Sunday, September 14, 2008


Sábado, 03 de Junho de 1979

O dia da grande final havia chegado e a atmosfera no castelo não poderia estar mais carregada. À medida que os jogadores e torcida do Instituto Bergen de Magia, da Noruega, iam chegando e se acomodando nas arquibancadas e vestiário, íamos ficando mais tensos. A responsabilidade de jogar uma final em casa era muito grande e, com toda a empolgação de termos chegado tão longe, não percebemos o quanto seria difícil. Encarava o prato com torradas há mais de 15 minutos sem tocá-las. Não sentia a menor vontade de comer, tinha a sensação de que botaria tudo pra fora instantes depois de ingeri-las. E pelo visto, com exceção de Mark, o resto do time pensava do mesmo jeito.

- Meninas, vocês precisam comer! – ele insistiu mordendo sua 6ª torrada com geléia – Vamos precisar de força para vencer!
- Não dá pra comer quando se tem um Salgueiro Lutador no estomago – Alex empurrou o prato pra longe, espiando por cima do ombro de Lu – O estádio está enchendo, é melhor irmos andando...
- É, boa idéia – levantei apressada – Quem sabe no vestiário nos acalmamos um pouco.

Todos levantaram e caminhamos da direção do campo. A escola inteira nos cumprimentava no caminho, incentivando e dando força, todos enrolados em bandeiras de Hogwarts ou com os rostos pintados com as cores da escola, cantando o nosso hino. Hoje não havia rixa entre as casas, eram todos um só. Madame Hooch já nos esperava agitada no vestiário, argumentando que estavam faltando dois jogadores. Logo percebi que os desaparecidos eram George e Regulo, e se antes estava nervosa, agora estava em pânico.

- Não podemos mais esperar por eles, partida vai começar em 10 minutos! – madame Hooch anunciou depois dos garotos fazerem uma varredura no castelo e voltarem dizendo que não os encontraram – Prewett, pegue sua vassoura, você jogará no lugar do Storm hoje.

Fábio se animou em poder começar jogando dessa vez e ela começou a preleção de sempre, mas dessa vez não consegui ouvir uma única palavra. Minha atenção estava voltada para a gritaria vinda do campo e imaginando onde George e Regulo poderiam estar. As idéias eram as piores possíveis, aquilo tirou toda a minha concentração. E quando entramos em campo e o apitou soou, fiz de longe a minha pior partida de quadribol. Alex, Andrew e Fabio marcavam gols rápidos, mas os artilheiros da Noruega também, e a partida seguia sempre empatada. Como os goleiros eram igualmente bons, o que deveria fazer a diferença em campo eram os batedores, mas estava sendo dois contra um. Comigo desconcentrada, Mark sozinho não conseguia dar conta de arremessar os balaços contra os artilheiros da Noruega e começamos a perder vantagem. Quando o placar marcava 180 x 90 a favor deles, Madame Hooch pediu tempo.

- O que é que está acontecendo lá em cima? – ela berrou assim que pisamos no chão – Louise, vou ter que tirar você do jogo?
- Desculpa, eu não estou concentrada – falei cansada, me atirando no banco
- Também me desconcentra o fato de um dos nossos melhores artilheiros não ter aparecido para o jogo, mas temos que superar isso! – ela falou em tom de bronca
- Lou, a gente sabe que você está preocupada com o sumiço do George, entendemos o porquê, mas precisamos de você no campo! – Alex falou soando desesperada
- Alex tem razão, você precisa se concentrar! – Yulli engrossou o coro – Quando o jogo terminar, vamos todos ajudar a encontrá-lo, mas precisamos encerrar ele. E com uma vitória!
- Vocês estão certas, desculpa! – levantei do banco e peguei a vassoura outra vez – Demos duro pra chegar até aqui, não vou deixá-los na mão. Essa taça é nossa!
- É assim que se fala! – Lu estendeu a mão e colocamos as nossas por cima dela – Não vamos deixar que eles levem o título na nossa casa, mesmo que para isso tenhamos que sair de campo com algumas marcas.
- É, quem se importa com marcas? – Mark falou despreocupado – A dor passa; garotas até que curtem cicatrizes... – ele deu de ombros e rimos - Mas a glória é eterna, galera... - ele completou e nos calamos uns instantes, visualizando aquele momento
- Esse é o espírito. Agora voltem pra lá e acabem com eles! – Madame Hooch voltou a se animar – HOGWARTS!

Montamos as vassouras outra vez e um novo time voltou a campo. Por mais preocupada que estivesse com George, não ia deixar que isso me abalasse agora. Tínhamos uma taça para conquistar, com o ou sem ele. Jens Stoltenberg, o melhor artilheiro da Noruega, saiu na frente com a goles e voava absurdamente rapido na direçao das nossas traves, mas Lu fez uma defesa espetacular e quando arremessou a goles para Fábio, ele fez um troque de passe rápido com Alex e marcamos nosso 10º gol. E a partir dai, a posse da goles não saiu mais da nossa mão. Empatamos o jogo em 10 minutos e assumimos a liderança, pois sempre que os artilheiros noruegueses ameaçavam roubar a goles, lançávamos um balaço que os fazia perder o rumo.

O jogo seguiu nesse ritmo até o final. Nossa torcida fazia muito barulho e abafava os gritos de incentivo do adversário, o que nos dava cada vez mais força. Liderávamos por 270 x 200 quando vimos a apanhadora da Noruega empinar a vassoura e subir cada vez mais. Yulli logo a alcançou e não conseguíamos ver o pomo, mas as duas tinham uma das mãos esticadas enquanto a outra mantinha a vassoura em um ângulo de 90º. A partida praticamente parou para acompanhar um ponto preto e outro vermelho e azul subirem cada vez mais alto, emparelhadas, as mãos esticadas quase se chocando. Elas estavam prestes a sair do nosso campo de visão quando as duas, ao mesmo tempo, fecharam a mão estendida. O estádio se calou na espectativa de ver qual das duas havia capturado o pomo e explodiu em gritos segundos depois. Yulli começou a descer rápido, o pomo preso entre os dedos e um sorriso que ia de uma orelha a outra.

‘Hogwarts, Hogwarts, Hoggy Warty Hogwarts’

Ouvíamos a escola inteira entoar o nosso hino aos berros enquanto pulavam uns por cima dos outros nas arquibancadas e espalhados pelo campo, recém invadido. Yulli desmontou da vassoura e saltamos por cima dela, rindo, gritando, chorando, tudo ao mesmo tempo. Madame Hooch sentou no gramado, no meio do campo, e começou a chorar sozinha. Dumbledore nos chamou para o pódio em meio àquele mar de gente e subimos todos juntos, de mãos dadas, para receber a taça dourada das mãos dele, junto de medalhas individuais. A erguemos todos ao mesmo tempo, tocando em ao menos um pedaçinho dela, e a escola inteira aplaudiu. Passamos a taça para as mãos de Madame Hooch e essim que descemos do pódio, sentimos várias pessoas pulando por cima da gente e entre elas, Ben, Sam e Miriam.

- VENCEMOS! – gritei empolgada, pulando no colo de Ben – Não acredito!
- Juro que pensei que fossemos perder, mas vocês voltaram com tudo! – ele pulava comigo no colo, totalmente rouco
- Cadê o Scott? – perguntei olhando em volta sem encontrá-lo
- Não sei, ele não assistiu a partida com a gente – Ben me colocou no chão e respondeu revoltado
- Cott sumiu! – Sam chegou pulando do nosso lado, mas também soava indignada – Não o vemos desde o café! Ele disse que ia buscar uma bandeira no dormitório e não voltou mais. Cansamos de esperar e descemos para o estádio.
- HOGWARTS!! – Lu e Mark voaram pra cima do Ben, o derrubando. Logo Yulli e Alex fizeram o mesmo e Sam se jogou por cima delas, formando um montinho bem embolado no gramado.

Me afastei deles rindo, mas minha atenção se dissipou da vitória no mesmo instante. Havia lembrado que George não havia aparecido para o jogo e agora Scott não assistiu a final com Ben e Sam. Duas coisas que pareciam impossíveis de acontecer, aconteceram na mesma manhã. Continuei caminhando devagar, me afastando cada vez mais da aglomeração que me cumprimentava e dava tapinhas nas minhas costas conforme eu ia passando, quando senti uma mão bater no meu ombro e uma varinha encostar na minha cintura.

- Não faça escândalo, ou seu irmão e seu amigo podem se machucar. Apenas caminhe comigo... – uma voz fria falou perto do meu ouvido e virei assustada
- Mãe!?

((Continua...))