Thursday, July 29, 2010 Becky apareceu no chalé meia hora depois do acidente com as espadas e passou um bom tempo tentando me animar. Contei a ela da expressão de medo no rosto de Thruston e que eu tinha me dado conta de que poderia matar alguém se perdesse o controle, mas ela fazia tudo parecer uma grande bobagem, embora soubesse que não pensava assim. Na verdade achei ótima ela fingir, não precisava daquela confirmação naquele momento. Antes de sair para o jantar, avisou que precisaria escrever a meus pais contando o ocorrido, mas que não deixaria que eles me levassem embora, pois não tinha sido proposital. Prometi que a seguiria logo depois, mas não o fiz. Não estava com a menor vontade de sentar no refeitório lotado de curiosos querendo ver quem era a louca quase matou um campista a golpes de espada, então desviei meu caminho em direção ao lago. Era meu lugar favorito no acampamento, sentar na ponte de madeira com os pés dentro d’água. Fazia um calor absurdo, era sempre bom para refrescar. - Então é aqui que você se esconde – ouvi uma voz vinda dos arbustos atrás de mim e me assustei, mas quando vi que era Thruston voltei a encarar o lago – Não vi você no jantar. - Não estava com fome. Ele não respondeu, mas também não foi embora. Fiquei imóvel encarando a água, enquanto ele tirava o tênis e sentava perto de onde eu estava, mergulhando os pés descalços na água. Não o suportava, mas estava me sentindo tão culpada que precisava me desculpar, até mesmo para ele. - Olha, sobre a aula hoje – falamos ao mesmo tempo e ele riu, me cedendo à vez – Sobre hoje, só queria me desculpar. Acho que me empolguei e nem percebi o que estava fazendo. Não tinha intenção alguma de matá-lo, embora não goste de você. - Tudo bem. Só queria que soubesse que, apesar de chocado com a sua ferocidade, não achei que fosse me matar. Talvez arrancar um de meus braços, mas não me matar – ele disse em tom de brincadeira e acabei rindo. - Não achou mesmo que pudesse matá-lo? – perguntei surpresa – A expressão em seu rosto dizia o contrário. - Tive medo sim, mas não de você me matar. Medo de uma humilhação publica serve? Percebi que você poderia me dar uma bela surra e que não ia mais provocar briga em Hogwarts. - É, acho que serve – fiquei calada um tempo ainda encarando a água, mas finalmente olhei para ele – Por que veio até aqui? - Porque apesar de não gostarmos um do outro, estamos presos aqui por um mês e o objetivo desse acampamento é valorizar o trabalho em equipe. Teremos uma captura das bandeiras amanha e não há a menor possibilidade de você jogar em um time que não seja o meu. - Como é que é? - Só não se esconda amanhã e esteja na frente dos chalés às 10h, vou estar lhe esperando, Lupin. Thruston levantou e pegou o tênis no píer, desaparecendo no meio dos arbustos e me deixando com uma expressão completamente confusa. ºººººº A corneta usada como toque de despertar já havia soado há tempos, mas eu continuava na cama. Assim como o jantar da noite anterior, decidi pular o café e tentava decidir se apareceria ou não para a captura das bandeiras. Faltavam cinco minutos para as 10h quando levantei da cama decidida a não deixar que olhares curiosos estragassem meu verão e sai do chalé. Como prometido, Thruston já estava lá fora me esperando. Junto dele estavam os três alunos de Hogwarts que havia reconhecido no primeiro dia e assim que me viu, atirou um colete roxo na minha mão. - Cooper vai explicar as regras para os novatos na orla da floresta, vamos. – e saiu andando, sendo seguido por Taylor e Matt. - James disse que esse ano vamos ganhar, com você no time – Katie esperou eu descer as escadas e andou ao meu lado. - Esse ano? Quantas vezes ele já esteve aqui? - Bom, no meu segundo ano aqui, ele veio pela primeira vez, então esse é seu 4º ano – ela riu da minha reação de surpresa – Ele é muito bom na captura das bandeiras, mas alguma coisa sempre sai errada no final e nunca ganhamos. Ele já está ficando frustrado, precisamos ganhar essa pelo bem da equipe. Katie sorriu animada e apertou o passo, me obrigando a andar mais depressa para acompanhá-la. Todos os campistas já estavam reunidos na orla da floresta, formando uma imensa roda, mas nem todos usavam coletes. Notei que estávamos divididos em quatro cores: roxo, branco, amarelo e laranja. Notei também que Connor e Nick distribuíam armas e logo entendi que aquela captura seria diferente. Era uma partida de paintball. - Muito bem, agora que já estão todos reunidos, vou explicar as regras para aqueles que estão jogando pela primeira vez – a voz de Cooper se sobressaiu no meio da multidão – Nossa captura das bandeiras é uma partida de paintball. O limite é o lago, não pode entrar na água. Vocês estão divididos em 4 equipes: roxo, branco, amarelo e laranja. Cada equipe tem 3 bandeiras e para uma equipe ser declarada campeã, precisa trazer uma bandeira de cada equipe. É proibido roubar mais de uma bandeira da mesma cor. Uma bandeira roubada pode ser recuperada, desde que ela ainda não esteja dentro do cesto da equipe que a roubou. Cada equipe terá um mapa do local onde deverá cravar as bandeiras e elas não podem ser guardadas por mais que duas pessoas. Não vale contato físico, apenas tiros de tinta. Se alguém se machucar, lance faíscas coloridas e iremos resgatá-lo. A partir do meu apito, vocês terão 10 minutos para encontrar o lugar marcado no mapa, posicionar as bandeiras e armar estratégias. Ao som do segundo apito, a competição começa. Preparem suas armas, seus equipamento de segurança e reúnam suas equipes. Vamos começar em 5 minutos. - Entendeu tudo? – Thruston me perguntou e assenti. - A equipe já está completa? – perguntei a ele. - Não, ainda podemos colocar mais uma pessoa. - Ótimo. Ei, Daniel! – gritei e um menino de 10 anos de cabelos loiros procurou quem o chamava. Era Daniel McKellen, primo de Haley – Está sem colete, venha para o nosso time. - Bem vindo – Thruston deu um colete roxo a ele e Daniel o vestiu animado. Também era sua primeira vez no acampamento. - A família dele é obcecada em treinamentos, ele não vai decepcionar – disse e Daniel concordou, revirando os olhos. - Ótimo, porque esse ano não podemos perder – Cooper apitou a 1ª vez e Thruston pegou o mapa do bolso – Vamos! Nossa equipe adentrou a floresta e seguimos para o norte, com Thruston e Taylor liderando o caminho. Não foi difícil encontrar a pedra marcada e cravamos nossas bandeiras na grama, enquanto ouvia Thruston traçar estratégias para a equipe. Ele nos espalhou por todos os lados, em grupos de três. Eu deveria trabalhar com Katie e um garoto chamado Brad, e estávamos posicionados no centro da floresta. Quando o 2º apito soou, corremos. Estava acostumada a jogar no videogame todos os jogos de estratégia e tiros possíveis, mas nunca havia jogado paintball. E se eu achava que estaria preparada por ser viciada em Call of Duty, não poderia estar mais enganada. Aquilo era completamente diferente de um jogo virtual. Correr com uma arma pelo meio da mata, atirando nas pessoas (mesmo as balas sendo de tinta) era de uma tensão sem tamanho. Tive que tomar muito cuidado para não deixar a adrenalina tomar conta e sair enlouquecida atacando todo mundo. Perdemos Brad com meia hora de jogo. Avistamos uma falha na equipe amarela e ele correu para capturar a bandeira, mas uma emboscada da equipe branca nos pegou de surpresa. Katie e eu conseguimos eliminar 3 brancos, mas um deles acertou Brad em cheio no peito. Ele ainda conseguiu nos atirar a bandeira que roubou antes de levar o tiro. Quando viram que não conseguiriam escapar da nossa mira, os que restaram fugiram na direção do lago. Não demorou muito e caímos em uma emboscada da equipe laranja, ficamos completamente cercadas. Katie derrubou dois antes de ser atingida, mas eu consegui escapar ilesa, eliminando o resto da equipe que nos cercou. Não fazia a menor idéia de quantos roxos ainda restavam, mas sabia que sair a caça deles pela floresta era uma idéia idiota, então encontrei um local seguro que me desse uma boa visão da estrada que levava a orla e me escondi. Ninguém passaria dali sem ser abatido e nem iam saber de onde o tiro veio. Não sei por quanto tempo fiquei entocada e nem quantos campistas tirei do jogo, mas de repente vi um colete roxo passar correndo pela floresta sendo alvejado por tiros. Era Daniel. Fiquei surpresa por ver que ele ainda estava no jogo e consegui acertar os dois que o perseguiam a tempo. Ele se assustou quando me viu saltar de uma arvore. - De onde você saiu? – perguntou assustado. Ele suava e tinha o rosto vermelho de tanto correr. - Fui a única a sobrar do meu grupo, precisei me esconder. Isso é uma bandeira? – perguntei apontando para o bolso dele, onde um pedaço de pano branco estava pendurado. - Matt me entregou e me mandou correr, mas me cercaram no caminho. Não sei como ainda estou limpo. Antes que eu pudesse falar qualquer coisa, uma bola de tinta verde estourou na pedra atrás de mim e minha reação imediata foi puxar Daniel para o chão. Consegui arrastá-lo para trás da pedra enquanto mais bolas de tinta explodiam para todo lado. Não conseguíamos ver de onde elas vinham, mas disparávamos nossas armas assim mesmo. Alguém correu na mata atrás de Daniel e já estava com a arma apontada, quando Thruston surgiu do meio dos arbustos, a bandeira laranja presa nos dentes. - Vocês ainda estão vivos, graças a Merlin. - E temos uma bandeira de cada – apontei para a minha amarela e a branca que Daniel carregava – Mas como vamos fazer pra sair daqui? - Estou pensando – Thruston ficou calado um tempo, parecendo fazer cálculos mudos – Ok, o plano é simples: Daniel, pegue as três bandeiras e corra como se não houvesse amanhã. Lupin e eu vamos dar cobertura. - Esse é o seu plano genial? Fazer Daniel de kamikaze? - Se tiver um melhor, apresente. - Não vão começar a brigar, por favor! – Daniel tomou a bandeira da minha mão e depois pegou a de Thruston – Eu posso correr, sou rápido. Só garantam que não vou levar nenhum tiro. - Eu vou correr atrás de você, Thruston vai à frente – falei aceitando o plano maluco e preparando a arma – Nós vemos do outro lado. – Thruston ajeitou o capacete e saltou por cima da pedra, atirando contra os três que nos cercavam. Daniel correu logo depois, seguido por mim. Thruston era um bom atirador e ia limpando qualquer um que cruzasse nosso caminho, enquanto eu afastava os que apareciam pelas laterais. Fiquei espantada de ver que ainda tinham muitos campistas no jogo, mas como não sabíamos se eles tinham todas as bandeiras necessárias, corremos o mais rápido possível. Eu já nem estava mais prestando atenção em Daniel correndo logo a minha frente, pois sabia que ele ainda não tinha levado nenhum tiro, e muito menos em Thruston correndo alucinado a frente dele. Sentia os tiros passaram raspando pelo meu capacete, mas graças aos excelentes reflexos adquiridos nas aulas com tio Seth e Hiro estava conseguindo escapar de todos e devolver aos atiradores. Quando percebi, já estávamos a alguns passos da orla da floresta. Thruston cruzou a linha na frente e Daniel deu um salto logo atrás dele, derrapando na direção dos cestos. Ele atirou nossas bandeiras dentro dele de qualquer jeito e cheguei a tempo de ver Cooper erguer o braço e apitar o fim da partida. De repente tudo que via eram coletes roxos e braços vindo na nossa direção e alguns ergueram Daniel no alto. Antes que percebesse estava comemorando abraçada a Thruston, mas rapidamente nos soltamos. Ainda não gostava dele, mas admitia que quando deixávamos as provocações de lado, sabíamos trabalhar juntos. E também naquele momento não me importava de que casa ele era e do quanto nos detestávamos. Tudo que importava era que havíamos vencido. |