Thursday, September 09, 2010


Setembro de 2014

Todos queriam visitar Camelot, eu talvez mais do que todos. Desde o momento em que percebi que o castelo surgia na Colina dos Templos eu sentia uma curiosidade, não, uma necessidade de entrar e conhecer aquele lugar.

Ele era magnífico. Ele não era muito grande, talvez do mesmo tamanho que o Castelo de Bodiam, mas era um dos mais belos que já vi. Porém, só de olhar suas altas muralhas cinzentas eu era capaz de perceber que aquele castelo era um ponto de defesa maravilhoso. Sua posição acima da Colina dava ampla visão de toda a Ilha, e acredito que dos arredores também.

Ele era todo construído com blocos de pedras cinzentas e sólidas. Sua forma era de um pentágono, sendo cada uma das pontas uma torre do mesmo tamanho, com exceção de uma que era a maior delas. As grandes portas duplas de entrada ficavam na face voltada para a Praça do Poço, há alguns metros do Templo de Seph seguindo por um caminho pavimentado com as mesmas pedras do castelo. Atrás do castelo, próximo a maior torre, ainda estava o Círculo de Pedras, deslocado do centro da Colina.

Essas características externas, porém, não traduziam a grandiosidade de seu interior. Entrei pela primeira vez em Camelot apenas na primeira semana de aulas, junto de todos meus amigos.

- Não é justo que apenas alguns entrem primeiro em Camelot! – Hiro falou. Ele estava doido para conhecer o castelo e ainda ficava chateado por não tê-lo visto surgir sozinho.
- Ai vocês meninos reclamam tanto! Mas é verdade, a visão do surgimento dele foi lindo! – Keiko falou, fazendo de propósito.
- Ah esnoba mesmo que vocês viram e nós não. – Rupert falou, fingindo estar irritado.
- Mas vocês entraram no castelo? – Julian perguntou, deixando a curiosidade superar seu desejo de ter visto o surgimento do castelo.
- Não, achamos que seria mais justo todos entrarem juntos. – Haley explicou. Vi o brilho nos olhos dos garotos pela consideração.
- Ei calma aí né gente, vocês não vão chorar, por favor, estou tomando café! – Clara falou, fazendo todos rirem.
- Então, porque não vamos todos? Tem muito tempo que não vamos todos juntos a Avalon. Uma reunião de cúpula! – Eu sugeri, doida para voltar à ilha.
- É uma ótima idéia! – JJ falou animado.
- Que tal um picnic? – Jamal falou, fazendo todos ficarem animados.
- Isso! Podemos ir nesse final de semana ainda, aproveitando que ainda não estamos nas loucuras dos N.O.Ms. – MJ falou. Todos tiveram calafrios e brigaram com MJ.
- Nem fala neles ainda, já tenho pesadelos! – Tuor falou, fingindo tremer. – Vocês viram a quantidade insana de aulas que teremos?!
- Ta reclamando do que? Além das aulas, eu vou continuar com os treinos em Avalon três vezes na semana, além de Monitora! – Eu falei, deixando uma pequena ponta de desespero surgir na voz. – Ai, porque não controlo o tempo aqui fora também?
- Quem manda ter a sua sorte? – Keiko falou, passando a mão na minha cabeça. – E não se esqueça dos treinos de quadribol, e é claro, dos garotos. – Ela falou no meu ouvido, de modo que apenas eu e as garotas ouvimos. Começamos a dar risinhos, pois eu estava vermelha.
- Então, decidido? Sábado vamos a um picnic? – Eu desviei a conversa, voltando ao assunto principal.
- Sim! – Estavam todos animados e já fazendo os preparativos. O restante da manhã passou voando, enquanto fazíamos os preparativos. Avisei as minhas sobrinhas e a meus pais, convidando-os também.

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No sábado de manhã, por volta das dez da manhã, até porque queríamos ir para Avalon cedo, mas precisávamos dormir decentemente, já estavam todos prontos. Antes de mais nada, é preciso saber que os alunos são proibidos de sair de Hogwarts sem bons motivos, e apenas acompanhados de seus pais, com exceção de Hogsmeade. O bom era: como eu devia estar treinando, eu tinha permissão de sair quase sempre. Fora que mamãe, Luna e Gaia foram nos buscar e, apesar de não ter gostado muito da idéia de 16 alunos saindo da escola no sábado de manhã, Mimi permitiu que mamãe nos levasse. Mimi alegaria que estaríamos indo visitar algumas dependências do Clã. Bom, não deixa de ser verdade...

Eu não conseguiria transportar todos com os poderes de Chronos, logo mamãe e Luna aparataram alguns para Glastonbury, enquanto eu transportava a mim, Clara, Hiro e Tuor para lá também. Quando terminei o transporte, me sentindo um pouco cansada, Gaia já convocara a barca e o primeiro grupo ia para Avalon. Em seguida Mina convocou uma segunda barca e eu convoquei a última. Recentemente descobrimos que existem diversas barcas que fazem a ligação entre as margens e a ilha, bastava que houvesse uma sacerdotisa para chamá-la. Ainda permanece um mistério onde a barca fica enquanto não é usada, pois ela desaparece nas águas e nas brumas assim que desembarcamos.
Assim que todos estavam em Avalon, sendo a primeira vez de Luna, ela estava apaixonada por todas aquelas flores e eu via seus olhos brilhando de excitação, nos reunimos na Praça do Poço. Dali podíamos ver Camelot com toda a sua grandiosidade e os garotos estavam boquiabertos, na verdade todos nós estávamos calados, tocados pela visão. Começamos a retirar os preparativos para o picnic, brincando, conversando e rindo alto. Montamos uma grande toalha xadrez vermelho e branca do lado do Poço e colocamos as cestas de comida que trouxemos. Mamãe trouxe uma torta especial de casa, e estávamos doidos para comê-la.

Mas primeiro todos queriam conhecer Camelot. Seguimos todos juntos, com tensão e excitação palpável, até o Templo de Seph e começamos a subir a trilha pavimentada. A cada passo eu sentia um poder maior, além de me sentir em casa. Aquele castelo me dava uma sensação gostosa de aconchego e segurança, assim como força e poder.

Ficamos diante das portas duplas em silêncio e Clara me empurrou a frente. Estiquei as mãos meio assombrada e assim que toquei a madeira milenar, ela emitiu um rangido alto e as portas se abriram sozinhas para mim. Havia luz dentro do castelo. A beleza e grandiosidade externa não eram nada comparadas ao interior de Camelot.

Primeiro, o castelo havia sido construído ao redor do Templo de Chronos e no seu centro havia um grande local aberto, uma espécie de pequeno bosque, com o Templo intocado. Ao redor do Templo haviam diversas esculturas antigas, além de colunas que pareciam sustentar apenas o céu.

- Uau, essas colunas, elas estão segurando o andar de cima. Há um pavimento inteiro acima de nós, mas por magia ele fica invisível enquanto estamos aqui. – Mamãe explicou, admirada.

O castelo se estendia radialmente em torno do Templo, com amplos corredores e salões. Em cada uma das pontas do pentágono haviam escadarias que levavam para as torres menores. A torre maior ficava atrás do Templo e a escadaria que subia por ali era enorme. No andar de cima, haviam novos salões e corredores, e realmente estávamos acima do bosque.

Subimos mais um andar e eu soube que estávamos nos encaminhando para a sala do trono, podia sentir seu poder. Mais uma porta dupla bloqueava nosso caminho, mas dessa vez as portas eram feitas de ferro e não madeira. Assim que cheguei perto delas, elas se abriram para mim. Estávamos diante de um enorme salão oval e no centro havia uma grande mesa redonda, com outras mesas menores ao seu redor. Era o Salão dos banquetes.

- Não acredito... – Julian conseguiu falar.
- É a Távola! – Hiro comentou.

Todos correram para passar a mão pela famosa Távola, assim como em suas cadeiras, onde sentavam-se os guerreiros mais poderosos de Arturia. A Távola tinha esse nome e formato por um motivo: a mesa de banquetes de Arturia era o local onde ela e seus lordes reuniam-se para festejar e comemorar, porém poderia ser um lugar de disputa de poder, pois todos gostariam de se sentar perto de sua rainha. Com a Távola Redonda, todos estariam a uma igual distância de sua rainha, um círculo que jurou protegê-la, mesmo que isso custasse suas vidas. Na direção contrária as portas duplas, de frente para as mesmas, estavam duas cadeiras mais altas, as cadeiras de Arturia e de seu marido.

Em uma das laterais do salão, Luthien encontrou uma outra porta. Ela era feita de ferro também e dava para um corredor cuja lateral direita era aberta, revelando o Bosque Sagrado e parte da Ilha. Seguimos por esse corredor até outra porta dupla, feitas de ouro e prata, na parede da esquerda. Eu sabia: ali era a sala do Trono.

Eu apenas fiquei diante delas e elas mais uma vez se abriram, para um salão ainda maior do que o anterior. E era um salão diferente. As paredes de ambos os lados eram abertas em colunas, revelando uma visão maravilhosa da Ilha, além de tornar o local fresco e agradável. Entre cada “janela”, haviam escudos e armas penduradas e notei que eram 12 escudos diferentes, os escudos dos 12 Cavaleiros de Arturia, seus Lordes e Guerreiros.

Havia um tapete branco e negro que ia das portas até os grandes Tronos. De cada lado do tapete, de frente para os escudos, estavam 12 cadeiras, onde se sentariam os Lordes. E no final do tapete, em um pedestal de dois níveis, estavam os dois Tronos. O mais abaixo era de madeira pintada de vermelho, ele era robusto e altivo. E o maior dos tronos, o Trono de Arturia, era de madeira pintada de negro, com almofadas brancas. Ele era menor do que o outro, mas parecia mais cheio de poder e força. Atrás dos dois, preso a parede, acima dos demais, estava o primeiro símbolo do Clã: um escudo com o C negro em seu centro, atravessado por uma espada branca com asas no punho. De cada lado desse escudo haviam penduradas duas enormes bandeiras, em uma reconheci as cores do Clã (branco e negro) e na outra as cores da Bretanha (branco, azul e vermelho). Ao fundo, atrás do escudo de Arturia, havia um desenho que eu não esperava: um dragão estava pintado na parede. Então tive a sensação, ou a visão, de que Arturia gostava de dragões e tinha uma ligação com eles.

- Isso sim é uma sala do Trono! – Tuor exclamou, enquanto todos começavam a andar pela sala, olhando tudo curiosos. Todos queriam preservar a história daquela sala, logo não mudaram nada de posição, mas tocavam as cadeiras com assombro e curiosidade. Apenas dos grandes Tronos não se aproximavam.

Eu caminhei lentamente até eles e passei a mão pelo braço do Trono de Arturia. Senti como um choque, ao ter meu corpo atravessado por um poder enorme. Entendi então que de alguma forma aquele Trono estava ligado ao Templo de Chronos e a própria Ilha, sendo o centro de seu poder. Me afastei dali, não por medo, mas por respeito. A voz de Arturia dizia em minha alma “não tenha medo, mas não é agora que se sentará no Grande Trono, minha rainha”.

Ficamos muito tempo naquela sala, admirados e conversando sobre tudo. Chronos explicava algumas coisas, como o que significava cada símbolo dos escudos e brasões dos Cavaleiros, além de relembrar algumas de suas batalhas. Algumas vezes, enquanto falava, vi Chronos dirigir olhares para mim. Seu olhar estava cheio de preocupação e receio, como se tivesse medo de algo. Quando toquei no Trono de Arturia, ele estivera ao meu lado, sei que pronto para me tirar dali se desse algo errado. Havia algo de errado, e ele não queria me dizer.

Descobrimos que além dos três andares superiores, Camelot tinha mais dois andares subterrâneos que se estendiam pela Colina. Além desses dois, haviam ainda as grutas onde ficava a nascente do Lago e do Poço Sagrado, mas o acesso a elas era perigoso e estreito e não nos arriscamos a ir. O primeiro andar subterrâneo era um depósito gigante, tanto de viveres quanto de armas e armaduras. Ficamos animados, mais uma grande quantidade de artefatos para catalogarmos e descobrirmos! O segundo era um amplo salão que em extensão era igual ao resto do castelo. Era um salão completamente vazio, com exceção de algumas colunas negras que sustentavam o castelo. Sem pensar muito entendi que era ali que Arturia treinava, e onde eu deveria treinar a partir de então.

Depois de mais de 3 horas andando pelo castelo, sentimos fome e decidimos ir fazer nosso picnic, mas antes voltamos a sala do Trono para olharmos uma vez mais. Ficamos em silêncio, envoltos em nossos próprios pensamentos. Algum tempo depois, todos saíram, indo para o centro da Ilha, próximos do Poço Sagrado, onde faríamos nosso picnic. Eu porém, fiquei um pouco para trás, assim como Chronos, queria falar com ele a sós. Sentei-me na base dos degraus do Trono e o fitei. Ele manteve meu olhar, sem desviar um segundo, ele sabia o que eu queria falar. Então falei, mentalmente na verdade:

- Chronos, o que você está escondendo?
- Não é nada que você deva se preocupar. – Ele falou evasivo, porém sem desviar os olhos. Havia preocupação neles.
- Eu... Você sabe que desde o momento em que entrei nesta sala eu acordei ainda mais não sabe?
- Sei. E por isso não quero que sente no Trono, ainda.
- Eu também não estou preparada, há muito poder ali.
- Ele é um dos três pontos de poder centrais da Ilha. Os outros são o Poço e o Túmulo de meu irmão. Mas o trono é o mais poderoso, ligado diretamente ao meu Templo.
- São esses os três pontos que sustentam Avalon, certo?
- Exato. Por isso quando você bebe da água do Poço fica tão poderosa. Quando se sentar no Trono de Arturia, a intensidade será ainda maior.
- Eu sei, posso sentir isso. Chronos, você é meu amigo, quero que você me diga a verdade, o que esconde de mim? Meus poderes me permitem prever o futuro, mas você me impede de ver mais do que alguns dias à frente.
- Querida. – Ele falou, sentando-se ao meu lado. Eu recostei a cabeça em seu ombro e ele passou o braço pelo meu ombro. Sim, ele é um espírito, mas ali em Avalon, ele se torna quase físico e posso até sentir o calor de sua presença. – Eu aprendi com as Encarnações anteriores: saber o futuro só traz mais desgraças.
- Aconteceu com Gomeisa, não?
- Sim. Ela conseguiu ver além do que deveria e decidiu-se antes da hora, fixando o futuro.
- Mas você não diz que o futuro é mutável?
- E é. Porém, para as pessoas com pouco poder, uma vez que decidem algo o futuro se torna fixo. Já para aqueles mais poderosos, o futuro é mais maleável e ela é capaz de mudá-lo diversas vezes. No entanto, Gomeisa decidiu sacrificar-se pelo bem de toda a sua família, e decidiu não mudar seu futuro.
- Mas e Arturia? Como ela lidava com isso?
- Arturia e você são as Encarnações mais poderosas até hoje. Ela via o futuro com freqüência e o mudava com mais freqüência ainda, visando um futuro melhor. Mas ela também decidiu por um futuro.
- Por que não me deixa decidir? Por que não me deixa ver o que vai acontecer?
- Pois tenho medo de perdê-la também. Não sei que rumos o Destino pode tomar dependendo de suas escolhas.
- Por isso está me treinando? Por isso me ensina a lutar?
- Sim...
- Chronos, por favor, me diga. – Eu o olhei. Ele suspirou e beijou minha testa, afagando meus cabelos com carinho.
- Está bem, Artemis. De uma forma ou de outra, quando sentar-se no Trono de Arturia você verá... Há a possibilidade, deixo claro: uma possibilidade. – Ele engoliu em seco, enquanto eu aguardava em expectativa. – Há a possibilidade de você falecer.

Eu fiquei em silêncio, assimilando aquilo.

- Eu morrerei um dia. – Eu falei, mas sabia a que ele se referia.
- Há a possibilidade de você morrer dentro de dois ou três anos. – Ele falou, e lágrimas começaram a descer de seus olhos.

Então o abracei com força, pois por mais que eu estivesse assustada e preocupada, ele precisava de apoio mais do que eu. Eu comecei a chorar também, nervosa com o peso dessa informação. Eu realmente sentia que havia uma direção que me levava à escuridão. Em algum ponto do futuro, por mais que Chronos me impedisse de ver, eu conseguia ter um vislumbre, mas via apenas a escuridão.

Abraçada a ele, o que senti de início foi medo, pavor, insegurança. Mas depois de algum tempo, me senti leve também. Se isso realmente acontecesse, e eu desejava que não, não poderia me deixar abalar. Havia muito que lutar e viver ainda e eu não desistiria fácil.

- Vamos, Chronos, então há muito que você deve me ensinar ainda. Eu não vou me deixar cair em medo por uma dúvida. Eu vou lutar. – Algo em como eu falei, ou o que falei, fez Chronos levantar os olhos e me olhar. Seu olhar era profundo e sábio, ele então sorriu.
- Por isso você é tão poderosa: por sua teimosia e coragem. Arturia também era assim e ela mudou o futuro por mais vezes que qualquer um. Muito bem, Artemis, estarei sempre ao seu lado.
- Obrigada. – Eu sorri, um sorriso sincero e leve. – Só não diga a ninguém isso, ninguém. Nem mesmo minha mãe. Iria assustá-los.
- Como desejar... Mas não acha que eles merecem saber?
- Não. Nenhum deles. Se qualquer um deles souber, vão ficar preocupados e tentar impedir que eu sofra qualquer coisa. Mas eu sinto que quanto mais tentar evitar, mais possível se tornará.
- Aceito sua decisão. Vamos, eles podem vir ver porque demoramos.

Eu assenti e desci para o Poço junto dele. Eu poderia morrer em três anos. Era assustador, mas eu não me deixaria abalar. Eu sei que quanto mais pensar nisso, menos forças para lutar eu terei. E eu lutarei.