Tuesday, November 21, 2006

Quem procura, acha...

Do diário de Louise Graham Storm

- Por que você não esquece isso, mana?
- Por que eu deveria esquecer?
- Porque nossos pais morreram, não importa mais o que eles faziam quando eram jovens! – George falou ríspido, querendo mudar de assunto.
- Não é só porque eles morreram que não tenho curiosidade em saber da vida deles! – falei irritada. Não estava acreditando no que ele estava dizendo.
- Isso é bobagem! Eles estão mortos, então pouco me importa o passado. Não é como se isso fosse traze-los de volta.
- Não te faz sentir mais perto deles em saber como era a nossa vida antes do acidente? Você não tem nem um pingo de curiosidade em imaginar como seriam as nossas vidas se eles fossem vivos?
- Honestamente, não. – ele disse serio – acho que se você procurar demais, pode acabar encontrando o que não quer.
- Do que você esta falando? – disse confusa – o que eu poderia encontrar de desagradável num diário velho, de quando nossa mãe tinha 15 anos?
- Não sei, mas o que sei é que quando a gente vasculha demais as coisas, acaba encontrando além do necessário...
- O que você sabe, George? Você já andou lendo isso, não é?
- Não li nada, é só o que penso... Mas fique a vontade pra vasculhar a vida dos nossos pais o quanto quiser, só não diga depois que não avisei.


A conversa que tive com George hoje pela manha ainda martelava na minha cabeça. Nem conseguia mais me lembrar o que iniciou a briga, já era quase uma rotina, mas dessa vez ela tomou um rumo completamente diferente. Agora mais do que nunca tinha certeza que meu irmão já andara pesquisando a vida dos nossos pais antes de nascermos e que sabia de alguma coisa, que havia descoberto algo que não lhe agradou. Mas também sabia que por mais que eu tentasse, não iria arrancar nada dele. George tivera sua chance de me contar o que quer que tenha descoberto e não o fez, então não faria mais.

Era final de novembro e o clima já começava a dar seus primeiros indícios de que queria nevar. Alguns poucos flocos caiam nos jardins, mas não o suficiente para cobrir todo o chão, ficando apenas um ventinho gelado que nos obrigava a carregar os cachecóis o tempo todo. Eu estava sentada no gramado perto do lago, olhando distraída alguns alunos do 1° ano brincando de pegar flocos de neve com a língua, se esforçando para pegar os poucos que caiam. Ri sozinha, lembrando que no meu 1° ano aqui fiz muito isso, para passar o tempo mais rápido. Uma mochila caiu do meu lado e o susto me fez sair do transe, olhando para cima. Remo estava parado atrás de mim sorrindo. Ele sentou de maneira que eu ficasse encaixada entre suas pernas e me abraçou por trás, beijando meu pescoço e meu ombro.

- O que está fazendo sozinha aqui? Está congelando aqui fora!
- Precisava de um pouco de ar fresco... – disse distraída
- Ei, o que aconteceu? – ele falou preocupado, interrompendo a sessão de beijos.
- Nada...

Mas era mentira e ele sabia disso. Às vezes eu me assustava com o quanto conhecíamos bem um ao outro, com nem tanto tempo assim de namoro. Eu era capaz de dizer como estava o humor dele apenas em olhar pro seu rosto e ele também podia fazer o mesmo comigo. Mesmo sabendo que ele não tinha acreditado que eu estava bem, não falei nada. Continuei encarando o lago e tinha na mão uma foto que achei no diário da minha mãe. Era uma foto dela com alguns colegas de escola. O menino do lado dela, muito bonito por sinal, era o Tom. Sabia apenas pela legenda atrás da foto. Remo percebeu o que estava me fazendo eu ficar daquele jeito e tirou a foto da minha mão, analisando-a.

- Quem são essas pessoas? – disse depois de um tempo
- Essa aqui é a minha mãe – disse apontando para ela na foto – os outros são colegas do tempo de Hogwarts.
- Hmm... E você não faz idéia de quem são?
- Não. E não me importa também, só encontrei a foto. Nem sei porque a trouxe comigo – menti. Não queria deixar mais ninguém encucado com minhas paranóias.
- Você não se parece em nada com a sua mãe, Lou. – ele olhava da foto pra mim, divertido – a não ser pela cor dos cabelos.
- Sim, nós não somos muito parecidas... – e ao falar, percebi como soou estranho. Estávamos falando do aspecto físico, mas não pude deixar de pensar nas outras coisas. Eu não sabia de verdade se era parecida ou não com ela.
- Seu irmão, do contrario, é todo sua mãe. Olha os traços, são idênticos.
- George é muito parecido com ela mesmo, em tudo – e mais uma vez aquilo soou estranho, sem que eu soubesse o porque – ele só puxou os olhos azuis do nosso pai.
- Você deve então ser parecida com ele, já que só puxou os cabelos ruivos da sua mãe.
- Sim, eu sou uma copia fiel do meu pai. Até no fato de usar óculos, ele também usava... – e de repente me senti triste. Triste por estar tão acostumada ao fato de ter que me referir a eles sempre no passado.
- Já tem planos para o Natal? – ele percebeu que o assunto não estava me fazendo bem e pensou em qualquer outra coisa
- Não exatamente. Por que?
- Minha turma está pensando em organizar uma viagem de formatura e eles queriam fazer durante o Natal. Mas não tem nada certo ainda! – ele falou depressa
- Quando souber me avisa... Eu provavelmente devo ir para casa – falei sem me estender muito.

Fechei os olhos e deixei minha cabeça cair para trás, apoiando-a no ombro direito dele. Ele descansou o queixo no meu ombro esquerdo e ficamos assim, sem conversar. Não sei dizer quanto tempo ficamos calados, mas abrimos os olhos juntos quando alguém que passava andando esbarrou nas costas dele, acelerando o passo para que não víssemos quem era. Mas eu vi, e logo sentei reta no gramado, beliscando a mão dele.

- Ai! Por que fez isso? – ele falou puxando a mão
- Por que você tinha que dar confiança pra ela?? – falei furiosa, desencostando o corpo dele.
- Ela? Ela quem, Lou? Do que você ta falando?
- Ela! – agarrei o rosto dele com a mão e virei na direção do castelo, onde Sally estava parada rindo, nos encarando – por que tinha que ajuda-la com os livros idiotas? Não podia simplesmente ter deixado no chão?
- Quem é essa menina? Juro que não faço idéia do que você esta falando! – ele parecia sincero e confuso
- Essa cobra aí é da minha turma e está afim de você. – falei impaciente, me esquivando dos braços dele que tentavam me trazer de volta pra perto – e já deixou claro que não se importa com o fato de você ter namorada!
- Mas meu amor, eu nem sei quem é essa menina – ele falou me puxando de repente e me beijando, mas o afastei – e além do mais, pouco me importa se ela morre de amores por mim. Eu já tenho o que preciso.

Ele me puxou de novo pra perto dele e dessa vez não resisti. Ele segurou meu rosto de leve, me beijando, e deixei minhas mãos percorrerem seu rosto ate pararem em sua nuca. Nos separaram depois do que pareceram serem minutos e encostei novamente meu corpo no dele, deixando que ele me abraçasse outra vez. Sei que não tenho motivo para me sentir ameaçada pela Sally, mas ainda assim se ela continuar pisando no meu calo, vai arcar com as conseqüências. Mas claro, esqueci de contar esse detalhe para o Remo...