Wednesday, August 05, 2009


- Clara, ande logo, não quero perder o vôo!
- Já estou indo! – meu irmão gritou da sala e respondi do quarto.

Empurrei o casaco de qualquer jeito na mochila e fechei o zíper com dificuldade por ela estar estufada, correndo pra sala. Perto da porta tinham 3 malas enormes, casacos, uma mochila e uma pasta. Gabriel consultava o relógio impaciente e conferia alguns papeis que estavam na pasta. Estavam embarcando para 5 dias em Paris e depois viajaríamos para Londres, onde acompanharia meu irmão na cobertura das Olimpíadas.

- Já estou pronta, calma!
- Pegou tudo que deixei em cima da cama? – mamãe perguntou e assenti com a cabeça – Onde está o casaco que deixei na cadeira?
- Dentro da mochila, está muito calor.
- Faz frio dentro do avião, não despache essa mochila. Não quero você acordada até altas horas da madrugada, não se afaste do Gabriel quando estiverem nos bastidores das competições, não saia sem um casaco porque sempre esfria um pouco no fim da tarde e...
- Obedeça ao seu irmão – completei a frase por ela e ela riu – Já sei disso tudo, mãe. E vou seguir tudo a risca, não quero arriscar passar outro verão presa em casa.
- Que bom que aprendeu a lição – ela ajeitou a mochila nas minhas costas e se virou para Gabriel – E você tem certeza que vai dar conta de todos eles? Estou preocupada com você sozinho com esse monte de criança bagunceira.
- Não se preocupe mãe, não vou estar sozinho no comando – Gabriel falou tranqüilo, mas mamãe ainda parecia preocupada – Tecnicamente, além dessa mala ai, só estou responsável por Keiko e Hiro, que moram no Japão. Ethan se ofereceu para ajudar e vai ficar de olho em Haley, Julian, Justin e Olívia. Griff vai levar os gêmeos dele, as meninas do Seth e Ártemis. Tio George vai levar Rupert e JJ e Jamal, que moram perto deles, e Nick, Rebecca, Otter e Nigel vão aparecer por lá para me ajudar, e vão estar acompanhando John e Lizzie a pedido da Morgan. Está tudo sob controle.
- Bom, em todo caso, vamos encontrar vocês em duas semanas. Tente realmente manter elas sob controle até lá. Agora melhor irmos logo, ou vão perder o vôo – mamãe começou a nos empurrar para fora do apartamento – Remo vai nos encontrar no aeroporto para se despedir de vocês e se não sairmos logo, ele chega lá primeiro.

Gabriel usou um feitiço para deixar as malas mais leves e saiu carregando duas enquanto mamãe levava uma delas e eu me encarregava das mochilas. Depois de não ter viajado no último verão, contava os minutos para pisar naquele avião e decolar para minha primeira viagem a Paris.


*****

A viagem a Londres era por conta do trabalho do Gabriel, mas os 5 dias em Paris eram um presente dele de aniversario pra mim, então tive a liberdade de montar o roteiro. Ele comprou um guia da cidade pra mim e deixou que escolhesse tudo que quisesse fazer, me baseando nele. Era tanta coisa pra ver e fazer em tão pouco tempo, mas consegui espremer o que achava indispensável e Gabriel fez de tudo para não deixar de cumprir nada do roteiro. Conheci a Torre Eiffel, a Catedral de Notre Dame, fizemos um passeio de barco pelo Rio Sena, conheci um monte de museu que jamais imaginei que fosse gostar, fizemos picnic nos Jardins de Luxemburgo, andamos de patins no parque e conheci o famoso museu do Louvre.

No Louvre, por sinal, meu irmão reencontrou uma antiga namorado que logo saquei que ele ainda gostava e acabamos no meio de um jantar organizado as pressas pelos antigos amigos de escola dele, as vésperas de irmos para Londres. A ex-namorada dele foi nos buscar no hotel com o filho de 2 anos que era a coisa mais fofa do mundo e ainda bem que sei falar francês, pois fui apresentada a um monte de crianças na casa e passei a noite na companhia delas. A mais velha, Gabriela, era filha do dono da casa e éramos muito parecidas, nos demos muito bem logo de cara. Nos demos tão bem que acabei dormindo por lá e Gabriel foi embora sozinho pro hotel. Bom, nem tanto, pois o filho da ex dele também dormiu por lá, o que significava que ela também voltou sozinha pra casa.

Acordei cedo na manha seguinte com um homem assoprando uma buzina dentro do quarto, carregando um menino loiro no ombro que reconheci como o irmão de Gabriela, Michel. Ele colocou o menino no chão e ele pulou em cima da cama da irmã, forçando-a a levantar e fiz o mesmo antes que ele pulasse na minha.

- Bom dia, dorminhocas – o homem que era Ian, pai da Gabriela, abriu as cortinas e a luz do sol invadiu o quarto – Não vamos perder tempo dormindo, tirei o dia de folga hoje e vou levar todo mundo ao cinema, mas antes vamos passear por Paris. Clara precisa de uma visão de um autêntico parisiense, e não aquele fajuto do Gabriel. O que acham?
- Ótima idéia, papai! – Gabriela saltou animada da cama.
- Eu topo, só não posso perder meu vôo pra Londres.
- Vai dar tempo, agora vamos, saiam dessa cama porque o café já está na mesa!

*****

O dia foi muito agradável. Acompanhada de Gabriela, o irmão, seu pai e Evan, o filho da ex-namorado do Gabriel, pude conhecer um outro lado de Paris que meu irmão não teve tempo de me apresentar, por culpa do meu roteiro intenso. Me senti uma legitima parisiense, andando nas ruas conversando em francês com eles como se morasse lá desde que nasci. Almoçamos em um restaurante de uma galeria como se eu não fosse turista e depois tio Ian nos levou ao cinema para assistir um desenho animado muito engraçado. Quando a sessão acabou já era quase 17h e tinha que voltar para o hotel. Não estávamos longe dele, então fomos caminhando enquanto tomávamos sorvetes enormes e tio Ian ia me fazendo um interrogatório.

- Você fala francês muito bem, Clara – ele elogiou – Poderia até me enganar e pensar que é francesa.
- Obrigada. É que estudei até os 7 anos em um colégio francês no Brasil. Teria ficado lá até ir pra Hogwarts se não tivesse sido expulsa – falei dando de ombros e ele soltou uma gargalhada alta que assustou os pequenos.
- O que você fez pra conseguir ser expulsa? – perguntou ainda rindo.
- Atirei o apagador na janela e quebrei o vidro – ele riu mais ainda – Estava com raiva, a professora implicava comigo e mesmo tendo mais gente envolvida na briga, só eu fiquei de castigo. A menina insuportável com quem briguei ficou me provocando do pátio da escola e atirei o apagador contra ela, mas esqueci do vidro.
- Sua mãe deve ter ficado louca, Gabriel mal levava detenção na escola.
- Ela ficou uma fera, queria me colocar em uma escola pública, meu pai que não deixou. Ele conseguiu convence-la de que ia ficar atrasada em Hogwarts e me matricularam em uma escola americana que tem perto de casa.
- Vocês vão ficar em Londres até o final das Olimpíadas? – Gabriela perguntou.
- Sim, meu irmão vai cobrir os jogos pro trabalho dele e vou acompanhar até o fim. Nem amarrada volto pra casa sem ver a festa de encerramento!
- Papai, nós vamos assistir aos jogos, não é? – Michel perguntou esperançoso.
- Sim, vamos, semana que vem estaremos em Londres para você ver as provas de natação e judô e também as partidas de futebol que você quer e Gabriela assistir as competições de ginástica que tanto pediu.
- Bom, pelo menos uns 3 dias eu vou estar lá, então podemos nos ver de novo! – Gabriela falou animada.
- Na verdade, acho que vamos ficar em Londres por mais tempo do que pensei... – tio Ian comentou vago parando de andar.

Não entendi o que ele quis dizer, mas então percebi que já havíamos chegado ao hotel e Evan soltou de sua mão, correndo até a entrada dele. Só então reparei que a mãe dele estava com meu irmão. Nos aproximamos dos dois e tio Ian sorria de uma maneira engraçada, logo fazendo meu irmão e a mulher que se chamava Madeline rirem também. Me despedi da Gabi e do tio Ian e subi correndo até o quarto para terminar de arrumar minha mala. Quando voltei ao lobby eles ainda conversavam, agora com Evan todo tagarela fazendo os dois rirem. Aos olhos de qualquer desconhecido que passasse ali, eles eram uma família feliz.

- Estou pronta – falei parando ao lado dos três.
- Então vamos, o táxi já está esperando com as nossas malas – Gabriel levantou.
- Tem certeza que não querem uma carona até o aeroporto? – Madeline ofereceu.
- Tudo bem, pode ir pra casa com o Evan, ele deve estar cansado – meu irmão falou com a mão apoiada no ombro dela, sorrindo – Nos falamos depois?

Ela assentiu com a cabeça sorrindo e os dois deram um abraço demorado. Fiquei olhando de um pro outro esperando um beijo cinematográfico que pudesse usar para importunar Gabriel pelo resto da minha vida, mas não aconteceu. Eles falaram algo rápido que não consegui entender e me despedi dela apenas com um aceno, pois Gabriel me empurrou apressado na direção do táxi.

- Gabriel e Madeline sentados numa árvore... – comecei a cantar e ele riu.
- Pensei que achasse essa musica imbecil.
- E ela é. Perfeita pra esse momento, não acha? – provoquei.
- Fique quietinha, vai escutar música no seu iPod – ele desconversou.
- Vou contar pra mamãe que você arrumou um neto pra ela.
- E eu acho que vou contar pra ela que não foi o Boris que estragou a blusa de seda que ela tanto gostava.
- Ok, você venceu, assunto encerrado.

Coloquei os fones no ouvido e liguei o iPod, mas antes dei um sorriso maroto pra ele, que retribuiu balançando a cabeça. Fui o resto do caminho até o aeroporto, que era longe pra caramba, ouvindo música e observando meu irmão olhar pela janela com um olhar vago, mas parecendo feliz. Acho que ia ganhar uma tia e um sobrinho mais rápido do que pensava.