Friday, July 06, 2007 Abri os olhos devagar e de cara não reconheci as cortinas vermelhas em volta da cama, mas logo me lembrei que não havia passado a noite na Lufa-lufa. Não consegui reprimir o sorriso idiota que se formou no meu rosto ao constatar onde estava e me enrolei no lençol, abrindo as cortinas. Remo estava parado de costas para a cama e encarava fixamente a janela. Envolvi meus braços em sua cintura e beijei seu ombro. - Bom dia - Bom dia – ele me puxou para frente dele e me beijou devagar - O que tanto olha por essa janela? - Nada demais... – ele tentou parecer casual, mas sua voz dizia o contrario – Só estou contemplando pela ultima vez a vista que se tem daqui de cima - Só de pensar que ano que vem é a minha formatura, e que volto em Setembro sem você, me dá um nó na garganta... – olhei para onde ele olhava e suspirei – Mas não é só isso que incomoda você... O que é? Remo me abraçou mais forte e ficou em silencio por um tempo, olhando para os jardins. Virei o rosto para olhar para ele e ele tinha uma expressão desanimada. - Tenho receio de como vão ser as coisas de agora em diante – ele começou a falar e seu tom de voz era tão triste que me deixou aflita – Quando entrei em Hogwarts, o professor Dumbledore tinha cuidado de tudo para que eu pudesse terminar meus estudos sem machucar ninguém, ter minhas transformações toda lua cheia de maneira que isso não me atrapalhasse em nada. E agora eu estou por conta própria. Quem vai querer um lobisomem trabalhando em algum lugar, pondo em risco a vida de outras pessoas? - Remo, muita gente daria um emprego a você – me soltei do abraço dele e o encarei de frente – Você sabe quando vai se transformar e pode controlar isso. Não estaria pondo a vida de ninguém em risco! - Depois de cada transformação, eu passo no mínimo dois dias em recuperação. Como vou trabalhar sem ser demitido desse jeito? - Para onde você se inscreveu? No Ministério da Magia, certo? – ele confirmou com a cabeça – E tenho certeza que a professora McGonagall escreveu uma carta de recomendação realmente boa para você... Quando vai saber se conseguiu o estágio? - Em meados de Agosto, eles não liberam antes, os novatos só começam em Setembro - Então que tal deixarmos para nos preocuparmos com isso em Agosto? – sorri beijando ele outra vez e ele sorriu de leve – Temos um verão inteiro pela frente, e pretendo passar cada segundo dele com você, já que em Setembro nos separamos... - Você tem razão, estou me preocupando antes da hora. Vamos nos ocupar com planos para o verão que- A frase foi interrompida com o som de passos e vozes animadas se aproximando. Olhei para ele alarmada e minha reação imediata foi pular de volta para a cama e fechar as cortinas. A porta se abriu com um estrondo e as vozes que conversavam animadas cessaram ao mesmo tempo. Foi ai que me lembrei que meu vestido devia estar no mínimo jogado no chão, ou perdido em cima de algum móvel. - Vocês não iam voltar às 7? – ouvi a voz do Remo – São 6:15 ainda - Aluado... – ouvi passos e a voz debochada do Sirius – O que andou fazendo? - Nada da sua conta – Remo respondeu seco – Será que vocês poderiam sair? - Não sem antes falar o que estava fazendo... – agora era Tiago que falava, e podia até imaginar o sorriso imbecil estampado na cara dele - Os quatro, fora, agora – ouvi Remo caminhar até os amigos e pelo barulho, empurrá-los - Qual é! Esse dormitório também é nosso! – a voz enjoada de Pedro resmungou – Eu nem arrumei meu malão ainda! - Arruma depois, Pedro – Quim falou sem tom de deboche na voz. Adorava ele – Vamos, depois a gente volta, Remo Ouvi Quim empurrar Pedro para fora e apesar de ouvir também muitas risadas de Sirius e Tiago, eles pareciam estar saindo sem criar problemas. As cortinas abriram outra vez e Remo estava sozinho no quarto. Sai querendo rir, mas me controlei, pois ele estava sério e parecendo muito sem graça. - Desculpa, desculpa, desculpa – ele me abraçou outra vez e não contive o riso – Não era pra eles voltarem tão rápido! - Não tem problema, acho que eles iam chegar a essa conclusão sozinhos já que você sumiu a noite inteira, e eu também - Quer que eu pegue a capa do Tiago para você sair? Eles estão esperando a gente passar no salão comunal, tenho certeza disso - Não precisa. Eles sabem que estou aqui mesmo, que diferença faz? Começamos a rir da situação e peguei meu vestido no canto do quarto, vestindo outra vez. Demorei um tempinho até encontrar os sapatos, e isso deu a Remo tempo para vestir alguma coisa também, ele queria me acompanhar até a Lufa-lufa. Quando saímos do dormitório, não foi surpresa alguma encontrar os quatro sentados no sofá, olhando para a escada. Sentia a mão do Remo gelada segurando a minha, mas tinha vontade de rir. - Bom dia Louise – Sirius falou sorridente levantando do sofá - Bom dia Sirius... – sorri cínica para ele e Remo ficou ainda mais vermelho - Bom dia também, Louise! – Tiago fez uma reverencia idiota e me olhou com cara de deboche - Bom dia pra você também, Tiago... Podem subir, o quarto já está liberado - Vamos arrumar as malas então, não é pessoal? – Quim era o único, além de Remo, que parecia desconfortável com a situação – Bom dia, Lou – ele falou baixo e passou apressado para o quarto - Vou levá-la até a Lufa-lufa, não baguncem as minhas coisas – Remo falou sério e me puxou para a saída - Ouviu, não é Rabicho? Não chega perto do colchão do Aluado! – ouvi Tiago gritar antes que o quadro fechasse a passagem - Desculpa mais uma vez pelos meus amigos idiotas, mas não tenho qualquer controle sobre eles – Remo estava realmente constrangido e ri - Já falei que não ligo, pois tenho certeza que as meninas fariam o mesmo se você tivesse passado a noite no nosso dormitório. Alias, talvez seja melhor você evitá-las no trem, se não quiser ouvir mais piadinhas - Vou tentar, mas acho que vou ter que passar por mais essa – ele riu me beijando e descemos as escadas em direção à Lufa-lufa ººº A viagem de volta a Londres correu tranqüila. Depois de presenciar Sirius e Tiago se despedindo de Hogwarts mandando beijos para McGonagall e até para os portões do castelo, o trem deixou a estação de Hogsmeade sem atrasos. Passei toda a viagem na mesma cabine que Remo, onde estavam todos os nossos amigos. Ninguém queria se espalhar, então ocupávamos até o chão para que pudéssemos passar as ultimas horas que tínhamos juntos jogando conversa fora e fazendo planos para o verão. O Expresso de Hogwarts logo parou na estação de King’s Cross e a inevitável hora da despedida chegou. Nem todos tinham planos de se encontrar nas férias, e quando chegasse Setembro, não veríamos mais muitos daqueles rostos por um longo período. Os ‘adeus’ e ‘até logo’ duraram tanto que tinha a impressão que ninguém queria deixar aquela estação e passaríamos a noite nela se fosse permitido, mas finalmente cada um foi para um lado, restando apenas nós dois. Julian já me esperava na saída da estação com meu malão e Remo segurou meu braço. - Pensei em um jeito de nos vermos sempre que eu puder fugir até Hogsmeade – ele puxou um pedaço de pergaminho velho do bolso e me entregou – Com isso você pode sair do castelo sem ser pega, e me encontrar no vilarejo - O Mapa do Maroto? – falei surpresa – Vai deixá-lo comigo? - Ele não tem mais serventia para mim ou os garotos, a não ser que eu queria vigiar cada passo seu no castelo – ele riu – Mas sei que não preciso disso. Sabe como ele funciona? - Não exatamente... - É simples: para abrir, bata com a varinha de leve e diga ‘Juro Solenemente que não pretendo fazer nada de bom’ – ri do jeito de abrir o mapa e ele continuou – E quando terminar de usar, bata outra vez de leve com a varinha e diga ‘Malfeito Feito’, e tudo vai desaparecer, voltando a ser só um pedaço velho de pergaminho. Mas não se esqueçam de apagá-lo, pois se algum professor pegar, não vai saber o que é - OK, entendi... Não se preocupe, ele estará em boas mãos e faremos bom uso do mapa durante o ano - Não tenho duvidas disso - Então... Nos vemos em duas semanas? - Sim, nos vemos em duas semanas – ele me abraçou e me beijou mais demorado que nunca, antes de me soltar Vi Remo olhar para o trem uma ultima vez antes de caminhar lentamente ao encontro de sua mãe. Correi até Julian mais animada e pulei em cima dele antes de entramos em seu carro. Estávamos enfim, de férias! Mesmo com tantos motivos pra deixar tudo como está Nem desistir, nem tentar, agora tanto faz Estamos indo de volta pra casa... Por Enquanto – Renato Russo |