Friday, January 26, 2007

Caminhos diferentes

Do diário de Scott Foutley

Em 1978 as pessoas estavam tentando se encontrar. Algumas conseguiram. Mas muitas se perderam pelo caminho... E eu comecei a perceber isso no meu 6º ano.

Hogwarts, Janeiro de 1978


- Ah sexta-feira... Não pretendo fazer mais nada hoje! – falei preguiçoso
- Nem eu! – Ben concordou jogando a mochila no ombro – Sem dever por hoje, domingo eu me desespero.
- Acho que vou ver o que... EI!
- Preciso de você, agora!

Meu irmão apareceu na minha frente do nada, me puxando pela gola da camisa. Acertei o com meus livros, mas ele não me soltou. Ben veio correndo atrás da gente, tentando fazer com que ele me largasse, mas Wayne andava cada vez mais depressa. De repente parou, fazendo Ben se chocar com ele.

- Me solta, ta maluco?
- Larga ele Wayne, o que você quer?
- Não posso explicar, preciso que você venha comigo sem discutir. Não se preocupa Ben, não vou bater nele. É assunto de irmão, depois ele te explica.

Ben não respondeu e abaixou a mochila. Wayne recomeçou a andar me arrastando pelo braço e só voltou a falar quando já estávamos quase nas escadas que davam acesso às masmorras. Ele parecia um pouco assustado e falava depressa. Comecei a me preocupar, nunca vi meu irmão assim.

- Toma, se cobre com isso! – e me entregou uma capa
- Uma capa da invisibilidade? Onde conseguiu isso??
- Não importa, depois vou devolver. Por hora, usa-a para se esconder e venha comigo.
- Não! Não saio daqui até você me dizer o que esta acontecendo e para onde estamos indo!
- Droga Scott, será que não pode confiar em mim?
- Isso é uma pegadinha?
- Ta bom, eu digo. Quero que você venha comigo até a Sonserina. Daqui a alguns minutos vai começar uma, ahn, reunião... Você precisa ouvi-la. Fique escondido sob a capa, não se mexa, não fale, não respire! Ninguém pode desconfiar que alguém de fora esteja ouvindo.
- Que reunião é essa? – falei assustado.
- Você vai ver... Assim que entrarmos procure um canto vazio e fique lá ate que eu diga para sair.

Wayne jogou a capa sobre mim e foi me empurrando ao longo do corredor, até paramos em frente à passagem secreta. Ele murmurou a senha e entramos. Nunca havia pisado no salão comunal da Sonserina, tinha o aspecto de uma caverna luxuosa e era escuro. Muitos dos alunos estavam sentados nas poltronas e reparei que a maioria esmagadora era do 7º ano, todos parecendo ansiosos e agitados. Sentei com cuidado em um canto perto da porta mesmo, começando a suar frio. Se alguém descobrisse isso, ia desencadear uma guerra entre Grifinória e Sonserina... O salão de repente emudeceu. Snape saia de uma passagem que aparentava levar aos dormitórios e tinha um ar confiante, arrogante. Ele parou diante dos alunos e senti todos prenderem a respiração. Então, começou a falar...

- Bom. Muito bom. Vejo que muitos apareceram. Ele vai ficar animado ao saber...
- O que tem para nos dizer, Severo? Fale logo! – um garoto do 7º ano disse áspero.
- Creio que muitos aqui já sabem o motivo da reunião... O Lorde das Trevas vem ganhando poder a cada dia que passa e é notável que seus seguidores estejam cada vez mais numerosos. Porém, o Lorde não parece satisfeito, ele quer mais! Por isso, pediu-me em pessoa que procurasse gente de confiança, bruxos que estivessem dispostos a assumir uma posição ao seu lado... E bom, aqui estou eu fazendo isso!
- Conta outra Severo, como se o Lorde das Trevas fosse perder tempo com você! – uma menina falou em deboche, arrancando risos.
- Se não acredita, veja com seus próprios olhos...

Snape arregaçou a manga e todos no salão comunal se calaram, soltando exclamações espantadas. Levantei devagar para ver o que todos olhavam e escorreguei com o susto. Uma caveira negra com uma cobra horrorosa saindo boca estava tatuada em seu braço. Quando Snape fez uma tatuagem?

- Isso meus caros, é a marca negra. A marca que separa os seguidores do Lorde das Trevas dos demais bruxos. É a marca dele, é a marca dos comensais da morte. Tornei-me um nas férias – falava com orgulho – e agora estou a serviço dele. Lucio Malfoy dará uma festinha particular em sua casa no 1º dia das férias, somente para aqueles que daqui resolverem se tornarem partidário do Lorde das Trevas. O próprio Lorde em pessoa comparecerá. Os benefícios de ser seu aliado são muitos, sem limitações...

Snape falou por quase uma hora, eu ouvia cada palavra e me apavorava cada vez mais. Nunca gostei dele, mas era porque o achava arrogante e insuportável. Mas agora era diferente, sentia nojo. Tinha os punhos fechados e minha vontade era de gritar, sair de debaixo daquela capa e esmurrar aquele asqueroso.

- Pensem no assunto e me procurem se tiverem alguma duvida. E só mais uma coisa... Nenhuma palavra dita aqui deverá sair destas paredes. Não exitarei em lançar uma maldição imperdoável se descobrir que entre nós, existe um traidor.

Snape saiu e o silêncio deu lugar a conversas agitadas. Todos os presentes falavam como se realmente estivessem considerando a idéia de ir a essa tal festa. Senti uma gota bater no chão, caindo do meu rosto. Estava suando, meu coração batia acelerado. Fazia um esforço muito grande para não gritar. Depois de quase 20 minutos o salão comunal ficou vazio e Wayne fez sinal para que o seguisse para fora dali. Obedeci sem questionar e andei atrás dele pelos corredores até alcançarmos os jardins sem dar uma única palavra ou remover a capa. Estávamos perto do lago quando a arranquei de cima de mim, olhando para ele incrédulo. Eu estava tremendo.

- Como você sabia sobre essa reunião??
- Snape confia em mim, mas não me pergunte o porquê, pois não sei... Imagino que seja porque descobriu que estudei com Igor karkaroff, apesar de nunca ter sido amigo dele.
- Por que me levou até lá? Podia ter contado antes.
- E você teria acreditado? – ele perguntou descrente
- Não... – respondi sincero
- Pois então! Você precisava ver com seus próprios olhos.
- Não estou acreditando... Sempre achei que ele apoiasse as idéias daquele bruxo das trevas, mas nunca que fosse se tornar um comensal da morte aos 17 anos!
- Não é só Snape, Scott... Toda aquela gente que esteve presente na reunião pensa como ele e não duvido nada que todos vão comparecer na festa de Lucio Malfoy. Pode anotar isso: aquelas pessoas são comensais da morte, é só uma questão de tempo. Mais alguns meses e todas elas serão marcadas, como Snape foi.
- Precisamos fazer alguma coisa, não podemos saber algo desse tipo e ficarmos parados!
- Não há nada que se possa fazer, cada um tem o direito de escolher o próprio futuro. O que sabemos só vai servir para ficarmos em alerta, é contra eles que vamos lutar lá fora.

Sentei no gramado tonto, as pernas ainda tremiam. Apesar de ter ouvido tudo, ainda era difícil de acreditar. Como alunos podem fazer planos para se unir ao lado das trevas bem debaixo do nariz de Alvo Dumbledore? Agora eu sabia quem eram eles, não iria mais esquecer cada rosto que vi naquele salão comunal, apreciando cada palavra que saia da boca daquele imundo, os olhos brilhando em excitação, contando as horas para se formar e desfrutar dos benefícios de ser um partidário do Lorde das Trevas. E tudo que estava ao meu alcance no momento era contar aos meus amigos o que acabara de ouvir e deixar que cada um seguisse seu próprio caminho...