Friday, October 30, 2009


"O primeiro passo para a mudança é a aceitação. Uma vez que você aceite a si mesmo, você abre a porta para a mudança. Isso é tudo o que você tem que fazer. Mudança não é algo que você faz, é algo que você permite."
(Will Garcia)

Os períodos de febre haviam começado após a primeira hora, do aniversário em que ele completou 13 anos. Achou que fosse a famosa inflamação de garganta que acometia aos adolescentes que davam seu primeiro beijo, então deveria durar alguns dias, mas no caso dele duraram exatas vinte e quatro horas. Porém outras mudanças começaram a ocorrer. Sua visão e audição haviam melhorado e notava que seu corpo estava ficando mais forte. Tudo isso seria muito legal, se não viesse acompanhado de outros sintomas. Sentia fortes dores na boca do estômago que o faziam sentir náuseas, mas ao contrário do que podia parecer, seu apetite não foi afetado, a cada dia que passava, ele comia mais, parecia que nada o satisfazia, estava sempre com fome. Tudo isso incomodava, mas o pior de tudo eram as memórias. Ou melhor a falta delas.
Num dia em que seu companheiro de quarto estava na enfermaria com a perna quebrada, ele dormiu sozinho no dormitório da escola, e no dia seguinte acordou todo encolhido no chão frio e com suas roupas rasgadas. Supôs que alguém o houvesse atacado, mas a porta seguia magicamente trancada. Pensou que houvesse tido algum pesadelo, mas quando se esforçou para se lembrar dos seus sonhos, não havia nada. Só a escuridão e sons da noite.
Outra vez, acordou no estábulo da escola, com o rosto sendo lambido por um cavalo. Também estava com as roupas rasgadas e sujo de terra e suor. Parecia que havia passado a noite toda correndo, tamanha era a sua fome, mas ao levantar sentiu seu corpo todo dolorido. Foi para seu dormitório, trocou de roupa e procurou a enfermaria, passou o dia em repouso, e quando voltou para seu quarto para dormir, não se espantou com a forma translucida que o olhava. Era uma situação que o acompanhava desde após a morte de sua mãe: a capacidade de ver espiritos.
Aquele que o olhava era um homem com longos cabelos prateados, que não devia ter mais de quarenta anos. Ele usava uma armadura e asas brancas, parecendo com um anjo. Sabia quem ele era, pelas descrições que havia ouvido de Julian e Artemis, então fez o que sempre fazia: o olhou e o ignorou, já que ele apenas os via, não conversava com eles ou os guiava para a luz, como Haley, foi fazer suas coisas, pulou assustado quando ouviu a voz forte e decidida:
- As mudanças começaram, jovem Silverhorn. - ficaram se encarando e o homem continuou:
- Se você não se importar gostaria de conversar com você, eu sou Chronos. - o máximo que o garoto fez foi assentir com a cabeça.
Por mais que ver espiritos não o surpreende-se, conversar com um, com milhares de anos de idade, era no mínimo, chocante.
- Sei quem o senhor é. Mas que mudanças??
- Você sabe que sua herança é antiga e o tempo de decidir se vai honra-la ou deserdá-la esta chegando. Nem todos da sua tribo podem ter o privilégio de se conectar aos seres vivos como você.
- Isso é uma lenda...Eu estou com alguma febre e logo vai passar.
- Não são lendas e algo dentro de você sabe disso, tanto quanto sabe os feitiços para conjurar os elementos, sem ninguém te ensinar. Sua alma é antiga. E o que vim fazer aqui é lhe dar um conselho: outros passarão por ajustes em suas vidas e precisarão de apoio, pois não poderão ter a opção que você tem de aceitar ou não. Permita que eles o ajudem e o apóiem, seja qual for a sua decisão.
- Não há nada a decidir. Sou um garoto comum, com problemas normais em fase de crescimento, e ando muito cansado, não vou me iludir com umas lendas de muito tempo atrás, então...
O homem se moveu tão rapido que não tive reação. Colocou a mão em minha testa e lembrei de todos os sonhos e de tudo que andava acontecendo comigo nas últimas noites e à medida que Chronos me mostrava como se fosse um filme, eu sentia medo e porque não dizer, curiosidade e admiração. E Chronos percebeu, vi um canto de sua boca se erguer como se ele fosse sorrir.
- Nas primeiras vezes, que você não se lembrava, foi o seu cérebro te protegendo do choque pela dor da mudança. Com o tempo suas memórias serão melhores.
- Isso é muito doido...E se...E se eu machucar alguém?
- Não se preocupe, você não machucou a ninguém. Você não perderá a noção de quem é, você apenas assumirá outra forma de qualquer ser vivo que você queira. Agora que sabe o que acontece, pense em suas decisões jovem Silverhorn, nunca se esqueça que atrás de um grande poder, vem grandes responsabilidades, que podem ser um fardo muito pesado para se carregar sozinho, mas se você pedir ajuda, a receberá sem julgamentos ou exigências.
Olhei para ele ainda assustado, mas ele me encarou com olhos tão bondosos que uma calma se apoderou de mim, enquanto sua forma ia se desvanecendo.
- Até algum dia ‘jovem xamã’.- foram suas últimas palavras antes de sumir por completo.
Sentei-me na escrivaninha que usávamos para estudar e puxei um pergaminho. O normal seria escrever para o meu pai, mas quando pensei em tudo o que estava acontecendo comigo e nas implicações disso em minha vida, as primeiras palavras que sairam da ponta da pena foram:

‘Hey Cara Pálida!
Espero que esteja tudo bem com você. Como pode ficar chocado com a foto que estou te mandando, quero que saiba esta garota linda enroscada em mim é London Tipton, estamos ficando, e também que eu entrei para o time de quadribol, sou o batedor.
Como não recebi nenhuma carta sua dizendo que havia cumprido outra das metas deste ano, eu deduzi que ganhei a aposta, voce poderá me pagar quando nos encontrarmos nas férias rsrs.
Algumas coisas aconteceram comigo, nada que você deva se preocupar, mas seria bom, ter você por aqui.
Tonto”.
P.S. Será que você poderia ficar alguns dias na reserva nas férias? Seria importante para mim.


Li e reli a carta que Justin havia me mandado enquanto esperava Rupert terminar de se vestir , para irmos a Hogsmeade, era nosso primeiro passeio da escola e todos estavamos ansiosos, até levantamos mais cedo para sermos os primeiros a sair do castelo.
Ainda teríamos que passar na enfermaria para ver se Clara estava recuperada e se poderia ir conosco, mas se ela não pudesse já haviamos combinado de trazer um monte de presentes para ela.
- Uau! Justin tá saindo com ela?- perguntou Rupert vendo a foto de Justin com uma loira bonita enroscada nele, que estava em cima da mesa, perto da coruja negra que comia o biscoito que eu havia dado a ela.
- Sim, está.- Rupert me conhecia bem o bastante e perguntou:
- Voce parece preocupado. Aconteceu alguma coisa com ele?
- Ele não diz o que é... Mas sei que tem alguma coisa errada. ?- estiquei a carta e ele a leu rapidamente me devolvendo.
- Você pode telefonar para ele, de Hogsmeade, e ficar sabendo o que está perturbando ele.
- Ótima idéia, e ai já está pronto? Ainda temos que encontrar as meninas...
- Mais do que pronto. Hogsmeade, aí vamos nós.- rimos e saimos do dormitório.
O que que quer que estivesse acontecendo com Justin, eu descobriria uma forma de ajudá-lo, mesmo estando longe, afinal é isto que os amigos fazem.
Julian Thomas Montpellier às 5:06 PM