Wednesday, March 07, 2007


Por Louise Graham Storm

Já haviam se passado dois dias desde que tivemos a aula sobre arte das trevas e os alunos que estavam presentes ainda não conseguiam comentar sobre outra coisa. A pedido do professor, os comentários se limitavam a pessoas que também estavam lá, ele não queria que toda a escola soubesse a fim de evitar aborrecimentos com o ministério da magia. Mas eu me mantinha alheia às intermináveis avaliações da aula, não tinha encarado aquilo da mesma forma que eles.

Depois de ouvir da boca do professor Stroke que minha mãe era uma comensal e torturava pessoas com aqueles feitiços que aprendemos em sala, não tinha mais animo para nada. Ia para as aulas e copiava a matéria sem nem ao menos saber o que estava escrevendo e quando não estava em sala, voltava para o dormitório querendo ficar sozinha. As meninas por diversas vezes tentavam me distrair, mas nada estava surtindo efeito. Nem mesmo Remo conseguia me animar e acabava ficando deprimido também, por não estar tendo sucesso nas tentativas. E minha cabeça, tinha a sensação de que ela ia explodir a qualquer instante e eu sequer sabia o motivo.

- Conversa com ele, meu amor – Remo falava com uma voz suave
- Não quero – respondi triste – Quer dizer, querer, eu quero, mas...
- Mas o que? O que te impede?
- Não saberia o que dizer! – falei finalmente o que me incomodava esses dias – Eu o acusei de ser um comensal e agora não sei como falar com ele. Se pudesse voltar no tempo...
- Mas você não pode, então não tem outro jeito a não ser ir até lá. Que tal começar pedindo desculpas?

Ele beijou minha testa e pela primeira em dois dias, consegui esboçar um sorriso, mesmo que ainda fraco. Deixei-o sozinho no pátio e caminhei lentamente até a sala do professor Stroke. Senti minha mão tremer levemente quando me aproximei da porta. Ela estava entreaberta e bati antes de entrar.

- Srtª Storm... Esperava-a aqui mais cedo. Dois dias mais cedo, para ser mais exato.
- Desculpe – não sabia se estava me desculpando por demorar a procurá-lo ou por tê-lo acusado injustamente
- Desculpa aceita - ele agradeceu com um sorriso sincero pelas duas coisas - Entre, por favor.

Entrei na sala ainda tremendo um pouco e sentei na cadeira em frente a ele, sem dizer nada. Não sabia nem por onde começar e depois de um tempo sem trocarmos nenhuma palavra, ele parecia ler minha mente e quebrou o silencio.

- Você não é como Elizabeth, Louise
- Como pode ter certeza disso? Aposto que com 16 anos ela também não dava indícios de que se tornaria um... – fiz uma pausa antes de falar – um monstro
- Lizzie sempre demonstrou tendências para isso, as pessoas que não enxergavam – ele também fez uma pausa antes de continuar – ou não queriam enxergar
- Por que resolveu nos ensinar aquelas coisas? Foi horrível e...
- Necessário. Como está se sentindo depois de ter aprendido aquilo tudo? Como se sente agora que sabe como torturar e até acabar com a vida de alguém?
- Péssima. Sinto-me suja, como se tivesse sido contaminada por algo incurável. Que não importa o que eu faça, nunca vou esquecer o que vi e fiz naquela aula.
- Pois então! Era esse o efeito que eu desejava! – ele largou os livros na mesa e falava olhando para mim como se estivéssemos debatendo algo interessantíssimo e tivéssemos acabado de chegar a um consenso – Vocês estão se sentindo contaminados, como você mesma descreveu, e agora querem se livrar disso. Não podem simplesmente tirar o que aprenderam das mentes, então irão se concentrar em impedir que essas coisas sejam executadas lá fora!

Continuei muda, sem saber ao certo o que responder a ele. Stroke encostou as costas na poltrona outra vez e tornou a abrir seu livro, folheando duas páginas depressa e tornando a fechá-lo. Ele debruçou na mesa e olhou dentro dos meus olhos, sério. Desviei o olhar dele, tinha a sensação de estar sendo invadida, sensação de que ele podia ler meus pensamentos e aquilo me incomodava.

- Você não é como ela, acredite em mim
- Então porque tenho a sensação que minha vida já esta traçada a seguir esse curso?
- Bobagem. Nós fazemos nosso próprio destino, Louise. Cada um tem o controle sobre sua vida, você faz dela o que quiser. E estou dizendo que você não vai ser como sua mãe. Você não é a Lizzie. Vocês não se parecem em absolutamente nada.
- Tem algo lhe incomodando também.. – disse de repente, sem pensar direito. Não sabia como, mas era como se eu tivesse acabado de ler sua mente
- Seu namorado... – ele estava pensativo e me assustei
- O que tem o Remo??
- Com ele nada, mas notou a ausência de alguém entre os amigos dele na aula?
- Sim, do Pettigrew. Por que não o chamou?
- Não me peça para lhe explicar como, mas posso ver as pessoas por dentro, posso sentir quem é confiável ou não, e aquele menino não me inspira confiança
- Também nunca gostei dele, mas o Remo o adora...
- Alerte seu namorado sobre ele – ele agora estava sério – Talvez ainda não seja tarde. Minha outra preocupação não se remete a confiança em alunos... Alucard me preocupa um pouco, ele parecia estar gostando um pouco mais que os demais das aulas.... Mas vou conversar com ele primeiro.
- Acho melhor eu ir, tenho que terminar alguns deveres – e levantei da cadeira
- Quero que se sinta a vontade de vir a hora que quiser se tiver vontade de conversar. Acredito que não possa saciar todas as suas duvidas e inquietações sobre sua mãe, mas talvez possa ajudá-la a entender muitas coisas sobra sua vida.

Agradeci a oferta com um sorriso sincero e sai da sala. Talvez ainda não estivesse me sentindo como antes, talvez tudo que eu tenha aprendido naquela aula nunca seja esquecido de verdade, mas a verdade era que estava me sentindo mais leve e relaxada depois de conversar com ele, mesmo que por apenas alguns minutos. E por alguma razão que também não sabia explicar, havia aceitado e acreditado de uma vez por todas que da minha mãe, herdei apenas a cor dos cabelos.