Friday, June 30, 2006

Bem me quer, mal me quer...

Do diário de Yulli Hakuna

Juntei o último par de sapatos no canto do quarto e fechei a mala definitivamente. Era a nossa última noite no acampamento, e teríamos uma festa de despedida. Estava sozinha na cabana. Louise, Alex e Sam haviam acabado de sair com Matt. Alguém bateu duas vezes na porta, e fui ver quem era...

Assim que destranquei, a porta foi empurrada com violência e Tiago entrou. Trancou a porta, e me encarou sério.

TP: A gente precisa conversar!
YH: É? E o que você vai dizer dessa vez? Ela que te agarrou?
TP: Eu quero te pedir desculpas...
YH: Desculpado, agora se você me dá licença, eu tenho uma festa pra ir e o Mark deve estar aí fora me esperando.
TP: Você está com ele só pra me passar ciúme não é?

Toda essa curiosidade, que você tem pelo o que eu faço,
Eu não gosto de me explicar, eu não gosto de me explicar...
Toda essa intensidade, buscamos identidade,
Mas não sabemos explicar, mas não sabemos explicar...
Se paro e me pergunto: será que existe alguma razão
Pra viver assim se não estamos de verdade juntos?

YH: O que??? – Soltei uma gargalhada alta - Mas é muito audacioso mesmo né? Primeiro bate na porta, aliás, força a entrada, depois vem se desculpar com cara arrependida, como se pedisse pra eu apagar tudo que eu ouvi e vi e agora me solta que eu estou saindo com o Mark pra te passar ciúme??? Se enxerga!
TP: E não é? De um dia pro outro você e ele estão saindo, e o romance está no ar... Eu te vi sair chorando quando me viu com a Lílian, então não me venha dizer que esse sentimento todo já acabou, assim, de repente.
YH: Eu não te devo explicação de nada. Não chorei de tristeza, chorei de ódio, chorei de raiva de mim mesma de nunca ter ouvido o que meus amigos me diziam sobre você, chorei por ter acreditado que a gente poderia ter algo mais sério realmente... Olha, se você já disse tudo, boa noite e seja feliz com a “Lily”.

Essa meia verdade a qual temos nos conformado
Só conseguimos nos afastar, mais aprendemos a aceitar
Tantas coisas pela metade, como essa imensa vontade
Que não sabemos explicar, que não sabemos saciar...
Se paro e me pergunto: será que existe alguma razão
Pra viver assim se não estamos de verdade juntos?

Tentei passar por ele e sair pela porta, mas ele me segurou firme me forçando a encará-lo.

TP: Então é isso? Acabou? Olha pra mim e diz que não sente mais nada...
YH: Ah, mas eu sinto muitas coisas por você... Raiva, nojo, pena, desprezo! Quer mais ou só esses estão bons? A gente não acaba o que nunca começou...
TP: É, talvez você tenha razão... Quem sabe nós dois nascemos para sermos só amigos.
YH: Amigos? Não. A minha teoria é que nascemos para sermos rivais, e se depender de mim, seremos somente isso.

Ele me encarou sério e sem saber o que dizer quando Mark gritou meu nome do lado de fora.

YH: Pode me dar licença, por favor?
TP: Yulli...
YH: Passe bem Tiago. Nos vemos no Campo de Quadribol...

Saí decidida, abrindo a porta e esperando ele descer. Ele passou encarando Mark e foi em direção à cabana deles sem se importar com o som alto da festa.

Procuramos independência
Acreditamos na distância entre nós
Procuramos independência
Acreditamos na distância entre nós...

*****

LS: YULLI!!! O ônibus sai em 10 minutos! Levanta!

Abri os olhos pesarosamente, e o teto de madeira entrou em foco. Alex sorria pra mim, já pronta e terminando de arrumar a mala quando levantei. Senti a cabeça rodar um tempo...

YH: Ai... Não vai me dizer que bebi a garrafa inteira daquilo?
AM: Se tivesse bebido a garrafa inteira, estaria internada... Duas doses daquilo puro já te deixaram assim...
YH: Bom né? Será que se encontra isso na Travessa do Tranco? Carcaça não é?
LS: Cachaça... E você não vai conseguir encontrar isso em lojas bruxas, é uma bebida tipicamente trouxa. Não sei como os monitores não viram você e a Alex circulando com essa garrafa...
YH: De onde veio?
LS: Brendan confiscou isso de um menino do acampamento deles e me pediu pra guardar...
YH: Está bem guardado! – senti o estômago dando uma volta.
AM: É... Isso está me queimando.
LS: Vamos embora ou nos deixam aqui.

Nos despedimos do Scott, quando o ônibus começou a andar. Depois de tantas reviravoltas, nada melhor que o sossego de casa!

Música: Independência- Capital Inicial