Monday, January 11, 2010

Avalon parte II - A Ilha Sagrada

- É a letra de minha tia-avó, Gomeisa...
- Esse diário é enfeitiçado... Ele mostra o que a pessoa deve ler, quando deve ler. Por anos, ele mostrou apenas o que foi revelado ao seu avô, Alderan, revelando a Traição e a minha existência para ele. Agora, porém, ele indica o que você deve saber, sobre a Capital dos Chronos, a Ilha Sagrada de Avalon.
- E ela fica em Glastonbury, agora tudo faz sentido! – Eu exclamei, lembrando-me da sensação ao estar naquele lago.
- Exatamente. Artur existiu, ou alguém que depois recebeu esse nome.
- O que quer dizer?
- Sua antepassada, a única que foi Avatar e Reencarnação, se chamava Arturia Chronos. Ela unificou a Bretanha sobre uma única bandeira, tornando-se a primeira Grande Rainha.
- Você quer dizer que Artur, era uma mulher?
- Exatamente. Ao final de seu reinado, quando o Cristianismo tornou-se forte na ilha, eles mudaram seu nome, tornando-a o Rei Artur e modificaram muitas de suas histórias. O Novo Reino Cristão precisava de heróis e guerreiros, de lendas, masculinas principalmente, para manter o poder da Igreja e o coração das pessoas.
- Mas os Chronos nada fizeram!?
- Não. As filhas de Arturia seguiam o desejo dela, de que não se envolvessem mais com isso e passaram a viver apenas como a Família Chronos, não mais o Reino.
- Eu sequer imaginava algo assim... Já fomos reis da Inglaterra?! – Eu perguntei chocada e surpresa.
- Sim. Você é uma Herdeira de Arturia, e uma Sacerdotisa de Avalon. Minha Herdeira e Sacerdotisa na verdade. Avalon era a Capital dos Chronos e do Reino da Bretanha, onde Arturia viveu e governou por quase 150 anos. Pouco antes dela morrer, ela escondeu Avalon com uma poderosa barreira e proibiu a Família de retornar para lá. Ela os mandou viver entre a população e ir para Londinium, a atual Londres, a nova capital do Reino.
- Por que ela fez isso? Não consigo entender...
- Com o tempo você entenderá, mas por hora basta dizer que a Realeza e o Poder trazem muitos problemas... Ela proclamou que apenas suas Herdeiras poderiam entrar na Ilha, e mesmo assim se fossem puras de coração e capazes de abrir sua barreira.
- Você quer que eu rompa a barreira de uma Rainha?! – Eu falei, entendendo o que ele queria dizer.
- Exatamente. Antes de você, Gomeisa fez o mesmo. Em Avalon você será capaz de aprender muito. Sobre o passado, sobre os poderes, e sobre o futuro. Avalon era na verdade uma Ilha Sagrada, centro da Magia e Religião antigas.
- Chronos, eu estou no meu Terceiro Ano, mas sei realizar feitiços mais complexos, como você quer que eu consiga abrir uma barreira antiga como essa?! – Eu falei, deixando o nervosismo na voz. Ele esperava muito de mim e isso começava a me deixar amedrontada. Ele sorriu, e ajoelhou-se diante de mim, pegando minha mão entre as suas levemente. Seus olhos verdes olhavam diretamente dentro dos meus, e pareciam me acalmar e acalentar.
- Minha pequena, minha Princesa e Herdeira. As graduações do mundo Bruxo nada querem dizer quanto ao seu coração. Você é mais poderosa do que aparenta, pois reside em você um poder enorme, ainda não desperto. Em Avalon você será capaz de despertar esse poder e aprender a usá-lo, até lá terá o meu poder para auxiliá-la. Avalon se mostra para aqueles que são dignos, corajosos e bondosos, qualidades que não faltam em você. Por que você acha que eu escolhi você como minha Herdeira e Sacerdotisa? Eu escolhi você porque a amo, e conheço-a melhor do que você mesma. A primeira prova disso, é que você foi capaz de ler o Diário, e sei que terá sucesso. Acredite em si mesma.
Eu me senti tocada por aquelas palavras, e enquanto as ouvia meu coração não parava de saltar, quase como se houvesse uma dor nele. Mas era uma dor estranha, pois não trazia tristeza, mas felicidade, deixando-me calma e confiante. Eu pisquei rapidamente, sem tirar os olhos dos olhos dele e sorri, decidida.
- Eu tentarei. Ou melhor, eu farei. Abrirei a barreira de Arturia e irei até Avalon.
- Esse é o jeito correto de se falar, o seu jeito. Contará sempre com meu apoio e auxílio, minha pequena. Quando estiver pronta, eu a levarei a Glastonbury.

Três dias depois...

Naquela noite, eu continuei lendo o Diário de Gomeisa e li como ela encontrou Avalon, como lá ela conseguiu descobrir mais sobre o passado da família. Descobri também que após esse dia, ela sentia um novo poder dentro dela e começou realmente a ser uma Sacerdotisa, conseguindo às vezes ver o futuro.
Tudo isso me deixava entusiasmada, mas também nervosa e amedrontada. Eu não sabia o que encontraria em Avalon, mas queria muito ir até lá o quanto antes. Chronos, porém não me apressou e pediu que eu aguardasse o momento certo, e quando eu perguntei que momento seria esse, ele apenas me respondeu “Você saberá”. Eu adoro o Chronos, mas o jeito Yoda de ser dele às vezes me irrita!
Como eu não sabia como me preparar, nem o que fazer, eu passava boa parte dos dias lendo o Diário e outros livros de magia antiga, além de passar longas horas meditando nos jardins. Apenas para me manter em forma, eu treinava um pouco de Kung Fu todos os dias de manhã por volta de 2 horas. Mas realmente não sabia mais o que fazer, no final do segundo dia após ler o Diário.
- Chronos estive pensando. – Eu falei em meu quarto, esperando ele surgir diante de mim antes de continuar o pensamento. – Eu não quero ir para Avalon vestindo tênis e camisa, não condiz muito com aquele lugar sagrado. – Ele riu, divertindo-se, enquanto eu ria também. – Como eram as roupas de Sacerdotisa?
- Eram parecidas com essa túnica que eu estou usando, porém mais longas, assemelhando-se a vestidos. – Ele explicou, mostrando a túnica branca que usava.
- Gomeisa diz que ela usou um vestido longo em sua primeira visita a Avalon... Chronos, você me ajuda em algo?
- O que tem em mente?
- Você sabe o que eu quero. Quero conjurar uma roupa de sacerdotisa agora... Mas conheço muito pouco de Transfiguração ainda.
- Eu ajudarei você. Fique de pé. – Ele falou, e obedeci. – Imagine como você acha que eram as roupas de Sacerdotisa. Imagine cada detalhe. A cor, a forma, o tecido, o cheiro, a sensação dele na pele.
- Sim.... Um longo vestido, de cor azul clara. Ele é leve e parece seda ao toque. E tem o perfume de flores. – Eu falei, fechando os olhos, mantendo a imagem na minha cabeça.
- Agora, convoque-o aqui. – Ele falou, e eu abri um olho, enquanto franzia a sobrancelha, mas ele assentiu com a cabeça e eu voltei a fechar os olhos.
Me imaginei tocando na roupa de Sacerdotisa, passando a mão pelo tecido leve, e sentindo o frescor daquela roupa sagrada. Nesse momento eu senti um peso nos braços e quando abrir os olhos, para meu espanto, um longo vestido, da exata forma como havia imaginado, estava nos meus braços. Eu o desdobrei e olhei maravilhada para ele, e vi que caberia em mim perfeitamente.
- Você fez isso? Não foi! – Eu falei, olhando acusadoramente para ele.
- Não. Você o conjurou. Já falei para confiar mais em si mesma. – Ele falou, sorrindo.
- É lindo... Vou experimentá-lo. – Falei, correndo para tirar a blusa, enquanto Chronos virava-se de costa.
- Já falei para não fazer isso na minha frente.
- Até parece que nunca viu alguém assim. – Eu retruquei, brincando com ele, pois eu sabia que ele ficaria sem graça.
O vestido caia perfeitamente em mim, e era extremamente longo, parecendo feito especialmente para mim. Eu rodopiei me olhando no espelho e estava maravilhada com ele. Eu me sentia feliz e alegre, e também solene, e por algum motivo eu me senti pronta e certa de uma coisa.
- Essa veste... Era dela, não era? De Arturia?
- Sim... Era a veste cerimonial dela.
- É lindo... Chronos, eu estou pronta.
- Eu sei. Venha comigo. – Ele estendeu a mão, que peguei sem nem pensar duas vezes. Era estranho como, apesar dele ser um espírito, nossas mãos podiam se tocar e eu sentia uma brisa morna vinda dele. Ele se ajoelhou diante de mim, fazendo uma referência e eu me aproximei dele, quando ele ficou de pé. Então duas de suas asas brancas abriram-se e nos envolveram, fechando-se ao nosso redor. Fomos envoltos por uma poderosa luz branca.
No momento seguinte, as asas se abriram, fechando-se as costas Dele. E estávamos na margem do Lago de Glastonbury. A noite estava estrelada e parecia fria, porém eu não sentia nada disso. Olhei para o lago e vi as tradicionais brumas, e finalmente entendi.
- As brumas são a barreira!
- Sim, minha Sacerdotisa. Essa é a maior magia de Arturia, que mantém Avalon escondida e protegida, de modo que apenas suas Herdeiras possam chegar lá.
- Eu preciso ir ao centro do lago, sinto isso... Mas como vou chegar lá?! – Eu pensei, sabendo que seria difícil nadar com aquele vestido.
- Há uma forma, e é a primeira parte do teste de Sacerdotisa. Você deve chamar a barca de Avalon.
Eu não respondi, e continuei olhando para o centro do lago. Em meu íntimo eu chamei pela barca, com uma voz forte, porém silenciosa. Para meu espanto, houve uma agitação no lago e do meio dele surgiu uma barca. Ela era feita de madeira, sem nenhum adorno e movia-se sozinha, lentamente pelo lago. Eu estava radiante de felicidade, e olhei para Chronos sorrindo com alegria. A barca finalmente encostou na margem e eu subi nela, notando como ela sequer se mexeu com meu peso, mantida em equilíbrio por artes antigas.
Após eu subir, ela moveu-se lentamente de volta para o centro do lago, levando-me de encontro à parede de Brumas, onde eu realizaria o meu teste.

continua...