Friday, December 17, 2010 Voltar para Hogwarts e sermos recebidos pelos alunos que ficaram com festa foi ainda melhor que ganhar todas as medalhas que ganhamos. Depois de anos com Beauxbatons dominando o ranking, merecíamos aquela recepção calorosa. Mas a euforia de jogos passou logo, quando vimos a quantidade absurda de dever que haviam se acumulado nas duas semanas em que passamos longe das salas de aula. Já tínhamos matéria para estudar dos N.O.M.s que nos manteriam ocupados todas as horas do dia. Já estávamos contando os dias para as férias de Natal. Estávamos liberados para ir para nossas casas no domingo, mas sábado ainda teríamos uma visita a Hogsmeade. Todo mundo estava animado, ansiosos por aliviar um pouco a tensão dos estudos e apenas relaxar no vilarejo antes de ir para casa, mas eu não estava muito animada. Andava mal humorada, sem paciência pra nada e não agüentava mais estudar, então enquanto todos estavam na biblioteca correndo para terminar os deveres para o último dia de aula, eu estava jogava no sofá da Sonserina fingindo que lia um livro de Herbologia. - Você está no meu lugar. – ouvi a voz de Sheldon e encolhi meus pés, que estavam por cima do “lugar dele” no sofá, sem falar nada. Continuei fingindo que lia o livro, mas podia ver que Sheldon parecia incomodado no sofá. Já o conhecia o suficiente para saber que ele queria me falar alguma coisa que não o deixaria confortável, mas ele não sossegaria enquanto não falasse. Decidi não facilitar e deixar para ver quanto tempo aquilo duraria. Durou quase cinco minutos. - Você está chateada com alguma coisa? – ele perguntou finalmente. - Por que a pergunta? – respondi sem tirar o livro do rosto. - Você anda distraída e emburrada, não está com seus amigos e está fingindo ler um livro de cabeça para baixo para evitar conversa com as pessoas. - É, acho que não ando muito animada. - Devo fazer um chá? - Por quê? - Quando alguém está chateado, a convenção cultural é trazer-lhe bebidas quentes. - Não precisa, obrigada. - Isso, isso. - e Sheldon deu dois tapinhas no meu ombro. Era difícil ficar sem rir - Quer conversar? - Não. Estou bem, sério. - Bom. "Isso, isso" era tudo que eu tinha. - Sabe de uma coisa, Sheldon? - levantei do sofá rindo - Não me pergunte como, mas você melhorou meu humor. Até mais. - Sheldon For The Win – ouvi-o dizer enquanto saia do salão comunal. Sai do salão comunal decidida a espantar aquele mau humor e terminar o imenso dever de Herbologia. Se eu tinha alguma pretensão de seguir a carreira da minha mãe, aquela era uma nota importante. Quando ia entrar na biblioteca, esbarrei em Zach. Ele parecia cansado e vinha carregando três livros pesados e quatro rolos de pergaminho por cima deles, mas abriu um sorriso quando me viu. - Ah, Clara! Então, Hogsmeade no sábado? - Sim, tudo bem. - Sério? – o sorriso dele se transformou em uma expressão desconfiada, mas apareceu de novo quando eu assenti. - Prometi que não ia mais inventar desculpas e tenho palavra. - Ótimo então, encontro você no saguão de entrada às 10h. - Combinado – respondi sorrindo e ele ficou me olhando com uma cara de bobo – Agora preciso acabar o dever do professor Longbottom, nos falamos sábado. Ele me deu passagem e entrei na biblioteca, me juntando aos meus amigos na mesa mais próxima da porta. Claro que Haley, Keiko e Arte estavam de orelhas em pé ouvindo a conversa e não continham os sorrisos bestas quando me sentei, mas não me importava. Era hora de parar de tentar evitar o inevitável. ºººººº Sábado às 10h em ponto Zach estava me esperando no saguão do castelo. Despedi-me das meninas e caminhei com ele pela neve em direção ao vilarejo. Fazia um frio horroroso e a neve estava tão alta que nossos pés afundavam enquanto caminhávamos, então logo nos abrigamos dentro de um café. Zach não demorou nem uma hora para tentar me beijar e eu não tentei resistir, deixei rolar para ver até onde aquilo ia. Ele era bonito, legal, nos conhecíamos desde criança, então por que não me divertir um pouco? Já estava até começando a me arrepender por ter fugido dele tanto tempo e não ter aceitado o convite para sair mais cedo, mas o arrependimento não durou até o fim do dia. Aliás, o encontro não durou até o fim do dia. Poderia ter durado, se não tivéssemos inventado de conversar. - Connor não vai acreditar quando contar quem é minha namorada – ele falou me beijando e me afastei discretamente. - Que namorada? - Você. Estamos namorando, não? - Não! - Mas eu pensei que... - Zach, você está confundindo as coisas – me afastei mais um pouco – Eu aceitei sair com você, não namorar. - Mas por que não? Você gosta de mim, não gosta? – eu assenti, mas me arrependi em seguida – Então. Você sabe que eu sou apaixonado por você tem mais de um ano, por que não dar uma chance? - Porque não! – minha voz saia cada vez mais fina conforme o desespero ia tomando conta de mim – Não quero me comprometer com ninguém, não sirvo pra isso. - Como você sabe se nunca tentou? - Eu sei que não vai dar certo, odeio me sentir presa. Acho que isso foi um erro, melhor eu voltar pro castelo. - Clara! Ele tentou segurar meu braço, mas eu alcancei a porta depressa e voltei para o vilarejo. Pensava em voltar para o castelo, mas encontrei Haley e Arte sentadas sozinhas na rua com os cabelos cheios de neve e me juntei a elas. Não estava sendo um bom sábado só pra mim e passamos o resto da tarde reclamando dos garotos. Ainda bem que as férias começavam no dia seguinte, precisávamos dar um tempo de Hogwarts. ºººººº Antes mesmo do café da manhã terminar eu já estava arrastando meu malão rumo à estação de Hogsmeade com meus amigos. Estávamos todos ansiosos para ir para casa e descansar por três semanas, antes de voltarmos à maratona de estudos. Pegamos o último vagão, acomodamos todas as nossas bagagens e JJ já puxou um baralho de Snap Explosivo do bolso, enquanto Hiro, Arte, Rupert e eu saíamos para encontrar os outros monitores. A patrulha estava terminando e voltei com Hiro até o vagão dos monitores para avisar a Lizzie que íamos encerrar os trabalhos para aproveitar a viagem com nossos amigos, mas ela não estava lá. Hiro já estava na porta para sair quando o trem deu um solavanco violento e parou. Ouvi os alunos gritando nos corredores e barulhos de malas caindo antes dele voltar a andar normalmente, mas eu já estava em estado de choque. Só percebi que estava encolhida no banco e tremendo quando Hiro puxou minha mão me abraçou tentando me acalmar, mas eu não saia do lugar, estava imóvel. Podia ver que ele dizia algumas coisas tentando me tranqüilizar, mas tudo que eu conseguia ouvir era o barulho do trem tombando em Leeds e as pessoas gritando de dor para todo lado. Eu não consegui sair daquela posição enquanto o trem não parou em King’s Cross e vi a estação pela janela. As viagens tranqüilas no Expresso de Hogwarts tinham acabado ali. |