Tuesday, March 13, 2007

Vínculos Perdidos

Era dia de visita em Hogsmeade, a última delas. Os alunos que tinham permissão para visitarem o vilarejo estavam empolgadíssimos e levantaram mais cedo para aproveitarem bem o dia. Seguindo a onda, acordei cedo e desci com as meninas para tomarmos café da manhã. Como era aniversário do Remo, Louise e ele saíram rápidos, e eu e Alex saímos alguns minutos depois acompanhadas de Mark, Scott e Ben. Tomamos o Saguão de Entrada, e nos posicionamos ao fim da fila de alunos que esperavam Filch revisar os formulários. A conversa ali estava alta. Logo Alex e Mark começavam a traçar comentários sobre diversas coisas, Scott e Ben riam da cara amarga de Filch ao sempre ser encarregado daquela tarefa monótona, e eu me abstive observando algo que achei fora do comum...

Dois passos à nossa frente, Tiago e Sirius vinham conversando muito baixo sobre algo que parecia ser sério, a julgar pelas expressões tensas nos rostos deles. Nem mesmo Lílian Evans e suas amigas, logo atrás, conseguiam chamar a atenção dos marotos. Fiquei curiosa e aproximei mais a cabeça, tentando em vão escutar o que eles diziam, mas antes que pudesse me prender a alguma palavra, Filch os interrompera, arrancando bruscamente o formulário de Tiago para análise.

TP: Bom dia para você também, Filch! – Tiago pareceu se distrair um minuto do assunto, e sorriu zombador para Filch, que fez uma careta desgostosa. Sirius e ele foram liberados e saíram andando do castelo, novamente conversando.

Quando chegou nossa vez, empurrei sem cerimônias meu papel e Filch deu uma olhada atravessada, balançando a cabeça positivamente.

YH: Alex vou andar depressa, quero passar no correio ainda e mandar uma carta para casa, ok? A Hilla está com a asa machucada, e não gosto muito das corujas do castelo...

Alex interrompeu o assunto com Mark, concordando com a cabeça e dizendo “até mais”. Sem esperar mais um segundo, saí quase correndo do castelo, e uns metros à frente os vi. Me aproximei tentando não fazer muito barulho até ficar em uma distância razoável. Eles não conversavam mais tão baixo...

TP: Estou te falando, Almofadinhas... Não é pessoal, nem nada disso, mas aquele tal de Yoshu, ou seja lá qual for o nome, não é nada confiável!
SB: Pontas, você está exagerando. Ok, as semelhanças são grandes, mas ele me parece bem diferente em outros aspectos...
TP: É porque você não viu a expressão do rosto dele ao anunciar a Cruciatus contra o pelúcio! Eu vi. Ele quase sorria.
SB: Certo, mas se o professor Stroke o convidou, mesmo ele sonserino, adorador de poções e um tanto caladão demais, é porque confia nele!
TP: Pode ser que o Stroke confie nele, mas como é que podemos confiar nos julgamentos do Stroke??? Ele não deixa nem o Pedro participar dessas aulas! O Pedro me parece bem mais centralizado do que um sonserino estranho...

Nesse momento parei de escutar. Senti o sangue passar gelado em cada parte do meu corpo, e me aproximei ainda mais deles, agarrando Tiago pelas vestes. Acho que eu tinha uma expressão muito assustada no rosto, pois Sirius logo arregalou os olhos e Tiago soltou um sorrisinho, mesmo parecendo incomodado.

TP: Wow, vai parando aí, Hakuna! Assumi um compromisso com a Evans e não quero problemas... Adiciono o seu nome da lista de espera, se você quer tant...
YH: Você estava falando do Y-O-SHI???
TP: Isso, Yoshi, não Yoshu! Sabia que estava falando errado!
YH: Chega Tiago! – Puxei o colarinho dele com mais força, e ele tirou o sorriso do rosto. – Era dele que vocês estavam falando?

Tiago continuou me encarando sério, como se estivesse com medo de responder. Foi Sirius quem me faz soltar Tiago e disse “sim”. Olhei para o rosto de cada um deles, longamente, e eles permaneceram sérios. Aquilo me assustou, mais do que qualquer coisa. Se fosse um tipo de brincadeira, eu veria no fundo dos olhos deles o prazer de estarem me deixando com medo.

TP: Não era para você ter escutado isso, ok? Eu sei que ele é seu meio irmão, afilhado, parente, familiar...
YH: Você está falando sério? Sabe, da expressão dele?
TP: Acredite você ou não, sei ser sério quando quero. Não brincaria com uma coisa dessas, Yulli.

Ele me encarou e depois de uns segundos abaixei a cabeça, sem saber o que dizer ou pensar. Sempre achei Yoshi calado e sozinho demais, mas nunca entrou na minha cabeça a perspectiva de que ele fosse mais um desses sonserinos nojentos que adorariam fazer outra pessoa sofrer. Com a cabeça doendo, passei por eles depressa e continuei caminhando para Hogsmeade, mesmo sem saber o que ia fazer lá...

°°°

Tia Yhara, como você está?

Comigo está tudo bem, pelo menos teoricamente... Nenhuma novidade ruim na minha vida, calma! Tudo continua como sempre. Aulas, deveres, monitorias, treinos...
Estou com saudades!
Mas não é bem por saudades que eu estou escrevendo essa carta. Você pediu que eu te deixasse informada sempre sobre o Yoshi, e até agora você está recebendo notícias muito boas dele por aí, não é? Hoje, talvez isso mude um pouco...
Estou confusa. Talvez eu esteja me deixando levar demais pelas aparências, mas temo que o Yoshi talvez esteja se desviando do “caminho certo”.
Você sabe, ele sempre foi calado e introspectivo, e eu também não o julgo por preferir ser sozinho. E você sabe também das preferências dele, como em poções... De uns tempos para cá, ele vem agindo diferente. Mais calado, mais sozinho, um pouco esforçado demais em tentar entender as Artes das Trevas... Talvez eu só esteja arrumando desconfianças demais pelas coincidências, mas achei que seria importante que você soubesse disso...
Vou te manter informada de tudo! Mande beijos para papai, mamãe e Yuri! Com carinho, Yull.

°°°

Professor Stroke mandou todos guardarem suas varinhas e dispensou a turma. Fui até o pufe no fundo da sala apanhar minha mochila com Alex, ambas em silêncio. Era sempre assim. No final dessas aulas extras, sempre ficávamos em silêncio, como se tentássemos absorver tudo que tínhamos feito naquele dia.

Sai com meus amigos da sala e aos poucos eles foram dispersando. Sam e Josh foram para a Corvinal. Lu, Scott e Mirian foram para Grifinória, e eu, Louise, Alex, Mark e Ben seguíamos caminho para a Lufa-lufa. Estávamos perto da cozinha quando senti alguém me puxando pelo braço. Era Yoshi.

- Preciso conversar com você!
YH: Não precisa me machucar, ok? – disse seca, e ele me olhou sem graça, soltando em seguida. Virei para meus amigos, que pararam e ficaram me esperando. – Podem ir... Vou logo em seguida.

Esperei um tempo até eles se distanciarem, para me virar novamente para Yoshi.

YH: O que você quer?
- Desculpa... Pelo braço! – ele pediu mais uma vez, parecendo alarmado pela maneira que tinha falado com ele.
YH: Tudo bem... Então?
- O que está acontecendo? Acho que tenho pelo menos direito de saber por que você está me tratando mal ultimamente!
YH: Ah Yoshi, agora não, ok? – fiz menção de virar as costas e ele falou em um tom mais alto.
- O que disseram sobre mim? Você não estaria assim comigo, só pelo fato de saber que gosto de você. Não é assim que você vai conseguir me fazer gostar de outra pessoa.
YH: Já tinha até me esquecido disso, se quer saber! – falei fria. Estava estranhando a maneira com que eu estava falando com ele, mas desde o dia que ouvi os marotos conversando, alguma coisa no Yoshi me fazia sentir um nojo grande de estar perto dele. Desde então, eu realmente tinha me afastado mais.
- Yulli, eu não sou quem eu transpareço ser... Pensei que você entenderia isso, já que me conhece melhor do que os outros.
YH: Pois é, não te entendo! Não consigo entender porque uma pessoa como você, bonita, inteligente, simpática e jovem, adora estar sempre sozinha! Não consigo entender porque você vive enfurnado em frente a um caldeirão e nem entendo porque você escolheu ser um... um... – não terminei a frase, as palavras entalaram. Ele me olhava surpreso, mas se manteve firme. – Esquece! Faz o que você achar melhor!

Sai andando e não ouvi passos dele vindo atrás. Sentia uma vontade tremenda de sacudi-lo, de “limpá-lo”! Uns segundos depois ele correu e saltou na minha frente me fazendo parar para olhá-lo.

- Do que você está dizendo? Sério, não estou conseguindo entender nada. Escolhi ser “um” o que???

Ele falou depressa e a raiva que eu sentia aumentou. Sem pensar duas vezes, dei um tapa forte no rosto dele, e instintivamente, ele segurou meu braço, tão sério como nunca tinha visto.

- Escuta aqui, Yulli. Não sei o que disseram para você sobre mim, e nem quero saber. Aposto que foi um daqueles marotos engomadinhos que se acham o máximo. Eu sei quem eu sou, e pensei que você também soubesse. Se prefere acreditar neles, o problema é seu, não vou mais correr atrás de você para tentar limpar minha imagem. Faz você o que acha melhor!

Sem dizer mais nada, ele soltou com violência meu pulso e saiu andando depressa. Fiquei encarando a parede até ele sumir, e senti uma lágrima escorrer pelo rosto. Limpei-a antes de entrar na Lufa-lufa, e assim que cheguei, fui até o dormitório e apanhei uma pena e um pergaminho, escrevendo um bilhete, com ódio.

Tia Yhara, espero que você esteja preparada, pois não tenho mais dúvidas de que Yoshi está do outro lado. Sinto um nojo dele, e por isso, espero que compreenda se eu simplesmente passar a ignorá-lo. Yulli”