Saturday, January 03, 2009 À medida que o trem ia perdendo velocidade, os corredores se enchiam com o barulho dos alunos pegando suas bagagens. Connor passou no nosso vagão pedindo que já ficássemos prontos para descer e guardei o baralho na mochila. Roxy já estava aninhada no colo do Rupert, então deixei que ele a carregasse e quando o trem finalmente parou, seguimos a procissão pelo corredor apertado. Muitos pais já esperavam os filhos na plataforma e assim que pisei fora do trem, vi meu irmão conversando com a tia Miyako. Ele também me viu e já abriu os braços, pois sai correndo da porta do trem e me atirei em cima dele. - Você voltou! – falei pendurada no pescoço dele - Eu disse que ia estar em casa pro Natal, não disse? – Gabriel me deu um beijo na bochecha e me colocou no chão - Pra onde você foi dessa vez? - Índia. E sim, trouxe presentes pra você – respondeu antes que eu perguntasse e ri – Ei, Rupert! - Oi dindo! – Rupert finalmente chegou até nós e abraçou meu irmão – Toma o seu gato, Clara – e me devolveu uma relutante Roxy. Logo Otter, Nigel, Jake, Nicholas e Rebecca desembarcaram e Gabriel se despediu dos três primeiros que ficariam em Londres, puxando uma chave de portal do bolso. Tocamos a caneta na hora que ele mandou e a sensação foi de que todos os meus órgãos tivessem colado nas costas. Mas segundos depois, estava caindo na sala da minha casa. Meu pai e minha mãe já nos esperavam e corri para abraçar os dois. Hogwarts era demais, mas era tão bom voltar pra casa... ººº - Atenção! – meu irmão gritou consultando o relógio e olhei para trás – Faltam 57 minutos! Todo mundo ergueu o que tinha na mão para brindar e ri, pois devia ser a décima vez que ele anunciava quantas horas faltavam para a meia noite. Depois do brinde todos continuaram dançando e virei outra vez para a rua. Estávamos no apartamento do tio Renato em Copacabana, para a virada do ano, e era de frente pra praia, então teríamos uma visão privilegiada da queima de fogos. Tentava prestar atenção no show que acontecia na praia quando Nicholas parou do meu lado, rindo esquisito. - O que foi? – perguntei desconfiada - Nada – ele tomou um gole do vinho que segurava e olhou para a multidão na praia – Está cheio, não? Parece que a cada ano vem mais gente. - É, está bem cheio esse ano mesmo – respondi ainda olhando de lado pra ele. - Sobrou alguma tinta da pixação da masmorra? Queria um pouco emprestada... - Sabia que ia soltar alguma coisa! – virei pra ele indignada, mas mantendo a voz baixa – Quem te contou? - Connor. Ele desconfiou de você e depois encontrou a lata de spray debaixo da sua cama. - Mas se ele desconfiou, por que deixou você liderar o motim? – perguntei confusa - Porque ele achou sua idéia genial – Nick riu – Relaxa, não vou contar nada a tia Louise e nem a McGonagall. Mas da próxima vez, inclua a gente na brincadeira. Um pouco de diversão pra aliviar a tensão dos estudos faz bem. - Pode deixar! – ele estendeu a mão e apertei rindo - Ei, vocês dois ai! – Rebecca gritou do meio da sala e olhamos para ela – Deixem de conversa fiada e venham dançar! Olhei para Nick e demos de ombro, rindo e nos juntando a eles. A sala do tio Renato tinha se transformado em uma boate. Penduramos balões prateados por todo o teto e tio Scott colocou uma iluminação colorida no lugar das lâmpadas normais, dando o toque final. E a casa estava cheia, deviam ter quase 30 pessoas. Meu irmão já tinha mudado o ritmo musical para funk e meu pai e Rupert só observavam a gente dançar, rindo. Depois de um tempo Gabriel anunciou que faltavam 12 minutos pra meia noite e voltei pra varanda, deixando eles ainda no funk. Não passou nem cinco minutos e papai veio puxando minha mãe pela mão, parando do meu lado. - Filha, conta pra sua mãe o que você me contou ontem, sobre a menina da Grifinória com quem você vem brigando – apesar do que me pedia para falar, papai não parecia zangado - Clara! – mamãe, no entanto, não deixou por menos – Não é possível que já tenha rixa com alguém! - Mas foi ela quem começou, mãe! – me justifiquei – Ainda nem tínhamos sido selecionados e ela ofendeu o meu pai! - O que ela disse? – mamãe não parecia mais zangada comigo, e sim com a enjoada da Brittany - Disse que estava chocada que lobisomens podiam procriar mais de uma vez – falei com a voz atravessada e a reação da mamãe foi diferente do que imaginei. Ela olhou para o papai com uma cara esquisita e ele riu. Ignorei os dois e continuei – Aquela Dashwood é uma idiota, não me arrependo de ter batido nela. - Como é o nome dela? – se a reação de antes foi estranha, essa conseguiu superar. Mamãe parecia mais ofendida que eu e meu pai continuava rindo – Bom, isso explica muita coisa... - Alguém pode me explicar o que está acontecendo? – olhei de um pro outro confusa e eles riram – Mamãe não está zangada e eu acabei de dizer que bati em uma pessoa. - Há grandes chances do pai dessa menina ser um velho conhecido nosso – papai começou explicando – E digamos que não temos um bom relacionamento com ele. - Grandes chances uma ova, é lógico que essa menina é filha do Bright! – mamãe falou irritada – Quem mais fala assim, Remo? - Ela disse que foi o pai dela que falou isso dos lobisomens pra ela – falei olhando para minha mãe. Adorava ver ela braba com alguém que não fosse eu. - Olha ai! Não restam duvidas agora! - Por que vocês não gostam do pai dela? - É uma longa história, um dia a gente conta pra você – papai disse calmo - É, essa história é passado – mamãe me puxou para um abraço e beijou meu rosto – Não dê mole para essa menina, minha filha. Ganhe dela em tudo que puder. - Louise... – papai falou preocupado, mas mamãe espantou o resto da frase com a mão - Não estou dizendo pra você sair no tapa com ela, mas não deixe que ela te pegue, entendeu? - Ah, não se preocupe, mamãe – falei sorrindo perigosa – Ela não é páreo para mim. - Minha garotinha... – mamãe me deu outro beijo e começamos a rir, até que papai acabou rindo também, mesmo que balançando a cabeça em desaprovação. - Atenção! – Gabriel abraçou mamãe e eu por trás com uma garrafa de champagne na mão – Faltam 2 minutos! Gritamos animados e a varanda se encheu com o resto das pessoas que estavam na casa. Cada um carregava sua taça e Rupert tinha uma garrafa de soda na mão, para não ficarmos de fora do brinde. Quando o telão na praia começou a contagem regressiva, contamos juntos pulando e quando ela chegou ao 0, os fogos explodiram dentro do mar. Gabriel estourou o champagne e me abraçou. Rupert também estourou a soda que tinha na mão, enchendo a minha a taça e a dele, e brindamos com os adultos. Nick e tio Renato pegaram uma garrafa cada um e estouraram uma contra a outra, dando um banho em todo mundo na varanda. Depois todos se abraçarem, ficamos em silencio, apenas assistindo a queima de fogos por quase meia hora. Olhei para meu pai e minha mãe, sorrindo abraçados, e depois pro meu irmão, rindo da expressão hipnotizada do Rupert com o céu colorido, e sorri feliz. Não podia ter companhia melhor para começar o ano de 2011 que a minha família. |