Thursday, March 12, 2009


Quarta-feira era sempre um dia longo. Depois que as aulas terminavam, ainda tínhamos um imenso intervalo até a aula de Astronomia, a meia noite, e nunca conseguíamos preencher todo aquele tempo à toa. Tudo cansava. Ficar no salão comunal era chato, ler na biblioteca era algo fora de cogitação e perambular pelos corredores não dava, pois o zelador ficava atiçando a gata pestilenta para nos seguir, então agora passávamos as tardes deitadas no gramado perto do lago, esperando o dia terminar.

- Ai que tédio! – Keiko resmungou de repente - Detesto não ter o que fazer nesse intervalo gigante até Astronomia!
- É, é um saco... – Haley concordou com ela, bocejando - Vamos perturbar alguém?
- Boa idéia, tenho receio do tédio me matar... – Ártemis logo se animou
- Mas quem iremos atormentar? – perguntei animada também.
- Que tal aquela menina ali? Não vou com a cara dela, sem contar nas olhadas que ela dá no Olívio... – Keiko apontou para uma menina da Grifinória de traços asiáticos.
- Ah, a Maya Patil. Ela está no meu dormitório, também não curto muito ela – Ártemis comentou com cara de nojo.
- Não gente, Maya Patil está fácil demais – falei sacudindo as mãos como se a espantasse – Acho que ela tem problemas psicológicos, não sei explicar, mas me enjoa só de olhar pra ela.
- Pois eu agora fiquei afim de apurrinhar a indiana – Haley levantou da grama e começou a caminhar na direção do muro do pátio.
- Aonde ela vai? – Keiko perguntou me olhando com cara de quem não estava entendendo nada.
- Eu que sei? Vamos atrás!

Haley subiu no murinho e sentamos do lado dela, enquanto ela observava os alunos que atravessam o pátio a caminho de suas aulas. Ela estava tão concentrada que achamos melhor não interromper e esperar para ver o que faria.

- Que isso na sua mão? – Keiko perguntou apontando para o punho fechado dela
- Bombinhas fedorentas – respondeu dando um sorriso esquisito e nos olhamos, rindo.

Maya Patil, alheia a nossa conversa, veio passando com uma amiga da Corvinal de cabelos loiros e volumosos, rindo distraída. Haley esperou até que ela estivesse em sua mira e atirou a bombinha no seu pé. Ela explodiu de leve, fazendo a garota pular e gritar de susto. As pessoas em volta soltaram gargalhadas e as duas saíram apressadas do pátio, nos olhando atravessado.

- Genial! – Ártemis riu alto da reação delas e Haley abriu a mão - Me passa algumas.
- Fiquem a vontade... Só mire no alvo pra não desperdiçar.
- Com prazer... – falei pegando algumas e olhando as pessoas no gramado - Quem é aquele menino ali? Ah, quer saber? Não interessa, me parece querer levar uma bombinha no pé – e atirei a bombinha, fazendo o garoto da Lufa-Lufa levar um susto tão grande que derrubou os livros que carregava.

Ficamos as quatro sentadas no muro, acertando quem passava com as bombinhas, e ninguém parecia disposto a começar uma confusão com a gente. Talvez fossem nossas caras cínicas ao atirar as bombinhas que diziam que não adiantava reclamar que não pararíamos. Timothy MacNamara, o gordinho da Grifinória que sempre levava a pior, levou uma chuva de bombinhas no pé e saiu tropeçando nas vestes, nos fazendo quase chorar de rir. Levou mais de meia hora até que alguém fizesse queixa com algum professor e a diretora McGonagall aparecesse marchando na nossa direção.

- Oi professora – falei sorrindo para ela – Veio tomar sol?
- Poupe-me de suas gracinhas, Srta. Lupin – McGonagall respondeu seca e me calei – O que pensam que estão fazendo?
- Esperando a aula de Astronomia começar, professora – Keiko respondeu e mesmo com todo seu esforço, o tom de deboche era nítido.
- O professor Creevey veio até meu escritório avisar que vocês estavam aqui fora atirando bombinhas fedorentas nos alunos que passavam. Se bem me recordo, todos os artigos das Gemialidades Weasley estão proibidos na escola!
- Ah, mas não são dos Weasley, professora – Haley falou mostrando uma bombinha a ela e me segurei para não rir – Compramos na Zonkos mesmo.
- Quem é professor Creevey, diretora? – Ártemis perguntou totalmente fora do assunto e demos de ombro, também esperando a resposta.
- É o nosso professor de Estudo dos Trouxas, o Sr. MacNamara se queixou com ele, que veio me alertar da atividade não-autorizada das senhoritas.
- Ah sim, mas porque o próprio professor Creevey não veio aqui, então? – perguntei olhando para ela, brincando com uma bombinha nos dedos.
- Parece que os professores desistiram, mas eu não posso desistir de vocês, sou a diretora – ela respondeu tremendo de leve e apontou para o castelo, firme – Para dentro, agora. Sermão não funciona mais com vocês, então só me resta passar detenção. Vão ajudar Hagrid nas tarefas pela floresta amanha a noite.
- Que demais! – Ártemis saltou do muro sorridente – Excursão autorizada pela floresta! – rimos da animação dela e McGonagall revirou os olhos
- Andem, voltem para seus salões comunais e só saiam de lá na hora da aula. Se souber que estavam perambulando pelos corredores, descontarei 20 pontos de cada uma! – já estávamos voltando, mas ela pigarreou alto e viramos outra vez – As bombinhas, Srta. Warrick.

Uma Haley muito contrariada estendeu a mão cheia de bombinhas fedorentas e entregou a diretora, que fez o saco evaporar com um rápido aceno de varinha, sem restar nem mesmo o cheiro delas. Nos despedimos da Arte e voltamos pro nosso salão comunal, as moscas aquela hora da tarde. Quase nenhum aluno circulava por ele, apenas um ou outro do primeiro e do segundo ano. Nos largamos pelas poltronas e já pensávamos em como seria legal passear na floresta durante a noite quando a passagem abriu e Hiro, JJ e Jamal entraram conversando e vieram até o sofá quando nos viram.

- Onde estavam? – Jamal perguntou sentando do meu lado – Pensamos que iam para a biblioteca fazer o dever de Poções.
- Brincou, ne? – Haley soltou uma risada irônica e JJ riu – A próxima aula de Poções é só sexta, podemos fazer amanha.
- Que cheiro é esse? – Hiro se aproximou cheirando o ar, até que parou nas mãos de Keiko – Sua mão ta fedendo, Kika!
- É bombinha fedorenta – ela explicou, puxando a mão para longe dele – Estávamos brincando com elas lá fora, mas a diretora tomou o saquinho.
- Levaram detenção, não é? – JJ perguntou já sabendo a resposta e riu quando confirmamos – Deve ser um recorde. O que terão que fazer?
- Ajudar o Hagrid com as tarefas na floresta amanha a noite! – falei animada e Jamal levantou do sofá, incrédulo.
- Isso não é detenção! – falou indignado e Hiro e JJ concordaram – Também quero entrar na floresta a noite, não é justo!
- É, eu também queria ir – Hiro o apoiou e até olhamos assustadas pra ele – Deve ser legal.
- Será que a McGonagall nos dá a mesma detenção? – JJ perguntou esperançoso.
- Vão explodir alguma coisa para descobrir – Keiko sugeriu
- Agora só ela nos passa detenção, disse que os outros professores desistiram – Haley falou rindo.
- Lembra que comentamos de igualar as cores das ampulhetas? – sugeri sorrindo marota e eles riram
- Vamos, sei que feitiço usar! – Hiro se animou e motivados pelo espírito rebelde dele, os outros dois saíram correndo do salão comunal.
- McGonagall vai se aposentar mais cedo por causa de vocês – Nick ouviu nossa conversa e riu – Vocês vão deixar ela louca!
- Nick, você já cumpriu detenção na floresta? – perguntei curiosa. Nick também era campeão de detenção.
- Várias vezes, desde o quinto ano que Hagrid me deixa entrar sozinho, já conheço toda a área usada nas detenções – ele respondeu rindo, sentando do nosso lado.
- O que vamos fazer lá amanha? – Haley sentou com as pernas pra cima da poltrona e virou para ele, os olhos brilhando – Hagrid vai nos deixar mexer com os animais?
- Com 11 anos vocês vão no máximo ajuda-lo a localizar algum animal perdido ou prender os fujões.
- Ah que sem graça – Keiko reclamou e ele riu
- Acharam que iam sair caçando testrálios ou hipogrifos? – agora era ele que ria – Não se preocupem, pelo histórico de vocês em 7 meses de Hogwarts, vocês terão muitas oportunidades de caçar os animais com Hagrid até se formarem – Nick levantou batendo no meu ombro e sumiu pela passagem dos dormitórios, rindo.
- Bom, é um começo – dei de ombros – Mas a Arte vai ficar desapontada...
- Será que eles vão mesmo mexer nas ampulhetas? – Keiko perguntou descrente, mudando de assunto, e começamos a rir.

Duvidamos que os meninos fossem mesmo aprontar com o placar das casas para levar uma detenção de propósito, mas em menos de uma hora eles estavam de volta e entraram rindo alto, se gabando. McGonagall havia aplicado a mesma detenção neles, embora soubesse que havia sido proposital. Amanha entraríamos os 7 juntos na floresta. Hagrid não daria conta sozinho...