Ela olhou o primeiro desenho animada, mas quando virou o verso e só viu dois grandes pontos ligados em órbita soltou um sorriso irônico.
AS: Yulli, eu quero os nomes das estrelas e o centro de massa! Pedi o desenho do sistema binário completo, e não das estrelas dele... Termine isso!
YH: Nome e centro de massa? Hum, ok...
“Uma estrela incomoda muita gente, duas estrelas incomodam muito muito mais...” De volta ao ponto de interrogação. Agora não me restava outra saída a não ser pedir ajuda aos amigos... Alex, Lou e Mark me olhavam esperançosos, mas ao fazer sinal negativo com a cabeça, focamos nossos olhares em Scott, Sarah e Sam. Acho que eles sentiram a pressão de quatro cabeças os encarando e levantaram os olhos para nós. Andrômeda nos encarava desconfiada, então disfarçamos. Passado algum tempo, novamente virei a cabeça para a Sarah, mas ela estava irritada demais, em um conflito íntimo com seu desenho para notar. Sam escrevia alguma coisa, e Scott olhou rapidamente... Perguntei os nomes das estrelas, e a professora se levantou, fazendo com que voltasse minhas atenções para meu próprio mapa. Andrômeda caminhava constantemente pela turma, e no maior contato que pude ter com Scott, ele fez mímicas... Me apontou uma almofada e depois fez um movimento com as mãos que indicavam pequeno. Pequena e Almofada? Esses eram os nomes? Almofada Pequena e...? Almofadinha? Olhei desconfiada para Scott, e ele levantou um pergaminho ligeiramente dizendo: Sirius A e Sirius B.
Soltei um sorriso de deboche, mas Cott me olhava sério. A ficha tinha caído. Almofadinhas, Sirius, nomes das estrelas = Sarah irritadíssima com seu desenho. Escrevi depressa os nomes em cada estrela, e desenhei o que achava ser um centro de massa, o ponto de maior energia entre as duas estrelas. Quando notei que Louise, Alex e Mark tinham se firmado em seus desenhos, entreguei meu teste e sai... Finalmente os simulados haviam acabado, e graças ao Scott, a constelação marota não atrapalhou tudo!