Tuesday, November 30, 2010 Austrália, Novembro de 2014 A primeira semana de competição havia passado mais depressa do que eu queria. Com apenas mais sete dias restantes na Austrália, já havia conquistado três medalhas, sendo duas de prata e uma de bronze. A primeira, e bastante suada, foi no Triatlo, mas por mais bem preparada que eu estivesse era quase impossível vencer a amiga de Tuor, Milena, que foi quem ficou com o ouro. Ela era muito rápida e bem treinada, e embora Arte tenha torcido o nariz, cumprimentei-a ao fim da prova e ela foi muito simpática. A segunda medalha de prata foi no Tiro Esportivo, na modalidade Tiro ao Prato. Foi um bom teste para quem conseguiu a vaga de batedora recentemente no time da casa. O ouro ficou com uma das mil primas da Haley, Samantha, e o bronze com a irmã gêmea dela, Suzannah, que estudam no Instituto de Magia de Salem. E a medalha de bronze também foi no Tiro Esportivo, mas com a Carabina. Essa quem venceu foi uma garota da escola Alemã que mais parecia uma Barbie, mas quando começou a atirar surpreendeu todo mundo, e a prata com uma menina de Durmstrang que assim que a prova acabou descobri ser amiga do Ozzy, o garoto que conheci na pista de patinação. Quando ele foi abraçar a amiga, fez o mesmo comigo me parabenizando também, o que gerou uma crise de risadinhas idiotas em Keiko, Haley e Artemis. Minha próxima competição era de Esgrima. Ia competir com o Sabre e já havia passado pelas quartas de final, lutando contra a esgrimista da escola Russa. Ela era boa, mas eu era melhor. Consegui os 15 toques para ponto antes do fim do prazo, e ela só conseguiu me atingir três vezes. A semifinal foi mais difícil, era contra uma italiana muito ágil. Diferente da russa, que não aproveitava a liberdade que tínhamos no sabre de se poder usar a lâmina para pontuar, e não apenas a ponta dele, essa conseguiu empatar comigo 10 x 10. Quando o cronometro indicou que os nove minutos haviam esgotado, quem pontuasse primeiro vencia. Precisei de muita agilidade para me aproveitar de um vacilo dela e acertar a lâmina do sabre depressa em seu antebraço, passando para a final. - Clara, cuidado com essa garota – Arte estava comigo enquanto descansava para a final e olhava para a minha adversária, uma atleta da Hungria – Ela é rápida como um gato, vi a luta dela contra a francesa e nossa, foi uma surra. - Foi o recorde das Olimpíadas, não é? – perguntei preocupada – Ela bateu a menina em 5 minutos – e Arte assentiu, sem tirar os olhos dela – Sabe me dizer um ponto fraco? - Ela não é muito boa em ataques frontais, só é boa pelas laterais, mas ninguém conseguiu explorar isso ainda – respondeu pensativa – Talvez se você começar com uma seqüência de investidas assim, ela recue um pouco. - Se atacar ela como me atacou no acampamento, vai ganhar por desistência do adversário – Thruston pulou o cercado que dividia a torcida dos competidores e sentou do meu lado – Só lembre-se que ela não está com varinha, então não pode conjurar um escudo pra impedir que você parta sua cabeça como uma melancia. - Olha, um comediante – brinquei e ele riu – Não vou rachar a cabeça de ninguém, não é contra você que vou lutar. - Viu como ela me trata? – ele virou para Arte, que prendeu a risada – Faço tudo que pra agradar, mas ela só me dá patada. - Clara é exigente, não liga não. Daqui a pouco ela cede. – Arte respondeu com uma cara debochada e olhei feio pra ela. - Então acha que tenho uma chance? - Claro! Tenha paciência e ela vai ceder. - Vocês estão desviando do foco aqui! – falei impaciente, apontando para a húngara do outro lado do ginásio – Pontos fracos! Só posso atacar pelo meio? - Só proteja suas laterais, evite que ela marque pontos e faça ataques frontais que vai se sair bem – Arte deu um tapinha nas minhas costas e James me estendeu a máscara. - Boa sorte. Coloquei a máscara no rosto, ajeitei o colete e peguei o sabre, caminhando até a pista. Minha adversária já estava pronta e conversava algo indecifrável com um homem mais velho, que devia ser seu treinador. A juíza da luta sinalizou para nos posicionarmos e ocupei meu lugar do lado direito. Assumimos a posição de ataque e quando a mulher apitou, a húngara veio com tudo pra cima de mim e marcou um ponto. Os primeiros cinco pontos que ela marcou, contra nenhum meu, foram tão rápidos que mal conseguia me movimentar para tentar me defender. Arte gritava instruções da lateral da pista, mas era difícil me concentrar na húngara e nos gritos da minha amiga ao mesmo tempo, então optei por prestar atenção apenas na luta. Consegui marcar quatro pontos depois de sete minutos de luta, mas ela marcou mais um e tinha a vantagem de dois pontos, faltando dois minutos para o fim da luta. O sinal tocou no ginásio e vi que Arte tinha pedido tempo à juíza. - Está deixando que ela intimide você! – me deu uma bronca quando tirei a máscara e James me entregou uma garrafa de água. - Não estou intimidada, ela só é melhor do que eu! – protestei. Estava cansada e me esforçando ao máximo, e ainda levava bronca. - Besteira, ela não é melhor que você, só está mais concentrada – James falou, mas sem o tom de bronca de Arte – Você pode reverter isso, tenho certeza disso. - Ele tem razão, faltam dois minutos pra acabar e você só precisa de mais dois pontos. Notei que ela ataca mais pela esquerda, então redobre a atenção pra esse lado, e continue atacando pela frente. Um salto rápido, e sabemos que você consegue um, vai fazê-la recuar e permitir que marque o ponto. - Não, ela já está esperando isso, você precisa surpreender. Quando ela atacar pela esquerda, faça com que ela recue com um golpe frontal e antes que ela contra-ataque, faça o que fez comigo quando quase me matou. - Acertar a máscara? Isso é válido? - Sim, desde que faça parte de um movimento frontal – Arte explicou – Não pode bater nela pelas laterais. Isso pode dar certo. - Isso vai dar certo – James me devolveu a máscara e coloquei no rosto – Depois de marcar esse ponto, parta pra cima dela com tudo. Ela vai estar assustada e você terá mais abertura. Voltei para a pista mais confiante. Era uma jogada arriscada, que se feita errado poderia me desclassificar, mas se eu não cometesse erros me daria uma chance de empatar a luta. Assumimos posição de ataque novamente e quando a juíza deu o sinal, ela atacou pela esquerda como Arte e James previram. Protegi o corpo com o sabre e investi contra sua barriga, fazendo-a recuar para evitar o golpe, e no momento que ela avançou pra cima de mim, ergui o sabre e desferi um golpe certeiro no meio da sua máscara protetora. O 5º ponto surgiu no meu lado do placar e ela retomou a luta, mas estava atordoada. Aproveitei o momento rápido de surpresa e consegui marcar o 6º ponto e empatar a luta, com um golpe rápido pelo flanco direito. Agora era o ponto do tudo ou nada. O treinador dela não se deu ao trabalho de pedir tempo, apenas gritou instruções na língua deles, que eu não compreendia, e ela assentiu com a cabeça sem sair da pista. Não fazia a menor idéia do que ela ia usar para atacar, mas de repente me lembrei das aulas de esgrima no acampamento, mais especificamente da aula depois de quase ter matado James. Ele pediu para fazer dupla comigo outra vez e me ensinou uma manobra para desarmar o oponente, girando a lâmina do inimigo com a parte chata do próprio sabre para que ele não tenha alternativa a não ser deixar a arma cair. Fazia tempo que não praticava aquela manobra, mas no momento era minha única opção. - Prontas? – a juíza falou em inglês e assentimos – Basta um ponto para vencer. Ela deu o sinal e a garota veio para cima de mim. Consegui impedi-la de golpear meu braço esquerdo. Dei um passo à frente e tentei minha própria estocada. Ela a revidou facilmente e começou a me pressionar com mais força. O sabre começava a pesar em minha mão, mas estava equilibrado. Eu sabia que era apenas uma questão de segundos antes que ela me derrubasse, então pensei: Que se dane! Tinha que tentar a manobra para desarmar. Ela recuou quando defendi um golpe lateral e avancei com tudo. Minha lâmina atingiu a base da dela e eu a girei, pondo todo o meu peso em um golpe para baixo. O sabre voou de sua mão e a ponta da minha lâmina estava a dois centímetros do seu peito desprotegido e o toquei de leve. O placar do meu lado piscou e marcou o 7º ponto, contra 6 dela. A arquibancada do lado de Hogwarts explodiu em gritos e atirei o sabre no chão, dando um soco no ar em comemoração. A garota caminhou até mim sem a máscara e sua expressão era de perplexidade, mas me estendeu a mão. - Parabéns, você é muito boa. - Você também – apertei sua mão sorrindo e ela saiu na direção de seu treinador, que não tinha uma cara feliz. - CLARA! – Arte e James invadiram a pista e se atiraram em cima de mim, me abraçando. - Seu golpe me salvou! – agarrei o rosto de James e dei um beijo em sua bochecha – Muito obrigada! Ele me olhou surpreso, mas antes que pudesse reagir de alguma forma ao beijo em seu rosto meus amigos invadiram o tatame e sumi no meio deles. Mamãe e papai vieram me abraçar também e mamãe me olhava com aquela cara de "estou de olho, não esqueci a aposta". Sorri para ela sem me importar e a juíza chamou os três medalhistas para o pódio. Foi muito bom ouvir o hino maluco de Hogwarts tocar e toda a torcida da escola cantando a plenos pulmões, fazendo a maior bagunça. A medalha de bronze acabou ficando com a italiana que derrotei na semifinal, e ela parecia muito satisfeita com a colocação. O diretor da escola da Austrália foi quem colocou a medalha no meu pescoço e apertou minha mão entusiasmado, me parabenizando pela vitória surpreendente. Desci do pódio feliz da vida e Gabriel largou a câmera de lado para me abraçar, tia Miyako logo atrás dele com um bloco todo rabiscado na mão. - Parabéns, maninha! – ele beijou minha testa, me apertando no abraço – O treinador daquela garota ficou olhando com cara de besta quando o sabre voou da mão dela. - Foi realmente muito bom, Clara! – tia Miyako me abraçou também – Gabriel fez umas fotos ótimas do último golpe, vão ficar muito boas na matéria que estou fazendo sobre as competições de hoje. - E quem é aquele garoto, hein? – Gabriel me cutucou, indicando James com a cabeça – Estava muito intimo, não conheço. - Nossa, que direto – tia Miyako riu, mas continuou me olhando curiosa – Keiko andou contando umas histórias... - Que histórias? – Gabriel olhou pra mim desconfiado. - Não tem história nenhuma, Keiko estava mentindo. - Você nem sabe o que ela me contou! - Mas sei que era mentira – respondi séria, mas acabei rindo quando Gabriel insistiu em saber do que estávamos falando. Não sabia o que Keiko andava conversando com a irmã, mas sabia que nada devia ser mentira e que se qualquer coisa vazasse pro meu pai e meu irmão, a fofoqueira ia me pagar. James veio me cumprimentar outra vez quando me afastei deles e podia sentir Gabriel me acompanhando com o olhar, mas decidi que era melhor ignorar. Arte tinha razão, mais cedo ou mais tarde eu teria que ceder, e quando isso acontecesse, eu não escaparia da mira dos zagueiros da família. |