Friday, March 21, 2008

Após a união

Lembranças de Mirian O. Capter

1 mês atrás

Senti uma luz penetrando em meu longo sono. Não sabia há quanto tempo estava dormindo, mas pouco a pouco consegui perceber o local ao meu redor. A luz do sol batendo em meu rosto, o som das cortinas ao vento e a textura do lençol, o aroma doce no ar, um cheiro conhecido e adorável e uma presença de poder, mas de profunda preocupação e medo. Por um momento fiquei sem me lembrar o que tinha acontecido.

Então como uma avalanche, as memórias voltaram à minha mente. As portas sendo arrombadas, Lu cobrindo meu corpo com o dele para me proteger. Comensais mascarados em plena Hogwarts atacando alunos sem dó. Eu e Lu encurralados, envoltos por todos os lados por máscaras que pareciam rir de nós. Keigan gritando que Alucard não iria agüentar...O sangue dele escorrendo pelo chão, seu olhar quando se jogou na frente de um feitiço e vi o brilho de seus olhos enfraquecer até não passar da sombra do fogo que havia antes. Seu pedido para que eu o matasse, para que acabasse com seus pecados. Meu desejo, minha ordem, meu sangue misturado ao dele. Então não me lembrava de mais nada.

- Alucard! – Levantei de um salto quando tudo isso passou pela minha mente e descobri-me deitada na ala hospitalar. Uma figura que estava de pé ao meu lado saltou de susto e surpresa e me encarou com um sorriso de alívio. Ali estava ele, meu querido encarando-me com uma felicidade como nunca via antes naquele rosto que tenta carregar todo o mal e toda a tristeza sozinho. Ele não falou nada apenas me abraçou com força e senti lágrimas escorrendo em meu ombro enquanto ele soluçava e sussurrava em uma voz que me deu dó e pesar, “me desculpe. Obrigado por voltar!”. Madame Pomfrey veio correndo e quando viu nós dois abraçados, sorriu levemente e voltou para sua sala.

- Lu, calma, eu estou aqui.

- Graças a todos os poderes desse mundo! Eu pensei que tinha te perdido!

- Calma, se acalma querido, eu estou aqui. Por quanto tempo dormi?

- Você esteve inconsciente desde o baile de dia dos namorados...

- E são quantos dias?

- Quatro.

- Tudo isso?! – eu me assustei e momentaneamente me senti tonta e sem forças. Ele prontamente me segurou e me fez recostar novamente.

- Sim você esteve inconsciente esse tempo todo. – ele me olhou, e seus olhos demonstravam um alívio intenso. Mas demonstravam também um cansaço enorme.

- Lu, você não esteve esse tempo todo aqui?! Você está maluco?!

- Sim, Mirian, o Alucard não saiu do seu lado por esse tempo todo. Algo muito bonito, mas também preocupante e tive que leva-lo quase a força para dormir ontem e para se alimentar. – uma voz conhecida e que eu gostava falou se aproximando. O Professor Dumbledore se aproximou de minha cama, e junto dele estava a Professora Minerva.

- Pedi que a Papoula me avisasse quando a senhorita despertasse. Estávamos todos preocupados. – Professora Minerva disse com um sorriso de alívio.

- Agora que a senhorita está desperta devemos conversar sobre algumas coisas. Seu ato para salvar a vida do Alucard foi um símbolo de coragem e amor, mas foi um pouco imprudente. – O diretor falou, severo e ao mesmo tempo bondoso.

- Desculpe-me, mas era tudo que eu podia fazer...Não queria perde-lo.

- Eu entendo isso, Mirian, e não a culpo nem a repreendo. Pelo contrário, estou até feliz por você ter aprendido uma das minhas lições mais importantes, o amor. Mas foi um pouco perigoso. Seu corpo rejeitou o contato com os dentes vampíricos e por pouco não pereceu. Fora o fato de que a senhorita perdeu muito sangue, precisamos de algumas doações.

- Quem doou? O Lu não poderia ser, se não seria pior.

- A Alex, Lou e Yulli revezaram...Você realmente perdeu muito sangue. – Alucard falou, agora mais calmo, mas ainda com uma forte preocupação no rosto.

- E havia um grave e perigoso problema: você havia se tornado ou não uma vampira? – A Professora Minerva fez a pergunta que os três pareciam ter mais em mente e entendi toda a preocupação do Lu. Ele parecia prestes a desaparecer de tanto remorso e medo...

- Mas a senhorita não virou um vampiro. O Alucard sabe muito bem o que torna uma pessoa comum um vampiro, mas ele não podia ter certeza, porque até hoje nenhuma das pessoas que ele tomou o sangue direto da garganta sobreviveu para responder. – O diretor falou como se fosse algo normal e engraçado e por um momento vi uma sombra de tristeza e remorso nos olhos do Lu, que evitou meu olhar.

- Para que uma pessoa torne-se um vampiro, o vampiro original deve querer torna-lo um vampiro. Mas o passo mais importante é: o vampiro deve fazer sua vítima beber de seu próprio sangue para passar a maldição. Ocorre em seguida a morte do corpo humano da vítima e ela passa a ser um morto que anda pelas trevas, alimentando-se para saciar uma sede insaciável. – Lu explicou com nojo e um brilho de raiva nos olhos. – Por isso há tão poucos vampiros. Porque pode ocorrer da vítima morrer completamente e não conseguir se manter em um corpo...Comigo foi exatamente assim. A dor da morte de meu corpo foi enorme, mas algo impediu a morte completa e eu não morri, mas ainda tenho o sangue maldito em minhas veias. Tive tanto medo de ter tornado-a um dos condenados...

- Mas isso não aconteceu, então Sr. Chronos deixe de lamentar! Se a Sra. Capter não tivesse feito isso você estaria morto de verdade agora. – Dumbledore falou enquanto encarava Lu e este parecia querer dizer que teria sido o melhor a fazer, mas ficou calado. – De qualquer forma, tenho quase certeza que seus poderes a protegeriam até mesmo dessa maldição, Mirian. Bem só viemos aqui ver como a senhorita estava se sentindo, e vejo que está bem melhor. Dentro de dois dias voltaremos às aulas particulares. Até lá então. Até a próxima, Alucard.

Dumbledore saiu da ala hospitalar depois de um sorriso, mas a Professora Minerva ficou mais um pouco conversando conosco e dizendo que estava feliz por eu estar bem. Quando ela saiu, finalmente ficamos só eu e Lu juntos. Ele se sentou na cama ao meu lado, com a cabeça baixa, olhando para o nada. Eu o puxei para um abraço e deitei sua cabeça em meu peito, e deixei que ele chorasse o quanto quisesse, consolando-o, mas sabendo que agora estávamos mais unidos que nunca...Aquele abraço durou talvez horas, e não precisávamos dizer mais nada...Éramos um e sabíamos disso desde sempre, agora mais do que nunca. Senti uma pontada de prazer ao pensar que minha vida corria nas veias dele...

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- Mirian, receio que nossos agradáveis encontros estão chegando ao fim. Ensinei-lhe tudo que eu podia sobre defesa e proteção e lhe dei as bases para que desenvolvesse seus próprios meios de proteção. E também sua formatura se aproxima e não quero atrapalhar o descanso muito merecido de vocês. Mas deixei um assunto importante para o final.

Me remexi na cadeira ansiosa e curiosa, enquanto Fawkes se ajeitava em meu colo e eu acariciava suas penas. Nós havíamos ficado amigos e a fênix sempre me dava as boas vindas. Ultimamente eu e o diretor conversávamos mais do que duelávamos. Dumbledore me ensinou diversos feitiços e ultimamente vinha me dando aulas sobre partículas de magia, dos tipos de uniões e arranjos que as energias mágicas possuem, para que eu fosse capaz de remodela-las para meu uso em feitiços e encantamentos. Muitas vezes mergulhávamos em pensamentos de bruxos antigos na penseira do diretor e eu aprendia tudo com uma velocidade e avidez enorme. Mas nas últimas aulas vinha sentindo que ele estava preparando-me para algo realmente importante.

- Ensinei-lhe a conjurar um feitiço Fiel, ensinei-lhe o mais difícil dos Fiéis, o Fiel em Pessoas, e gostaria de parabenizá-la, pois aprendeu muito rápido, realmente isso faz parte do passado de sua família. O que vou ensinar agora, é parecido com o Fiel, mas ao mesmo tempo totalmente diferente.

“No mundo da magia, há diversos poderes que são fortes demais e precisam ser limitados e controlados. Existem muitos feitiços e habilidades pessoais que são controlados para proteger quem os utiliza e as pessoas ao redor. Um exemplo é os dons do Alucard, que são fortemente controlados por ele próprio. Os seus poderes também são controlados, mas de forma diferente, você apenas os enfraquece e fortalece quando quer. Mas existe um encantamento que realmente limita o uso de certas habilidades.

São chamados de Selos. Um Selo é um encantamento tão poderoso que suprimi o poder de uma habilidade ou feitiço, mantendo-a inerte e inativa enquanto for necessário. Você pode imaginar então que para conjurar um Selo é necessário um poder enorme. Até hoje eu não tentei conjurar um Selo, mas no futuro quem sabe. Já para a senhorita e o Alucard, os Selos serão extremamente importantes. Para controlar os poderes de vocês dois quanto de outros. Eu fico imaginando como seriam os seus filhos, realmente poderosos eu imagino, pois reuniriam dois ramos de famílias e clãs milenares.”

Eu corei quando o diretor falou em filhos. Não que eu tivesse alguma vergonha de falar nesse assunto, mas parecia que desse jeito ele podia saber que eu e Lu já havíamos nos unido antes...E também porque de um jeito ou outro, é constrangedor falar de filhos com seu diretor. Propositalmente ele ignorou meu rubor e sorriu enquanto imaginava meus filhos.

- Terei prazer em ensina-los, só espero estar vivo até lá, sou um homem velho já.

- Claro que não diretor! Seria uma honra e um orgulho se o senhor os ensinasse!

- Para mim que seria uma honra. Bem está preparada para começarmos? Mas antes, precisamos de uma ajudinha. – Nesse momento ouvimos uma batida na porta e o diretor mandou que entrasse. Para minha surpresa, foi o Lu que entrou. – Bem vindo, Alucard. Como havia dito, Mirian, um Selo precisa de muita energia. E imagino que os Selos que vocês criariam precisariam do poder de vocês dois. E de um objeto que fortaleça-os ainda mais. Fawkes poderia sair do colo da Sra. Capter um pouco? - A fênix alçou vôo e pousou na mão estendida do diretor, deixando cair uma única pena colorida e dourada.

- Usaremos uma pena de fênix para os treinamentos, mas no futuro vocês poderão achar algum objeto mais forte. Eu sugiro algo vindo de dragões, pois são duas criaturas com alto poder mágico, ou algum objeto de poder mágico ainda maior...

Ele então nos explicou o que fazer. Era algo complexo. Deveríamos concentrar nossas energias no objeto mágico, para que utilizando-se dele nós remontássemos as energias mágicas e assim tivéssemos um grande suprimento de energia. Depois deveríamos nos concentrar no que queríamos selar e então liberar um quantidade enorme de poder, superior ao que queríamos selar...Era algo complicado e com menos de meia hora de treino, o diretor parou e nos disse para sairmos e descansar, continuaríamos depois. Enquanto isso começamos a preparar as malas para nossa viagem de formatura! Mas só vou conseguir viajar tranqüila após dominar o Selo.

Alucard Wingates Chronos às 10:23 PM