Sunday, January 23, 2011


Lembranças de Artemis A. C. Chronos

- Ué, Rupert, a Clara não vinha com você? – Eu fui a primeira a perguntar, enquanto Rupert se juntava a nós no nosso vagão. – Ainda não a vi hoje!

- Ele teve um problema, gente. Ela não conseguiu embarcar. – Ele respondeu, meio preocupado.

- E o que houve? – Hiro perguntou, também preocupado.

- Tio Quim apareceu e autorizou o uso de uma chave de portal, ai o Jamal foi com ela. – Rupert explicou. Ficamos todos preocupados com ela, mas como eu, Rupert e Hiro tínhamos que participar da reunião dos monitores deixamos nossos amigos conversando sobre isso. Prometemos que assim que chegássemos iríamos procurá-la.

No caminho até o vagão dos monitores, passei por Stefan e nossos olhares se cruzaram. Eu mantive o olhar, mas ele o afastou e notei que estava envergonhado. Não encontrei com Damon. Ainda não sabia o que sentir nem o que pensar dos dois. E a conversa com minha mãe me fizera pensar melhor nisso tudo. Além disso, o perigo que passei nesse recesso me fez pensar que eu deveria aproveitar o máximo e para isso deveria ser alguém que eu realmente amasse... Mas ainda não sabia, nem entendia o que era o amor que minha mãe falou.

**********

- Atenção alunos da Grifinória, sigam-nos por favor! – Eu falei no salão principal.

- As senhas do Salão Comunal foram trocados, por favor esperem. – James falou ao meu lado e começamos a levar os alunos até a torre. Eu ia cumprimentando todos, depois de me despedir de meus amigos que iam para suas casas.

- Artemis. – Alguém me chamou e me virei achando que era um aluno, mas era Damon. Ele parou do meu lado e do James e olhou meio sem jeito para mim. Nunca o tinha visto assim.

- O que foi, Salvatore? – Eu perguntei.

- Eu poderia falar com você? Não precisa ser agora, pode ser amanhã, ou quando preferir. – Ele falou, suspirando. Definitivamente não parecia o Damon e ergui uma sobrancelha. Eu olhei rapidamente para o James, que sorriu e continuou andando. Eu suspirei antes de responder.

- Tudo bem, amanhã conversamos. Boa noite, Salvatore. – Eu respondi e me virei. James me esperava perto da porta e riu quando cheguei perto, tentei ignorá-lo, mas acabei rindo também.

Naquela noite eu tive dificuldade de dormir e desci tarde da noite para o Salão Comunal, que estava vazio. Me sentei em um dos sofás diante da lareira e peguei meu pingente de lótus, presente dos meus pais, e fiquei brincando com ele em meus dedos olhando para as chamas e perdi a noção da hora. Cada vez mais eu me senti mais perdida e confusa e já não sabia mais o que sentia por Damon ou Stefan. Odiei admitir isso, mas era de Damon que eu gostava mais. Engoli isso, enquanto pensava que as garotas iriam adorar saber disso.

- Sem sono? – Eu me assustei com a voz e pulei no sofá, olhando em volta assustada. Tuor desceu as escadas dos dormitórios rindo.

- Você me assustou!

- Se assustando fácil assim? Deve ter peso na consciência! – Ele falou, sentando-se do meu lado. Eu dei um tapa em seu braço sorrindo e ele reclamou. – Ai, que recepção hein!

- Eu já te dei um abraço no trem, essa é toda a recepção calorosa que vai receber de mim! A partir de agora é na base do tapa se me perturbar! – Eu falei rindo e ele riu também. Mas, recostei minha cabeça em seu ombro. O Tuor era tão diferente de todos os garotos. Com Hiro, Justin e Julian eu também me sentia bem e procurava o colo ou o ombro deles quando precisava também. Mas com Tuor era diferente, eu me sentia melhor e mais acolhida perto dele.

- E então, princesa, o que tem na cabeça? – Ele perguntou e eu suspirei.

- Muitas coisas e nada ao mesmo tempo... Não fiz o menor sentido, não é?

- Nenhum! Está andando demais com o Chronos. – Ele falou rindo e ri com ele, já me sentindo mais leve. – Você gosta mesmo de flores, né? Nunca tinha percebido esse seu colar.

- É um pingente que meus pais me deram. – Eu falei, me sentando e tirando o cordão do pescoço, mostrando a ele, animada. – É um fragmento da Pedra de Isís que minha mãe ganhou do próprio Dumbledore! – Eu falei animada e vi ele arregalando os olhos.

- Sua mãe conheceu Dumbledore?!

- Não tem jornais na Noruega?! – Eu perguntei rindo. – Mamãe foi aluna particular dele e ela participou da Ordem. Ele deu isso de presente a ela quando ela se formou. Desde então, ela e papai fizeram pingentes para mim e meus irmãos dessa pedra. Ela nos protege e nos mantém ligados a mamãe.

- Ser de uma família de aurores e guerreiros deve ser difícil. – Ele comentou admirado.

- Um pouco. – Eu falei. Nessa hora as lembranças da caçada me vieram a mente e senti aquele medo novamente.

- O que houve? – Ele perguntou preocupado. Eu senti lágrimas nos olhos ao lembrar de tudo e contei para ele tudo que aconteceu no Natal. Contei dos ataques à minha prima e contei da caçada. Ele me ouviu calmamente, mas vi que seus olhos transmitiam preocupação e medo. – Por Odin!! Isso é muito para você, tem certeza?

- Tenho... Quero seguir os passos de meus pais e ajudá-los a enfrentar esses seres malditos! – Eu falei determinada. Ainda haviam lágrimas nos meus olhos, mas estava mais calma. Ele enxugou minhas lágrimas com um lenço e me deu o lenço.

- É admirável... Mas sei que vai se sair bem. Eu apoio você! – Ele falou alegre e sua alegria passou para mim, que sorri. – Mas não é só por isso que está acordada. É o Damon, não é? Vi ele falando com você.

- Você me conhece muito bem, hein. – Eu falei, sorrindo.

- Estou do seu lado há 2 anos!

- É ele sim... Odeio admitir mas é dele que gosto mais... – Eu falei baixinho e vi quando ele amarrou a cara.

- Logo dele? Aff.. Tudo bem, eu disse que ia te apoiar em tudo e vou, apesar de ser contra. Por que não investe nele então? Sei que você seria capaz de dar um jeito nele fácil. E sei também que se ele gosta mesmo de você, no momento em que você der uma chance a ele, ele jamais chegará perto de outra garota. – Eu fiquei vermelha enquanto ele falava.

- A questão é que já não sei mais... Tuor, eu quero um relacionamento de verdade. Quero que seja algo bonito, quero que seja amor de verdade.

- Você não precisa achar isso agora. Dá uma chance ao Damon então. Conversa com ele.

- Eu vou pensar... Mas também não sei se quero ter um relacionamento com o Damon. Gosto dele, mas não é de verdade... E tem o Stefan... Não queria magoá-lo.

- O Stefan tem que aprender a perder. Ele que fez besteira em não confiar em você, mesmo que as suspeitas dele estivessem certas. – Ele falou acusador, mas o jeito como ele falou não me magoou e sim me fez rir e ele riu junto. – Vamos dormir? Amanhã você conversa com o Damon e vê o que você quer.

- Obrigada. O que seria de mim sem você hein? – Eu falei e ele riu antes de responder.

- Seria uma princesa mimada e perdida. – Ele falou e eu dei outro tapa em seu braço. Ainda o ouvi rindo subindo a escadas. Só quando deitei na cama para dormir percebi que estava com seu lenço. Acabei dormindo com o lenço na mão e lembrei de algo que meu pai havia me dito quando era pequena, ao contar-me uma história: “às vezes o amor está bem a sua frente, você que não consegue ver”. Não sei porque pensei nisso, mas acabei dormindo sem muito mais pensar.

*************

- Podemos falar aqui. – Eu falei, virando-me para ele. Estávamos nos jardins, perto das estufas. Dois dias depois da volta as aulas, eu procurei Damon no café da manhã e disse que poderíamos conversar. Antes pedi aos garotos que não deixassem Stefan ver. Teria como conversar com Stefan depois. Eu ainda estava confusa, mas começava a pensar em não ter nada com nenhum dos dois e me deixar sozinha mesmo. Eu precisava me encontrar antes de procurar alguém. Mas sei que muito dependeria dessa conversa com o Damon.

- Obrigado por aceitar falar comigo. Sei que tenho sido um completo idiota e que não merecia sua atenção. – Ele falou, sendo direto. Ele parecia diferente, parecia até mais maduro.

- Então não me faça me arrepender. – Eu falei baixinho, mas ele ouviu e me olhou com gratidão nos olhos.

- Arte, deixe-me chamá-la assim ao menos hoje, eu queria muito conversar com você e por favor me deixe terminar de falar antes de brigar ou até me bater. – Ele falou e eu assenti. Ele suspirou, pegando fôlego para começar a falar. – Olha, eu sei que sou um egoísta, arrogante e metido, sei de meus defeitos. Mas também sei que estou completamente apaixonado por você. Nunca uma garota mexeu tanto comigo quanto você e nunca uma garota me fez sentir o que senti quando te beijei. Mas justamente por causa do que sinto por você, sei que devo me afastar. Eu estou apaixonado por você, mas não sou bom o bastante para você. Meu irmão é. Ele ama você tanto como eu, mas ele lhe será mais carinhoso e educado... E por mais que eu implique com ele, jamais quis fazê-lo sofrer como tenho feito. Nunca quis que nenhum de vocês sofresse... Me desculpa. – Ele terminou de falar com uma voz fraca, mas decidida. Senti que haviam lágrimas em meus olhos e um nó na garganta, mas engoli em seco e fiz a primeira coisa que me veio a mente: o abracei. Naquele abraço vi o quanto ele havia mudado e amadurecido em tão pouco tempo. O Damon de antes teria visto isso como um sinal e tentaria me beijar, mas esse novo Damon não tentou nada disso. Ele me abraçou de volta e mergulhou seu rosto em meu cabelo. Senti que havia angústia e remorso em seu coração, mas senti que ele estava se sentindo mais leve. O abracei até ter certeza que isso tudo tinha sumido e me afastei.

- Damon, você está errado ao dizer que não seria bom o bastante para mim, você me provou isso agora. Eu é que acho que não seria bom o bastante para você, ou seu irmão. Eu conheci sua amiga Leonora e agora eu posso ver o que ela vê ao estar com você. Você é um grande homem, que se esconde por trás dessa fachada de arrogante. Vou ser sincera com você: eu percebi que gosto de você, mais do que de seu irmão. – Vi quando seus olhos se arregalaram, mas levantei a mão. Mesmo assim ele nada tentou. – Mas não me sinto boa o bastante para você... Ainda não consigo me decidir entre vocês dois, na verdade, eu acho que posso estar gostando de outra pessoa. E não é justo com nenhum de você dois enquanto eu estiver confusa assim...

- Essa pessoa será alguém de sorte. Tenho minhas suspeitas, viu? – Damon sorriu e isso abalou meu coração. – Arte, eu jamais esquecerei você. Mas se você diz que não quer nada comigo agora, eu aceito. Aceitarei também se decidir ficar com meu irmão ou mesmo com outra pessoa. Mas jamais te esquecerei. Você me fez ver muitas coisas e sentir muitas coisas que nunca senti ou vi.

- Você também me fez isso. – Eu admite e nos abraçamos novamente. Eu beijei seu rosto de leve e ele beijou meu rosto também.

- Amigos, ao menos? – Ele perguntou e eu disse que sim. Ele sorriu, um pouco cansado até, mas aliviado.

- Me diz, como o Stefan está? - Eu perguntei e nos sentamos em um banco. – Não queria magoar vocês dois.

- Ele está magoado mais com ele mesmo do que com você... Está certo que eu errei ao me passar por ele, mas ele não admite ter acusado você... O Natal foi estranho. Nós nos afastamos e pela primeira vez passei o Natal fora de casa. Senti falta deles.

- Olha Damon, não quero que vocês fiquem assim, vocês são irmãos e dou muito valor a família. Hoje eu vi o quanto se importa com seu irmão, então quero que se ajudem e você ajude ele, pois acho que você é mais forte do que ele.

- Vou tentar. Depois dessa conversa com você, apesar do imenso fora que eu levei, estou me sentindo bem... – Ele falou rindo e se levantou. Ele esticou a mão para mim e me ajudou a me levantar. – Já pensou em trabalhar como psicóloga? O St. Mungus está precisando, tem muito maluco precisando de ajuda lá.

- Não fale besteira! – Eu falei e dei um tapa em seu braço. Ele riu.

- Tinha esquecido como você é forte. Aquele soco no seu 3º ano doeu muito, sabia? – Ele falou, massageando o rosto e riu.

Eu me sentia leve. Jamais esqueceria o Damon também, pois acho que foi o primeiro garoto que gostei de verdade, mesmo que tenha demorado a admitir. Cresci muito por causa dele e do irmão. Mas acho que era uma etapa da minha vida que eu precisava ultrapassar. Eu ainda precisava falar com Stefan, mas eu ainda estava ressentida com ele e não sei quando falaríamos. Acho que eu seria capaz de dar outra chance a ele, mas começava a pensar que não... E ainda havia aquilo que eu sentia em meu peito, que eu podia estar gostando de outra pessoa... Ai droga...Tenho que me encontrar antes de mais nada.

**************

Conversa de Tuor e Keiko ao mesmo tempo em que Arte e Damon conversam

- Ai Keiko, a Arte está muito confusa! Ontem a noite ela ficou acordada até tarde pensando nessas coisas. – Eu falei preocupado, enquanto conversava com Keiko.

- É difícil saber qual das duas está mais confusa: Clara ou Arte. Elas geralmente são os nossos assuntos nas reuniões das garotas, junto é claro da cabeça-dura da Haley. Francamente, como essas garotas conseguem ser tão complicadas? – Keiko respondeu indignada, sentada ao meu lado e eu ri alegre. Nós estávamos sentados nos jardins, apenas conversando. Desde que ficamos, nós nos aproximamos muito e muitas vezes ficássemos assim sem fazer nada, apenas conversando. Já tinha um certo tempo que não nos beijávamos. - Tuor, conta a verdade pra mim, você gosta da Arte, não gosta? – Keiko perguntou do nada, me fazendo engasgar.

- Do que você está falando?! – Eu perguntei chocado.

- Você sabe muito bem do que! – Ela falou, rindo. – Você gosta da Arte e não como amiga.

- Você também! Andou conversando demais com a Tricia. – Eu falei desviando do assunto. Na verdade, eu odiava admitir, mas eu mesmo não sabia mais.

- Tuor, nós já ficamos e somos amigos. Eu te conheço bem e sei que tem algo ai. – Ela falou me olhando com algo nos olhos. Não era curiosidade, parecia até preocupação e carinho. Eu suspirei.

- Eu sei disso, e eu confio em você, Kika. A questão não é essa.

- Viking, eu pergunto isso porque me importo com você, e com ela também. Vocês fariam um par lindo. Já fazem. – Ela falou e eu acabei ficando vermelho. Ela sorriu vitoriosa.

- Ta bem, Kika eu falo. A verdade é que eu não sei... Comecei realmente a sentir algo por ela nas Olimpíadas. Acho que de tanto enfiarem isso na nossa cabeça, Tricia, Turin, Milena, você, Clara e Justin, algo nasceu em mim. Justamente por isso estou confuso. E ela namora um amigo meu. E eles estão passando por um momento delicado.

- Stefan é o menor dos problemas. – Ela falou balançando a mão como um leque. – Quero dizer, se for mesmo para vocês dois ficarem juntos, vocês vão ficar. E é normal você ficar em dúvida. Mas quero que pense nisso com carinho.

- Eu vou pensar...

- Tuor. – Ela perguntou, agora com a voz mais profunda, quase triste. – E sobre o ano que vem? O que vocês falaram disso?

Eu não consegui responder e fiquei calado, encarando o céu.

- Como imaginei... – Ela suspirou e segurou minha mão, passando a olhar o céu junto de mim.