Thursday, July 01, 2010


24 de Junho de 2013

- Atenção! É a ultima vez que vou chamar: alunos com o passe para assistir a final do Torneio Tribruxo, apresentem-se no Hall de Entrada. Quem não estiver em frente à porta do hall em 5 minutos, vai ficar pra trás!

A voz do tio Ben se sobressaiu ao falatório no Salão Principal e o caos se instalou. Poucos dos que tinha se inscrito para as vagas da torcida de Hogwarts na final do Torneio Tribruxo já estavam no lugar marcado e a maioria, assim como nosso grupo, estava de papo furado comemorando o fim das provas. Todos começaram a correr desesperados para fora do Salão Principal e o Hall de Entrada virou um formigueiro de alunos.

- Muito bem, assim está melhor – tio Ben falou olhando do alto da estátua do hall – Alunos do 2º ano, formem uma fila no canto esquerdo, os do 3° ao lado deles e assim por diante. Só vamos sair daqui quando estiverem organizados por turmas.
- 2º e 3º ano aqui! – ouvimos a voz do tio George e a seguimos, nos postando em fila ao lado dos alunos do 2º.

Demorou alguns minutos até que todos estivessem enfileirados e que Filch conferisse se todos os presentes tinham mesmo o nome na lista, e finalmente partimos rumo a Durmstrang para torcer pelo nosso campeão.

ºººººº

O frio daquele lugar era algo sobrenatural, nem mesmos os avisos de tio Ben para que saíssemos agasalhados foram suficientes para nos proteger do que estávamos prestes a enfrentar. Com medo de que sumíssemos pelos terrenos da escola, tio Ben conduziu todos os alunos direto para as arquibancadas do estádio de quadribol, onde aconteceria a final. Greg viu nossa delegação chegar e foi nos receber com sua prima Elena, conseguindo um espaço na arquibancada para nos fazer companhia durante a tarefa. Quando já começava a escurecer e o resto dos alunos de Durmstrang saírem para o estádio, Nick, Gabriel, tio Chris e tio Ty apareceram para nos fazer companhia e ampliar a torcida.

Hogwarts estava animada, Jake vinha bem na competição e estava em primeiro lugar no placar geral e tinha grandes chances de vencer, mas no meio da tarefa, que era algo parecido com captura de bandeiras, Jake acabou se atrapalhando e perdeu a boa posição para Diana Novakovic, de Durmstrang. Na hora da corrida final até o centro do labirinto, a garota levou a melhor e Hogwarts ficou com a 2º posição. A festa da torcida da casa foi enorme, mas aplaudimos Jake com o mesmo entusiasmo. Ele mesmo estava muito feliz com a vitoria da menina de Durmstrang e a cumprimentava com muita empolgação, parecendo bastante satisfeito com tudo que fez durante o torneio, então ninguém iria voltar para casa de cabeça baixa.

ºººººº

Uma semana depois

Era noite da véspera do nosso retorno para casa e a atmosfera no castelo não poderia estar melhor. Sem aulas, sem provas, sem cobranças. Só malões para serem arrumados e um banquete de despedida a nossa espera no Salão Principal. Hoje também seria o retorno de McGonagall com a delegação de Hogwarts que passou o ano inteiro em Durmstrang e estavam todos na expectativa para receber Jake, mesmo que tenha ficado em 2º lugar. Ele seria sempre o campeão de Hogwarts, sua colocação no torneio não mudaria isso. E enquanto uma festa os esperava no Salão Principal, nós preparávamos nossa própria comemoração para o retorno deles.

- Onde estão os foguetes? – Haley e Keiko sacudiram a caixa de papelão na grama – Não podemos acender sem os foguetes.
- Jamal e JJ foram instalá-los em cima da árvore – Hiro respondeu checando o comprimento do pavio com MJ e Rupert – Para voarem mais alto.
- Eles não vão, tipo, queimar a árvore? – Tuor pareceu preocupado, mas ninguém deu importância.
- Vai sair voando tão rápido que não vai dar tempo – Arte respondeu despreocupada.
- É, relaxa Viking – disse no mesmo tom – A gente sabe o que está fazendo.

Tuor ainda não parecia convencido, mas ninguém mais estava preocupado, então ele resolveu relaxar. Continuamos espalhando nossos Fogos Espontâneos Weasley - Deflagração de Luxo, pelo pátio da escola. Era o kit mais caro da loja do tio George, precisamos juntar nossas moedas para encomendar um, mas valeria a pena. Hogwarts veria um espetáculo digno da fuga do tio George e seu irmão gêmeo, há anos atrás.

Estávamos certos. Foi mesmo um espetáculo digno de ser seguido pela nossa fuga para sempre dos terrenos da escola.

Os alunos e corpo docente saíram para receber McGonagall e a delegação no pátio meia hora depois de termos preparado tudo. Quando as carruagens chegaram à escada do Hall de Entrada, Julian riscou o fósforo e acendeu o pavio. E então entendemos o significado do efeito dos fogos, estampado em letras laranja na caixa: caos.

Primeiro foram as rodas rosa-choque de mais de um metro de diâmetro, que zumbiam letalmente pelo ar, como discos capazes de arrancar sua cabeça com um corte limpo. Todos já estavam suficientemente assustados com as explosões das rodas e se dividiam entre se proteger e observar o show, quando os dragões explodiram do segundo ponto e subiam e desciam ameaçadoramente por entre os alunos, soltando labaredas e causando explosões que seriam muito bonitas, se não fossem tão perigosas. Alguns deles serpentearam por entre as pessoas e passaram pela porta do Hall de Entrada, invadindo o castelo. Do terceiro ponto, soltamos um zoológico mágico. Porquinhos alados, morcegos, pomorins dourados e todo o tipo de criatura mágica com asas tomaram conta do céu escuro e causaram pânico entre as meninas, que gritavam desesperadas quando os morcegos investiam contra elas.

A confusão já estava grande até mesmo para os nossos padrões, mas quando o pavio chegou ao quarto ponto ficou ainda pior. Os foguetes, cuidadosamente plantados no alto de uma das árvores mais bonitas dos terrenos de Hogwarts, explodiram violentamente e entendemos a preocupação de Tuor: eles tinham longas caudas de estrelas de prata cintilantes que ricocheteavam para todos os lados. Os foguetes subiram depressa, mas o rastro queimou a folhagem da árvore e uma imensa labareda iluminou todo o jardim. E para piorar, os foguetes começaram a rodopiar enlouquecidos pelo ar e invadiram o castelo pelas janelas, quebrando todos os vidros que encontravam pelo caminho.

McGonagall parecia prestes a desmaiar. Quando os professores começaram a lançar feitiços para tentar controlar o show pirotécnico, a diretora começou a gritar, mas era tarde demais. Ela sabia que cada vez que um feitiço atingisse um dos fogos, ele se multiplicaria. Até todos perceberem a pegadinha, os fogos estavam dignos de um show de virada de ano. Quando se recuperou do estado de incredulidade momentânea, os olhos dela percorreram os jardins como os de uma águia procurando a presa e parou quando nos encontrou, mas ninguém tinha argumentos para rebater muito menos para onde correr. Estávamos todos parados feito estátuas, incapazes de nos movermos, vendo boquiabertos Hogwarts iluminada por uma árvore em chamas e discos e dragões alucinados, feitos de faíscas.

Ela marchou até onde estávamos pronta para nos estrangular, mas foi interrompida pelo gran finale. O pavio atingiu o quinto e ultimo ponto e uma dúzia de rojões explodiu, espalhados por todo o jardim do castelo. Eles pareciam minas, jorrando torres de fogo para o alto, e rezávamos mentalmente para não estarem fazendo buracos pelo chão, ou teríamos um campo gigante de bolas de gude para o próximo ano.

Todo mundo começou a aplaudir quando os rojões explodiram e McGonagall nos olhou de uma forma tão cruel, que posso jurar que vi fumaça sair pelo seu nariz. Acho que exageramos um pouco na comemoração.

ºººººº

- Entrem.

McGonagall falou com uma voz seca e a porta de pedra de seu escritório se abriu, permitindo nossa passagem. Ainda eram 3 horas da manhã e depois de ajudarmos na limpeza do castelo, fomos chamados a sua sala. Não foi nada fácil arrumar a bagunça. Uma vez que os fogos se multiplicavam quando tentavam destruí-los, o jeito foi esperar até que terminassem de explodir sozinhos para depois limpar as coisas queimadas e vidros quebrados. O professor Longbottom deu perda total para a árvore e ficamos com o sentimento de culpa, pois ele realmente parecia triste pela destruição da pobre coitada. Quando entramos, alguns morcegos da festa dos fogos ainda voavam pela sala dela, zumbindo animados.

- Vou poupar meu tempo com sermão, pois não adianta nada, entra por um ouvido e sai pelo outro – ela começou a falar numa voz serena e isso estava dando medo – Tampouco adianta dar detenção, o ano já acabou, então quero que saiam daqui direto pros seus dormitórios, arrumem suas coisas e se dirijam para o Saguão de Entrada. Sem desvios.
- Vai nos expulsar?? – falamos todos ao mesmo tempo e uma onde de protesto começou, mas McGonagall deixou que falássemos por alguns segundos, depois ergueu a mão e nos calamos.
- Não estou expulsando ninguém. Ainda. – ela deu ênfase ao “ainda” e até suei frio – Mas estou proibindo-os de voltar a Londres no Expresso de Hogwarts, pois se mais algum incidente ocorrer nenhum de vocês voltará para o 4º ano e não quero ter seus pais aqui na minha sala, me atormentando. Para prevenir que isso aconteça, já comuniquei a todos eles que estão indo embora imediatamente e já estão a caminho para buscá-los. Arrumem as malas e voltem para encontrá-los, vocês têm meia hora ou posso mudar de idéia e deixar que embarquem no trem.

Não foi preciso dizer mais nada. Quando ela nos liberou para sair, disparamos de volta aos dormitórios e arrumamos as malas em tempo recorde, voltando para o saguão arrastando os malões de qualquer jeito. A serenidade de McGonagall e a falta de detenção ou sermão nos assustou mais do que qualquer coisa e sabíamos que algo muito ruim nos esperava em Setembro, mas pelo menos estávamos saindo inteiros nesse semestre.

Mamãe já estava me esperando no saguão quando cheguei, junto com tia Alex, tia Yulli, tia Sam, tia Miriam, tio Quim, tio Mark, o pai de Tuor e tio George, que estava muito brabo por ter que sair de Hogwarts na madrugada para levar Rupert embora. Todos tinham expressões de que estavam considerando nos estrangular ali mesmo e poupar o trabalho de levar nossos corpos. Aproximamos-nos cheios de cautela e ninguém ousou falar qualquer coisa, sem que antes eles falassem. Nenhuma desculpa seria o bastante por quase explodir Hogwarts.

- Nem mesmo pensem em dizer alguma coisa – tia Alex falou com a voz braba que todo mundo tinha medo.
- Podem se despedir uns dos outros, em silencio, e vamos embora – tia Yulli tinha a voz tão braba quanto à dela. Obedecemos e nos despedimos sem falar nada, com medo de algum tapa voar de repente.
- Meninas, depois combinamos aquele jantar – mamãe se despediu das minhas tias e agarrou meu braço – Vamos embora antes que caia alguma parede e eles sejam expulsos.

- Posso dizer uma coisa em minha defesa? – perguntei cautelosa, sendo arrastada pela minha mãe pelo gramado esburacado. Ela só me olhou séria, mas não disse que não podia – Nós realmente não sabíamos que os fogos eram tão intensos assim. Só queríamos receber Jake de volta a Hogwarts com festa, ele se esforçou tanto durante o torneio...
- São nas brincadeiras mais inocentes que as piores coisas acontecem. Vocês incendiaram uma árvore! E se alguém tivesse se machucado?
- Mas todos saíram inteiros. Você não vai me prender em casa por dois meses de novo, vai?
- Eu ainda não sei o que fazer com você, sinceramente – mamãe parou de andar e não largou meu braço nem para procurar uma caneta no bolso – Mas conversamos em casa, Madeline estava entrando em trabalho de parto quando fui solicitada para vir buscar minha filha, a incendiária. Temos que voltar logo. Pegue a caneta.
- O que?? Já vão nascer?? – me assustei, pois ela ainda estava com pouco mais de 8 meses.
- Clara, a caneta! Conversamos depois que os bebês nascerem.

Agarrei meu malão com firmeza e com a outra mão, ainda presa pelas mãos dela, agarrei desajeitada a tampa da caneta. Senti um puxão no umbigo e tudo começou a girar, mas antes que pudesse me sentir tonta, cai de pé no chão da sala da minha casa. Só tive tempo de largar o malão no quarto e pegar um casaco, antes de correr com ela para o hospital. Que minha mãe não escute isso, mas até que não foi tão ruim assim explodir o castelo, assim não ia perder o nascimento das minhas sobrinhas. Mais uma vez, sobrevivemos ao ano em Hogwarts sem maiores danos. Pelo menos para nós, claro. O castelo não pode dizer o mesmo, mas essas coisas acontecem nas melhores famílias...

:: FIM DO ANO LETIVO ::