Wednesday, August 12, 2009


Agosto de 2012 - Olimpíadas de Londres, Centro Aquático.

Era o dia das finais de Salto Ornamental e como de costume, segui com Gabriel, Keiko e Hiro para o Centro Aquático. Dessa vez não o acompanharíamos pelos bastidores, pois íamos encontrar com todo o resto da turma e assim que chegamos Rebecca e Nick já nos esperavam. Eles apontaram para o alto da arquibancada e vi que Haley, Jamal, JJ, Arte, Rupert, Julian e o amigo dele, Justin, já estavam lá, cercados por Nigel, Otter, Jake e Connor. Entendi que hoje eles seriam nossos vigias, mas não me importei, contanto que pudesse assistir aos jogos com meus amigos. E aquela seleção de seguranças sem duvida ia nos divertir um bocado.

Entre os atletas que iam disputar as finais do Salto Ornamental tinham 2 brasileiros, mas minha torcida ia ficar dividida. Alex Parrish, mais conhecido como namorado da Becky, fazia parte da delegação da Inglaterra e estávamos todos com bandeiras e faixas de incentivo a ele. Connor não parecia muito satisfeito a integrar o time de torcedores e usou a desculpa de que seu patriotismo ainda pertencia aos Estados Unidos, que não conseguia torcer por outro país.

- Connor é o do contra – Nigel provocou, sacudindo uma bandeirinha da Inglaterra na sua cara – Vai mesmo ficar no meio da torcida da Inglaterra torcendo pelo americano branquelo?
- Posso torcer em silencio – respondeu afastando a bandeirinha com um tapa – Parrish não tem chance contra o Hartley.
- Quer apostar? – Nick estendeu a mão, mas Connor hesitou. Foi o que bastou para que pegassem mais ainda em seu pé.
- Deixem ele em paz, Clara também está torcendo pelo saltador brasileiro – Becky tentou interferir.
- Sim, mas também estou torcendo pelo Alex – respondi atrapalhando sua tentativa de amenizar as brincadeiras.
- Bom, deixe Connor torcer pra quem quiser, mas Alex tem a mesma idade que Tom Daley, eles são os mais novos e vão sair daqui hoje com medalhas. Agora silêncio, as provas vão começar – Otter colocou um ponto final na discussão quando o locutor começou a anunciar o nome dos competidores.

Ficamos todos quietos outra vez, prestando atenção, e quando o nome de Alex ecoou pelo alto-falante fizemos a maior algazarra. Ainda ia demorar até que ele saltasse, antes teria a final feminina, e no meio da prova vi Gabriela subindo as escadas da arquibancada com o pai e três garotos que reconheci como Alphonse, Aurelian e Auguste. Acenei animada e eles encontraram lugares vagos perto do nosso grupo. Apresentei Gabi aos meus amigos e ela logo estava enturmada, pulando para a cadeira ao meu lado que Jake cedeu a ela. Ela falava um pouco de inglês, então não foi preciso ficar de tradutora, todos conseguiam se comunicar bem.

- Vai começar a final do masculino! – Becky falou nervosa, apertando a bandeira nas mãos e escondendo o rosto com ela – Ai, não quero ver isso!
- Deixe de ser boba, Becky! – puxei a bandeira para fora de seu rosto, rindo – Alex vai se sair bem!
- Olha, eles estão entrando! – Nigel ficou de pé na cadeira e agitou a bandeira da Inglaterra – Vai, Alex!

O grito de Nigel foi tão alto que ele ouviu lá de baixo. Ele procurou o dono da voz e quando nos viu acenando animados, retribuiu com um sorriso enorme no rosto. Alex era alto, loiro, olhos verdes e muito, mas muito bonito. E com todas aquelas roupas do uniforme de Hogwarts era impossível perceber, como agora o vendo usar apenas uma sunga, o quanto ele era... atlético. Keiko começou a assobiar para deixá-lo sem graça e fomos no embalo, mas Becky foi quem ficou mais vermelha, embora o sorriso não sumisse de seu rosto. Ele se posicionou com os outros saltadores e constantemente lançava um olhar animado na nossa direção, sempre piscando para Becky.

De toda a delegação da Inglaterra, apenas Alex e Tom Daley, também de 18 anos, haviam se classificado para a final. Os dois iam disputar na plataforma de 10m, mas em chaves diferentes e depois saltariam juntos, na de 10m sincronizados. Tom foi o primeiro e deu um salto excelente, mas depois de uma série de saltos, acabou ficando na terceira colocação, atrás de um canadense e um russo. Foi então a vez de saltarem juntos e sabia como era difícil qualquer coisa sincronizada no esporte.

Durante os 4 anos que treinei ginástica artística, participava também das provas em equipe e era muito difícil realizar toda a seqüência de passos de modo sincronizado, principalmente quando envolviam maças, arcos, fitas e bastões. Mas mesmo com todas as complicações de uma prova assim, Alex e Tom se saíram muito bem. O salto foi muito rápido, mas mesmo com todas as incansáveis repetições pelo telão não conseguia encontrar um erro ou movimento diferente, eles tinham executado com perfeição. Já estávamos animados, mas quando a nota saiu, percebemos que por mais que o salto tenha sido excelente, eles conseguiriam no máximo a segunda colocação. A dupla chinesa ainda se mantinha em primeiro lugar, imbatível.

- Que roubo! – Haley protestou, vaiando os juizes – Eles tinham que ter ganhado 10!
- Aqueles chineses são anormais, era um a sombra do outro, claro que não erraram nada! – engrossei o coro, também revoltada.

Continuamos a reclamar pelo resto da prova de duplas, mas no fim Alex e Tom ficaram mesmo com a segunda colocação e aplaudimos animados quando foram receber a medalha no pódio. Ainda tinha a prova individual do Alex e começou logo que a premiação terminou. Becky agarrou minha mão, nervosa, e quase cortou a circulação do meu sangue de tanto que apertava. Ela não sabia se rezava, marcava meu braço com as unhas, se agarrava à bandeira ou prestava atenção na piscina. Quando Alex subiu na plataforma, ela se decidiu por apoiar a cabeça nas mãos, com a bandeira presa nos dedos, e fixar o espaço entre a plataforma e a água. Ele era o último competidor. Bastava bater a pontuação do australiano, um 9.5. Vi-o respirar fundo e abrir os braços, depois deu um impulso forte e caiu reto como uma tábua na piscina, quase sem espirrar água pros lados. Meus olhos foram automaticamente para o placar, ignorando os gritos da torcida.

- 9.8! – gritei ficando de pé na cadeira, o dedo sacudindo na direção do placar – 9.8! Ele ganhou a medalha de ouro!

Foi tudo muito rápido. Todos olharam na direção do meu dedo e ao visualizarem a mesma nota que me fazia pular, a arquibancada explodiu em gritos e aplausos. Becky não sabia se ria ou se chorava e fiquei presa no meio de um abraço coletivo que só permitia que enxergasse borrões nas cores da bandeira da Inglaterra. Depois que voltei a enxergar as pessoas, pude ver Alex chorando sem acreditar na pontuação que piscava no placar, o anunciando como o campeão da plataforma de 10m. Toda a equipe técnica Inglaterra o abraçava e os outros competidores o cumprimentavam, mas Alex ainda parecia não acreditar. Acho que a ficha só caiu mesmo quando, já em cima do pódio, o Ministro dos esportes britânico pendurou a medalha em seu pescoço. Ele a segurou diante dos olhos e recomeçou a chorar quando o hino começou a tocar. Assim que acabou, descemos as arquibancadas desesperados, parecia o estouro da boiada, mas conseguimos passar por cima das grades de proteção e chegar até a piscina. Becky correu e se atirou nos braços de Alex, enquanto meu irmão tirava várias fotos dos dois.

- Pra você – Alex tirou a medalha do pescoço e colocou no de Becky, a beijando – Ganhei pra você, que foi quem mais me incentivou a competir.
- Sabe que não vou ficar com a sua medalha, não é? – Becky fitou a medalha pesada e o abraçou – Ela é sua.
- Tudo bem, depois você me devolve, mas fique com ela por enquanto.
- Fiquem todos juntos do Alex, vou dar um jeito de fazer essa foto sair no jornal – meu irmão falou preparando a câmera e corremos pra cima do Alex sem precisar que ele pedisse duas vezes – Vou precisar dizer que são fãs, mas duvido que se importem.
- Bom, de uma forma ou de outro nós somos – Nigel falou animado e rimos – E pra sair no jornal, pode dizer até que invadimos a prova pedindo autografo.

Gabriel bateu várias fotos da bagunça que fazíamos, a medalha ainda brilhando no peito de Becky, mas notei que Connor não se misturou ao grupo. Quando a aglomeração dispersou, percebi que ele ainda estava na arquibancada, mas já na parte baixa, apenas observando de longe. Nick já caminhava na direção dele e o acompanhei.

- Qual é o seu problema? – Nick perguntou num tom meio brabo, algo raro de se ver.
- Problema nenhum, mas não quero sair no jornal como fã do saltador da Inglaterra – ele respondeu despreocupado, mas mentia muito mal.
- Você é ridículo.
- O que quer dizer com isso? – agora era Connor que parecia zangado.
- Ei, não vão brigar, não é? – interrompi depressa, me pondo entre os dois, agora que Connor estava no mesmo nível que nós dois.
- Sei muito bem o que está pensando, e por ser meu melhor amigo, vou lhe dar apenas um aviso – Nick bateu o dedo no peito dele e estremeci. Nunca o vi irritado com ninguém, muito menos Connor – Rebecca e Alex estão juntos há 2 anos e ela está feliz com ele. Não se atreva a magoá-la ou vai me obrigar a bater em você.
- Não pretendo magoar ninguém, mas você sabe que eu gosto da sua prima, não tenho que ficar fingindo adorar o namorado dela – Connor admitiu, depois de séculos tentando se enganar.
- Por que não disse isso a ela, dois anos atrás? – agora quem falou foi eu, não gostando do rumo daquela conversa. Gostava do Connor, mas Becky estava feliz e confortável com o Alex e eu também gostava dele.
- Eu não sabia que gostava dela na época, achava que era só uma amiga pra mim.
- Bom, é isso mesmo que ela é sua, uma amiga – Nick falou ameaçador de novo.
- Você não pode me impedir de lutar por ela – Connor enfrentou Nick e mais uma vez me posicionei entre os dois, eles não iam começar uma briga comigo no meio.
- Tem razão, não tenho o direito de impedir que tente conquista-la, mas se fizer isso, é bom que seja pra valer e não a magoe, ou não vai poder me impedir de arrebentar a sua cara.

Connor não respondeu e Nick deu de costas, voltando para junto do grupo quando Alex o chamou para tirar uma foto com os primos da Becky. Olhei para Connor uma última vez antes de correr para junto deles quando também me chamaram e sabia que ele estava sendo sincero quando dizia que demorou a perceber que gostava da Becky, mas concordava com Nick. Era tarde demais, ele teve sua chance e desperdiçou. Rebecca, Emma e eu éramos as únicas meninas no meio do bando de primos homens e éramos, querendo ou não, protegidas por eles. Connor teria que aprender a conviver com a decisão dela ou ia acabar enfrentando a fúria dos Storm e O’Shea.