Thursday, July 20, 2006
Ligações Perigosas
Do diário de Yulli Hakuna
Dizem que quando se está em família, se está completo...
- ACORDA YULL! Chegar muito tarde em Kyoto não tem graça... A Sabrina está vindo pra cá, ela vai com a gente...
Levantei depois da quinta sacudida brusca que Yuri me deu, me vesti e desci pra tomar café da manhã. Estava um dia claro, apesar de não ter sol e sim muita névoa... Uns minutos depois, a namorada do meu irmão chegou. Era uma menina muito bonita, mais ou menos da idade dele, morena e de olhos pretos, com aqueles velhos conservadorismos japoneses. A princípio ficou calada e eu me apresentei gentilmente tentando deixá-la mais a vontade.
SK: Podemos ir?
YH: Podemos sim papai! Onde mamãe e tia Yhara estão?
SK: Foram no mercado cedo comprar algumas coisas pra viagem e já estão lá fora esperando...
Saímos de casa e entramos no carro. Tia Yhara, eu e Yoshi fomos no carro dela, e o restante com meu pai. Kyoto não ficava muito longe de Tokyo e a viagem foi ótima. Ao contrário de mamãe, tia Yhara tinha comprado um estoque de bobagens pra comermos no caminho, enquanto cantávamos alto o som de Susi Shinty, uma adolescente que estava fazendo sucesso no Japão.
Quando paramos na frente da casa, pude ver Sabrina e Yoshi admirando o jardim em volta.
A casa que costumava passar todas as minhas férias de verão quando era criança, continuava idêntica. Até o cheiro de eucalipto. Despachamos as coisas e fomos para o centro almoçar.
SK: Então, o que vamos fazer hoje de tarde?
Mamãe e tia Yhara convenceram meu pai a voltarem pra casa e passarem o restante da tarde caminhando pelo jardim e conversando. Yuri disse que iria levar Sabrina em um pub movimentado da cidade, lugar onde eu e Yoshi não podíamos entrar ainda por sermos menores de idade tanto para os bruxos quanto para os trouxas. Diante disso, ou voltávamos pra casa com nossos pais e ficávamos curtindo sessão “de volta ao passado com adultos”, ou ficaríamos na cidade por nossas próprias contas.
YH: Bem, então acho que vou levar Yoshi pra andar pela cidade... Ele ainda não conhece aqui.
Ele, que estava preocupado encarando um pombo caminhando pela calçada, levantou a cabeça e me dirigiu um olhar um pouco assustado.
YH: Quero dizer, se ele quiser ir...
Ficamos em silêncio nos encarando um momento, até que ele balançou afirmativamente a cabeça soltando um sorriso pequeno. Tia Yhara que aprovou prontamente, nos deu algum dinheiro de trouxa pra comermos alguma coisa durante a tarde, e seguiu com papai e mamãe pra casa.
YH: Agora é com a gente... Vem, vamos, o dia é pequeno e a cidade é grande! – disse segurando com firmeza o braço dele e o arrastando avenida abaixo. – Vamos na sorveteria primeiro, está muito calor!
Caminhamos até a sorveteria, cheia de pessoas conversando enquanto se refrescavam com as delícias geladas. Saímos com dois grandes sorvetões nas mãos e continuamos a desfilar pela cidade, totalmente despreocupados.
YH: Não entendo como você gosta de Poções. É um saco ficar misturando um caldeirão o tempo todo...
- Exatamente por isso, é muito bom! Ou seja: eu não tenho que ficar enfrentando nenhum hipógrifo, nem levitando coisas, nem plantando coisas com dentes e nem guardando bichos-papões. É só eu abrir o livro, cortar os ingredientes, seguir as regras e pronto, lá está uma poção pronta pra ser tomada com algum meio significativo... O que é?
YH: Nada, não é nada... – disse voltando a atenção pro sorvete e dobrando uma esquina.
- Fala. Porque estava me olhando daquele jeito?
YH: Você mostra tanto entusiasmo quando fala de poções que me surpreendo não estar fazendo parte do “Club do Slug”...
- Ele me convidou pra fazer parte, eu é que não aceitei. Aquele clube é... patético!
YH: Ao menos uma pessoa sensata! – ele sorriu, e quando nossos olhos se encontraram, ele abaixou a cabeça, sério.
Ta, isso estava começando a me preocupar. O que eu tinha, que deixava ele com aquele medo todo de me encarar?
Passamos a maior parte da tarde andando por aqueles pontos turísticos tradicionais. Pontes, praças, museus, lojas... Quando estava anoitecendo, resolvemos voltar pra casa.
Estava tão distraída olhando o céu salpicado de estrelas que acabei tropeçando em um galho e caindo. Não, nada grave, só uns arranhões e um pé um pouco mais torto do que o original... O que acontece é que Yoshi prontamente me ajudou a levantar e foi me amparando até chegarmos em casa.
Paramos no alpendre e eu me encostei na porta. Ele me olhava intensamente, um daqueles momentos constrangedores de silêncio e... ele se aproximou, se aproximou, agora estava a menos de um palmo...
YH: Er... Acho melhor entrarmos não é? Ta frio aqui fora, e meu pé ainda não está muito legal...
Ele parou onde estava e afirmou com a cabeça, abrindo a porta para que eu passasse. Papai veio me ajudar a sentar enquanto fazia uns curativos com a varinha. Yoshi passou pro quarto e não o vi mais.
Sabe, acho até melhor não tomar muita proximidade daqui pra frente, até ter certeza de que ele não está confundindo nada...