Monday, May 29, 2006

Rema, rema, rema remador…

Do diário de Louise Storm

Uma bolinha de papel acertou minha cabeça e joguei de volta na direção do atirador. Foi assim a viagem toda, embaixo dos assentos estava um verdadeiro mar de bolas de papel. Estávamos dentro de um ônibus trouxa amarelo indo para o acampamento de férias organizado pelo professor de EdT, era um total de três veículos para acomodar todos os alunos que se inscreveram. Eu nem fazia essa matéria, mas como qualquer um podia ir, assinei meu nome no pergaminho com o intuito de me divertir com meus amigos. Passávamos agora por uma estrada de terra esburacada e eu agradecia por não ter tomado café ou as torradas já teriam saído há tempos. Scott estava sentado do meu lado observando a paisagem do lado de fora em meio à poeira. Só tinha mato, muitas árvores e de longe podíamos ver um imenso lago.

SF: Se chover vamos afundar na lama... Não vejo asfalto já tem mais de uma hora...
LS: Para de reclamar, você se inscreveu porque quis.
SF: Não estou reclamando, só fazendo um comentário...
AM: Ai! Quem acertou a bola no meu olho??
YH: Ei, por que o ônibus parou?

Sem que esperássemos o ônibus deu uma freada brusca, lançando todos para frente e fazendo com que batêssemos as cabeças nos bancos à frente. Olhei intrigada pela janela e vi um grupo de pessoas, todas com camisas amarelas com o desenho de um pinheiro nelas passarem correndo, se espalhando em volta dos três ônibus. Se elas não estivessem rindo e parecendo inofensivas, ia começar a pensar que estávamos sendo atacados. Bem, atacados nós não fomos, mas elas não eram tão inofensivas assim... Três deles entraram no nosso ônibus, parando ao lado do motorista.

- Bom dia! Somos monitores do acampamento Phanton Lake e queremos lhes das às boas vindas! Olá Louise, bom te ver outra vez!
- Olá Matt... – respondi sem graça, já que todos me olharam.

Um murmúrio ecoou no ônibus quando alguns dos alunos responderam agradecendo, outros perguntando por que estávamos parados no meio da estrada. Uma garota de no máximo 19 anos sorriu e continuou a falar.

- Paramos aqui, pois é onde começa o acampamento de verdade! Temos algumas regras que nossos campistas costumam seguir e que ajudam a entrosar a galera. Sabemos que todos vocês estudam na mesma escola, mas ainda assim manteremos a tradição de Phanton Lake.
- Todos, por favor, saiam do ônibus e nos esperem ao lado dele, mas ninguém se afaste!

Entreolhamos-nos intrigados, mas obedecemos aos três monitores e saímos do ônibus. Os ocupantes dos outros dois também estavam descendo, todos com as mesmas caras de quem não estava entendo absolutamente nada. Começava a me perguntar se não estávamos indo para um hospício por engano quando todos os monitores se juntaram no centro de todos os alunos e minha pergunta foi respondida com uma confirmação.

- Conseguem ver aquelas canoas na beira daquele lago? Elas comportam no máximo seis pessoas...

Um dos monitores falou alto, apontando para um lago há no mínimo 1 km de distância. Olhei para Mark ao meu lado e ele parecia temer o mesmo que eu. Como seu pai era trouxa, ele também estava acostumado a freqüentar esses acampamentos e sabia que podíamos esperar de tudo...

- Muito bem, a brincadeira consiste no seguinte: Temos 10 cabanas, em cada uma há oito camas. Cinco cabanas para os meninos, que ficam ao leste e cinco para as meninas, a oeste da casa principal. No entanto, temos apenas 70 cartões escondidos por toda a extensão de Phanton Lake... Sete de cada cor, vocês ficam na cabana de acordo com a cor do seu cartão. Os 10 desafortunados que não encontrarem irão que passar a noite em sacos de dormir. Ao soar do apito, vocês precisam correr. A brincadeira termina quando todos os 70 cartões forem encontrados. Preparados?

Um outro monitor apitou e de repente todos começaram a correr desesperados para cima dos ônibus, se empurrando para pegar as malas e correndo na direção do lago. Ficamos parados no mesmo lugar ainda perdidos.

YH: Isso é sério??
LS: É! Corram, pois o chão dessas cabanas é extremamente desconfortável!!

Meus amigos saltaram assustados e nos metemos no meio da aglomeração de alunos para catarmos nossas bolsas. Nunca desejei tanto que conseguisse carregar pouca coisa! Devo ter derrubado por volta de cinco pessoas para conseguir tira-lo do bagageiro e ainda ajudar os outros. Quando já estavam todos com malas na mão, disparamos em direção às canoas. Muitos alunos já estavam a bordo delas e remavam para o acampamento. Corremos pela estrada de terra batendo as bolsas no chão sem nos preocuparmos com possíveis objetos frágeis e Mark e Scott passaram dando cotoveladas em uns garotos do 6º ano que tentavam se acomodar na canoa que pretendíamos usar. Eles caíram na água e ficaram nos xingando, enquanto a empurrávamos para longe da margem com os remos.

AM: Será que vamos conseguir achar esses malditos cartões??
SW: É bom encontrarmos! Temos que tentar conseguir cartões da mesma cor, não podem nos separar por um mês inteiro!
LS: Procurem pelos cartões amarelos, é a melhor cabana!
YH: Ei Lou, quem é aquele gatinho que te conhece??
LS: Matthew, amigo do meu primo... Sossega Yulli, você tem namorado.
YH: É, mas você não... E nada melhor para esquecer um namorado bonito do que um mais gato ainda!
SF: Será que vocês podem debater isso depois? Tem uma embarcação verde se aproximando e não estão com caras muito convidativas...
MF: Prepara o remo Scott, vamos ter que matar algumas cobras!

Virei para ver do que os meninos estavam falando e vi a canoa com os sonserinos do 5º ano se aproximando cada vez mais rápido. Bright, Stephen, Raven, Gregory, Willian e Adrian vinham rindo, metade deles remando e a outra metade mantinha os remos apontados como lanças na nossa direção ameaçadoramente. Tentamos remar mais rápido, mas eram seis garotos contra quatro meninas e dois meninos, estávamos em desvantagem. A canoa deles encostou-se à nossa e nos juntamos a Scott e Mark para rebatermos as investidas dos sonserinos, mas foi tarde demais. Nossa canoa começou a balançar violentamente e na tentativa de nos equilibrarmos, deixamos os remos caírem na água. Eles passaram às gargalhadas indo para o cais e ficamos lá, parados no meio de um lago extremamente fundo sem sabermos nadar e sem remos para nos tirar de lá. E então, fizemos à única coisa que poderíamos fazer naquele momento... Entrar em desespero!