Monday, February 26, 2007

O passado bate à porta

Dos diários de Louise Graham Storm

- Varinhas a postos, no 3 vocês podem começar!

Yulli e eu estávamos na aula de reforço de DCAT e o professor Stroke nos treinava com alguns feitiços avançados. Estávamos de frente uma para outra e quando ele nos autorizou, desatamos a lançar todos que ele havia pedido. Depois de um tempo Yulli me atingiu com um dos feitiços e minha voou para longe, fazendo com que ele interrompesse o treinamento irritado.

- Preste mais atenção, Storm! – o professor gritava furioso – Desse jeito qualquer comensal encurrala você facilmente!
- Disso o senhor deve entender, não é mesmo? Tem experiência própria em encurralar pessoas no seu trabalho extracurricular...
- Do que está falando?
- Lou, fica quieta! – Yulli me deu um beliscão no braço, mas estava com tanta raiva que não me segurei
- Sei muito bem que você é um comensal da morte, fazia parte da mesma turminha da minha mãe!

Por um instante achei que o professor fosse explodir em gritos, mas ele se calou. Stroke nos fitou por um tempo e começou a andar pela sala, como se estivesse escolhendo as palavras a serem usadas ou pensando se de fato deveria usá-las. Parecendo ter tomado uma decisão, ele parou na minha frente, me encarando com uma expressão de raiva no rosto.

- Não fale daquilo que você não entende, menina – ele tinha a voz tremula e mal controlada
- O que tem para se entender? – disse com tanta raiva quanto ele – É o óbvio!
- Eu nunca fui um comensal! – ele agora gritava – Ao contrario da sua mãe, que já machucou muita gente antes de ser detida, eu nunca me aliei a ele! Saiam, as duas. Fora da minha sala! Não precisam mais voltar, as aulas de reforço estão encerradas. Boa sorte lá fora, pois vão precisar.

Fiquei parada olhando para ele, sem me mover, e senti Yulli me puxando pelo braço para fora da sala. A mão dela tremia tanto quanto a minha, mas por motivos distintos. Paramos somente quando já estávamos na entrada da Lufa-lufa e ela quebrou o silencio.

- Acho que você já falou demais por hoje, vamos dormir e torcer para ele estar mais calmo amanha, senão não sei o que vai acontecer

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- Você fez o que??

Estávamos na mesa do café da manha no dia seguinte e contávamos a Alex o que tinha acontecido na aula de DCAT. Ela reagiu da mesma forma que minha avó quando contei que havia largado as aulas, ainda nas férias. Agora ouvia das duas o quanto havia sido imprudente por ter acusado o professor e eu já estava arrependida, mas na hora não pensei antes de abrir a boca. Nossa primeira aula do dia era a dele e caminhei com as meninas até a sala, incerta se deveria mesmo ir até lá. Estávamos entrando no corredor quando ouvi uma voz conhecida que chamou minha atenção.

- Não Willian, você sabe que estou com a razão – a voz da minha avó era quase inaudível
- Eu sei Mary, mas ainda é difícil ouvir esse tipo de acusação – a voz do professor Stroke também era baixa – Você mais do que ninguém sabe que tenho meus motivos
- Sim, e entendo todos eles, mas não é assim que as coisas vão se resolver. Agora não há mais volta, ela já sabe de boa parte da história e espero que não passe disso, me entendeu?
- No que depender, isso morre aqui. Assim como ela.
- Agora preciso ir embora, não estava nos meus planos ter que vir aqui – vovó abraçou o professor Stroke e sorriu – Cuide-se Willian
- Você também, Mary. Tome cuidado

Fiquei imóvel, as meninas do meu lado, enquanto minha avó vinha na minha direção. Ela parecia já ter notado minha presença há muito tempo, e mesmo assim não aparentava estar preocupada por eu ter ouvido qualquer coisa.

- Olá querida – vovó parou na minha frente me abraçando e cumprimentando as meninas
- O que faz aqui, vovó? – perguntei desconfiada
- Assuntos que precisava resolver, nada que lhe interesse, não se preocupe. Mas já estou de saída, demorei mais que o necessário! Vá para a aula, querida. Não quero que se atrase por minha causa.

Minha avó se despediu de nós três e sumiu ao virar o corredor, me deixando lá sem entender absolutamente nada. Automaticamente virei a cabeça para olhar o professor, mas ele estava conversando com alguns alunos e não notou que eu o encarava.

- Anda, vamos. Deixa isso pra lá, não se mete em mais confusão ou vai acabar suspensa – Alex agarrou meu braço e saiu me puxando para dentro da sala
- É, a senhorita fique de boca bem fechada – Yulli andava ao meu lado séria – Não fala nada, finge que não viu sua avó aqui. Ela disse que não interessa a ninguém o que ela veio fazer aqui
- Fácil falarem, não é ninguém da família de vocês que ta escondendo alguma coisa...
- Eu te azaro se você falar alguma coisa. Eu juro que faço isso – Alex me ameaçou e balancei a cabeça me rendendo aos apelos
- Ok, ok, prometo não falar nada!

Entramos na sala em silencio e não conseguia tirar os olhos do professor. E do mesmo jeito, Alex e Yulli mantinham os olhos em mim. Ele seguiu com a aula normalmente, como se nada tivesse acontecido, como se na noite passada eu não tivesse gritado com ele, o acusando de ser um comensal da morte. Quando a aula terminou, ele reteve a turma.

- Por favor, vou citar alguns nomes, e esses alunos devem comparecer hoje à noite à minha sala – ele abriu um pergaminho e começou a ler – Storm, Kinoshita, McGregor, Foutley, Foutley, Chronos, Capter, Wood, O’Shea, Ferguson, Carrara e Prewett
- Para que isso, professor? – Fábio indagou achando estranho
- Apenas estejam aqui às 19hs em ponto, sem atrasos.

Ele fechou sua pasta e saiu da sala, nos deixando lá sem qualquer tipo de explicação. O que ele poderia querer conosco e por que selecionou os alunos?