Monday, August 31, 2009


Depois do estranho dia em que quebrei um braço e um vidro sem fazer qualquer tipo de esforço, mamãe me levou ao hospital para fazer uma série de exames, a pedido do papai. O que quer que eles tenham conversado, não parecia ter passado a ela o mesmo nível de preocupação, mas ela fez o que ele pediu assim mesmo. Os exames não deram em nada, como ela parecia já esperar, e me vi perdendo horas do resto das minhas férias tentando encontrar uma resposta fora do comum para explicar os incidentes.

Mau jeito e vidro rachado não estavam me satisfazendo, e a situação piorou quando resolvi decidir aquele impasse com uma melhor de cinco. Dois dias depois do ocorrido, quando minha mão estava inteiramente curada e me livrei das bandagens, fui até a cozinha pegar alguns talheres na gaveta e me tranquei no quarto. Estava me sentindo uma idiota sentada na cama rodeada de garfos e colheres, mas esse sentimento evaporou quando apertei uma colher com uma das mãos e ela se entortou de imediato. Não sabia exatamente qual a melhor reação diante daquilo, não sabia se deveria entrar em pânico ou gostar da idéia de ser mais forte do que jamais imaginei.

Graças aos talheres retorcidos, me vi presa em uma rede de teorias mirabolantes. Gastava tanto tempo tentando chegar a uma conclusão que esqueci de arrumar o malão para voltar a Hogwarts, e quando percebi já era 1º de Setembro e minhas coisas ainda estavam espalhadas pelo quarto. Gabriel me acompanharia até Londres, junto com Nick e tio Ben, pois partiria para Paris em seguida. Já estava atrasada tentando empurrar meus livros por cima das roupas e ele entrou no meu quarto, batendo no relógio.

- Ainda vai demorar muito ou vamos precisar pedir autorização para outra chave de portal ao Quim? – falou parando na porta e vendo minha correria.
- Não precisa, já estou terminando! – falei meio esbaforida, correndo de um lado pro outro.
- Por que não arrumou isso antes? – ele entrou e começou a me ajudar.
- Estive ocupada, esqueci do malão – não menti, estava mesmo ocupada. Estava ocupada ficando louca.
- Por favor, não me diga que ainda está pensando na história do vidro? – ele riu meio sarcástico e o encarei de cara feia.
- Gabriel, não foi normal o que aconteceu! – lancei um olhar para a porta e baixei a voz – Sabia que entortei cinco talheres dois dias depois?
- Como assim? – pela reação, não sabia – Está me dizendo que tem a força do Seth ou do tio Lu?
- Não, senão teria esfarelado o osso do Rafael, mas tenho alguma força, olhe.

Larguei os livros em cima da cama e parei ao lado da mesa do computador. Era de madeira, mas bastante resistente. Encontrei um ponto onde pudesse quebrar sem causar muitos danos e fechei o punho, aplicando um golpe certeiro. A madeira nem se moveu, mas minha mão inchou rapidamente. Gabriel correu para me acudir quando comecei a pular pelo quarto sacudindo a mão vermelha, dividido entre ver o estrago e prender as risadas.

- Eu juro que entortei aqueles talheres – falei vendo que ele já não prendia mais o riso.
- Eu acredito em você, mas não precisava socar a madeira. Sorte não ter quebrado a mão.
- Não entendo...
- Desapontada? – dei de ombros em resposta e ele riu outra vez – Qual era a sua teoria?
- Ando variando entre Clark Kent e James Howlett.
- Acho que está mais pra Peter Parker, porque aparentemente você perdeu seus poderes – o tom dele agora era de puro deboche, mas o conteúdo daquela conversa não poderia ter outro tom – E fala sério, Clark Kent? Você sentiu dor quando se cortou, não?
- Sim, mas logo passou.
- Então acho que isso nos leva ao James Howlett. Já checou se tem garras de adamantium?

Estiquei as mãos e as avaliei por alguns segundos, como se realmente esperasse que garras surgissem de repente, dando de ombros quando nada aconteceu. Ele riu mais ainda e acabei rindo também. Se alguém ouvisse aquela conversa, sem duvida mandaria nos internar.

- Ok, chega desse papo de maluco, temos que partir em 10 minutos – ele agitou a varinha e de repente meu malão estava pronto – E chega de ler gibi.
- Só queria entender o que aconteceu, ainda não faz sentido.
- Concordo, não faz mesmo, mas não fique pensando nisso – ele fez meu malão levitar e me segurou pelos ombros – Já provou que também pode não quebrar coisas, então esqueça isso. A noite vai estar em Hogwarts e aposto que nem vai se lembrar disso tudo.
- Duvido muito – falei olhando para a mão ainda inchada e ele riu.
- Vamos embora, Wolverine. E lembre-se: com grandes poderes, vem grandes responsabilidades – ele ainda ria e me empurrou para fora do quarto.
- Há, há, que engraçado. Virou comediante depois que reatou com a Madeline?

Gabriel acertou um tapa de leve na minha cabeça e quem passou a rir foi eu. Era obvio que ele estava naquele estado permanente de bom humor por causa dela e constantemente era alvo de piada dos amigos, mas neles ela não podia acertar um tapa sem receber um igualmente dolorido em troca, como fazia comigo. Ah, se eu ainda fosse forte...