Sunday, January 23, 2011


Por Clara Storm Lupin

Logo depois que voltamos das Olimpíadas, Justin e eu lideramos uma excursão para levar a turma até o abrigo que encontramos no centro da floresta. Foi preciso levá-los lá à noite, mas já havia voltado lá na forma de lobo algumas outras vezes e não foi difícil encontrar o caminho. As folhas que usamos para cobrir a entrada estavam do jeito que havíamos deixado e Justin abriu a passagem para que pudéssemos entrar.

O lugar estava do jeito que me lembrava. Cheia de teias de aranhas, alguns móveis velhos e quebrados, os potes de cerâmicas lacrados com cera em umas estantes, muitos panos velhos comidos por traças e o cheiro forte de mofo. Todo mundo ficou parado olhando aquele espaço apertado, sem dizer nada por um tempo. Foi JJ quem quebrou o silêncio.

- Meio velho, não?
- Acho que precisa de uma reforma – Julian ergueu a sobrancelha.
- Reforma? – Keiko riu meio nervosa – Precisa ser jogado no chão e construído outra vez!
- Isso vai ser moleza – Jamal caminhou até o outro lado do abrigo – Algumas madeiras mais resistentes, umas cortinas com menos buracos, uma boa varrida nesse chão empoeirado, um pouco mais de iluminação e até consigo nos ver passando uma noite por aqui.
- Esse é o espírito, Jam! – falei animada, me juntando a ele do outro lado – Se dividirmos as tarefas, terminamos em algumas semanas.
- Gostei da idéia de fazer desse abrigo nosso Quartel General – Haley sorriu empolgada – Tem potencial pra render.
- Então mãos à obra, gente! – Justin disse animado.

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Depois das férias de Natal

A reforma no abrigo, agora chamado de Quartel General Maroto, estava indo muito bem. Já havíamos tirado praticamente toda a poeira dos moveis, varrido o chão e jogado as cortinas roídas por traças no lixo. Vasculhando os móveis encontramos alguns mapas e um diário muito velho, ficamos até com medo de tocá-lo achando que poderia se desmanchar.

Um dos mapas pareciam ser de Hogwarts, mas era uma Hogwarts completamente diferente da que conhecíamos, e haviam outros que não conseguimos identificar. O diário foi impossível de abrir. Na capa tinha algumas inscrições em uma língua que ninguém conseguia entender. Arte copiou as palavras para pesquisar na biblioteca da família, mas não encontrou nenhum livro que decifrasse aquela língua. Tentamos todos os feitiços que conhecíamos para abrir, Justin fez algumas coisas esquisitas com as mãos, mas ele nem se abalou. Por fim, decidimos deixá-lo guardado para se preocupar depois.

- JJ, cuidado com isso – Tuor advertiu, vendo JJ martelar a parede feito um louco – É pra arrancar a madeira, não destruir o abrigo.
- JJ! – Julian gritou, mas não conseguiu ser rápido.

Vimos quase que em câmera lenta JJ puxar um prego com força da madeira e quando o prego soltou, ele se desequilibrou e tropeçou pra trás. Ele caiu por cima de um sofá corroído e o martelo, ainda preso em sua mão direita, acertou uma parede no fundo. O buraco que se formou nela foi inevitável, mas ficamos surpresos em ver que a parede era oca. JJ levantou cheio de poeira do chão e nos aproximamos.

- Lumus – Hiro murmurou, apontando a varinha para o buraco recém-criado.
- Isso é uma... – Keiko começou a falar.
- Passagem secreta! – completei.
- Alguém tem idéia de onde ela sai? – Rupert perguntou.
- Só tem um jeito de descobrir – Jamal já se adiantou, sacando a varinha – Lumus.

Ele quebrou com o martelo mais alguns pedaços da parede e entrou no túnel, iluminado pela luz fraca da varinha. Não vimos alternativa senão segui-lo, e ninguém pensava em fazer outra coisa que não fosse descobrir onde aquele túnel ia sair. Todos iluminamos o caminho com as varinhas e seguimos em frente.

Era um túnel muito velho. Não precisou muito para deduzirmos que ninguém usava aquela passagem por muitos anos. Talvez séculos. Ele tinha as paredes todas cobertas com palavras na mesma língua do diário, pareciam encantamentos, embora não entendêssemos o que significavam. Em alguns pontos tinham o que pareciam estações, com um lampião enferrujado, destruído pelo tempo.

Ninguém marcou o tempo, mas tive a sensação de que andamos por quase uma hora. Quase o tempo que gastamos para chegar até o abrigo caminhando pela floresta. Encontramos outro diário caído no chão perto de uma das “estações”, e Arte o guardou na bolsa. Perto dele tinha outro mapa, de um lugar que também não reconhecemos, e Hiro ficou com ele. O dia seguinte seria de visita à biblioteca.

- Não tem saída – Tuor falou parando de repente e quase trombamos com ele.
- Tem que ter uma saída, não acredito que seja uma caverna! – Haley protestou.
- Procurem uma parede oca, essa deve ser a saída – Julian sugeriu – Se a entrada estava lacrada, a saída também deve estar.

Nos espalhamos pelo final do túnel tateando as paredes. Passávamos as mãos pela terra meio úmida pelo lugar ser fechado, mas nada parecia ser uma passagem. Alguns pedaços caiam quando batíamos, mas nenhum parecia oco.

- Achei! – Rupert gritou do outro lado – Escutem! – ele bateu na parede e ouvimos um barulho diferente.
- É oco, definitivamente – Hiro confirmou, ao lado dele
– Alguma idéia de como vamos abrir isso? – JJ perguntou – Deixei o martelo lá atrás.
- Deixe-me tentar uma coisa.

Justin se aproximou do lugar e pôs as duas mãos sobre a parede. Ouvimos ele falar alguma coisa em voz baixa, mas só Arte parecia compreender o que ele estava fazendo. Achei que nada ia acontecer, mas de repente uma luz escura saiu de suas mãos e a lama da parede começou a deslizar, como se estivesse derretendo. Recuamos alguns passos, incertos, mas depois de alguns segundos no lugar onde antes estava coberto de lama agora tinha uma porta. Ela era toda entalhada com os brasões das casas de Hogwarts.

- Como fez isso? – Keiko perguntou surpresa.
- Isso é história pra outra hora – ele sorriu e apontou a varinha para a porta – Alorromora.

A porta rangeu ao abrir, e quando conseguimos espiar dentro, outra surpresa. Era um lugar lindo. Entramos cheios de cautela, ninguém fazia a menor idéia de onde estávamos, mas não podíamos estar fora de Hogwarts. E alguma coisa não estava certa. Dentro da sala, tudo era gramado, tinha uma miniatura do lago do castelo ao fundo, uma mesa de pedra com quatro cadeiras também de pedra e o céu era... Azul. Estávamos no meio da noite, talvez já na madrugada, e estávamos debaixo de um céu tão azul que chegava a doer os olhos.

- Mas que diabos... – Julian olhava pro céu com a mesma cara de todos nós.
- Que raio de lugar é esse? – perguntei tão chocada quanto ele.
- Estamos fora de Hogwarts? – Haley já se alarmou – Ai Merlin, será que estamos longe? Se não acordarmos nos dormitórios, vão nos expulsar de vez!
- Se acalmem, não tem como estarmos longe, não andamos nem uma hora – Hiro tentou tranqüilizá-la – Estamos dentro do castelo.
- Como tem certeza disso? – Rupert perguntou – Sei que o céu do salão principal é encantado e tudo mais, mas isso não é a mesma coisa.
- Por que além de ter o símbolo das casas na porta, essa mesa tem as iniciais dos fundadores – Hiro passou a mãos pela mesa de pedra – GG, RR, HH e SS. Godric Gryffindor, Rowena Ravenclaw, Helga Hufflepuff e Salazar Slytherin.
- Estamos numa sala que os fundadores de Hogwarts pisaram? – JJ correu até a mesa e sentou em uma das cadeiras – Eles sentaram aqui?

No mesmo instante todo mundo correu para sentar nas cadeiras de pedra, e nos divertimos tanto nos empurrando para ocupar os quatro lugares que esquecemos o tempo. A reforma no abrigo já parecia algo muito distância, que tinha acontecido há dias, quando o relógio no pulso de Jamal começou a apitar. Aquele era o aviso de que já estávamos no limite para estar fora do dormitório.

- Temos que voltar agora – a voz dele era séria – Já passou de duas da manhã, se alguém acordar e não nos ver no dormitório, McGonagall não vai deixar passar.
- Uma hora de caminhada de volta, mais uma hora para sair da floresta – Julian calculou – Estamos fritos.
- Talvez não... – falei caminhando até uma árvore na beira do lago – Isso é uma porta?
- Merlin, isso aqui é o universo de Alice no País das Maravilhas! – Keiko exclamou e todo mundo riu – Portas, portas, portas!
- Cuidado, essa porta deve sair numa parte que conhecemos do castelo – Justin advertiu e assenti.
- Alorromora.

A porta rangeu como a outra e olhamos para o lado de fora com certo medo. Não sabíamos onde realmente estávamos e nem onde aquilo ia dar, mas para nosso alivio, reconhecemos o cômodo que estava do outro lado. Estávamos na única sala da masmorra que não era usada, que costumávamos brincar dizendo que era a câmara de tortura do Filch. Era uma sala vazia, com alguns armários velhos com frascos de poções que já deviam ter virado veneno. A sala ficava no corredor mais afastado das masmorras, onde só tinha ela e o escritório do professor Yoshi.

Concordamos em silêncio que a aventura havia terminado por aquela noite e cada um voltou o mais silenciosamente que pode ao seu dormitório. Não chegamos a lacrar a entrada do abrigo, mas amanhã poderia ir lá rapidinho como lobo e fazer isso. Agora tudo que tínhamos que fazer era absorver tudo que vimos naquela noite e começar a bolar um jeito de descobrir que língua era aquela, e como se abrir aquele diário. Se ele era dos fundadores, já estava me corroendo de curiosidade para saber o que estava escrito.