Wednesday, September 13, 2006
Pratos Limpos
Do diário de Yulli Hakuna
- Um eclipse é um fenômeno que ocorre quando o Sol, a Terra e a Lua se alinham. Se esse fenômeno ocorre durante a fase da lua cheia, quando a lua passa pela sombra da Terra, ele é denominado eclipse da lua, ou eclipse lunar. O tipo e a duração do eclipse lunar dependem da localização da Lua em relação à sua órbita.
O que vamos presenciar essa noite é exatamente isso! Tivemos a sorte de pegar um eclipse lunar logo de cara, justo quando nós íamos começar o capítulo deles! Montem logo seus telescópios... Vocês não querem perder isso, não é?
A professora Andrômeda caminhava de um lado para o outro da torre de Astronomia excitadíssima. Não parava de balbuciar que o eclipse era sem dúvidas o fenômeno astronômico mais interessante que iríamos presenciar. Terminei de montar meu telescópio e apontei para o céu aberto da torre, naquela noite, estrelado. Mark estava do meu lado terminando de focalizar o dele, e Scott do outro, já folheando o livro um pouco ansioso.
YH: Que foi Scott? Tudo isso por causa de um eclipse?
Ele me olhou com uma das sobrancelhas erguida, e um pouco indignado fechou o livro.
SF: Não, não tem nada a ver... – ele soltou um suspiro rouco e virou um pouco a cabeça pra trás, onde Ben estava. Se fosse só o fato do Ben estar lá, ele já estaria achando ruim demais, mas, além disso, Ben estava entre Louise e Alex, e conversava animadamente com elas.
YH: Ah, de novo não Cott, por favor...
SF: Eu não gosto desse menino! E eu acho estranho...
YH: O que? Só porque ele conhece um pouco de cada país do mundo? Só porque ele é da mesma casa que a gente, e você acha que vamos te abandonar?
SF: Posso falar?
YH: Ham...
SF: Acho estranho a Louise estar toda animadinha com ele, se até a pouco ela estava tensa e estressada conversando comigo... Disse que era por causa do Remo... Sabe, lua cheia! Mas com o “Benzinho” não, ela ta toda sorridente!
Quando ouvi aquilo eu não me contive e soltei uma gargalhada. Ta, o Scott era o meu melhor amigo, mas devo admitir que ele estava sendo infantil com a presença do novato.
YH: Scott, deixa de bobeira! Ele deve estar contando alguma piada de duendes, ou coisa assim... Você queria o que? Que a Louise jogasse um livro na cabeça dele só pra te mostrar que é paranóia da sua cabeça essa perseguição?
SF: Não vou discutir sobre isso!
YH: Não estamos discutindo, eu só estou falando que você não tem absolutamente nenhum motivo pra estar mordido com o Ben. Ele te fez alguma coisa? Até agora ele tem sido gentil e engraçado com a gente...
Ele afundou o olho no telescópio sem responder. Devo dizer que conheço pessoas teimosas, mas nunca conheci ninguém como o Scott. Ele é assim: quando você precisa dele, está sempre lá pra te socorrer, mas se ele acha que é o certo de alguma discussão, não adianta. Nada, NADA que você fale o convence de que ele é o errado. Sem querer instigar mais, fiquei calada também apenas rindo comigo mesma.
AS: Vai começar, dentro de alguns minutos! Atentos! Agora está muito perto...
Afundei meu olho no telescópio também pra espiar. O céu estava infinitamente pontilhado de estrelas, e a torre caíra em profundo silêncio quando a lua começou a ser tapada lentamente. Andrômeda soltava uns gritinhos de excitação que invadiam todos os alunos... É realmente interessante presenciar um eclipse. A lua vai escurecendo tão lentamente, que você tem a impressão de passar a eternidade olhando aquela cena. Ficamos fazendo anotações por aproximadamente 2 horas, quando o último vestígio de sombra sobre a lua desapareceu na escuridão.
Scott se despediu depressa e um tanto amargurado de nós, e saiu atropelando alguns alunos sonolentos que desciam a escada.
BO: Ele não foi com a minha cara né?
AM: Não esquenta com ele, só está um pouco nervoso esses últimos dias...
BO: 80% dos problemas dele nessa última semana foi por minha culpa, ele fez questão de me fazer notar isso!
YH: Relaxa! O Cott é um amor de pessoa, logo desencana de você!
LS: É, ele não guarda mágoas... – Louise disse rindo amarelo.
Quando chegamos no Salão Comunal, as meninas e Ben se despediram e foram se deitar. Como eu havia tomado uma jarra de cafeína quase pura de tarde, estava sem sono algum, então me joguei em uma das poltronas de frente pra lareira e fiquei observando o fogo consumir um pedacinho de madeira.
MF: Pelo jeito eu não sou o único sem sono da casa... Já dava até para nós fazermos a festa do “Orme não dorme” parte 2! – Mark se jogou na poltrona em frente sorrindo.
YH: É, mas hoje eu só quero ouvir o barulho da lareira!
MF: Somos dois...
Ficamos em silêncio sem nem nos encararmos, por alguns minutos.
MF: Yulli...
Levantei os olhos pra ele, e ele me encarou sério.
MF: O clima entre a gente está estranho!
E como não estaria? Nós tínhamos nos beijado em uma situação de crise emocional, que é quase o mesmo que a embriaguez, sendo que eu sempre tinha considerado o Mark como meu amigo!!!
YH: É, acho que sim.
MF: É por causa do beijo não é?
YH: Não sei... Talvez!
MF: O que ele significou pra você?
YH: Ah Mark, eu não sei te explicar. Foi bom, realmente. Me senti melhor, ainda mais depois de tudo. Mas eu acho que aconteceu naquele momento, e não me arrependo...
MF: Eu também gostei. Pelo menos eu estava sóbrio! Eu não forcei aquilo, eu juro. Eu simplesmente te beijei porque, sei lá... Como você disse, aconteceu naquele momento, mas eu também não me arrependo. Vamos deixar esse clima estranho de lado? Só quero que a gente continue amigos como éramos antes, sem constrangimentos...
YH: Feito!
Eu realmente não sabia explicar o que tinha sido aquele beijo pra mim. Foi tão de repente, que não consegui definir ainda. Mas a última coisa que eu queria é que o clima com o Mark ficasse estranho, então, achei que essa conversa tinha sido realmente tranqüilizante! Um pouco mais leve, me despedi dele e subi para o dormitório para pelo menos tentar dormir...