Friday, October 30, 2009


O sol mal tinha saído quando madame Edgecombe saiu de seu quarto para ocupar seu lugar na enfermaria da escola, mas Clara já se encontrava de pé quando ela chegou. Diferente da garota que passara todo o dia anterior encolhida na cama chorando de dor, ela parecia muito bem disposta e saudável. Inexplicavelmente curada.

- O que pensa que está fazendo fora da cama? – embora aparentasse estar bem, a enfermeira não pretendia liberar sua paciente tão depressa.
- Por favor, por favor, não me prenda aqui justo hoje! – Clara já tinha ensaiado todo o discurso para convencê-la a libera-la – É o nosso primeiro sábado em Hogsmeade e é dia das Bruxas, não posso passar o dia presa aqui!
- Ontem você estava quase desmaiando de dor, não posso deixar que saia sem descobrir o que causou tudo aquilo, pode acontecer outra vez.
- Mas eu não estou sentindo mais nada, juro. Acordei ótima, sem nenhum tipo de dor, nem parece que estava passando mal ontem!
- E você não acha isso estranho? – ela tentou empurra-la de volta para a cama, mas Clara conseguiu escapar de suas mãos – Srta. Lupin, por favor, colabore comigo. Estou preocupada.
- Olha, que tal se me deixar sair para visitar o povoado e eu prometo que passo aqui quando voltar para a escola. Se eu apresentar algum sintoma estranho, não vou relutar e passo outra noite aqui – a enfermeira ainda parecia relutante – Por favor? Posso entrar em depressão se ficar aqui, sem sentir nada, enquanto meus amigos estão se divertindo fora da escola.
- Está bem, está bem, pode ir – diante da chantagem emocional, ela acabou cedendo – Mas se não voltar aqui com seus próprios pés no fim do dia, irei caçá-la pelo castelo! Agora saia, antes que me arrependa disso.

Não foi preciso mandar duas vezes. Quando a enfermeira voltou a olhar para a porta, Clara já estava dobrando o final do corredor em direção as escadas. Poucos alunos circulavam pela escola àquela hora e Clara invadiu o dormitório da Sonserina, se atirando em cima da cama das amigas.

- Clara?!? – Haley saltou da cama assustada, vendo a amiga pular para a cama de Keiko – Você está bem?
- Estou ótima! – ela deu um salto da cama de Keiko direto para a sua, rindo – Nunca me senti tão bem.
- Mas você estava quase morrendo ontem – Keiko esfregou os olhos, sonolenta – O que madame Edgecombe deu a você, que voltou com esse gás todo?
- Nada, ela também não entendeu o que aconteceu, vou ter que voltar lá quando chegarmos de Hogsmeade.
- Merlin, pare de pular nessa cama, está me deixando tonta – Haley atirou seu travesseiro para cima da amiga, que o agarrou no ar e caiu sentada na cama, sem se desequilibrar.
- Levantem logo, Filch vai começar a liberar os alunos às 8hs, quero ser a primeira a sair daqui – ela devolveu o travesseiro e correu até a porta – Vou acordar os meninos, espero vocês no salão comunal!

As reações no dormitório masculino, enquanto Clara pulava cheia de energia entre as camas de Hiro, JJ e Jamal não foram diferentes, mas todos levantaram depressa contagiados pela sua animação. Rupert, Julian, MJ e Artemis já estavam a espera deles no salão principal e pela primeira desde que haviam entrado para Hogwarts tomaram café da manhã antes das 8hs. Quando Filch se postou no meio do pátio pronto para receber as autorizações dos pais, todos já estavam lá fora, sacudindo os pedaços de papel na cara do zelador.

O povoado de Hogsmeade ainda estava vazio quando os onze cruzaram os portões da escola e tiveram sua primeira visão do vilarejo, além da já conhecida estação de trem. Suas ruas largas abrigavam dezenas de pequenas lojas, todas em estilo colonial, como a loja de doces Dedosdemel, a loja objetos e instrumentos mágicos Dervixes e Banges, o famoso pub Três Vassouras e a melhor loja de logros do mundo bruxo, Gemialidades Weasley, que ficava localizada onde há anos atrás funcionava a Zonkos, a loja de logros mais famosa que já existiu. Aqui, longe da fiscalização pesada de George e Ron, poderiam comprar tudo que sempre era vetado na loja do Beco Diagonal.

Como não poderia deixar de ser, a Gemialidades Weasley foi a primeira parada do grupo, que deixou a loja mais de uma hora depois que entraram, com os bolsos cheios e as mãos ocupadas com sacolas pesadas. O vilarejo já estava movimentado quando voltaram à luz do dia, com alunos de Hogwarts por todos os lados. Fizeram visitas demoradas também a Dedosdemel e Dervixes e Banges, e quando conseguiram chegar ao Três Vassouras já estava na hora do almoço. O resto do povoado, incluindo a Casa dos Gritos, seria explorado na parte da tarde. Hogsmeade era ainda melhor do que eles imaginavam.

ººººº

Já passava das 20h da noite quando Clara saiu da ala hospitalar, por ter prometido a enfermeira que voltaria no fim do dia. Madame Edgecombe foi forçada a admitir, embora achasse estranho, que a garota não tinha absolutamente nada e não tinha razão para mantê-la sob vigilância. Quando chegou às estufas, Haley, Keiko e Artemis já estavam a sua espera.

- Conseguiu se livrar dela? – Arte perguntou ansiosa.
- Sim, ela teve que admitir que não tenho nada – Clara ainda estava cheia de gás – Pegaram tudo? E os meninos?
- Estou com o mapa, arranquei do livro – Keiko recebeu olhares chocados das amigas e deu de ombros – Depois eu remendo com feitiço, ninguém vai perceber. Não queriam que eu carregasse aquele exemplar grosso sobre a Batalha de Hogwarts, não é?
- Os meninos estão no salão principal se empanturrando de doces e depois vão para as masmorras para o campeonato, estão ocupados demais para notar nossa ausência – Haley sorriu marota.
- Então vamos! – Arte falou tão empolgada quanto Clara.

As quatro começaram a caminhar pelos jardins da escola, já escuros àquela hora, evitando usar as varinhas para iluminar o caminho. Qualquer tipo de luz poderia atrair a atenção de algum professor, só poderiam usar luz quando já estivessem passado da cabana do Hagrid. A cada passo que davam, se aproximando mais e mais da orla da floresta, sentiam o coração acelerar. Eram quatro bruxas de 13 anos adentrando uma floresta habitada por criaturas perigosas, tentando encontrar uma relíquia da morte. Se fossem pegas e aquilo não as levasse a expulsão, não sabiam o que mais poderia.

- Acho que já estamos longe o suficiente – Arte parou de repente, olhando para os lados. Ela tinha um excelente senso de direção – Lumus.
- Ah, bem melhor agora! – Keiko repetiu seu gesto e pegou a pagina solta do bolso. Clara e Haley também iluminaram o local com suas varinhas – Vamos ver para que lado seguir.
- Segundo o mapa da clareira onde o tio Harry se entregou a Voldemort, devemos ir para o leste – Arte consultou o mapa na pagina do livro com atenção – Se acharmos a clareira, podemos refazer seus passos e ter uma boa noção de onde ele derrubou a pedra.
- Então vamos, temos que voltar antes do amanhecer – Clara se adiantou e começou a andar pela floresta na direção indicada por Artemis.

Usando o feitiço dos quatro pontos, as quatro entravam cada vez mais fundo na floresta, sempre seguindo as orientações que constavam nas histórias sobre a Batalha de Hogwarts. A floresta ficava mais densa conforme elas caminhavam em direção ao seu centro, as arvores ficavam maiores e mais cheias, arbustos ofuscavam cada vez mais o já limitado campo de visão que elas tinham e barulhos de diferentes animais deixavam aquela expedição cada vez mais perigosa, mas nenhuma delas tinha a intenção de desistir. Em alguns pontos por onde passavam a vegetação não era tão fechada e conseguiam se locomover sem muitos arranhões, mas os ruídos eram cada vez mais intensos. Cada vez mais próximos.

- O que foi isso? – Keiko saltou com a varinha em punho, apontando para o seu lado esquerdo – Ouviram?
- Deve ser algum centauro rondando para checar se não vamos fazer morada aqui – Haley brincou, mas apertou a varinha na mão.
- Pare de fazer piada com isso, não estou gostando desses barulhos – Keiko resmungou, sentindo um arrepio.
- Olhem, já viemos até aqui, não podemos voltar agora – Clara protestou – Não andamos nem três horas ainda.
- Não disse que queria voltar, só me assustei com o barulho – Keiko se defendeu, alcançando a amiga alguns passos mais a frente.
- Não acho que seja um Centauro, então vamos ficar mais atentas, ok? – Arte também as alcançou, sem afrouxar a varinha bem presa em sua mão.

Haley ainda olhou uma última vez para trás, iluminando a escuridão, mas não havia sinal de nenhum tipo de bicho por perto. Continuou acompanhando as amigas, rindo do pânico momentâneo que tomou conta do grupo, mas Artemis parou de repente e elas acabaram trombando uma com a outra.

- O que foi agora? – perguntei levantando do chão – Outro barulho?
- Clara, o que houve? – Artemis perguntou parecendo um pouco mais preocupada que Haley – Por que parou de repente?
- Eu ouvi também – Clara olhava para um ponto fixo no meio da escuridão – Tem um bicho se aproximando.
- Ai meu Merlin, que bicho? – Keiko abandonou a coragem e começou a se desesperar – Não estou ouvindo mais nada, o que é ele?
- Não sei, acho que- - Clara interrompeu a frase, olhando para o céu escuro – Hoje é noite de lua cheia.
- LOBISOMEM!

Keiko concluiu o pensamento da amiga, quando a silhueta de um enorme lobo surgiu na frente delas. As quatro apontaram a varinha para o animal, mas incertas se deveriam mesmo atacá-lo. Feitiços comuns não derrubariam um lobisomem e nenhuma delas tinha conhecimento avançado para combatê-lo, atacá-lo só iria irritá-lo ainda mais. Artemis era a única que sabia usar o feitiço do patrono e o usava para tentar repelir o lobo, enquanto pedia elas tentavam bolar um meio de escapar com vida.

- Não gritem, isso vai assustá-lo ainda mais – ela sussurrava tentando controlar seu patrono – Vamos recuar devagar.
- Clara, o que está fazendo? – Haley viu que a amiga ainda estava parada, sem acompanhá-las – Recue também!

Mas ela não se moveu. Clara continuou parada no mesmo lugar e tremia da cabeça aos pés. O lobo se dividia entre desviar da intensa luz do patrono e encarar a garota, e em uma falha de Artemis ele avançou, mas não chegou a alcançar o grupo. Foi tudo muito rápido. Quando o lobo investiu seu corpo na direção das amigas, Clara deu um passo a frente e se transformou em um imenso lobo, tão grande quanto o lobisomem a sua frente. O lobisomem recuou com a transformação repentina e as três garotas gritaram ao mesmo tempo, correndo sem rumo quando o lobo de pêlo amarelado que segundos antes era sua amiga começou a rosnar para o lobisomem gigante.

O lobo amarelado rosnava e avançava na direção do lobisomem, que começou a recuar aos poucos, até que correu para dentro da floresta e desapareceu. Ela olhou ao redor da clareira onde estavam e se viu sozinha, não mais na forma de uma garota de 13 anos, mas sim de um enorme e assustador lobo. Talvez tão apavorada quanto às amigas que fugiram dela, Clara correu para dentro da floresta, sem saber para onde ir.