Thursday, April 08, 2010 Rio de Janeiro, 4 de Abril de 2013 O recesso de páscoa já estava chegando ao fim, depois de quatro dias muito agradáveis na companhia da minha família. Para inaugurar o apartamento novo, todos os almoços foram na casa de Gabriel, embora tenha sido tio Scott o responsável por toda a comida. Madeline até tentou ajudar, mas ele não deixava ninguém fazer nada, e em especial ela, que agora sabíamos estava grávida de gêmeos. Duas meninas, que nasceriam em no máximo 3 meses. Lucas foi visita freqüente durante todo o feriado. Agora totalmente curado da leucemia, tinha uma aparência saudável e estava mais maroto do que nunca. Eu agora já dominava muito bem a linguagem dos sinais e conversávamos sem precisar de interpretes, e quando ele perguntou o que era a caixa colorida na minha mala, contei a história sobre meu tumultuado dia dos namorados. E me arrependi momentos depois, quando ele contou dos dois beijos que me roubaram na mesma noite na sala, e minha mãe, que entendia linguagem de sinais tão bem quanto eu, traduziu espantada parte da fofoca para os demais. Fizeram hora com a minha cara pelo resto do dia e cheguei em casa irritada, mas repetia mentalmente todos os mantras de relaxamento que Keiko havia me ensinado para não perder o controle, embora quisesse torcer o pescoço de Lucas, que não parava de rir da situação. Meus pais subiram e fiquei conversando com ele no parquinho em frente ao prédio, vazio naquele fim de tarde frio. Ele pedia desculpa por ter falado, mas as constantes risadas não indicavam que estava mesmo arrependido, e embora ainda irritada, continuamos conversando sobre a caixa, pois ele tinha algumas teorias sobre ela. - Isso que está dizendo não faz o menor sentido – disse a ele – Por que alguém ia me dar algo para me testar? – ele deu de ombros, gesticulando que não imaginava os motivos. - Ei Clara – ouvi a voz de Nick e olhei para trás. Imediatamente vi a caixinha em sua mão – O que isso faz, afinal? É só pra ficar olhando ou seu namorado só sabia dobrar isso com papel? - Onde pegou isso? – perguntei já de pé. - Estava em cima da sua cama. O que tem dentro? - e fez menção de abrir. Reagi tão rápido que não pensei nas conseqüências antes. - Avis! – gritei sacando a varinha do bolso e cinco passarinhos surgiram no ar. Lucas arregalou os olhos do meu lado – Oppugno! Os passarinhos voaram na direção de Nick como foguetes e o atacaram. Ele sacou a varinha também e rapidamente conseguiu desfazer meu feitiço, fazendo os passarinhos desapareceram. Ele me lançou um olhar irritado e atirou a caixa para mim. - Está louca? – Nick falou baixo, se aproximando – Estamos em uma praça trouxa. E na presença de um! - Lucas sabe que somos bruxos – me defendi. Mesmo sabendo, Lucas ainda estava assustado. - Diga isso ao Ministério, mas posso adiantar que não é uma boa desculpa. Vamos embora, antes que apareça algum curioso. E guarde a varinha. Despedi-me de Lucas pedindo desculpa pelo susto e entrei com Nick. Assim que pisei dentro de casa, uma emboscada me esperava. Mamãe tinha os braços cruzados e papai me mostrava um envelope já amassado em sua mão, com o símbolo oficial do Ministério da Magia. Nick deu boa noite e desceu pra casa às pressas. - Leia – papai me entregou o envelope – Em voz alta. “Prezada Srta. Lupin. Fomos informados que um feitiço de conjuração e um de direcionamento foi executados pela senhorita esta noite, em área pública de seu local de residência, às 17:29. Como a senhorita sabe bruxos menores de idade não têm permissão para executar feitiços fora da escola e, a continuar em prática, a senhorita poderá ser expulsa da referida escola (Decreto para restrição racional da prática de Bruxaria por menores, 1875, parágrafo C). Gostaríamos também de lembrar-lhe que qualquer atividade mágica que possa chamar atenção da comunidade não-mágica (trouxa) é uma infração grave, conforme seção 13 do Estatuto de Sigilo da Confederação Internacional de Bruxos. Boa Páscoa. Matilde Sardenberg Escritório de Controle do Uso Indevido de Magia Ministério da Magia” - Será que podemos saber o que aconteceu? – mamãe perguntou. - Uau, o Ministério é rápido. - Clara, não provoque. - Nick me provocou e eu não pensei, esqueci que não estou em Hogwarts, desculpa! - Clara, esse não é o tipo de coisa que você pode simplesmente esquecer! – papai falou preocupado – Nós moramos em uma comunidade totalmente trouxa, o cuidado deve ser redobrado! - Eu sei, desculpa, prometo que isso não vai mais acontecer. - Não vai mesmo, porque até ter 17 anos, sua varinha será confiscada assim que pisar em casa – mamãe falou já estendendo a mão e entreguei a varinha sem relutar, pois não adiantaria. - Vou terminar de arrumar a mochila – falei desanimada e sai da sala. Minhas coisas ainda estavam espalhadas por todo o quarto e comecei a lenta rotina de recolher tudo para não voltar a Hogwarts deixando nada para trás. Já tinha recolhido tudo e peguei novamente a caixinha em cima da cômoda, mas antes de guardar na mochila, perdi um tempo a analisando e pensando nas teorias malucas de Lucas. Mamãe entrou no quarto sem bater e me assustei, atirando-a na mochila de qualquer jeito. - Já guardei tudo, posso ter a varinha de volta? Vou guardar na mochila, não vou atacar mais ninguém. - É essa a caixinha da discórdia? – mamãe me estendeu a varinha e apontou para a mochila aberta – Posso ver? - Não tem nada demais, mas Nick me perturbou o dia todo, e agora reajo a tudo rápido demais, nem deu tempo pra ele bloquear – disse entregando a caixa a ela. - Não sabe mesmo quem te deu? – dei de ombros e ela rodou a caixinha na mão – Alguma teoria? Já tentou abrir? - Não, já sacudi e sei que não tem nada dentro, se abrir vai estragar. Melhor deixar como está. Lucas tinha muitas teorias pra ela, mas nenhuma fez muito sentido. - Quem eram os dois meninos da festa? – mamãe mudou de assunto bruscamente e olhei para ela com cara sofrida, fazendo-a rir – Ah vamos, diga. Ou vai me fazer perguntar a seus amigos? Tenho certeza que Haley vai me contar. - James Thruston, mas eu quebrei o nariz dele logo depois, e tio George quase fez o mesmo quando soube o que ele tinha feito – respondi fazendo careta e ela arregalou os olhos – Foi uma aposta dos amigos dele, ele mereceu ter o nariz quebrado. - Ok, não vou julgar, já tive meus momentos de fúria com garotos também – ela riu – E o outro, foi aposta também? - Zach – falei sem graça e ela percebeu, pro meu azar. - Zach Walker? Primo do Connor e do Micah? – confirmei sem olhar pra ela, pois sabia que meu rosto estava um pouco vermelho – Huum. - Não, não “huum”, por favor – mamãe riu quando olhei pra ela quase em pânico – Zach é só meu amigo, mais nada. - Então porque ele a beijou? - Ok, eu conto, mas, por favor, sem “huum” depois, ok? Não julgue. - Não vou dizer nada. - Depois do que Thruston fez, eu fiquei muito irritada, acabou com a minha já pouca animação pra festa. Zach ficou me fazendo companhia na mesa, acho que tentando me distrair pra me impedir de ir lá bater nele de novo, e quando eu disse que sempre que me lembrasse da festa, ia lembrar aquela momento pavoroso, ele me beijou e disse que agora eu teria outra coisa pra lembrar. - Por que não estava animada em ir ao baile? – sabia que mamãe estava fazendo um esforço sobrenatural para não analisar o que havia acabado de contar e fiquei grata. - Não me anima a idéia de ir a uma festa de dia dos namorados, todo aquele clima meloso, blergh – ele riu – Só fui mesmo porque, além de Keiko ter me infernizado a semana inteira, a banda do Edward ia tocar. - Você só tem 13 anos, normal não se interessar ainda por essas coisas. - Eu acho que nunca vou me interessar por isso. - Pois eu aposto que está errada, espere só até ter 15 anos – ri descrente e ela me encarou séria – Prometo que não vou fazer nenhum comentário, nem falar para ninguém, mas me responda uma coisa: você gostou de um dos beijos que ganhou? Ou de saber que tem alguém que gosta de você, mas não tem coragem de se identificar? Seja honesta. - Eu odiei o que Thurston fez, de verdade. Não gosto nem quando ele fala comigo, imagine isso – falei revoltada – Mas não foi tão ruim assim o do Zach – admiti, mas ela não riu, mantendo a promessa. - Ok, e sobre a caixinha? Além de curiosa, não fez você se sentir ao menos um pouco bem com você mesma, por saber que chamou a atenção de alguém? – dei de ombros, derrotada, e ela sorriu – Viu? Espere ter 15 anos e então você vai admitir pra mim que perdeu a aposta. - Ok, daqui a dois anos eu digo se você estava certa, mas acho que não vai estar. - É o que veremos – mamãe levantou me devolvendo a caixa, com um olhar de desafio, me fazendo rir – Estou esperando na sala, sou eu que vou levá-la de volta hoje – assenti com a cabeça terminando de fechar a mochila e ela parou na porta – Clara? Sabe que se quiser conversar sobre qualquer coisa, estou aqui, não é? - Sim mãe, eu sei. Obrigada por não rir ou se empolgar. - Isso foi provavelmente a coisa mais difícil que já fiz na vida – ela disse saindo do quarto e comecei a rir. Tirei a caixa da mochila e, com cuidado, guardei na gaveta de roupas. Não ia voltar com ela a Hogwarts e deixar que a curiosidade me consumisse. Se a pessoa que havia deixado ela na minha cama não tinha coragem de se apresentar agora, talvez tivesse um dia e ficar olhando um bloco colorido com palavras que não me diziam nada não fariam nada além de me levar a loucura. E quanto à aposta com minha mãe, esperava poder vencer, ou seria duro aturá-la por um longo tempo. |