Monday, March 19, 2007 Um caso a três Por Scott Foutley - Não vai entrar? Ouvi a voz de Ben e me virei para encarar ele, Mark e Lu parados atrás de mim, me olhando intrigados. Eu estava parado na entrada do salão principal decidindo se entrava ou não, embora já soubesse a resposta antes mesmo de chegar até ali. Desde o sábado em Hogsmeade onde Sandy e eu ficamos, eu andava evitando ela e Wayne. Não porque estava arrependido do que havia feito, mas exatamente pelo motivo contrario. Havia contado aos meninos o que tinha acontecido e eles me incentivavam a contar a verdade a Wayne, pois ele não poderia continuar namorando uma menina que ficava com o irmão dele ao mesmo tempo, mas eu não tinha coragem. Wayne me mataria, sem sombra de duvida. Mas eu precisava colocar um ponto final naquela situação e uma coisa estava clara: eu não poderia resolver aquilo sozinho. ººº - Sandy? - Scott, oi... Esperei até que Wayne tivesse entrado na aula de feitiços e abordei Sandy no corredor antes que ela fosse para sua aula de Runas. Estávamos ambos desconfortáveis com a situação, estava claro. Eu não sabia porque havia feito aquilo e ela parecia arrependida das coisas que tinha dito. - Isso está errado - Sim, não foi certo o que fizemos. Eu... – ela parecia mais desconfortável que eu – eu gosto do Wayne, de verdade. Só estava com raiva dele aquele dia, havíamos brigado e... - Acho melhor sermos só amigos, não vejo problema nisso - Sim, podemos ser só amigos. Não sou do tipo que fica com dois irmãos - É... E nem eu sou do tipo que rouba a namorada do meu irmão, por mais idiota que ele seja - Amigos então? Sandy estendeu a mão para que eu a apertasse e nos encaramos por alguns segundos. Ela se aproximou mais e me beijou de leve. - Isso foi um beijo de amigo? - Não sei... Nos encaramos de novo e, completamente confusos, nos beijamos outra vez. ººº Nos dias que se passaram eu já não conseguia mais evitar a Sandy. Em toda oportunidade que tínhamos, nos encontrávamos e ficávamos juntos. Eu não queria admitir, mas estava gostando dela de verdade. Nós tínhamos muito mais em comum do que ela tinha com Wayne, não conseguia entender o que ela tinha visto em meu irmão. Mas a cada dia que se passava, com mais peso na consciência eu ficava. Era aniversário de um garoto da Corvinal e teríamos festa no salão comunal. E como de costume, todos iriam. Estava em dúvida se deveria ir, pois certamente encontraria Wayne e Sandy por lá e não saberia como agir com eles juntos. Tinha receio de fazer alguma besteira e deixar que Wayne soubesse de tudo. Mas ele precisava saber, uma hora ou outra. Lembrei de uma das vezes que minha mãe contou como ela e meu pai se conheceram, e de como ele falou que tinha valido a pena brigar com o melhor amigo dele por causa dela. E lembrando disso, havia tomado minha decisão: não ia deixar as coisas continuarem como estavam, ia arriscar e por um ponto final nisso de uma vez por todas. Encontrei Wayne no caminho do salão comunal da Corvinal e tomava coragem para falar com ele, quando ele começou a falar sobre a Sandy. O jeito com que ele falava dela, de um jeito que nunca vi Wayne falar antes, me fez dar para trás. - Gosta mesmo dela, não? – me sentia péssimo por constatar isso - Sim... - então ele disse algo que nunca vou me esquecer - A sandy me faz ser um cara melhor do que sou... Seja lá o q isso signifique E então percebi quem era na verdade o cretino. Era eu. Eu era pior do que um cretino, era menos do que um rato. Eu era podre. Quando chegamos na festa eu já me sentia a pior de todas as criaturas do mundo bruxo. Não falei mais nada com Wayne, fomos mudos até o salão comunal, quando Sandy nos abordou e pediu para conversar com ele a sós. Eu não podia ouvi-los, mas não precisava. Sabia o que significava. Sai andando ofuscado pela idéia de que ela tivesse rompido com ele, ou que não tivesse rompido com ele. Foi então que a vi sozinha na festa alguns minutos depois e sabia o que tinha que fazer - Sandy, não pode se separar do Wayne – disse decidido me aproximando dela - Eu já me separei - E o que ele disse? - Ele se sentiu mal e eu também - Ele sabe sobre a gente? – ela balançou a cabeça negando - Não devíamos ter feito isso – falei sincero. Estava realmente arrependido - Scott eu quero ficar com você de verdade. Temos tanto em comum... Olhei para ela sem saber o que dizer. Se ela tivesse dito isso mais cedo, um minuto antes de ouvir de Wayne o que ouvi, talvez pudesse ter um pensamento diferente. Mas sentia que agora era tarde demais. Não poderia fazer isso com ele. Virei o rosto para o outro lado do salão e vi Wayne sentado sozinho na escadaria que dava para os dormitórios. - Eu tenho que falar com ele... Deixei-a sozinha perto da lareira e atravessei pelo meio das pessoas, parando ao lado de Wayne. Ele mal levantou a cabeça para me encarar e voltou à atenção ao copo de cerveja amanteigada. - Oi, como está? – mas ele não respondeu - Wayne, eu... É que... - Eu briguei com a Sandy – ele falou de repente e me sentei ao seu lado - O que? - Dei um fora nela - Fez isso? - Fiz. Não tava dando. Não era o meu tipo. – ele parou de encarar o copo e olhou para mim - O fato é que eu não quero ser filosófico – meu irmão deixou escapar um arroto e revirei os olhos - mas eu acho... sabe, ela ta machucada. E mesmo que ela ache que ninguém gosta dela e que fique sozinha, foi melhor terminar rápido, porque ela terá mais chance de se recuperar... Algum dia... - É... Um dia quem sabe – Encarei Wayne sem saber o que falar e ele esboçou um sorriso fraco, voltando a encarar a cerveja amanteigada. Sentado lá, ouvindo a dor de meu irmão, e as mentiras que ele disse para encobri-la, eu não sabia mais o que fazer. Eu sabia que ele estava dizendo aquelas coisas para ele mesmo e que o que eu queria era ficar com a Sandy. Mas no final, fiquei com meu irmão. Porque, afinal de contas, ele era meu irmão. - Babaca – Wayne falou bebendo mais um gole da cerveja - Miolo mole – puxei a cerveja da mão dele e bebi o que sobrou - Imbecil - Trasgo Os anos 70 foram cheios de eventos improváveis, coisas estranhas e acontecimentos inesperados. Mas nada tão improvável como eu me envolver com a namorada do meu próprio irmão na cara dele e não deixar que ele ficasse sabendo, mas a mentira às vezes dói menos que a verdade. Eu nunca contei a Wayne o que realmente aconteceu e que sabia que Sandy tinha terminado com ele, e não o contrario. E pensando bem, talvez nunca conte... |