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Austrália, Final da Ginástica Rítmica

Se me perguntassem qual dia dentro das duas semanas de jogos eu senti mais frio na barriga, posso dizer com segurança que foi durante as apresentações da ginástica. Com a responsabilidade de ter treinado toda a equipe de Hogwarts, e ter preparado uma apresentação solo pra mim mesma, estava sentindo que poderia desmaiar a qualquer momento daquele dia.

Queria que Hogwarts batesse mais um recorde de medalhas como nas artes marciais e até o momento estávamos com chances de conseguir isso. Na Ginástica Artística Brittany já havia conquistado uma medalha de ouro no Salto sobre a mesa e Maya ganhou também ouro, mas na Trave, desbancando Gabi, que ficou com a prata. No masculino, todos os meninos de Hogwarts haviam ganhado uma medalha, mas as únicas de ouro ficavam com Dean, nas argolas, e Zach, Cavalo com alças.

Já na Ginástica Rítmica Brittany tinha mais uma medalha, mas de prata, se apresentando sozinha com as fitas e Ashley, sendo obrigada a admitir que eu estava certa, havia conquistado o ouro se apresentando com as maças. Deve ter custado toda a força de vontade existente em seu corpo, mas ela veio me agradecer por tê-la forçado a se dedicar àquele aparato.

Ainda faltavam as apresentações de solo na Ginástica Artística, mas seriam apenas no dia seguinte. Naquela tarde estava acontecendo a final da Ginástica Rítmica por equipe. No momento a equipe de Durmstrang estava se apresentando e Hogwarts era a próxima. Já havia visto EUA, Cuba e Rússia e só de pensar em como elas foram bem o frio na barriga aumentava, mas eu tinha confiança de que íamos vencer. As meninas eram ótimas e estavam preparadas.

- Elas foram muito bem! – Keiko comentou vendo as meninas de Durmstrang saírem do tablado - Quem é aquela loirinha? Ela é muito boa!
- Alexis Karev – Bela respondeu respirando fundo – Ela é a melhor ginasta delas.
- Vocês são melhores, parem de avaliar o adversário – reclamei e elas olharam pra mim – Esqueçam a apresentação dos outros, se concentrem na de vocês. Ensaiamos isso inúmeras e incansáveis vezes, vocês sabem toda a coreografia.
- Bota incansáveis nisso! – Arte revirou os olhos e rimos.
- É, sei que fui uma megera, mas quando vocês ganharem o ouro vão me agradecer. Agora subam lá e mostrem pra elas quem manda aqui.

O locutor anunciou a próxima equipe a se apresentar e as meninas se posicionaram para começar. Era uma coreografia complicada, mas que elas vinham executando com perfeição. A música escolhida era uma música eletrônica, algo fora do comum, e elas iam utilizar apenas 3 arcos e 2 bolas. A cada troca de aparatos, onde elas deveriam atirar eles umas para as outras, sentia meu coração vir na boca. Por mais que eu confiasse nelas, era inevitável pensar que se um escapasse, podíamos dar adeus ao ouro.

Mas elas não erraram. Nem mesmo um deslize quase imperceptível. A apresentação delas foi simplesmente impecável. As cinco estavam rigorosamente sincronizadas e rodopiavam e saltavam pelo tablado cheias de confiança, trabalhando muito bem com os arcos e as bolas. A cada troca entre os aparatos onde elas os recuperavam com naturalidade a torcida vibrava. Ao fim da apresentação, elas deixaram o tablado aplaudidas de pé.

- Passamos Durmstrang! – gritei apontando para o placar quando a nota delas saiu – Passamos por três pontos!
- Ah gente, esse ouro já é nosso, não tem como alguém tirar mais que 15! – Kaley abraçou Blair empolgada – Já ganhamos!
- Calma, vamos ver a apresentação das canadenses e das espanholas antes – falei cautelosa.

Mas ela tinha razão. Era praticamente impossível que alguma equipe batesse a marca dos 15 pontos e nenhuma bateu. Depois que as espanholas receberam a nota, um 11, começamos a comemorar pulando enlouquecidas nas cadeiras. Espanha ficou com o bronze e Durmstrang com a prata, mas o ouro era de Hogwarts.

Foi umas das melhores sensações que já tive, a sensação de dever cumprido. Como McGonagall queria, o ouro na Ginástica Rítmica era nosso. Agora só faltava a minha apresentação no solo para fechar aquelas Olimpíadas com chave de ouro.


O último dia de competições da Ginástica era também o último dia de jogos. Naquele mesmo dia à noite teria a festa de encerramento com um show da Orcs e da Tears of Blood, juntos. Mas até lá, tinha uma manhã inteira de apresentações de solo para a Ginástica Artística. Eu havia preparado dois números para me apresentar, mas tinha usado apenas um durante a fase eliminatória. Agora, esperando minha vez de me apresentar na final, repassava mentalmente os passos da coreografia que ainda não havia usado.

Minha apresentação seria a última e assistia ansiosa a apresentação de uma alemã de nariz em pé. Antes dela, Brittany se exibiu confiante no tablado. Ela havia se saído bem e naquele momento estava em primeiro no placar, o que só aumentava meu nervosismo. Não admitia perder justo para aquela patricinha nojenta. A menina da Alemanha encerrou a dança e quando saiu do palco, vi que sua nota não havia batido Brittany. Ela continuava em primeiro, seguida de uma romena.

Quando chegou a hora da minha apresentação e pisei no tablado de frente pra toda aquela gente outra vez, senti minha garganta secar. A última vez que havia competido valendo uma medalha de ouro tinha sido há cinco anos. A música, uma mistura dos ritmos brasileiros, e coreografia seriam as mesmas daquela apresentação onde ganhei minha última medalha no solo.

Quando a música começou e dei meu primeiro salto duplo, captei rápido o olhar da minha mãe na arquibancada e vi que ela se lembrava daquela apresentação. Ela sabia que eu estava repetindo minha última apresentação vencedora. A cada acrobacia em que eu cravava o pé no solo sem nem ao menos tremer a torcida de Hogwarts enlouquecia. Se já tivesse esse ótimo equilíbrio na época em que competia, teria vencido mais vezes. Foram cinco acrobacias diferentes, e na última consegui executar um salto triplo e parar exatamente na marca onde demarcava o fim da área de apresentação e que era extremamente difícil de atingir.

Mas quando meu pé bateu no tablado, eu ouvi o barulho do osso do meu tornozelo se partindo. Se eles não tivessem ficado mais resistentes depois da transformação talvez tivesse desabado naquele instante, mas consegui me manter na posição que deveria para demonstrar que a apresentação havia terminado e caminhei até a escada para sair do tablado devagar. Tinha medo de que minhas pernas me traíssem e eu caísse como um boneco de pano no chão, mas consegui chegar até a parte inferior e minha mãe já estava parada me esperando. Desabei em cima dela assim que ela segurou meu braço.

- O que aconteceu? – ela perguntou me amparando até as cadeiras – Percebi que tinha alguma coisa errada quando aterrissou do último salto.
- Meu pé, acho que quebrou – respondi com uma voz péssima, a dor não me deixava falar direito.
- Como está conseguindo andar se quebrou? – mamãe me colocou sentada no banco.
- Não sei, mas eu ouvi o barulho e achei que fosse desmaiar ali mesmo – e olhei para o placar.
- Você foi muito bem, não tem com o que se preocupar.
- Mas minha cara deve ter sido horrível quando bati no chão, eles descontam pontos pelas expressões.
- Bom, então o resto da sua apresentação compensou isso – ela apontou para o placar sorrindo – Sua nota foi a mais alta do dia.

Quando vi meu nome em primeiro lugar no placar, saltei da cadeira esquecendo a dor e pulei no pescoço da minha mãe, ao mesmo tempo em que a equipe de ginástica de Hogwarts invadia a concentração e pulava em cima de mim. Agora sim, a sensação de dever cumprido estava completa.

Quando chamaram de volta ao tablado para a premiação já não conseguia mais pisar no chão e tive que usar muletas. Foi até engraçado ver a reação das outras duas que perderam e eu caprichei na cara de “quebrei meu pé, mas ainda sou melhor que vocês”, especialmente porque Brittany teve que amargar um 2º lugar. McGonagall sorria satisfeita da base do tablado, havia conseguido exatamente o que queria.

Desci do tablado apoiada nas muletas e meu pai já estava parado junto à minha mãe, e os dois me levaram direto até a enfermaria. Uma péssima maneira de encerrar o que havia sido a conquista da medalha que eu mais cobiçava.