Friday, February 12, 2010
Por Hiro Menken.
Era quarta-feira da semana do dia dos namorados e a proximidade de sábado fazia com que meu estômago começasse a dar voltas desagradáveis quando me lembrava de que ainda não tinha um par para o baile (e nem fazia idéia de como iria conseguir um em tão pouco tempo!).
Cheguei para a aula de Transfiguração com Jamal, Clara e Haley, que, como eu, tinham demorado um pouco mais para terminarem de tomar o café da manhã. Nos acomodamos nos nossos mesmos lugares habituais e conversávamos em voz baixa enquanto esperávamos tio Ben dar início à aula. Thomas entrou na sala acompanhado de uma garota da Lufa-lufa que era do mesmo ano que o nosso, e a reconhecia das aulas que tínhamos em conjunto. Ambos sorriam discretamente e, assim que perceberam o restante da turma os observando com curiosidade, disfarçaram as expressões e se acenaram antes que cada um se juntasse ao restante de seus amigos. Tommy sentou-se ao lado de JJ e não foi preciso que ninguém perguntasse nada antes que ele começasse a dizer com empolgação:
- Acabei de convidar a Mary para ir ao baile comigo! E ela topou! Menos uma etapa... – ele comentou parecendo aliviado. Senti um nó rasgar minha garganta desagradavelmente. – E vocês? Conseguiram algum avanço no nosso... “esquema”? – perguntou aos sussurros depois de espiar uma vez para as meninas, que estavam distraídas conversando sobre a visita à Hogsmeade.
- Ainda não. Mas pretendo estar livre da primeira parte hoje, também. Estou cercando a Cate da Corvinal e, a não ser que eu esteja me enganando demais, ela também está me dando boas aberturas. Estou confiante! – JJ respondeu cheio de atitude e Thomas riu, incentivando-o.
Graças a Merlin eles não tiveram tempo de prosseguirem com o assunto, pois tio Ben se levantou soberano em frente à turma fazendo com que todas as conversas cessassem imediatamente. Durante o restante da aula fingi que prestava bastante atenção em cada palavra do que ele dizia ali na frente (sobre transformação de objetos em animais de maiores portes), mas na verdade meus pensamentos estavam distantes enquanto eu analisava sem muitas expectativas as minhas condições.
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Mais tarde, no Salão Comunal, JJ confirmou seu sucesso na tarefa de conseguir uma companhia. Depois que terminaram de comemorar com ele, é óbvio, todos voltaram-se para mim de uma maneira desconfortavelmente pressionadora.
- Hiro? Quem você está pretendendo convidar?
- E quando?
- Só faltam pouco mais de dois dias...
Era só o que conseguia distinguir no meio de todos aqueles olhares de reprovação pelo meu péssimo desempenho. Não conseguia responder nada e só balancei a cabeça desanimado.
Jamal virou os olhos como quem diz “porque eu já esperava por isso?” e se afastou ao mesmo tempo em que a porta se abria e Leslie entrava sozinha na sala, carregada de livros e parecendo distraída. Passei a acompanhá-la no trajeto, pois ela parecia estar tão distraída que não percebeu que caminhava em linha reta em direção a uma armadura no meio da sala. Estava a poucos passos de se chocar contra ela e ainda não notara...
- LESLIE! – Gritei alto para chamar sua atenção e ela se assustou lançando para o ar todos os livros que carregava e permanecendo imóvel e alarmada. Corri até ela, ainda ofegante com a rapidez com que tinha acontecido tudo aquilo.
- Desculpe por isso Les, mas você realmente ia se chocar contra essa armadura. – me abaixei com agilidade recolhendo todos os livros e empilhando-os novamente.
- Ah, ok, Hiro, não tem problema. Estava mesmo muito distraída... – ela respondeu abaixando os olhos e corando um pouco quando me levantei novamente, sorrindo.
- Algum motivo especial para a distração? – perguntei curioso quando vi que grande parte dos livros da pilha tratavam de Runas Antigas.
- Não. Não exatamente. Só um pergaminho antigo, de família, que encontrei lá em casa e está em runas... Estou tentando decifrá-lo sozinha, mas acho que são runas arcaicas ou sei lá. Não encontro algumas em nenhum dos livros tradicionais. – ela disse pensativa por uns segundos, mas logo sorriu tímida esticando os braços para poder abraçar os livros novamente. – Bem, não interessa. Obrigada por ter evitado o acidente mais humilhante da minha vida – caso tivesse acontecido -, Hiro! Fico te devendo uma. – ela respondeu ainda sorrindo e virou as costas para seguir um caminho livre de obstáculos até o dormitório das garotas.
E então, enquanto estava parado ali olhando ela se distanciar, tive o que chamariam de epifania: Leslie era a garota ideal para ser minha companhia para o baile.
Sem esforço algum, ela era uma das garotas que eu achava ser muito interessante. E com ela conseguia conversar sobre vários assuntos diferentes. Era uma de minhas melhores amigas e companhia durante as aulas - e fora delas. Mas Leslie tinha ainda outro ponto a seu favor: também não demonstrava ter melhores perspectivas para este baile.
Cheguei a essa conclusão em poucos segundos e então corri atrás dela, alcançando-a na porta do dormitório das garotas.
- Leslie, será que você poderia pagar este favor, que ficou “me devendo”, aceitando ir comigo ao baile do dia dos namorados? – perguntei em um rompante, pois tinha certeza de que se parasse para pensar um pouco mais, não teria coragem. Ela parou no mesmo lugar e girou os calcanhares para que ficasse de frente pra mim. Seus olhos estavam um pouco arregalados de surpresa.
- Você está me convidando para ir ao BAILE com você? – ela perguntou com a voz um tanto alta e esganiçada.
- Sim. Adoraria que você aceitasse. Seria um grande favor! Não vejo quem mais poderia convidar de modo que me sinta tão à vontade com toda essa situação... Você sabe: se formos sozinhos, logo não vão mais nos deixar em paz. E eu não sou o Sheldon para agüentar isso tranquilamente. – disse com firmeza e ela riu alto.
- De fato, você e Sheldon são bem diferentes. E fico feliz por isso, ou não conseguiria aceitar seu convite com tanta facilidade Hiro. É claro que te acompanho! – ela respondeu eufórica e sorrimos.
- Obrigado Les! Mesmo! Então... Depois combinamos horário e todo o restante, não é?! – perguntei sem jeito e ela confirmou com a cabeça em movimentos rápidos. – Ótimo! Boa noite!
Senti uma onda de alívio tomar conta de mim enquanto voltava ao Salão Comunal pensando repetidamente “menos um... menos um...”, mas sem me dar conta de que o pior ainda estava por vir.
~*~
Por Keiko Hakuna.
- PELAS BARBAS DE MERLIN! – Leslie gritou assim que entrou no dormitório e fechou a porta. Ela tinha um sorriso estampado no rosto quando correu até sua cama e jogou de qualquer jeito os livros que estivera carregando nos braços até então.
- O que aconteceu??? Quer nos matar do coração? – Haley perguntou assustada levando as mãos ao peito em um gesto dramático. Leslie não se importou.
- HIROACABOUDEMECHAMARPARAACOMPANHÁ-LOAOBAILE!!! – ela cuspiu as palavras rapidamente e troquei olhares com as garotas, que também não tinham entendido.
- Um pouco mais devagar e mais baixo desta vez, Leslie. Ou não vamos conseguir entender nada além de chiados no meio do grito. – Clara disse.
- Ok: Hiro-me-convidou-para-ser-sua-acompanhante-do-baile! – ela respondeu com um tom de voz ainda eufórico, porém claro. Arregalei os olhos e pensei que tivesse escutado coisas.
- Hiro te convidou para ir com ele ao baile? É isso mesmo? O Hiro... Hiro? Meu irmão gêmeo, careta e imaturo, Hiro?!
- Sim! É do seu irmão mesmo de quem estou falando. Ele acabou de me abordar aqui no corredor e perguntar. E ainda disse que não sabe quem mais poderia convidar de modo que fosse se sentir confortável... – Leslie dizia em um tom de voz meloso e completamente atípico do tom que usava cotidianamente conosco, e com o resto do mundo. (Menos com Hiro, aparentemente...)
- Legal Leslie. Mas porque afinal vocês estão tão animadas por este evento? O que de tão especial vai ter, além do que geralmente encontramos em bailes? – Clara perguntou um pouco impaciente e girei os olhos.
- “HELLO” Clara! Ainda não percebeu o que está acontecendo aqui? Todos os garotos, inclusive nossos amigos, estão se arrumando com companhias para este baile porque será a melhor oportunidade que teremos de deixarmos de ser BV. Quem ainda o é, é claro.
- Sim! E Hiro me convidou! Então isso quer dizer que talvez ele tente me beijar na boca! Mas... Eu não sei como fazer isso! O que eu faço? Me ajudem! – Leslie pediu desesperada e Penny riu.
- Relaxa Les. E não adianta nos pedir conselhos, não é? Estamos no mesmo barco que você... Quer dizer, mentira: você está um passo à nossa frente. Pelo menos você já tem um par.
- Minhas primas dizem que na hora você sempre sabe o que fazer... – Haley comentou pensativa e todas nós embarcamos junto por alguns segundos.
- Vocês tem razão! – Leslie exclamou um pouco mais calma. – Mesmo assim, acho que vou pedir alguns conselhos para a Lizzie. Ela é a única quintanista, experiente, com quem tenho contato. Acho que vai poder me ajudar. E também preciso de dicas para a roupa, o cabelo, os sapatos... – Leslie enumerou os dedos e novamente pareceu que ia entrar em crise, mas respirou fundo e se controlou antes. – Vou procurá-la agora mesmo! Obrigada meninas! Nos vemos mais tarde. - Com a mesma excitação, ela saiu do dormitório para ir percorrer o castelo atrás de Elisabeth Weasley.
- Acho que esse convite fez muito bem à Leslie. Ela nem reparou que deixou os livros da biblioteca jogados de qualquer maneira pelos chão e cama... – Haley comentou nos divertindo.
Mas não consegui rir por muito tempo, pois senti a boca ficar amarga. Penny tinha razão: Leslie agora estava a um passo na nossa frente e eu me via no meio de uma encruzilhada. Além de ainda não ter sido convidada por ninguém, ainda me sobrava a perspectiva quase certa de que teria de agüentar o fato de Hiro dar seu primeiro beijo em alguém antes que eu desse o meu. E isso, para mim, era inadmissível.
Era questão de honra: arrumaria um acompanhante para o baile nem que tivesse de contratar os serviços de um elfo gigolô!
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Quinta-feira passou em um piscar de olhos e, à medida que as horas avançavam maior ficava o meu desespero, e desânimo também. Não queria aceitar o fato de que teria de me render à vitória de Hiro sobre mim em uma das “disciplinas” onde eu, claramente, sempre fui melhor.
Depois do jantar decidi ir dar uma volta pelos jardins sozinha, pois não estava com ânimo algum para voltar à Sonserina e escutar sobre os planos para o dia dos namorados. Mas mal tinha alcançado o lago e ouvi alguém me chamar. Era Julian.
- Ei Keiko, estava te procurando. – Julian corria até mim em passos largos e parou sorrindo quando me alcançou. – Está tudo bem? – ele perguntou depois de perceber que não sorri de volta.
- Na verdade, não. Mas é coisa boba, não se preocupe Corvo. – respondi séria e ele balançou os ombros. Caminhamos em silêncio até a beira da água e paramos para observá-la ondular. – Porque estava me procurando?
- Hum... É que tinha uma pergunta para fazer, mas acho que já sei a resposta. Esquece ok? – ele falou meio aos tropeços e parecendo repentinamente desanimado e levantei a sobrancelha.
- Experimenta então. – disse incentivando-o, mas ele não se manifestou. Perdi a paciência. – Desembucha Corvo. Você não viria correndo atrás de mim se fosse para fazer uma pergunta sobre a qual já está completamente certo da resposta.
- É, você tem razão. Ok, então lá vai: quer me acompanhar ao baile do dia dos namorados? – ele perguntou depois de pegar uma boa quantidade de ar. Me encarou enquanto falava - o que foi bastante admirável.
- Uau! – eu respondi de imediato e bastante chocada com a pergunta. Não esperava.
- Ok, entendi. Você não quer ir ao baile com um amigo do mesmo ano que você, eu sei. Te disse que já sabia a resposta, não disse?
- Então você está completamente enganado sobre mim. – eu disse de imediato e sentindo que todo o desânimo ia embora, como se tivesse sido só uma enxaqueca. Julian estava ali na minha frente me convidando para ir ao baile com ele, justamente quando eu já estava prestes a estender a bandeira branca da rendição. – É claro que eu aceito ir ao baile com você Corvo! Aliás, podia ter perguntando antes. Não? Já estava achando que teria de passar sozinha... – comentei com um tom de voz sombrio e afastei esse pesadelo da cabeça. Julian me encarava incrédulo.
- Você aceitou? É sério? Mesmo? Nós vamos juntos ao baile??? – ele perguntou chocado e ri.
- Sim. Você me convidou e eu aceitei. Se eu soubesse que você ainda estava disponível, já teria te convidado. Agora tenho pouco tempo para decidir os outros detalhes... Mas ok, vou conseguir, é claro. – falei mais como pensamento alto e Julian continuava estático, me encarando.
- E depois ainda me perguntam o porquê de eu ter achado que você era a pessoa ideal para convidar...! – ele comentou como se estivesse falando consigo mesmo também e rimos em seguida.
- Viu? Já começamos a formar uma boa dupla. Então, Corvo, estamos combinados? Tenho que ir começar a tentar alguns penteados. – disse com urgência e ele concordou com a cabeça, sem pestanejar.
- Estamos. Combinadíssimos. – respondeu sorridente e parecendo bastante leve.
Retribuindo o sorriso e a sensação de leveza, voltei ao castelo com novo gás. Nem tudo estava perdido. Muito pelo contrário!