Thursday, August 31, 2006

Diários de Vassoura

Parte 1 - De volta para Londres

Do querido diário mofado e abandonado de Samatha Wood

- COMO ASSIM VOCÊ AINDA NÃO ENTROU NO CARRO?!

Olá, diário! Sim, eu andei sumida. Não, não te devo explicação nenhuma até porque em breve você será substituído por um diário 2.0 que não tenha traças entre as folhas. Como eu não quero tornar esse último encontro uma coisa melancólica, vamos mudar de assunto. Acho que já deu para reparar que a fala aí de cima foi da senhora minha mãe, que fica um pouquinho mais estressada do que o normal em época de volta às aulas. Um pouquinho? Ok, não vou mentir. Por Merlin, é um inferno! Eu prefiro enfrentar uma família de Rabo Córneos do que a minha adorável mãe.

- Mãezinha...ainda são 6 da manhã... – disse, lentamente, sem movimentos bruscos para não atiçar a fera.
- ATÉ VOCÊ E SEU ZOOLOGICO ENTRAREM NO CARRO, JÁ VÃO SER 11 HORAS! Merlim, ainda tenho que acordar Violet e preparar o café do Drake, passar os uniformes...você já arrumou as malas?
- Desde quinta feira passada. – na verdade, eu ainda precisava colocar alguns livros e coisas de última hora, mas não ia assinar meu atestado de óbito às 6 da manhã. – Só para te lembrar, mãe, você é uma bruxa e pode resolver essas coisas com um piscar de olhos...ainda mais agora que não está mais no St. Mungus e não tem que verificar os pacientes...
Por quê, Samantha? Por quê?! Antes de terminar a frase, tentei engolir as palavras de volta, mas era tarde demais. Eu vivo me esquecendo como mamãe anda sensível desde que foi demitida do St. Mungus. Por “sensível” entendam louca, histérica, absolutamente fora de controle.
- VOCÊ ESTÁ ME CHAMANDO DE DESOCUPADA?! Eu posso não trabalhar mais no hospital, mas ser mãe é o serviço mais trabalhoso do mundo! Você não sabe o quanto eu tenho lutado, Samantha...
A partir daí meu cérebro assumiu um bloqueio automático e eu só ouvi “Blah, blah, blah, blah, blah...”. Fiquei encarando minha mãe com um olhar fixo e sério, fingindo um grande interesse e, ao mesmo tempo, achando muito tentadora a idéia de pular pela janela. Depois de alguns segundos de tortura, tive uma idéia suicida, mas muito promissora.
- ...ninguém me dá valor nesse casa mais! Vou ter que conseguir aquele maldito emprego de volta para ser respeitada novamente, já que ninguém consegue entender...
- Mãe...eu esqueci de arrumar as malas. – disse, me encolhendo e segurando a almofada como um escudo.
- ...eu preciso ter uma conversa com seu pai sobre isso...O QUÊ?! COMO ASSIM VOCÊ NÃO ARRUMOU AS MALAS?!
Acredite, diário. Foi um dos momentos mais assustadores da minha vida. Até hoje eu ouço a palavra “malas” e tremo. Sem contar que meu olho começa a piscar por causa do tique-nervoso...
- Eu sei, mil desculpas! É melhor eu arrumar bem rápido, Hogwarts me espera! Tchau-te-amo-mãe-querida!!
Desci 5 lances de escada em um salto, sem olhar para trás. Já ouviram falar da lenda do monstro da câmara secreta, aquele que mata com o olhar? Aposto que era um código que os amigos da minha mãe desenvolveram para falar dela em sua época de TPM...De qualquer forma, corri e só parei quando esbarrei em Drake no corredor e caímos os dois no chão. Virei a cabeça rápido e notei que mamãe ainda estava gritando pela escada. Situações desesperadoras exigem medidas desesperadas.
- Como assim a mamãe não tem feito praticamente nada durante o dia, Drake?! Você não tem vergonha?!
Eu rezo todas as noites, mas acho que nem me ajoelhando em brasa quente, Merlin e Drake vão me perdoar por isso. Mamãe parou e encarou meu irmão com um olhar assassino. Drake ainda tentou balbuciar algumas sílabas ou apontar para mim, mas eu já tinha descido os outros 5 lances da escada quando ouvi os gritos.
- O QUÊ VOCÊ DISSE PARA A SUA IRMÃ, DRAKE COLE WOOD?!
Ok, foi uma atitude muito ruim. Samantha má, muito má, mas eu juro que se tivesse tempo, passaria as mãos no ferro. Tratei de enfiar os livros no malão, agarrei as 5 gatas e a coruja e pulei dentro do carro, que pegamos emprestado com nosso tio trouxa. Não tomei café da manhã, mas dentro de algumas horas já estaria na segurança dos terrenos de Hogwarts, onde, graças a Griffindor e seus amigos, é impossível aparatar (minha mãe me deu “Hogwarts – Uma história” de aniversário...). Depois de 2 horas ( meu estômago já estava gritando por socorro e comida), Drake, Violet, mamãe e papai entraram no carro. Nem preciso dizer que Drake só estava esperando pisar no Expresso de Hogwarts para me lançar um Crucio, assim ele iria para Azkaban, mas pelo menos não seria expulso da escola por usar magia em terras trouxas. Coloquei Violet entre nós dois como um escudo humano e fui rezando para que ele encontrasse muitos amigos que distraíssem ele no terminal. Após passarmos pelo engarrafamento infernal londrino, chegamos à Estação...com 2 horas de antecedência! Como não consegui avistar ninguém conhecido, saltei do carro, agarrei meus bichos e o malão e fui deslizando pelo terminal até dar de cara com a barreira. Não sabia se o expresso já estaria ali às 9 da manhã, mas qualquer lugar era mais seguro. Empurrei as malas, delicadamente, e elas atravessaram a parede...ZUPT. Ah, bendito seja o Expresso de Hogwarts! Nunca fiquei tão feliz de encontrar o precioso trem vermelho! Como você já deve ter previsto, não tinha nenhuma alma viva (nem morta, eu presumo) ali e eu podia escolher o vagão que quisesse. Peguei o último vagão do trem e fechei bem a porta. Drake é um irmão adorável, mas quando jogado aos leões, não se comporta de maneira muito amistosa. Era melhor ficar bem quietinha até chegar em Hogwarts...quando estivessemos na metade do caminho, eu podia abrir a porta, pegar umas tortinhas de abóbora do carrinho e fechar de novo. Plano Perfeito, Samantha.
Quando estava quase pegando no sono, ouvi 3 batidas na porta e 3 das piores hipóteses surgiram na minha cabeça:
a) O Louco da Machadinha
b) Um cara com uma serra elétrica
c) Drake

Rezando para que fosse um cara com a serra elétrica, abri uma fresta e respondi.
- Ah...oi?
- Sou eu, Sam! Josh! – exclamou uma voz conhecida
- Josh! Ah...como eu vou saber que é você mesmo? E como você sabia que eu estava aqui?
- Nós tínhamos marcado 10 horas no terminal e como não encontrei você, deduzi que já estava dentro do trem.
- Uhnn...ok, parece plausível. Você quer que eu abra a porta?
- Seria bom! Ah, só um instante. Estão reunindo os monitores para dar instruções às crianças do 1° ano. Vou lá ver o que está acontecendo e depois eu volto.
- Ok, ah, volta aqui, Josh! – disse, ainda sem abrir a porta.
Josh voltou todo serelepe, achando que eu tinha algo muito importante e profundo a revelar e pareceu um tanto quanto desapontado quando eu disse: “Na volta, traz umas 5 tortinhas, ok?”, mas fazer o quê? Deitei na poltrona e fechei os olhos durante alguns segundos. Estava sonhando com o carrinho de comidas, quando acordei com um baque. O Expresso parecia ter parado e eu vesti a capa de Hogwarts rapidamente, correndo para me juntar aos colegas de classe e torcendo para não esbarrar com um Drake furioso no meio do corredor. Qual não foi a minha surpresa quando descobri que nem ele nem ABSOLUTAMENTE NINGUÉM estava no corredor! Acessei meu calendário mental: 1° de abril, já passou; meu aniversário...ainda falta muito, então só pude presumir que todos tinham saído do Expresso incrivelmente rápido! Que coisa bonita, não? Os alunos de Hoggy gostam tanto da escola que mal agüentam esperar dentro do trem...
Deixei meus malões e fui andando até a porta, quando percebi que nós não estávamos em Hogwarts! Estávamos na plataforma 9 ¾!!! Como? Quando? Onde? Cuma? O trem ainda não tinha deixado a plataforma?! Achando que, provavelmente, o maquinista precisou ir ao banheiro e foram todos esperar do lado de fora da barreira, olhei no relógio que marcava 19:00...19:00!!!!! Isso era...muito mais do que 11:00!!! Se o maquinista ainda estava no banheiro, alguém precisava arrombar a porta e ver se ele ainda estava vivo! Mas...e se...e se o trem tivesse chegado a Hogwarts e voltado? E se EU tivesse voltado?! Brilhante, Samantha, Brilhante...

To be continued…