Sunday, January 10, 2010

Avalon – Parte I – Herdeira e Sacerdotisa

Memórias de Artemis Arashi Capter Chronos

- Posso trazer quem eu quiser aqui? – Perguntei, enquanto a barca me levava lentamente até o meio do lago. Eu não falava palavra alguma, sequer me mexia, envolta pela atmosfera de poder e magia daquele local. Eu não precisava de palavras para ele, pois ele podia ler direto de meu coração.
- Assim que você for capaz de abrir a barreira de Arturia, esse lugar será seu por direito. – Ele falou diretamente ao meu coração, enquanto surgia lentamente ao meu lado. A barca sequer notou a presença dele, pois ele não possuía corpo, era um espírito ligado a mim. Um espírito extremamente poderoso. A barca parou no meio do lago, guiada por artes antigas. – É chegada a hora. Boa sorte, minha pequena.
- Obrigada, Chronos. – Falei sorrindo para ele, que sorriu de volta antes de desaparecer por um tempo. Eu deveria fazer aquilo sozinha, sem a ajuda dele e de ninguém.

Respirei fundo e dei um passo à frente, notando como a barca sequer balançou. Eu fechei os olhos enquanto levantava os braços, mantendo-os abertos, formando uma cruz com meu corpo. Eu sentia o vento calmo bater em meu rosto e em meus cabelos, que voavam livres, assim como o pano de minha roupa. Parecia haver algo no vento, algo que me acalentava e acalmava, uma voz ao mesmo tempo doce e poderosa sussurrava para que eu não tivesse medo e que minha coragem me guiaria.

Abri então os olhos e soube que eles brilhavam em dourado, da mesma cor que os Dele, enquanto eu baixava os braços com velocidade. Meus cabelos começaram a se agitar, porém dessa vez a fonte do vento era eu mesma. A partir de meu corpo um vento forte surgiu, agitando as águas calmas do lago.

- Revela-te Avalon. – Eu falei em inglês arcaico e senti o poder daquelas palavras.

As brumas então se agitaram e senti como minhas energias as guiavam, e de pouco em pouco elas se abriram, revelando uma ilha escondida de tudo e todos. Apagada da memória de todos, até mesmo de minha família, que era a verdadeira dona daquele lugar. Avalon, a Capital dos Chronos. Avalon, que agora era minha por direito.

Semanas antes

- Uau! É realmente lindo! – Eu falei, entusiasmada, enquanto chegávamos às margens do lago.
- Este é o Lago de Glastonbury, e aquelas, as Ruínas da Famosa Abadia de Glastonbury. – Papai explicou, enquanto indicava as Ruínas em um morro próximo, no alto do Tor.
- Você acredita que é a primeira vez que venho visitar essa região? – Mamãe comentou, enquanto segurava minha mão.
- É tudo tão lindo... E tão místico também, será que realmente o Rei Arthur está enterrado aqui? E Excalibur?! – Eu falei rindo.
- Você é mesmo uma Chronos, só pensa em batalhas e em armas! – Papai falou rindo, enquanto me puxava para um abraço. Ficamos nós três juntos de pé na margem olhando na direção do centro do lago, envolto em fortes brumas naquela época do ano. – Se ele está, e se ele realmente existiu, eu não sei. Mas há registros do clã de que nessa região foi a primeira sede de nossa família.
- É sério?! Devia ser maravilhoso aqui! – Falei rindo também.
- Então conviveram com Merlin, Morgana, talvez até com o próprio Arthur! Teria sido ótimo se os outros tivessem vindo também.
- Mas é nossa viagem! – Eu falei, fazendo beicinho.

Eram nossas férias de final de ano, e antes do Natal, que passaríamos todos juntos na casa de meus avós maternos, meus pais me levaram para conhecer a região de Glastonbury. Depois iríamos para o casamento do Tio Gabriel com a Tia Mad, que seria na França, com direito a todos hospedados em La Force!
- Vamos visitar as ruínas? Tem algumas zonas bem conversadas e é aberto ao público. – Papai falou, guiando-nos naquela direção.

Mamãe o seguiu de mãos dadas e eles rapidamente se abraçaram, pois estava começando a ficar frio, e talvez houvesse neve. Eu, porém, me mantive mais um tempo parada na margem, olhando para as brumas. Havia algo nelas, eu tinha certeza, pois elas pulsavam com uma energia poderosa e pareciam me chamar... Elas me lembravam Chronos na verdade.

- Chronos? O que tem aqui? – Eu pensei, sabendo que ele leria diretamente de meu coração.
- Você em breve saberá. – Senti ele respondendo, e não precisei olhar para trás para saber que ele estava do meu lado.
- Mas estou curiosa... Essas brumas me chamam, há algo nelas.
- A paciência é uma virtude, minha pequena. Mas sim, há algo nas brumas, que apenas você pode sentir.
- Arte? Está tudo bem? – Mamãe perguntou, há alguns passos de mim, me trazendo de volta à realidade.
- Estou, desculpa. – Eu falei, correndo até eles, mas voltando a olhar por cima do ombro.

As brumas pareceram ficar mais densas de acordo com que eu me afastava e vi que Chronos não tirava os olhos delas... Ele parecia pensativo, envolto em lembranças e memórias, e captei uma certa tristeza em seu olhar. Chronos era alguém cheio de vida (tirando a ironia de que ele é um espírito, é claro), sempre sorrindo e calmo, porém, no fundo de seus olhos, sempre havia uma certa tristeza antiga.

- Arte, o jantar já vai sair, não se esqueça que temos que vamos partir cedo amanhã. – Mamãe falou assim que cheguei em casa e subi rapidamente para meu quarto. Assim que eu entrei, Chronos já me esperava, de pé ao lado de minha cama. Como sempre, ele virou-se de costa enquanto eu trocava de roupa e sentava na cama.
- Pode começar falando!
- É melhor entender por si só, Pequena. Vá a biblioteca e pegue o Diário de Gomeisa, está junto das Crônicas de Alderan.
- Eu já li esse livro, ela conta sobre o que ela viveu e sobre a traição.
- Ele será diferente agora. – Ele falou, e eu corri curiosa, trazendo o livro para meu quarto. O Diário de Gomeisa, minha tia-avó, era um dos livros mais importantes para a família, e junto das Crônicas de Alderan, meu avô, contavam a história de quando fomos traídos. – Abra-o.
Eu obedeci e abri na primeira página. Para meu espanto, ele estava em branco e olhei para Chronos perplexa, mas ele continuou sorrindo e quando olhei novamente, letras prateadas na caligrafia de Gomeisa começavam a surgir:

“Se você é capaz de ler este texto é porque você é como eu, uma das Herdeiras, a Reencarnação de Chronos. Eu sou Gomeisa Asteris Chronos, a Reencarnação de Chronos nessa época, sua protegida, Herdeira e Sacerdotisa.

Você, assim como eu, é protegida e amada por Chronos, um ser de luz e bondade. Mas nós também temos fardos pesados a carregar, pois somos a base e esperança de nossa família.

Há um lugar que você deve visitar, e com certeza você o conhece por nome, pois está nos registros da família. Lá você encontrará muitas respostas e poderá ver e saber de muitas coisas.

Avalon é o seu nome, a Ilha Sagrada e primeira sede de nossa família, a Capital de um Reino governado por uma mulher. A mais poderosa Chronos e mulher mais forte...

Você é uma Sacerdotisa de Chronos, possui a luz e a sabedoria Dele, e será capaz de chegar a Avalon, que será sua por direito. Apenas aquelas puras de coração e realmente Herdeiras poderão chegar à ilha sagrada.

Tenha fé e coragem, e não duvide de si mesma, pois a chave para Avalon e para os seus poderes estão em você mesma. Jamais duvide de seu poder, que não é o Dele.

Todas as Herdeiras são naturalmente poderosas, jóias raras, de imenso poder, que além do próprio poder, possuem o Dele como auxílio.

Mas tenha em mente: você é a chave o cerne de tudo isso, e é seu poder que abrirá as portas de Avalon.

Desejo-lhe toda a sorte e felicidade que houver, e sei que seu caminho será iluminado.

Gomeisa Asteris Chronos”