Monday, August 18, 2008 - Louise, você viu seu irmão? – vovô perguntou abrindo a porta da loja – George? GEORGE? Ele saiu, tenho certeza que o vi sair! - Vovô, espere, preciso falar com você – corri até a porta – É sobre o George... - Depois, querida. Deixe-me encontrar seu irmão primeiro! – e saiu da loja apressado, gritando pelo meu irmão. Virei para Remo, que me observava por trás do balcão - Lou, você precisa contar a ele – disse sério – E precisa ser agora, a reunião é hoje à noite. Amanha será tarde demais. - Eu sei, mas não consigo ficar sozinha com ele! – ele continuou me olhando sério e fiz como quem ia chorar, cansada – Ok, ok, estou indo atrás dele! Sai da loja correndo e me misturei às pessoas que passeavam pelo Beco Diagonal. Era o segundo dia do recesso de páscoa e hoje tinha vindo atrás do vovô para ajudar na loja, mas minha intenção mesmo era contar a ele o que George estava planejando para mais tarde com seus amigos, só que ainda não tinha conseguido falar. Remo me pressionava para contar logo e tentava encontrar um meio de começar a conversa, mas meu tempo estava esgotando. Tinha muito gente caminhando pelos becos estreitos e já havia perdido meu avô de vista, mas mesmo assim desci a rua. Um pouco mais à frente, perto da entrada para a Travessa do Tranco, tinha uma pequena aglomeração. Estiquei o pescoço curiosa e vi meu avô deitado no chão, George ao lado dele. - VOVÔ! – sai empurrando as pessoas desesperada e me abaixei ao lado deles – O que aconteceu? Ele caiu? O que você fez? – falei em tom acusador - Eu não fiz nada! – George se defendeu, olhando apavorado para o vovô caído no chão - Ele simplesmente caiu? - Sim! Ele me chamou, eu olhei, ele fez uma cara estranha, levou a mão ao peito e caiu! - Vá chamar ajuda no St. Mungus, anda! – gritei nervosa e George correu para dentro da loja mais próxima para usar a lareira Fiquei segurando meu avô quase desacordado no chão e tremia da cabeça aos pés, fazendo força para não chorar. Ele não conseguia respirar direito e quando o socorro enfim chegou, ele já estava desacordado. George e eu fomos com ele na ambulância e não trocamos uma única palavra no caminho, apenas encarávamos nosso avô na maca, inconsciente. ººº Vovô já estava sendo atendido há bastante tempo e ninguém nos dava noticias. Já havia procurado uma lareira para avisar ao Remo o que tinha acontecido e George já tinha avisado ao vovô Henry o que estava acontecendo, e ele já estava conosco. Não conseguia ficar sentada, estava nervosa, e andava de um lado para o outro. Quando o curandeiro que o atendeu saiu da sala, cheguei a sentir meu coração disparar. Tinha medo do que poderia ouvir. - E então, Doutor? O que aconteceu? – vovô Henry se adiantou e fomos nos aproximando devagar, receosos. - O avô de vocês sofreu um infarto – disse calmo e George e eu nos olhamos assustados – Ele está bem, fiquem tranqüilos – acrescentou depressa – Por sorte, dessa vez não foi grave. - Mas infarto é sempre sério – vovô Henry falou preocupado - Sim, é algo para se cuidar a partir de agora. Ele precisa de repouso absoluto por um mês. Nada de se aborrecer ou fazer esforço físico. - Pode deixar, não vamos deixar ele se cansar e nem fazer nada em casa – falei ainda um pouco nervosa, mas aliviada por ele estar bem - Ele está acordado, podem vê-lo se quiserem... Ele indicou a sala certa com a mão e vovô e eu entramos, mas George ficou para trás. Ele estava deitado com os olhos quase fechados e tinha um tubo de plástico no nariz ajudando a respirar, mas sorriu ao nos ver. Minha mão ainda tremia quando ele esticou a dele para que eu a segurasse. - Tente nao falar nada vovô, você precisa descansar – falei depressa, parando de tremer um pouco - Que susto, hein John! – vovô Henry parou ao meu lado – Quando receber alta, vai ficar lá em casa conosco. Abigail e eu temos o prazer de ajudar. - Não quero dar trabalho – vovô falou com a voz fraca - Trabalho você vai dar se ficar em casa – vovô Henry respondeu – E isso não é um convite, é um aviso. - Obrigado – ele agradeceu sem graça e olhou para o lado – Onde está George? Olhei ao redor e vi que meu irmão ainda não tinha entrado. Ele estava do lado de fora nos observando pelo vidro, estático. Quando viu que vovô procurava por ele, entrou no quarto. George se aproximou da cama e me afastei, vovô Henry veio atrás de mim. Quando estávamos fora do quarto, olhei rápido pelo vidro e vi George de pé ao lado do vovô e ele segurava sua mão com força, enquanto falava. Meu irmão ouvia em silêncio e, de repente, começou a chorar. Continuei observando os dois sem perceber que estava parado no meio de um corredor, imaginando o que estavam conversando. George secou as lágrimas e balançava a cabeça, concordando com o que ouvia. E o que quer que fosse ele sempre ouvia o que o vovô John diz, e esperava que a conversa fosse sobre o que tanto me preocupava... |