Saturday, April 23, 2011 - Estão prontas? Assentimos animadas e tio Ben enfeitiçou nossas malas. Era sexta-feira à noite e estava no saguão de entrada com Haley, Keiko e Elena e estávamos prontas para partir para o nosso fim de semana de folga em Londres. Arte era minha opção inicial para completar o grupo, mas Chronos não a deixava faltar um treino sequer, então Elena entrou em seu lugar. Nos despedimos dela e dos meninos, que iam ficar pelo castelo, e tio Ben nos levou embora por uma chave de portal. Caímos em frente ao Crowne Plaza London St James, um hotel 4 estrelas escolhido por ele para aproveitarmos o fim de semana. Fomos direto para a recepção e ele fez o nosso check-in. - Por favor, comportem-se. Vocês vão ficar sem supervisão, o que significa que, tecnicamente, podem fazer tudo, mas confio que não vão aprontar nada. Não são mais crianças. - Não se preocupe, tio – rimos – O hotel vai estar inteiro domingo. - Assim espero – ele beijou cada uma de nós na testa e se afastou – Volto para buscá-las no domingo, às 16h. Ele aparatou e olhamos ao redor do hotel luxuoso. A recepcionista nos avisou que um jantar já pago por ele estava nos esperando no salão e sorrimos. Aquele fim de semana ia ser bom. ºººººº Sábado de manhã, enquanto tomávamos café, descobrimos que aquele hotel era também um SPA. Keiko se animou na mesma hora, mas nem foi preciso fazer algum discurso para nos convencer de usufruir dos benefícios de um SPA. Quem ia dispensar um dia inteiro sendo paparicada de todas as formas possíveis? Passamos o dia todo recebendo massagens de todos os tipos, fazendo unha, relaxando em hidromassagens e tudo que tínhamos direito. Nunca me senti tão calma como estava me sentindo naquele momento. Passei meses em treinamento com tio Seth para manter meu temperamento sob controle, quando poderia ter gastado apenas algumas horas sendo massageada por um japonês e tudo estaria resolvido. Estávamos tão relaxadas e molengas graças às regalias do hotel que ninguém se animou em sair à noite. Sabíamos também que não teríamos muito que fazer na rua, já que tínhamos 15 anos e não permitiam nossa entrada em nenhum pub, então decidimos fazer uma festa no próprio hotel. Liguei para Nigel, o único que sabia que podia contar, e ele apareceu no hotel para nos visitar com a mochila lotada de bebida. Fomos advertidas de que se alguma coisa desse errado era pra esquecermos que tínhamos o procurado e ele foi embora, nos desejando uma boa diversão. Ligamos para a recepção do hotel e pedimos algumas pizzas, ligamos a TV em um canal de música e começamos a festa. Éramos nós quatro e nossas companhias masculinas: Jack, Johnny e José. Nunca tínhamos bebido nada além de cerveja amanteigada, então não foi preciso mais que uma dose de cada um para já estarmos rindo à toa. Lá pelo meio da noite Keiko sugeriu brincarmos de verdade ou conseqüência, e como ninguém estava raciocinando direito, topamos. Sóbria eu jamais aceitaria. A brincadeira acabou virando “Confesse um segredo”, e cada uma teve que contar alguma coisa que ninguém soubesse. Lena foi a primeira a chocar todo mundo, contando que havia ficado com Damon depois que Arte deu um fora nele e no irmão. - Confesso que sinto ciúmes do J.J. – Keiko soltou do nada e olhamos para ela espantadas - Ainda não sei se são somente ciúmes saudáveis, como os que amigos-irmãos sentem uns dos outros. Mas, como isso só fica muito evidente para mim quando ele está com outra garota, mesmo que só conversando, talvez não sejam tão saudáveis assim... - Bom, já que você admitiu isso... – falei sem graça, sem acreditar que estava prestes a contar aquilo – Hiro e eu nos beijamos no Halloween. Não foi nada demais, estávamos conversando e no minuto seguinte nos beijando, mas não passou disso. Concordamos que foi muito estranho e que não íamos mais falar sobre o assunto. - Justin e eu já chegamos à 2ª base – Haley falou séria, meio em dúvida se devia mesmo ter contado. - Isso não é muito uma surpresa, não é? – Keiko riu – Justin tem a mesma fama que o Jamal. - Tem diferença entre os dois, Jamal jamais pensaria em sossegar e namorar alguém – Lena defendeu Justin – Justin é até um pouco romântico, me pediu pra comprar uma caixinha de música bem feminina para... Mas Lena não conseguiu completar a frase. Haley levantou da almofada furiosa e começou a reclamar dele. Olhávamos para ela sem muita reação, porque foi tão repentino e ela estava tão engraçada falando sozinha que não queríamos interromper. Ela já estava um pouco estressada com ele, foi a brecha que precisava para vomitar tudo que queria. - Justin é um presunçoso, arrogante e pensa que pode regular as minhas amizades... E ficou todo nervosinho quando eu ousei contrariá-lo. Graham sempre será meu amigo... Mas eu ser maluca pelo índio o faz cair em si e não ser inseguro? Não, claro que não, não é suficiente. Ele tem que receber atenção de outras garotas... Como se fosse um lampião e as mariposas estivessem ao redor dele. E fora as manias dele de bancar o super protetor: 'não se envolva com esta fantasma, ele é forte demais para você... Hoje nós vamos ficar deitados aqui no alto vendo as estrelas... - Ele é o seu lobo... – falei alto, mas não achei que ela fosse ouvir. - Está vendo como ele não me conta tudo? E ainda quer ficar me controlando? Babaca arrogante, com mãos de polvo... - É, ele é dos ligeiros... – Lena provocou e ela olhou feio. - Você nunca esteve num banheiro feminino com algumas das ex dele... Mas eu ligo? Claro que não. Tanto não ligo que aposto que esta caixa é pra Clara e não vou ficar frustrada e fazer picadinho dela. - Haley, deixa de ser idiota, é claro que essa tal caixa não é pra mim! - Justin nasceu na tribo errada, devia ser chamado de sultão se todas nós déssemos em cima dele como você pensa – Lena revirou os olhos - E até parece que a Clara tem cara de quem curte caixinha de música – Keiko debochou e rimos. - Se o seu irmão der a caixinha, ela vai curtir – Lena olhou pra mim com uma cara sonsa. - Haley está desabafando, não interrompam. - Espera ai, você corou? – Keiko me olhou chocada. - É a bebida, sou muito branca. - Você acha mesmo que ninguém percebe o jeito que você olha pra ele quando ele está com a namorada? – Lena insistiu. Se não tivesse tão bêbada tinha voado no pescoço dela. - Ok, eu talvez sinta um pouco de ciúmes, mas ele é meu amigo e ela é uma idiota, não gosto mesmo de ver eles juntos. - Tubo bem, tubo bem – Keiko me abraçou chorando – Eu não entendo, mas se você gosta do meu irmão, eu vou aceitar. - Keiko, para de chorar – Tentei afastá-la, mas Keiko estava atracada no meu pescoço. - Eu amo você, amiga – Keiko não parava – Não poderia ter pedido por uma cunhada melhor. - Também amo você, mas eu ele não quer nada comigo – Agora eu chorava também e nem sabia o porquê – Sua cunhada é a Brittany. - Porque temos que nos interessar por quem não nos quer? – Lena nos abraçou, também chorando. - Claro Julian, termos ficado juntos e eu ter adorado não o faz o meu amor secreto – Keiko imitou Lena falando e caímos na gargalhada, parando com a choradeira. Quando conseguimos parar de rir, Haley ainda estava falando sozinha sobre os defeitos de Justin. Peguei um travesseiro da cama e acertei-o com força no meio da sua cara, o que a fez perder o equilíbrio e cair por cima das malas. Ficamos paradas esperando ela levantar, incertas de como reagiria, mas Haley levantou já com um travesseiro em cada mão e atirou contra nós. Não era preciso dizer nada para saber que estávamos começando uma guerra de travesseiros. Passamos mais de meia hora nos espancando com as almofadas, rindo até perder as forças e gritando feito quatro loucas enquanto corríamos pelo quarto passando por cima das camas e pisando nas malas e caixas de pizza. A brincadeira foi interrompida quando Keiko largou as almofadas e enfiou a cara na lixeira, vomitando. Foi reação em cadeira. Quando vimos Keiko vomitar, todas começaram a se sentir enjoadas. Haley correu pro banheiro e vi de relance que ela não vomitou no vaso, mas sim na pia. Lena ficou correndo feito uma barata tonta no quarto tentando encontrar onde vomitar, até que decidiu que o melhor lugar para isso era dentro da sua mala. Eu estava desorientada e não conseguia pensar, então corri para a janela pensando em tomar um ar e acabei vomitando do alto do 14ª andar no pátio do hotel. Ninguém tinha forças para fazer mais nada depois do festival de vomito. Cada uma deitou em um espaço no chão do quarto para descansar e depois de um tempo, acabamos pegando no sono. ºººººº Acordar no dia seguinte à festinha foi a pior sensação do mundo. E pior ainda foi acordar tendo dormido no chão, sem um travesseiro ou cobertor, com a mesma roupa amassada da noite anterior e os cabelos um verdadeiro horror. A janela dormiu aberta e meu pé estava molhado da chuva que entrava por ela. Chovia muito lá fora, não tinha a menor condição de sairmos. Na verdade, teríamos sorte se conseguíssemos levantar daquele chão. Ninguém desceu pra tomar café. Comemos os pedaços de pizza que sobraram da bagunça e depois de algumas horas de tédio, Haley sugeriu que brincássemos com um tabuleiro de ouija que tínhamos encontrado no dia anterior no salão de jogos do hotel. Num dia normal eu jamais teria topado, mas estava com uma dor de cabeça tão grande e incapacitada de argumentar que acabei concordando. Mesmo sem conseguir raciocinar direito, consigo dizer que aquilo foi uma idéia pior do que encher a cara. A brincadeira tinha começado há cinco minutos e tinha um suposto espírito movendo o objeto, e de repente Haley arregalou os olhos como se tivesse levado um susto e desmaiou. ((Continua com um texto da Haley...)) |