Wednesday, November 29, 2006

Querido mestre...

Do diário de Louise Storm

Já estávamos quase entrando no mês de dezembro e a neve já caia com força total, obrigando Madame Hooch a suspender os treinos de quadribol até o retorno das aulas. Ouve muitos protestos, mesmo o campeonato já tendo entrado na pausa das férias, mas depois que o 5° aluno foi parar na ala hospitalar com os ossos quase congelando, ela teve que intervir. Sem treinos para programar e nem jogadas novas com que me preocupar, me vi obrigada a me dedicar aos estudos, não tinha mais desculpas plausíveis.

Tínhamos aula de DCAT naquela quarta-feira, a matéria que mais detesto e fui obrigada pela minha avó a pedir ao professor que reconsiderasse meu pedido de desistência das aulas. Foi uma das coisas mais difíceis que já fiz, ir até o entojado do professor Stroke pedir que me deixasse continuar com sua matéria. Não ia com a cara dele desde o 1° ano e isso contribuiu para que eu não gostasse da matéria. Entramos na sala e como de costume, sentei numa das ultimas fileiras com Yulli, Sam e Scott, que também não gostavam da aula. Alex, Lu, Mi, Mark e Ben faziam questão de sentar com as caras coladas ao quadro, então quase nunca ficávamos com eles em DCAT. O professor Stroke distribuiu os trabalhos da semana passada e não fiquei muito surpresa em ver que tirei um F.

- Oba, consegui um A! – Scott falou empolgado – mas ainda preciso de um E pelo menos pro meu pai parar de pegar no meu pé
- Tirou quanto, Yul? – perguntei amassando o meu
- F também... Eu realmente não sei por que continuo nessas aulas!
- Aha! Tirei A também, Cott! – Sam deu um grito quando pegou o pergaminho dela
- Acho que vamos precisar de aula de reforço se quisermos passar de ano, Yulli...
- Pra você é fácil falar, seu namorado é ótimo na matéria e pode te ajudar. Eu vou ter que me virar de outro jeito.
- Ah claro, como se isso fosse dar certo – Scott falou irônico – eles ate vão aprender muuuuita coisa, mas definitivamente não vai ser DCAT!
- Cala a boca, Cott – falei brincando, atirando meu pergaminho amassado em cima dele
- Silencio!

O Professor Stroke berrou da frente da sala e paramos de conversar quando Alex olhou pra trás rindo, sacudindo empolgada o ‘O’ que tirou. Pelo menos alguém do grupo salvava a pátria! Ele continuou com a aula como sempre, nos dividindo em duplas para praticarmos o feitiço ensinado, e depois pedia um relatório sobre ele para a próxima aula. Como se não bastasse a aula cansativa, ainda teríamos que escrever sobre ela! Aquela abusada da Sally passou a aula inteira me lançando olhares de deboche, enquanto a amiga dela tinha um sorriso nervoso no rosto e pedia constantemente pra ela parar e ficar quieta. Podia sentir meu sangue ferver. Meus amigos desistiram da aula e passaram a prestar atenção na minha reação, provavelmente esperando que eu desse um ataque a qualquer momento e voasse no pescoço dela. Mas fiquei quieta, deixei pra lá, não valia a pena ganhar uma detenção à toa.

Quando a aula terminou, ela passou por mim com o nariz quase arrastando no teto e me controlei para não pôr o pé na frente. Já estávamos quase saindo da sala quando o professor nos chamou.

- Srtª Graham, Srtª Kinoshita, por favor, fiquem na sala
- Por quê? Fizemos alguma coisa?? – Yulli foi logo reclamando
- Não, quero apenas conversar com as duas. – ele falou calmamente – Feche a porta quando passar Srtª McGregor
- Deixa um pouco aberta Alex, caso ele nos ataque – falei baixo e Alex riu enquanto saia
- Olha professor, o que quer que o senhor tenha escutado, posso assegurar que não fomos nós! – Yul tentou nos defender antes de ouvir qualquer que fosse a acusação
- As confusões que vocês criam pela escola não vêm ao caso aqui. O desempenho das duas na minha aula é lamentável, com as notas obtidas até agora, serão facilmente reprovadas nos NIEMs.
- É, bem, Defesa Contra as Artes das Trevas não é exatamente o nosso forte e nem nossa meta de vida... – falei brincando, mas só Yulli riu
- Se não me falha a memória Srtª Graham, a srtª veio me procurar logo no inicio das aulas para me pedir que continuasse com as aulas. Se não é sua meta de vida, por que está aqui?
- Só estou aqui porque minha avó fez O drama quando disse que tinha desistido de DCAT!
- Acho que essa não era a resposta que ele queria... – Yulli falou rindo e segurei o riso
- E a Srtaº? Está rindo por quê? Por que não desistiu da minha matéria, se pretendia passar mais dois anos sem levá-la a serio?
- Ahn, er, não sei... Porque esqueci? – Yulli falou em duvida e não consegui segurar a risada
- Olha professor, se quer nos reprovar, fique a vontade. Nem gostamos de DCAT mesmo. Mas será que podemos ir? Ficar perguntando sobre nossos planos para o futuro não tem fundamento... Nós não sabemos nem o que queremos comer no jantar de hoje!
- Igual a sua mãe... impressionante! – ele sussurrou, mas não baixo o suficiente.
- O que tem a minha mãe? – falei azeda
- Nada. A srtª apenas me lembra ela. – e continuou – pode não parecer agradável a você, mas conheço mais da sua mãe do que você possa imaginar
- Conhecia, ela morreu – o corrigi seca.
- É, conhecia, foi o que quis dizer – ele disse meio vago e olhei pra Yulli desconfiada. Ela também olhava pra ele com cara de quem não estava entendendo nada
- Podemos ir? – ela arriscou esperançosa
- O que? Não, não podem. – ele falou como se tivesse acabado de notar nossa presença - Quero que façam uma redação de no mínimo dois rolos de pergaminho sobre o que querem das suas vidas. Vou estender o prazo até depois das férias, pois quero que reflitam bastante sobre o assunto.
- O QUE? – reclamamos ao mesmo tempo – Mas pra que? O senhor é professor de DCAT ou Auto-ajuda???
- Fazer piadinhas não vai ajudar na redação, a não ser que pretendam ser palhaças de algum circo. Quero isso na minha mesa no 1º dia de volta às aulas e não aceito desculpas. E a partir de janeiro, as duas estão em aula de reforço comigo. Combinaremos os horários depois das festas. Podem sair.

Ainda tentamos argumentar, mas ele virou de costas e começou a recolher as coisas na mesa, cantando uma musica da banda da Monn e nos ignorou por completo. Saímos da sala bufando e Scott e Alex estavam parados do lado de fora nos esperando.

- Então? – Alex veio correndo na nossa direção – Estão encrencadas ou o que?
- Antes fosse! – Yulli falou mal humorada – quer ter a honra de contar, Srtª Graham?
- Claro Srtª Kinoshita... – respondi a reverência dela – temos que apresentar uma redação de dois rolos de pergaminho, DOIS ROLOS DE PERGAMINHO, sobre o que queremos das nossas vidas!
- Eu não sei nem o que quero fazer no próximo sábado! – Yulli completou irritada – e para completar nossa felicidade, a partir de janeiro além das aulas normais, teremos aula de reforço com ele!!
- Nossa... Desgraça pouca é bobagem! – Scott falou debochado e Alex riu
- Qual a punição por azarar um professor? – perguntei saindo de perto da porta e descendo as escadas
- Não é leve, então pode ir tirando a idéia da cabeça! – Alex logo respondeu – vamos nos ocupar com coisas alegres, como o natal, certo Cott?
- Sim, certíssimo! Karen foi até Hogsmeade e ligou para os nossos tios. Minha tia falou que ficará encantada em nos receber para as festas de fim de ano e já está até arrumando o quarto de hóspedes.
- Oba! Então vamos mesmo pra Long Island? – Yulli falou mais animada
- Sim, se vocês quiserem, vamos! Alex e eu já confirmamos
- Pois pode botar meu nome na lista! Vou escrever agora mesmo para meus avós avisando da mudança de planos – falei empolgada
- É, também vou escrever pros meus pais... New York, baby!
- Sou só eu ou vocês também acham que esse natal vai ser O natal?

Alex tinha um sorriso que ia de uma orelha a outra quando falou. Não era só ela com esse pensamento. Com todos os estresses dos últimos dias nas aulas, nada como um natal longe dos familiares, em um lugar novo, livres, leves e soltos... Ainda bem que o Remo vai pra tal viagem de formatura, pois assim não pode reclamar que vou largar ele no natal e muito menos eu viajo com peso na consciência... Tudo que eu não preciso é passar as festas nos EUA com dor na consciência! E quando voltar das férias, me preocupo com o mala do professor e a bendita redação... O que quero da vida... Ora, eu sei lá! Que pergunta mais complexa...