Tuesday, November 09, 2010


Após o jantar, Arte e eu nos encontramos próximos ao lago. Fazia uma noite bonita e cheia de estrelas. Ela sorriu animada para mim e sorri de volta, observando que ela era capaz de gerar uma aura muito boa ao redor dela.

- Como vamos para Avalon? Vai fazer como da outra vez? E o que era aquilo? – Eu perguntei curioso. Chronos surgiu atrás dela, observando-nos.

- Uma de cada vez! Não, hoje eu o levarei para o lago de Glastonbury, onde fica a ilha. Quero que você veja a abertura das brumas, como retiramos a barreira. E aquilo que eu fiz é algo semelhante à aparatação, só que é mais complicado e poderoso. Eu às vezes chamo de dobra.

- A barreira não permite a aparatação dentro da ilha? – Eu perguntei, querendo confirmar minhas suspeitas.

- Sim, faz parte da história de Avalon. A barreira que Arturia ergueu impede que qualquer forma de movimentação espacial ocorra lá. Ela impede chaves de portais, aparatações e convocações. Apenas à rainha é permitido isto, através daquela magia que te mostrei. É na verdade a utilização dos poderes de Chronos para romper os limites do tempo e do espaço.

- Mas te cansa muito. Você ficou exausta daquela vez.

- Sim, quanto mais pessoas eu tiver que transportar, mais difícil, pois preciso usar mais os poderes de Chronos e os meus. Mas chega de conversa, minha mãe e minha prima já devem estar esperando.

- Mas suas primas estão aqui. – Eu comentei lembrando das três meninas que emanavam uma força semelhante a de Artemis. Assim que voltei de Avalon da última vez, reconheci nelas o poder de sacerdotisas.

- Minha prima mais velha. – Ela sorriu e fomos envoltos por plumas e uma luz intensa.

Surgimos nas margens de um lago e no centro dele eu podia sentir uma força, porém ela parecia distante, como se não estivesse ligada a esse mundo. A mãe de Arte, a Senhor Mirian, já nos aguardava acompanhada por Gaia. As duas pareciam versões mais velhas de Arte, sendo que Gaia era loira, ao contrário de Arte e Mirian. Eu já conhecia Gaia da casa de Julian, mas notei seu olhar curioso e quando fui cumprimenta-la, não peguei sua mão, mas sim seu antebraço e disse sério, sob os olhares atenciosos da senhora Mirian e Arte. O único que não deve ter ficado surpreso foi Chronos:

- Olá, sacerdotisa de Avalon. Esta noite, eu humildemente peço a você que seja a minha guia e me permita atravessar as Brumas com você.- na hora, ao redor de nossos braços unidos, um circulo de luz surgiu e pude ouvir o ofêgo de Arte e Gaia, que após o espanto inicial disse:

- Pois eu agradeço a honra de poder guiá-lo até a Ilha sagrada, Shaman. – e logo ela se encaminhou para as margens e parou ali, respirando lentamente. Eu ofeguei ao sentir a energia que ela liberou e senti como se algo no meio das brumas respondesse. De fato, logo após ela virar de lado para nós, uma barca surgiu no meio das brumas guiada magicamente até nós. Embarcamos todos e a barca moveu-se até o meio do lago, onde parou. Gaia ficou de pé e respirou fundo, levantando os braços acima da cabeça. Ela os baixou com determinação e senti sua vontade sobre a vontade da barreira e as brumas abriram-se lentamente, e a barca levou-nos até a Ilha. Quando aportamos nas areias brancas, e sentindo o poder que pulsava da Ilha, eu disse:

- Chronos, acho que Artemis precisa ter noção do que posso fazer, gostaria de começar aqui, tenho sua permissão?- e Chronos assentiu e me afastei alguns passos e disse em voz clara e forte:

- Que Avalon permita que este humilde servo conjure seu circulo de magia, para que sua rainha possa avaliar o meu valor. – e a Ilha pareceu responder assentindo, pois uma leve brisa com o perfume de flores que me lembrou muito Artemis, agitou as nossas roupas e eu prossegui, após respirar fundo:

- O ar que está por toda a parte, é o primeiro elemento que eu saúdo e peço que venha ao meu circulo.- e na mesma hora uma rajada de vento bateu em nossos corpos, agitando nossas roupas.

- Quando penso em meus amigos, sempre os vejo rodeando uma fogueira, rindo despreocupados. Peço que me ouça fogo, e traga o calor da amizade de meus amigos até este circulo.Venha fogo!- e na mesma hora de minhas mãos surgiram esferas de fogo, que eu lancei até uma pilha de madeira e o cheiro de uma fogueira de acampamento encheram minhas narinas.

- A agua é a fonte da vida. Eu a invoco água. - E nesta hora as ondas da praia que eram calmas, se agitaram e começaram a formar ondas e quebrar na praia. Um forte cheio de água salgada invadia nossa narinas. – Da terra viemos, e será ela como mãe amorosa, que irá nos receber de volta um dia. Sem ela, não seríamos nada. Eu a invoco a este circulo, Terra. – e na hora fomos tomados pelo cheiro de pinheiros e terra molhada de chuva. Virei-me e fiquei de frente a elas e disse:

- O ultimo elemento é o que sopra vida em todas as coisas, Espírito eu o convoco a este circulo.- na hora eu estava cercado por todos os elementos e parecia estar no meio de um redemoinho de ar, fogo, agua, terra e espírito e sentia uma enorme alegria.

- Peço a proteção dos elementos a todos nós, e que eu possa aprender e ensinar tudo o que puder para Artemis.Permita que eu possa ser um guerreiro e lutar com honra e quando for preciso que eu possa curar e aliviar a dor dos que sofrem.

E nesta hora a terra tremeu, o mar se agitou, pequenas bolas de fogo riscaram os céus, enquanto um vento forte parecido com um tornado nos envolvia e eu sentia uma paz profunda, como se tudo fosse ficar bem. Vi que Mirian, Arte e Gaia me olhavam espantados. Ergui os braços e disse:

- Obrigado ar, você pode ir!Muito grato por ter seu calor fogo, pode ir agora! Água, agradeço por sua presença. Terra, obrigado por tudo, vá agora! Abençoados sejam.

Vi Arte ofegar e a olhei curioso. Sabia que as roupas de couro branco de gamo decoradas com vários simbolos, estavam em meu corpo, assim como fina faixa em minha testa, eu as sentia, pois desde que aceitei que sou um shaman e fazia uma convocação dos elementos, estas roupas apareciam em mim.Minha avó havia explicado que eram as roupas cerimoniais e inclusive sentia o arco em minhas costas.E eu só fazia estas convocações em momentos especiais, pois na maioria das vezes, eles vinham a mim naturalmente. Logo Arte, Gaia e Mirian se aproximaram e vi que elas usavam vestes de sacerdotisa e Mirian disse:

- Justin, estou espantada. Você domina os elementos com mais naturalidade do que eu esperava. E além disso, você sabia que quando conjura os elementos você muda de aparência? E não são apenas as vestes como Artemis, é espantoso.- E Gaia disse:

- Parece que quanto maior o poder que emana, mais adulto você parece, é como ver como você vai ficar daqui a sei lá...20 anos. E é interessante que vemos os espiritos de animais rodeando você, como o lobo, a raposa, águia, e até mesmo um urso enorme, era visível a troca de energia. – Eu sorri e disse:

- São os espíritos dos guardiões da tribo.Por isso é fácil me transformar em qualquer animal, eles me ajudam.

- E este arco em suas costas? Ele é simplesmente maravilhoso, parece cantar, mas não vejo a aljava com as flechas...- Disse Arte acariciando o arco em minhas costas. Eu sorri, me afastei dela um pouco, armei o arco e de minha mão se formou uma flecha de fogo e eu a atirei na para o alto, onde ela explodiu e eu disse:

- Quando for necessário, eu usarei uma aljava com flechas e também as transformações, mas hoje estamos aqui para treinar com os elementos e a nossa conexão com a natureza. Vamos começar?– Eu perguntei, e Arte assentiu entusiasmada.

- Vamos, o que quer que eu faça de início? – Ela perguntou, animada.

- Primeiro, antes que eu possa ensinar a você como comandar seus poderes, e antes também de que eu possa aprender algo com Chronos, quero determinar os elementos com que você tem maior afinidade.

- Quais os elementos que você considera? A forma de ver os elementos muda de cultura em cultura. – Gaia comentou, sabiamente. Eu olhei para ela antes de responder.

- Perfeitamente. Os gregos acreditam em quatro elementos e os chineses em sete, por exemplo. Minha tribo acredita em cinco: fogo, água, ar, terra e espírito. Sei que você poderia considerar a luz, as trevas e a energia como elementos também, mas vou tratar como se fossem cinco.

- A luz e as trevas fogem um pouco da definição de um elemento. Em todas as culturas, os elementos são aqueles que são capazes de formar todas as coisas. A luz, as trevas e a energia seriam entidades básicas, mas não formam coisas concretas. Estou de acordo com sua visão. – Chronos falou pela primeira vez e assenti. Ele era realmente sábio, muito mais do eu imaginava.

- Tudo bem. Como eu descubro isso? – Arte perguntou, agora séria.

- Eu posso ajudá-la. Quando estou assim, usando todos os meus poderes de Shaman, eu sou mais perceptivo aos elementos e aos sentimentos. – Eu falei e ergui uma sobrancelha, olhando na direção de Camelot. Agora eu percebia algo que me deixou assustado e preocupado. Era a presença de sangue. Chronos e Arte olharam na mesma direção e vi que eles sabiam de algo. Decidi continuar, deixando isso de lado. – Primeiro, deixe-me dar o meu exemplo: o elemento mais forte em mim e que tenho mais afinidade é com o Espírito. A grande rainha Arturia, pelo que vejo em Avalon e em você, tinha grande afinidade com o Fogo, por ser calorosa e poderosa como ele. Em primeira avaliação, alguém diria que você tem afinidade com o vento, pois é livre e feliz como ele.

- Porém, é apenas superficial. Os outros elementos tem maior afinidade com você. – Eu continuei. – Em você eu vejo o desejo de liberdade, de voar e de mudar como o Vento. – Assim que falei, uma esfera de vento surgiu em minhas mãos e a soprei para Arte. Um vento calmo rodopiou ao seu redor e ela fechou os olhos. Notei que ela começou a levitar alguns centímetros do chão, enquanto Mirian e Gaia estavam sérias, mas surpresas.

- Em seguida, o Fogo. Você é quente, cheia de vida e energia, capaz de tudo pelos que ama, seu coração é ardente. O Fogo que queima em você é intenso e poderoso. – Uma esfera de fogo surgiu em minhas mãos e ao soprá-la, ela tornou-se centenas de linhas de fogo, que rodopiavam Artemis.

- Agora, o Espírito em você é forte, antigo e poderoso. Você tem o dom para mudar e voar entre os mundos, sem ficar presa por limites. Você tem a capacidade de ultrapassar os limites desse e de todos os mundos. – Eu falei e de mim uma fina camada de energia incorpórea uniu-se ao fogo. Eu senti o crescimento do poder na Ilha, enquanto ela sentia a energia de Arte aumentar. Ela estava de olhos fechados, levitando em meio a um turbilhão de vento, fogo e espírito.

- Como a grande mãe Terra você nos dá apoio, carinho e nos sustenta. Você é a base para todos, amável e benigna. Você tem o dom de perdoar e de cuidar, mas também sabe ser rígida e punir com força. – Eu falei e esfreguei as mãos no vento, fazendo grãos de terra rodopiarem ao seu redor.

- Por fim. – Eu comecei, e a Ilha agitou-se, com as águas do lago agitando-se. – Aquele elemento que você é realmente unida. Você é límpida e clara, imensa e infinita, reconfortante e companheira. Você é capaz de purificar, de curar e de acalmar. Você é profunda, misteriosa, mas ao mesmo tempo simples e sincera. Você tem o poder da união, o dom para a proteção. A Água é seu grande elemento.

Eu não precisei fazer nada. Uma chuva fina começou a cair, enquanto as ondas agitavam-se. A chuva envolveu Artemis, rodopiando ao seu redor. Por fim, todos os elementos foram absorvidos por ela. Observei atônito quando partículas de luz, línguas de sombra e espirais de energia branca misturavam-se à ela. Eu nunca vira alguém capaz de estar em harmonia com todos os elementos, principalmente as trevas e a energia. Jamais alguém que tivesse afinidade com as trevas sem que tivesse o coração maligno. Mas com a Arte era diferente. Ela parecia capaz de equilibrar tudo. Não apenas tudo, mas todos. Eu sentia que ela era capaz de equilibrar o mundo, como se fosse sua pedra mestra.

A chuva parou e o céu voltou a ficar límpido, porém parecia mais claro e brilhante. Artemis desceu lentamente até o chão, e ao tocar o chão, abriu os olhos. Eles brilhavam em branco e transmitiam uma energia intensa, como eu jamais vi. Na verdade eu já havia visto, apenas em Chronos.

- Uau. – Ela falou, soltando um suspiro. Ela sorriu para mim e para sua mãe e prima.

- Justin, o que você fez foi magnífico! – Gaia falou admirada.

- Estou realmente admirada, nunca vi alguém capaz de controlar os elementos assim. – Mirian falou sorrindo. Eu sorri também.

- Eu apenas guiei os elementos a Arte, eles a encontraram por si só. Arte, você é incrível. – Foi o que consegui dizer. Ela sorriu sem jeito.

- Não, só fui capaz de fazer devido a você. Já que você fez isso, agora posso explicar. Sim, há sangue na Ilha. – Ela falou, com o semblante triste e sério. Mirian olhou para ela curiosa e preocupada.

- Como assim? – Gaia perguntou.

- Ao usar seus poderes de Shaman, Justin notou que havia sangue na Ilha. E é verdade. Houve derramamento de sangue aqui neste solo sagrado. Muito sangue. Sangue inocente e sangue sagrado.

- Mas por que? Esse local parede imaculado e ninguém pode entrar aqui. – Mirian falou.

- Não, mãe. Isso foi apenas depois da barreira. Arturia criou a barreira após esse derramamento de sangue, quando ela foi traída. Mordred invadira a Ilha e causara um massacre aqui. Foram assassinados camponeses, soldados, e o mais cruel de todos os assassinatos: o Rei. – Ela falou, com tristeza profunda nos olhos.

- Mordred... Esse nome tem crueldade. É um nome negro. – Eu falei com um calafrio percorrendo minha espinha. Senti que a pronuncia de seu nome fazia a Ilha tremer de raiva.

- É um nome maldito. Ele foi amaldiçoado por Arturia. Depois que ela destruiu sua traição, ela criou a barreira e deu início a retirada da capital para Londres, a antiga Londinium.

Arte estava muito triste e mudei de assunto, dizendo que já poderíamos começar a treinar. Ela sorriu agradecida e logo eu estava ensinando-a como convocar os elementos. Passamos ao menos duas horas treinando, duas horas de muito trabalho. Mas que valeram a pena.

--------------------------

- MORDRED! – Arturia gritou, avançando com Excalibur em punho. Seus inimigos fugiam dela, com medo por sua raiva e poder. Uma aura branca a envolvia, enquanto ao seu redor centenas de armas rodopiavam, junto de uma tempestade formada por raios, fogo, gelo e pedras.

- Ora, ora, ora. Chegou finalmente? Bem na hora de assistir! – Ele gargalhou. Ele estava diante do Rei. O Rei estava caído no chão, desarmado e arfando, enquanto Mordred estava de pé ao seu lado com uma espada de lâmina negra. O Rei olhou para Arturia, que corria colina acima na direção de Camelot. Ele olhou para ela com ternura e sorriu cansado, mas feliz.

Mordred segurou-o puxando seus cabelos e com força jogou- o para trás. Mas antes que o Rei pudesse revidar ou mesmo cair, Mordred perfurou seu peito com a espada. Ele gargalhava enquanto golpeava. Então, ele puxou a espada ao chutá-lo e cortou diagonalmente com a espada, abrindo um largo corte que ia do meio da barriga ao pescoço. O Rei caiu no chão sem vida.

O desespero surgiu nos olhos de Arturia e o seu ímpeto diminuiu, ficando paralisada, olhando aquele que ela amou por tantos anos. Lágrimas grossas surgiram em seus olhos, enquanto ela observava aquilo em câmera lenta.

Mordred gargalhou uma vez mais e apontou a espada manchada de sangue para ela.

- Agora, o direito de Rei é meu! E você é minha! – Ele falou, os olhos brilhando em negro.

- MALDITO! MALDITO! SEU NOME SERÁ APAGADO DA HISTÓRIA! – Arturia urrou.

Avalon tremeu e uma tempestade formou-se instantaneamente em seu céu. A aura de Arturia tornou-se mais intensa em um redemoinho de energia e os inimigos ao seu redor foram aniquilados por ela. Os olhos dela brilhavam em branco intenso.

Uma lança dourada surgiu em sua mão esquerda e Excalibur brilhou em prata em sua mão direita. Avalon inteira entrou em guerra, com suas defesas sendo reativadas por sua rainha. O chão se abriu, engolindo inimigos. As árvores ganharam vida e suas raízes e galhos perfuravam armaduras e estrangulavam inimigos. O fogo começou a rodopiar queimando todos os inimigos. Camelot tremeu e suas pedras voaram contra os invasores. O exército invasor foi rechaçado pela Ilha, enquanto Arturia voava com asas brancas na direção de Mordred.

Mordred preparou-se para a batalha, mas apenas a aura de energia de Arturia foi suficiente para destruir sua espada e jogá-lo contra os muros de Camelot. Camelot rugiu e os braços e pernas dele foram engolidos pelo muro. Seus olhos transmitiam pavor, enquanto Arturia aproximava-se em uma tempestade de fogo e destruição.

Ele usou suas últimas energia para fugir. Deixou para trás muito sangue e morte. E fez os exércitos de Arturia terem ódio em suas veias. Ela e eles iriam lutar até a morte para que ele fosse destruído. E ela só pararia ao ter o corpo dele perfurado por sua espada.

Texto escrito em conjunto com a And, mantendo o ponto de vista do Justin. Obrigado pela ajuda!