Thursday, February 18, 2010


- Ai Keiko, está muito enfeitado! – resmunguei olhando para o espelho e Keiko bateu na minha mão quando peguei no cabelo.
- Fique quieta! Você concordou em me deixar arrumá-la pro baile, então não pode dar opinião.
- Mas é um baile de escola, não um casamento!
- Merlin, como você é chata! – Keiko reclamou, empurrando minhas mãos pro lado outra vez – Fica tão bonita toda arrumada, me deixe fazer isso só hoje, por favor!
- Mas...
- Por favor? Por mim? – Keiko juntou as mãos como se fosse rezar e bufei.
- Ah droga, odeio quando fazem chantagem emocional.

Keiko comemorou minha derrota e continuou a fazer o que quisesse para me arrumar para o baile, ignorando as sugestões até de Haley, que agora se limitava a rir das minhas caretas entediadas. Era a noite do baile de Dia dos Namorados em Hogwarts e era a primeira vez que tínhamos permissão de participar. As meninas estavam na maior empolgação, até mesmo Leslie, que ia com Hiro e não conseguia esconder as expectativas que havia criado.

Eu era a única que ia de contrapartida àquela animação toda. Não que não estivesse com vontade de ir à festa, muito pelo contrario, mas a animação delas se dava ao fato de que estavam contando os minutos para darem o tão sonhado primeiro beijo e eu não havia entrado nessa paranóia de que podia ser a única menina do 3º ano a nunca ter beijado um menino, já que até Leslie parecia que ia sair do zero hoje. Na verdade estava pouco me lixando e passei a semana toda aterrorizando elas sobre isso, o que só aumentou toda a paranóia e me divertiu bastante.

O tema do baile era música e quando cheguei ao salão principal com meus amigos me deparei com uma decoração recheada de notas musicais rosa choque e cada mesa era dedicada a um cantor bruxo ou trouxa que tivesse músicas românticas. Tinham discos por todos os lados e a mesa de comida estava repleta de referências musicais, assim como diversos bombons em forma de coração. As bebidas eram em sua maioria cor de rosa e vermelhas, mas tinha um tio George e um tio Yoshi atentos bem ao lado da mesa para não deixar ninguém abaixo do 5º ano pegar nada além de suco de morango, então nem nos animamos em descobrir o que eram todos aqueles drinks.

O salão já estava cheio e procuramos uma mesa quase no meio da pista de dança, de onde teríamos uma visão privilegiada do show da banda de Edward, que tocaria mais tarde. De todo o nosso grupo, Sheldon e eu éramos os únicos desacompanhados. Hiro estava com Leslie, Jamal foi acompanhado de Kaley, da Lufa-Lufa, Julian com Keiko, MJ com uma menina da turma dele chamada Amy, JJ estava com uma corvinal chamada Cate, Arte estava com Stefan Salvatore, Penny com Tuor, Tommy foi com uma lufana chamada Mary e até mesmo Rupert estava acompanhado de Victoire Weasley. Apenas Haley havia desaparecido, ninguém sabia com quem ela ia, havia feito suspense pela semana inteira. Já ameaçávamos organizar um bolão quando ela apareceu no salão de braços dados com Graham McKay. Os dois sentaram na nossa mesa como se não tivessem notado nossas caras de choque e já ia abrir a boca para perguntar que palhaçada era aquela, mas Arte me deu uma cotovelada violenta na costela e fiquei quieta.

Passamos a noite inteira com aquela coisa sentada na nossa mesa acompanhando Haley e tentando bater papo com os outros, mas ninguém estendia muito os assuntos. Dava pra ver nos olhos de Haley que ela queria nos matar, mas se ia aboletar aquele grifinório insuportável na nossa mesa como um dos nossos, podia ter avisado antes para treinarmos nossas melhores expressões de falsidade. Assim, pegos de surpresa, só conseguíamos responder as coisas o mais monossilábico possível e com caras de quem tinha comido coisa estragada. Foi um alivio e tanto quando a banda de Edward, Tears of Blood, entrou no palco e deu inicio ao show. Com exceção de Sheldon, que ficou na mesa, corremos todos pra frente do palco e pulamos o show inteiro. Zachary, o irmão gêmeo de Kaley também da Lufa-Lufa, se juntou ao nosso grupo no meio do show depois de fugir da garota que acompanhava e passou a me fazer companhia. Ele era um dos artilheiros do time da Lufa-Lufa e já era apontado como um forte candidato a vaga de reserva no Fitchburg Finches quando se formasse em Hogwarts.

- Ei, cadê o Sheldon? – perguntei quando voltamos para a mesa depois do show e ela estava vazia. Zach sentou em seu lugar – Ele vai falar se voltar e você estiver sentado ai.
- Mas a cadeira está vazia – Zach contestou e rimos.
- Mas é o lugar dele – JJ sentenciou – E não adianta discutir.
- Gente, e a Haley, hein? O que deu nela? – perguntei aproveitando que ela ainda estava longe da mesa com McKay.
- Clara, não começa – Keiko falou caçando Haley pelo salão – Amanhã o efeito do que quer que ela tenha tomado vai ter passado e ela vai se arrepender, mas não vamos arrumar confusão hoje. Estou arrumada demais pra ganhar uma detenção.
- Não custava nada ela alertar, quase engasguei com o suco quando eles sentaram – Julian resmungou sentando ao lado de Keiko.
- Morreu esse assunto hoje – Arte avisou quando eles finalmente chegaram à mesa e sentaram.
- Ah não, mais um? – JJ falou desanimado e quando virei, Thruston estava sentado na cadeira vazia ao meu lado.
- O que foi? Perdeu alguma coisa aqui? – perguntei sem vontade alguma de fazer média por causa de Graham.

Thruston não respondeu e olhou para a mesa dos amigos, que o encaravam em desafio. Perguntei outra vez o que ele tinha perdido ali e tudo aconteceu em uma fração de segundos. Ele virou para mim outra vez e me beijou, e no instante seguinte estava jogado no chão com as mãos tapando o rosto, enquanto eu estava de pé em sua frente com o punho fechado. Meus amigos já estavam em volta e a confusão estava prestes a começar quando tio George apareceu correndo, me afastando com as mãos.

- O que está acontecendo aqui? – ele perguntou olhando para Thruston chorando no chão, o nariz torto cheio de sangue.
- Essa louca quebrou o meu nariz! – Thruston berrou do chão, a voz chorosa fazendo todo mundo em volta rir.
- Ele me beijou! – gritei de raiva – E eu não disse que podia!
- Você beijou minha sobrinha sem autorização? – tio George olhou para ele furioso.
- Por que você fez isso, seu imbecil? – berrei outra vez e já começava a tremer de raiva.
- Foi uma aposta! – ele berrou de volta – Não precisava quebrar o meu nariz!
- Ok, Clara, para trás! – tio George me empurrou pra trás quando avancei pra cima dele de novo – Você, de pé. Vamos até a enfermaria consertar o nariz e o baile acabou pra você, vai direto pra Grifinória.
- Eu juro que não sabia de nada! – Graham ergueu as mãos se rendendo, quando todos olharam para ele atravessado.
- Meu primeiro beijo foi James Thruston? – falei horrorizada, agarrando um guardanapo de pano na mesma hora e esfregando na boca desesperada, enquanto meus amigos riam.

Passei o resto da festa tendo tremedeira na cadeira quando lembrava o que tinha acontecido e nem levantei mais pra dançar, fiquei tendo o que Keiko chamou de “ataque de mulherzinha”. Zach ficou me fazendo companhia na mesa, ainda fugindo da menina, e foi a minha salvação. Conversar com ele era ótimo e consegui esquecer um pouco a raiva que estava sentindo.

- Eu vou matar ele amanhã – falei de repente e ele riu.
- Esquece isso, não vai se estressar de novo.
- Cara, que nojo! Agora sempre que lembrar dessa noite, vou lembrar disso e ter ânsia de vomito!
- Foi tão ruim assim? – ele riu.
- Foi – Zach se aproximou de mim devagar e me beijou, se afastando em seguida com a mão protegendo o rosto.
- Por favor, não quebre meu nariz.
- Por que fez isso? – não ia bater nele, mas estava surpresa.
- Porque agora quando você lembrar dessa noite, não vai lembrar só do Thruston.

Sorri para ele um pouco sem graça, mas agradeci e continuamos conversando sobre assuntos aleatórios, e nenhum dos dois tocou mais no assunto. Nossos amigos voltaram para a mesa logo depois e pela expressão no rosto das meninas, elas tinham visto o beijo e iam me interrogar depois, mas graças a Merlin não falaram nada na mesa.

- Adivinhem o que acabei ver no jardim – Jamal chegou na mesa com Kaley e os dois riam – Hiro estava beijando Leslie.
- Os nerds também se dão bem – Haley brincou e todo mundo riu.
- Acho que já vou embora – levantei da mesa de repente e eles me olharam assustados – Acho que essa festa já rendeu demais.
- Mas ainda está cedo! – Arte protestou, mas não sentei outra vez.
- Já estou cansada e daqui a pouco tio Ben vai nos expulsar mesmo, vou caminhando na frente.
- Eu levo você até lá – Zach se ofereceu, mas fiz sinal para ele não levantar.
- Não precisa, a masmorra é aqui do lado. Até amanhã, pessoal.

Deixei todo mundo na mesa com cara de que não estava entendendo nada, mas nem eu sabia o porquê de querer ir embora de repente, só sabia que não agüentava mais ficar naquele salão e queria voltar pro dormitório o mais rápido possível. O salão comunal da Sonserina estaria vazio e escuro àquela hora, se não fosse um único ponto de luz vindo de debaixo da mesa. Sheldon estava sentado com um joguinho na mão e olhava vidrado para a tela, ainda usando o terno da festa.

- Ei, quando você saiu da festa, que ninguém viu? – perguntei sentando no sofá.
- No meio do show, estava entediado – ele respondeu sem tirar os olhos do joguinho – Vamos, encanador, pule!
- Então você perdeu toda a diversão, soquei James Thruston no meio da cara e quebrei seu nariz – falei rindo – O que é isso que está jogando?
- Meu PSP, estou jogando Super Mario. Vamos, pule!
- Não sabia que aparelhos eletrônicos funcionavam aqui.
- Não funcionam, apenas nesse ponto onde estou – Sheldon pausou o jogo e me encarou – Por que outro motivo eu poderia estar debaixo da mesa?
- Sei lá, Sheldon, é você – ele me olhou sem entender e ri, me encostando-se ao sofá e fechando os olhos.
- Clara? – ele voltou a falar com os olhos no jogo – Você está no meu lugar.

Olhei pra ele séria e Sheldon me encarou com um sorriso sarcástico, seguido de uma risada muito esquisita que acabou me fazendo rir. Dei boa noite a ele e assim que levantei do sofá para voltar ao dormitório a porta do salão comunal de abriu e meus amigos entraram. Todos vinham reclamando por estarem de volta àquela hora e o falatório fez Sheldon desistir do jogo e seguir com a gente para o dormitório. As meninas estavam extremamente empolgadas e não paravam de tagarelar um minuto sequer sobre a festa, mas me mantinha calada apenas ouvindo enquanto caminhávamos pelo túnel subterrâneo.

- Haley, ainda queremos saber o que deu em você pra ir ao baile com o ogro, viu? – Keiko falou quando entramos no dormitório.
- Sim, sim, ok, mas acho que nesse momento Clara podia dizer o que achou de beijar dois garotos na mesma noite, não? – Haley fugiu da berlinda e me jogou no lugar dela.
- Só falo na presença do meu advogado – falei brincando e elas começavam a me vaiar – Ai gente, podemos conversar amanhã? Estou morrendo de sono, sério.
- Ok, hoje você está livre, mas amanhã queremos saber o que rolou ali com o Zach... – Penny atirou uma almofada pra cima de mim.

Atirei a almofada de volta pra ela e abri o cortinado da minha cama pronta para me atirar do jeito que estava, mas brequei quando vi que tinha alguma coisa sob o meu travesseiro. Quando peguei, percebi que era um cubo colorido de papel, um origami. Olhei rapidamente para trás pra ver se elas tinham visto, mas estavam todas de costas colocando os pijamas e aproveitei para revirei o origami de todos os lados, mas não tinha nenhum nome. Fechei o cortinado outra vez e fiquei deitada olhando pro cubo um tempão, imaginando quem poderia ter deixado ali e o que significava, mas peguei no sono sem conseguir desvendar o mistério.