Monday, July 12, 2010


Julho de 2013

O começo desse verão foi diferente de qualquer outro. Ao contrario dos outros anos, onde nosso apartamento estava sempre movimentado com meus amigos entrando e saindo, Nick aparecendo para lanchar todos os dias e Gabriel vindo para o jantar, dessa vez estava tudo deserto. Com o nascimento das minhas sobrinhas, ninguém saia da casa do meu irmão. E com mamãe ocupada entre ajudar Maddie e babar as netas, escapei do castigo. Ela ensaiou um sermão, mas estava com tão pouca disposição de me vigiar por dois meses que sai apenas com uma advertência.

As gêmeas, que foram batizadas de Chiara e Valentina, eram extremamente parecidas com Evan, mas tinham muitos traços do meu irmão, como os olhos verdes. Chiara era calma, quase não chorava e não dava trabalho, mas a Valentina era totalmente o oposto. Aquela era das minhas, vai deixar meu maninho de cabelos brancos mais cedo.

Eu não cansava de paparicá-las também, mas já tinha planos para minhas férias e não estava incluído passar 24h por dia dentro de casa ajudando a trocar fralda. Nick passara cinco verões tentando me convencer do quanto o acampamento auror para onde ele e os amigos iam, embora ele ainda nem sonhasse em ser auror, era ótimo e que eu iria adorar. Eu nunca dava muita credibilidade, mas com tudo que me aconteceu durante o ano e os treinos exaustivos com tio Seth e Hiro, a coisa mudou de figura. Sabia que se ficasse dois meses sem fazer nada em casa, voltaria para Hogwarts completamente fora de forma e muito preguiçosa, então acabei topando acompanhar ele nesse verão.

Papai foi o encarregado de me acompanhar até o acampamento no dia 10 de Julho. Ficava em Cotswold Hills, no condado de Gloucestershire. Não era muito longe de Londres, mas também não perto demais a ponto dos campistas tentarem arriscar uma escapada. O programa durava 30 dias e a idéia era se divertir, embora tivéssemos todo o tipo de aulas de combate que se possa imaginar. Contanto que não valesse nota ou não precisasse estudar, estava tudo bem. A chave de portal nos deixou em frente à entrada, onde víamos um portal de madeira enorme com letras também de madeira escrito “Acampamento Auror”.

- Bom, meu limite é aqui – papai falou me entregando a mochila – Só campistas podem atravessar o portal. Lembra do que sua mãe falou, não é?
- Sim, lembro. Se receber uma única carta de reclamação, vocês vêm me buscar – repeti o que minha mãe havia dito duzentas vezes depois de concordar que eu viesse.
- E vai passar o resto do verão em casa – papai completou.
- Vou me comportar.
- É bom mesmo – ele beijou minha testa e se afastou – Agora entre, e bom verão. Buscamos você no seu aniversário.

Acenei de longe e no instante seguinte, ele aparatou. Juntei-me ao resto dos campistas que estavam atravessando o portal e já avistei Nick parado perto de uma ponte, com Connor e Becky. Eles agora eram monitores, não mais campistas. Já ia caminhar até lá para cumprimentá-los quando meus olhos baterem em algo que ameaçava seriamente a promessa que fiz a meus pais: James Thruston estava parado junto a uma cerca, muito entretido mexendo em um relógio. Se ele também era um campista ali, minhas chances de completar aquele mês sem ser rebocada de volta para casa eram muito pequenas.

ºººººº

Já estava em Cotswold Hills há uma semana e tinha que admitir: estava adorando. Toda aquela atmosfera de um típico acampamento trouxa, mas onde tínhamos autorização de usar magia (supervisionada, claro), me deixava indignada por nunca ter acreditado em Nick e vindo outros anos. Os chalés eram oito ao todo e cada um tinha o nome de um auror famoso que morreu em batalha. Eu estava hospedada com outras 14 meninas no chalé Alice Longbottom, mas já havia visto um com o nome dos Potter e um do Alastor Moody.

As atividades nos mantinham ocupados durante todo o dia, mas ninguém reclamava. Além da aula de duelos liderada por Andrew Cooper, o auror responsável pelo acampamento, tínhamos aula de rastreamento com Nick 2 vezes por semana, luta com sabres 3 vezes por semana com Connor e defesa pessoal com Becky, também 3 vezes por semana. Tínhamos também, entre muitas atividades, aula de arquearia e montaria com uma auror meio casca grossa, mas muito boa, Ellen Thorne. Se no fim ninguém quisesse se tornar auror, ao menos estaria muito bem treinado para qualquer Olimpíada.

Estava me divertindo tanto que nem a presença de Thruston me abalava. Ele, por sinal, estava sempre por perto. Fez a mesma cara de desprezo que fiz quando me viu e pretendíamos nem trocar qualquer palavra durante o verão, mas éramos sempre forçados a trabalhar juntos, então falávamos o necessário. Tudo era em equipe e por ironia do destino ou talvez pura maldade de Nick, caiamos sempre no mesmo time. Entre os campistas, reconheci um garoto da Lufa-Lufa um ano mais novo e um garoto e uma garota da Corvinal, ambos um ano mais velhos. Nenhum outro era conhecido, deviam ser de escolas bruxas menos famosas.

Teríamos nossa quarta aula de luta com sabres naquela tarde e depois do almoço o grupo que Connor ia treinar desceu até a arena perto do lago. Thruston estava entre eles, claro, assim como os outros três alunos de Hogwarts, Katie, Taylor e Matt. Ao todo éramos 20 campistas e Connor nos separou em duplas de acordo com o grau de aprendizado das três primeiras aulas. Para minha infelicidade, iria fazer dupla com Thruston. Vestimos os coletes e nos cumprimentamos como mandava a regra e ao sinal de Connor, atacamos.

Foi tão depressa que não sei dizer quando perdi o controle. Num minuto estava lutando com Thruston junto com 10 outras duplas, no outro estávamos sozinhos na arena. Eu desferia golpes rápidos e precisos e Thruston se defendia deles, recuando. Em uma fração de segundos, onde ele olhou para o lado, apliquei um golpe tão forte que ele caiu no chão. Senti um choque percorrer meu corpo e ele todo tremer, e só então percebi que havia acertado o sabre com muita força contra um escudo. Thruston estava atrás dele caído no chão, uma mão segurando o escudo e a outra apertando a varinha, o sabre já caído na areia. A turma inteira me olhava assustada e Connor já vinha correndo na nossa direção.

- James, você está bem? – Connor olhava dele para mim quase em pânico – Clara, está bem também?
- Acho que meu braço quebrou – Thruston levantou do chão todo sujo de areia e tirou o escudo do braço. Estava preto.
- Melhor irmos para a enfermaria. A aula acabou, podem ir. Clara, vai para o chalé e me espere lá, ok?

Nem mesmo contestei e larguei meu equipamento no armário, subindo o gramado de volta para os chalés. Estava atordoada e tudo que menos queria eram olhares curiosos. As pessoas olhando curiosas na verdade não me afetavam, o que me abalou de verdade foi ver a expressão no rosto de Thruston. Não era raiva ou surpresa, era de puro medo. E não era um medo que eu iria me vangloriar depois, era medo de que eu pudesse tê-lo matado, o que poderia ter acontecido se ele não tivesse sido rápido ao conjurar um escudo. Era a primeira vez que percebia que, se perdesse o controle por um segundo que fosse, poderia matar alguém.

Continua...