Tuesday, October 27, 2009 Com o mês de Outubro quase chegando ao fim, a expectativa entre todos os alunos no castelo era pela festa de Dia das Bruxas que acontecia todo ano no salão principal. Tinha sempre um banquete farto, com muitos doces e porcarias que não comemos durante o ano inteiro, música animada e os fantasmas das casas sempre ficam mais empolgados nessa data, e desatam a contar histórias da época que ainda eram vivos que sempre diverte todo mundo. Mas esse ano eu tinha planos diferentes para a noite das bruxas. Durante uma aula como qualquer outra de DCAT, tio George estava contando a história da Batalha de Hogwarts e de como Harry Potter sobrevivera ao segundo Avada Kedavra lançado contra ele por Voldemort. Para detalhar a história, ele também resumiu o conto das três relíquias da morte, pois elas foram usadas pelo tio Harry na batalha. Acabamos descobrindo através da história que a Pedra da Ressurreição estava enterrada em algum ponto da Floresta Negra, e desde então Arte, Haley, Keiko e eu estávamos planejando uma excursão pela floresta na esperança de encontrá-la. Não que tivéssemos planos de usá-la, mas ter uma das relíquias da morte que sempre acreditamos ser parte de um conto que não era real em nossas mãos seria demais. Muito melhor que roubar a fênix do diretor. A data escolhida só poderia ser no dia das Bruxas, quando todo o resto do castelo estaria reunido no salão principal festejando e não notariam nossa ausência. Nem mesmo os meninos perceberiam que havíamos saído, estariam ocupados depois no tradicional torneio de pôquer das masmorras que acontece uma vez por ano, sempre no dia 31 de Outubro. Era a primeira vez que eles iam participar, estavam tão obcecados em ganhar o torneio que passavam o dia inteiro com um baralho na mão, tentando aprender a contar cartas. Saímos do dormitório na sexta-feira de manhã e encontramos o salão comunal da Sonserina tomado por um falatório empolgado, enquanto a maioria dos alunos se amontoava em frente ao quadro de avisos da casa. JJ saiu do meio da aglomeração tão animado quanto os demais. - O que está acontecendo? – perguntei indo até ele – Suspenderam as aulas? - Melhor! Primeiro fim de semana em Hogsmeade! – ele respondeu apontando para o quadro – Amanhã, no dia das Bruxas! - Ah, até que enfim! – Haley começou a pular – Quero conhecer tudo, vamos sair cedo, não é? - Vamos ser os primeiros a entregar as autorizações ao Filch – Jamal surgiu do meio dos alunos sorrindo animado – Mas que tal irmos tomar café? Hoje tem clube dos duelos no 1º tempo, não quero perder nem um minuto! Desviamos da aglomeração que ainda se formava em frente ao quadro de avisos e saímos das masmorras, seguindo direto para o salão principal. O café da manhã das sextas-feiras eram sempre corridos. Nosso primeiro tempo de aula era DCAT e tio George, ou melhor, professor George sempre fazia dessa aula um clube de duelos e tínhamos a chance de pôr em pratica os feitiços que ele ensinava na aula dupla de segunda-feira. Ele já estava na sala quando chegamos, assim como parte da turma da Grifinória. A melhor parte do clube dos duelos era que podíamos duelar contra eles, o que tornava tudo muito mais divertido. - Muito bem, vamos entrando e todos já sabem o procedimento – professor George ia falando enquanto o restante da turma entrava na sala. - Mochilas no armário, varinhas em punho – Arte repetiu o que ele dizia toda aula e a turma riu. - Exato, Srta. Chronos – ele riu – Formem duplas e se espalhem pelo tatame. Hoje vamos praticar o feitiço que aprendemos na segunda-feira, a Azaração do Impedimento. Lembrando que devem sempre tentar se defender com o feitiço escudo, mas apenas ele. - Quero minha revanche, Lupin – James pulou na minha frente de repente, a varinha já em punho – Vai fugir ou encarar? - Prepare-se para perder outra vez, Thruston – respondi erguendo a varinha e nos posicionamos no centro do tatame, aguardando o sinal do professor. Quando todas as duplas já estavam preparadas para começar, ele deu o sinal que nos autorizava a começar o duelo e a sala se encheu de lampejos amarelos, misturados aos barulhos dos alunos caindo chapados no chão quando eram atingidos pelos feitiços. James e eu trocávamos feitiços ininterruptos, mas eu não era a única ágil em acionar o feitiço escudo, então a azaração sempre era desviada. Consegui atingi-lo no braço quando ele abaixou a guarda por um segundo, mas não foi o suficiente para derrubá-lo e antes que eu pudesse me proteger outra vez, um jato amarelo me atingiu em cheio e cai embolada no chão. Senti minhas costas baterem no chão com força e de repente cada canto do meu corpo estava doendo, como se tivesse levado uma surra. - Há! Peguei você, Lupin – ouvi James se vangloriar e tentei apontar a varinha para ele, mas percebi que não tinha forças. No lugar do feitiço que tentava lançar contra ele, saiu um gemido de dor horrível. - Clara, o que houve? – tio George correu até onde eu estava caída e se ajoelhou no chão, levantando minha cabeça – Onde você se machucou? - Não sei – falei ainda gemendo – Dói tudo – e gritei outra vez, agora atraindo a atenção dos meus amigos. - O que você fez com ela, Thruston? – vi Jamal, JJ e Hiro avançarem para cima de James, que recuou. - Nada, só a acertei com um impedimenta! – ele se defendeu, parecendo verdadeiramente assustado – Professor, o que ela tem? - Não sei, mas vou levá-la até a enfermaria – tio George me ergueu do chão, em seu colo – Vou sair da sala por cinco minutos. Se uma única varinha for usada para executar qualquer tipo de feitiço, toda turma vai receber um mês de detenção e muitos pontos serão descontados das duas casas, fui claro? Ouvi a turma murmurar em concordância e depois só sentia que ele estava caminhando apressado pelos corredores, mas não via mais nada, mantinha meus olhos apertados como se assim pudesse diminuir a dor horrível que estava sentindo. Era como se meu corpo inteiro estivesse sendo perfurado com facas, sentia pontadas por toda parte, e muita câimbra. Duvidava que pudesse me manter de pé, sentia que não tinha força alguma nas pernas naquele momento. - Professor, está tudo bem? – ouvi a voz de Garret no corredor, mas não ousei abrir os olhos. - Faça um favor para mim, Donovan. Vá até a minha sala e fique de olho na turma do 3º ano. Tive que deixá-los sem supervisão e não confio que vão permanecer quietos até eu voltar. - Pode deixar – Garret assentiu e ouvi seus passos se transformarem em uma corrida. Era estanho, pois mesmo sem ver, conseguia ver o ritmo com que ele agora caminhava, mesmo que já estivesse distante. Ainda podia ouvir os passos de Garret pelos corredores e pude ouvir sua voz ao entrar na sala de DCAT, mas não sabia dizer como, pois já estávamos no primeiro andar. Misturado a voz dele dentro da sala, ouvia meus amigos perguntando como eu estava. Abri os olhos para checar se estávamos mesmo no primeiro andar e dei de cara com Madame Edgecombe vindo correndo ao nosso encontro, assustada. - O que aconteceu? – ela guiou tio George até a cama mais próxima e ele me deitou nela – Ela está tremendo e ardendo em febre! - Não sei o que houve, estávamos em uma aula de duelos usando apenas o impedimenta. Ela caiu e começou a gemer de dor! - Querida, o que você está sentindo? - Tudo! Meu corpo inteiro está doendo, minhas pernas e braços estão formigando, não consigo nem dobrar os dedos da mão que doem! - Eu nunca vi disso – ela olhou apreensiva para o tio George – Vamos nos concentrar primeiro em baixar a temperatura do seu corpo, está muito quente. Fique aqui com ela, vou buscar uma poção. Fechei os olhos outra vez com uma careta de dor e pude ouvi-la revirando as prateleiras da enfermaria a procura do frasco certo. Tio George mantinha a mão em minha testa, preocupado, mas se afastou quando ela voltou com a poção certa. O gosto era horrível, mas estava com tanta dor que não me importei. Contanto que ela me ajudasse a melhorar, não tinha problema ter gosto de lama. Tio George voltou depois de alguns minutos para a sala, depois da enfermeira lhe garantir que não ia sair de perto de mim até que estivesse melhor, e prometeu voltar assim que encerrasse a aula. Eu não voltei para mais nenhuma aula do dia, passei o resto da manhã e toda a tarde deitada na cama da ala hospitalar, engolindo várias combinações de poções e vendo a enfermeira checar minha temperatura de meia em meia hora. Meu corpo ainda estava muito quente, parecia que nada surtia efeito, mas ela não desistia. No intervalo entre a aula de DCAT e Feitiços meus amigos vieram me visitar e isso se repetiu durante todo o dia, madame Edgecombe já havia desistido de expulsa-los e apenas abria a porta para que pudessem passar. A dor diminuía e voltava com força total, era completamente instável. Não sabia o que estava acontecendo comigo, e as conversas paralelas que conseguia ouvir entre a enfermeira e tio George e tio Ben não diziam muita coisa, mas à medida que a noite começava a cair, minha única preocupação era se poderia visitar Hogsmeade na manhã seguinte, ou se passaria o resto do fim de semana me revirando de dor naquela cama. Eu quero a minha mãe... |