Friday, February 19, 2010


Por Keiko Hakuna.

- Esperou muito corvo? – perguntei sorrindo para Julian que já me esperava na porta do Salão Comunal da Sonserina. O baile do dia dos namorados já dava indícios de ter começado no salão principal, pois, mesmo daquela distância, já escutávamos os ecos da música alta que vinha de lá.
- Não. Acabei de chegar. Mas, se tivesse esperado, não seria problema. Totalmente valeria! Você está muito bonita Keiko! – ele falou com os olhos um pouco arregalados de surpresa enquanto me analisava; depois sorriu um pouco sem graça e me ofereceu o braço para irmos andando juntos. Aceitei.
- Obrigada! Você também não está nada mal...

Clara, que estivera andando logo na nossa frente, deu uma tossida improvisada para abafar a risadinha sarcástica. Com certeza ela estava se divertindo de nos escutar conversar daquela maneira tão... Galante. Fingi não ter ouvido e apertei um pouco mais o braço de Julian.

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O baile corria tranquilamente ou, melhor dizendo, corria tranquilamente à medida do possível. O primeiro choque foi ver Haley chegar acompanhada com Graham – uma das pessoas que mais nos desagradava em Hogwarts. Tentávamos disfarçar nossa inimizade declarada - pois Haley praticamente nos implorava através de trocas de olhares rápidas com todos - mas não conseguíamos muito sucesso.

Foi um verdadeiro alívio quando a banda de Edward, Tears of Blood, começou a tocar. Instantaneamente todos nós nos amontoamos em frente ao palco e começamos a cantar e dançar, esquecendo todas as desavenças e mal-estares anteriores. (Julian permanecia ao meu lado o tempo todo e conversávamos sobre diversos assuntos. Embora ele demonstrasse mais ansiedade do que eu, também começava a me sentir ansiosa para que o “desfecho” da noite corresse bem.)

Quando a banda fez uma pausa, começaram a tocar músicas mais lentas no som e logo nos vimos cercados de dezenas de casais se abraçando para dançarem juntos. Eu e Julian nos olhamos uns segundos, incertos do que devíamos fazer, até que ele sacudiu os ombros se rendendo à dúvida:

- Quer dançar Kika? Sou péssimo nisso, eu acho, mas se você quiser... – ele disse com sinceridade e ri estendendo a mão pra ele, que a pegou forçando um sorriso.
- Também não sou muito boa, mas acho que ninguém vai ficar reparando em nós dois agora não é? E você pode me puxar um pouco mais Corvo. Não sou de porcelana. – disse rindo e puxando mais a mão que ele mal envolvia em minha cintura, fazendo com que nos encostássemos um pouco e nossos rostos ficassem bem próximos.

Recostei em seu ombro e dávamos passos lentos e ritmados para os lados, em silêncio. Depois de um tempo, comecei a reparar em um casal de namorados (ambos do quinto ano) que estavam tão juntos que era difícil saber se era possível se separarem em algum momento. Julian pareceu ter reparado neles também, pois logo comentou:

- Eles estão se beijando ou aquilo é uma sessão de canibalismo??? – perguntou com um tom de assombro que me fez rir. Não respondi e então ele continuou: - Sabe... Você vai me achar ridículo, mas eu tenho que dizer. Nunca beijei ninguém. – ele confessou em voz baixa, como uma derrota.
- É mesmo? Existem tantos tipos de beijos... O beijo broche que é quando você prende os lábios da pessoa; O beijo superior e o beijo contato, e ah! A quem quero enganar? – perguntei desarmando toda minha pompa de sabichona do assunto. – Também nunca beijei ninguém. Aliás, parece que vou continuar assim... – disse a última frase quase sussurrada e mais como pensamento alto, mas Julian ouviu e a respondeu em seguida.
- Só se você quiser. Porque eu te beijaria. – Julian respondeu em um rompante e nos calamos por vários segundos, ambos sem saber o que dizer. Senti meu rosto arder um pouco e, enquanto me recuperava, vi Hiro e Leslie saírem para os jardins já de mãos dadas. O desespero falou mais alto:
- Se quer fazer isso, faça agora Corvo! Hiro e Leslie estão saindo juntos para os jardins e eu definitivamente não quero perder essa “guerra”! Não se tenho todas as armas nas mãos! – disse com firmeza o encarando e ele parou de dançar me olhando assustado e completamente sem reação. – E então?! – perguntei e ele balançou a cabeça.
- Er. Ok! Então... Como faremos isso? Quero dizer, como começaremos? Posso contar até três ou...? – ele perguntou tentando não soar muito nervoso e buscando alternativas rápidas em sua cabeça.
- Acho que não precisamos de contagem regressiva.
- Mas não quero que você se assuste...
- Vamos lá Corvo! Você não me assusta mais do que a idéia de que Hiro pode perder o BV antes do que eu. É só um beijo, não deve ser tão difí...

E mesmo eu garantindo que ele não me assustaria, quando ele me interrompeu me puxando forte pela cintura e fazendo com que nossos lábios se grudassem, eu definitivamente me assustei. Demorei algum tempo até entender o que estava acontecendo, e então o correspondi. Só nos soltamos uns minutos depois e nos encaramos com uma espécie de susto e alívio.

- Acho que acabamos de nos beijar. – ele disse ainda me abraçando.
- É, eu acho que sim. – respondi um pouco tonta. Ri. – E acho que ganhei do Hiro. Ele é sempre menos objetivo, em tudo. – Julian riu também e olhou ao redor, onde os casais continuavam dançando lentamente.
- O que fazemos agora?
- Não sei. Alguma sugestão?
- Ia sugerir que continuássemos treinando, afinal podem nos perguntar mais detalhes depois e eu não sei se consegui gravar todos ainda... – como permaneci em silêncio, ele logo continuou: - Mas se foi ruim, tudo bem. Podemos só voltar pra mesa ou sei lá. – ele completou. Pensei por um tempo antes de responder:
- Ah, você tem razão. Ainda não estamos muito conscientes nisso não é? Podemos até tentar alguns outros tipos de beijos... – disse pensativa e puxei uma boa quantidade de ar como se estivesse me preparando para uma maratona. – Então vamos lá. Sem contagens.

E dizendo isso o puxei pelo colarinho da camisa e nos beijamos novamente. Só que dessa vez, menos despreparados...

ººº

Por Hiro Menken.

- Estou pronto. – Tommy falou ajeitando uma última vez os cabelos. – Melhor me apressar. Combinei de ir buscar a Mary lá na Lufa-lufa e já estou quase em cima do horário.
- Vou com você então. Também tenho que pegar a Kaley “praquelas bandas”. – Jamal comentou sorrindo e depois se voltou para mim e JJ. – Boa sorte companheiros. Não bebam muito para poderem me contar os detalhes depois. – ele disse zombeteiro.
- Obrigado. – JJ respondeu e eles saíram do dormitório. – Também está na minha hora. A Corvinal é mais longe que a Lufa-lufa. E eu, definitivamente, não quero deixar a Cate esperando. – ele piscou para o próprio reflexo e virei os olhos rindo. Se virou para mim. – Encontro você no Salão Principal, ok?

Concordei com a cabeça e, depois que ele saiu, me analisei mais uma vez na frente do espelho. Como Leslie também era da Sonserina, e ainda faltavam alguns minutos até a hora que tinha marcado com ela, decidi que gastaria todos eles tentando melhorar, sem magia, o nó torto da minha gravata. Estava tão distraído que nem tinha reparado que Sheldon ainda estava ali, também, e quase gritei de susto quando ele saltou do beliche e sua imagem caiu refletida no espelho, atrás de mim.

– SHELDON! – esbocei um grito enquanto respirava fundo para me recuperar. Ele permaneceu parado atrás de mim, sem alterar sua expressão. – Você podia ser só um pouquinho menos discreto, silencioso, e sinistro. – falei e me voltei novamente ao espelho e à gravata. Ele levantou uma sobrancelha, me observando com curiosidade.
- O que é?
- Esquece. Melhor nem começar. – ele disse concluindo consigo mesmo e concordou com a cabeça. – Use magia aí. Neste ritmo, não vai conseguir fazer um nó decente tão cedo...
- Hum, é. Ok. Obrigado?!

Ele sacudiu os ombros e também saiu do quarto. Me rendi e, com um simples aceno de varinha, minha gravata se fechou em um nó perfeito. Ri comigo mesmo e consultei o relógio. Leslie já estaria pronta?
Ela estava. E estava muito bonita. Fiquei sem jeito quando ela apareceu do dormitório feminino, mas logo sorri e a estendi o braço (tentando me lembrar de todo o tutorial que Monique havia me passado por carta, depois de contá-la sobre o baile e o “pacto”).

Ao chegarmos ao Salão Principal – que estava decorado com tema de músicas - nos sentamos em uma mesa perto do palco onde, mais tarde, iria acontecer o show da banda de Edward.
A noite estava só começando...

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Clara ainda tremia, sem querer, sentada na mesa. Logo depois do show, Thruston – para pagar uma aposta feita entre os amigos dele – a beijou à força, fazendo com que ela quase se descontrolasse de raiva. Conseguimos distraí-la um pouco, e já dava indícios de se controlar novamente, mas os olhares de ódio que ela lançava vez ou outra para os amigos dele (que ainda permaneciam no salão) nos confirmaram que aquilo não ficaria sem troco.

Depois que Zach chegou à nossa mesa e começou a fazer companhia integral a ela, olhei ao redor. Todos meus amigos se distribuíam pela pista de dança com seus pares e tentavam aproveitar o restante da festa. Leslie estava calada ao meu lado também observando os casais dançarem.

- Les, não vou te convidar para dançar porque, sério, você não merece isso. – disse sem graça e ela riu alto se virando para me olhar.
- Está tudo bem Hiro. Também não gosto de dançar. – ela respondeu com sinceridade e me senti mais aliviado.
- Mas tenho outra sugestão: já que não queremos dançar – e já que tenho certeza de que Clara não vai tentar esfolar, sozinha, nenhum dos grifinórios nesta noite -, quer dar uma volta nos jardins? – perguntei.
- Claro! Ainda nem vi como está a decoração por lá.

Leslie se levantou da cadeira de um salto e me estendeu a mão. Peguei-a e, ainda de mãos dadas, saímos juntos pelo Saguão de Entrada.
Os jardins mantinham a decoração do Salão Principal, mudando somente o fato de que, ao invés de mesas, tinham espalhados por toda a extensão dos gramados vários pufes e almofadas. Optamos por sentarmos em um próximo à cabana do Hagrid.

- Hiro... Posso te perguntar uma coisa? – Leslie falou depois de um tempo. Estivera distraído vendo o Salgueiro Lutador balançar alguns ramos preguiçosamente.
- Claro.
- Bem, é que fiquei sabendo que vocês – meninos – fizeram uma espécie de pacto para este baile...
- Como? – perguntei sentindo o estômago afundar.
- Isso importa? – ela perguntou e riu em seguida. – Calma. Minha pergunta não é sobre os termos desse acordo. É só que fiquei pensando: porque eu? Porque você me convidou para vir com você? – ela perguntou tudo de uma vez, como se estivesse desengasgando.
- Ora Les! Porque você é minha amiga! – respondi de imediato e ela fez uma careta. Sacudi a mão para que ela me deixasse continuar. – Eu sei o que você está pensando: é minha amiga quanto as outras meninas são. Mas não é. Não sei por que é diferente, mas, com você, senti segurança em convidar. E sabia que iríamos nos divertir juntos, de qualquer maneira. Não se menospreze: você é uma excelente companhia. – respondi e ela corou. Rimos.
- Obrigada. Você também é uma ótima companhia!

Balancei um pouco os ombros e virei novamente minha atenção para o Salgueiro Lutador, mas agora estava pensando em como Leslie poderia ter descoberto do “pacto”. Não demorou muito até que a ficha caísse.

- Ai, Sheldon... – ri.
- O que tem ele?
- Foi ele quem te contou da conversa no dormitório, não foi?! – perguntei afirmando e Leslie confirmou com a cabeça. – Óbvio.
- Vocês se esqueceram de explicar para ele que aquilo era um segredo, e que ele tinha que manter só para ele. Ele se sentiu muito à vontade para dedurá-los para mim. – ela disse também rindo.
- Sim... Shame on us. Se houver uma próxima vez, me lembrarei deste detalhe. Mas o que deu nele para estar conversando tanto com você? – perguntei assombrado, pois, de uns tempos para cá, o desgosto recíproco que Sheldon e Leslie demonstravam um pelo outro – desde o primeiro dia de Hogwarts – parecia estar dando uma trégua.
- Sei lá. Digamos que a melhor explicação é “mantenha os amigos por perto e os inimigos mais ainda”. E você tinha razão: ele não é tão ruim quanto aparenta. É até divertido e simpático quando se esforça. – concordei e rimos.
- Então... Se ele nos “dedurou”, você sabe de todos os detalhes da conversa. Não é? – perguntei voltando a ficar sério e um pouco constrangido. Leslie corou novamente.
- Sim.
- Ok. Realmente tenho que me lembrar de pedir segredo ao Sheldon da próxima vez. – disse sentindo meu rosto esquentar também. Ficamos calados vários segundos. – Mas você aceitou...! – falei depois, me virando rapidamente para olhá-la. Ela encarava os próprios pés. – Você sabia de tudo e, mesmo assim, você aceitou vir comigo! Então... Você também quer? É isso mesmo?
- Eu acho que sim Hiro. – ela permanecia de cabeça baixa. – Quer dizer, eu quero sim. E estou feliz que tenha sido você quem me convidou. – sorriu timidamente. – Não sei se mais alguém, além de você, convidaria... E, de qualquer forma, apesar de parecer ser um pouco mais durona que as outras meninas, eu também penso em coisas... Você sabe? Em romances e garotos, e lindas histórias de amor. Tanto é que estou com muito medo agora, porque não sei como agir do seu lado. Não hoje, e não neste momento. Não quando não estou te enxergando só como o Hiro “meu amigo de escola”. Hoje você também é o primeiro garoto com quem estou “saindo”, e o primeiro garoto que me fez pensar em como seria dar meu primeiro beijo aos treze anos, em um baile de dia dos namorados em Hogwarts. – ela falou e depois nos calamos novamente. Meu rosto estava em chamas.
- Les?! – tomei coragem e chamei-a. Ela não levantou o rosto para me olhar. – Também estou nervoso e sem saber como agir. – ri de nervosismo e vi o canto da boca dela se retorcer em resposta. – Mas, se você está disposta, então eu definitivamente queria tentar.

Demorou um tempo até que ela decidisse levantar a cabeça.
Nos encaramos uns segundos, antes de me aproximar mais dela e tocar seu rosto com uma das mãos - o puxando suavemente para mim. Não sabia o que estava fazendo, mas em questão de segundos meus lábios se encostaram aos dela e eu descobri que beijar uma garota não era tão complicado assim.

ººº

[Algumas horas antes, no dormitório dos garotos.]

- Oi Muffin. Pode me fazer um favor? – Hiro perguntou à elfo doméstica que tinha acabado de desaparatar em frente a ele. Muffin era a elfo doméstica de Yoshi, mas Hiro a conhecia desde criança.
- Claro Hiro! Do que precisa? – ela perguntou animada com o tom de voz misterioso que o garoto usou para fazer o pedido.
- Preciso que coloque isto embaixo do travesseiro da Clara Lupin. – ele disse entregando um cubo colorido de papel na mão da elfa, que a olhou curiosa. - Não me pergunte ok? Por favor?! Nem sei por que estou fazendo isso... – ele disse baixinho, mas a elfa escutou mesmo assim.
- Gosta dela, não é? Da sua amiga? – perguntou abrindo um imenso sorriso e Hiro se recompôs, levantando a sobrancelha.
- Muffin, por favor, sem perguntas! E não deixe que ninguém te veja! Só leve este origami daqui, antes que me arrependa!
- Tudo bem. Mas só digo uma coisa: você anda convivendo muito com a senhorita Monique...

A elfa sorriu e piscou para o garoto antes de desaparatar mais uma vez. Hiro se esticou na cama, pensativo.