Monday, June 06, 2011 Lembranças de Artemis Arashi Capter Chronos “There’s a bit of evil in all of us. What make us good is how we use it.” – Fonte desconhecida. - Você achou que eu não notaria? – Eu falei, fechando a porta atrás de mim. Antes de entrar eu sabia que o banheiro estaria vazio, já que muitos começavam a evitá-la desde que tudo começara. Também faria com que ninguém entrasse até eu ter terminado. - Não entendi, Arte, algum problema? – Haley, ou melhor, o ser que estava tomando seu corpo, falou, enquanto passava uma nova camada de um batom forte que a Haley verdadeira jamais usaria. Ela olhava através do espelho para mim com um sorriso sarcástico, que me deu raiva. - Eu vou perguntar uma única vez: quem ou o que é você? – Eu falei, após ir até ela e segurar seu pulso com força. Ela soltou um barulho de dor, que soou muito falso, mas eu afrouxei o aperto, pois sabia que aquele ainda era o corpo da minha amiga. - Eu sou a Haley, oras, está precisando de mais companhia masculina, Arte... – Ela falou, rindo e olhando em meus olhos. - Não me chame de “Arte”, espírito. Eu posso ver claramente através de você. – Eu a encarei com força e tentei me comunicar com o espírito de Haley ou expulsar o espírito dali. Ela ficou por uns instantes com medo no olhar, mas logo depois começou a rir. No momento em que meus olhos se encheram de perplexidade. - Ora, ora, ora, é interessante... – Ela falou, a voz soando diferente da voz normal de Haley e soltou sua mão. Ela deu um passo atrás e nos encaramos. – Quer dizer que a “tão poderosa” Sacerdotisa Artemis nada pode fazer comigo? Se eu soubesse antes teria tentado mais cedo. - Eu posso não ter os poderes para tirá-la de dentro do corpo de minha amiga, mas não vou te deixar impune. – Eu falei e senti minha aura crescendo, mas o espírito continuou rindo de mim. Chronos me disse para ter cuidado, ainda era o corpo de Haley e ela poderia tentar fazer algo com ele. Ele me recomendou que a deixasse ir. - O seu amiguinho tem razão, deveria me deixar em paz. – Ela falou, indicando com a cabeça Chronos. – Acredite garota, ninguém vai me tirar desse corpo e eu vou aproveitá-lo até que chegue a hora dele. A forma como ela falou aquilo me gelou na mesma hora. Ela sabia. Tive mais certeza ainda quando ela voltou a sorrir, um sorriso frio, mas cheio de escárnio e vitória. Ela se aproximou lentamente de mim, e ficou a poucos passos de mim, ainda sorrindo. - Eu sei do segredinho que você e aquele Shaman escondem dos demais. Eu vivi muito como um espírito errante e aprendi muito. Alguns espíritos sabem o que está para acontecer e não sabe como estão felizes... Uma Mediadora e uma Sacerdotisa mortas... Isso será maravilhoso demais. E após isso, aquele Shaman não suportará e nós teremos como agir livremente. Pena que, como é mesmo o nome? Ah sim, Cadarn, nada percebeu ainda... Ele é um necromante poderoso é verdade, mas usa os espíritos apenas como combustível e não como aliados. Pois seria maravilhoso se ele soubesse. - Se você falar algo a ele ou a qualquer outro, espírito imundo, eu juro por Chronos que vou queimar sua essência e apagá-la de todas as camadas existentes. – Eu falei e senti o poder daquelas palavras. Voltei a apertar o pulso de Haley e senti meu poder queimando o espírito, não Haley, mas o espírito. Aquele espírito sentiu medo, mas depois sorriu, pois sabia que eu não poderia fazer mais nada contra ela e ela já se recuperara. - É o que veremos, Sacerdotisa. – Ela falou, curvando-se para mim com um sorriso e saindo do banheiro, gargalhando. Eu fiquei no banheiro parada de pé por alguns instantes, mas assim que ela saiu eu comecei a tremer e me sentei no chão. Ela sabia. Um dia antes – Avalon Chronos me acertou um soco forte no peito e eu fui jogada para trás. Eddie aproveitou a brecha que ele abriu com o golpe e saltou sobre mim, apontando as garras para minha garganta. Eu respirava com dificuldade, em respirações rápidas e olhava para aquelas garras afiadas, enquanto Eddie me olhava sério, antes de se afastar e me ajudar a se levantar. Eddie voltara no dia seguinte a deixar Fidelus na Ilha comigo, e Chronos decidira pedir que ele me ajudasse a treinar. Estávamos a pelo menos 2 horas lutando, eu, Eddie e Chronos, com o objetivo de aumentar minha velocidade e habilidades de batalha. E como eu apanhara. No início eu me saíra bem, mas depois de 2 horas usando meus poderes, estava um caco. - Você está usando demais seus poderes ainda no começo dos combates. Deve se guardar mais. – Eddie falou, enquanto me ajudava a me levantar. Eu assenti e dei uma rasteira nele, aproveitando a sua guarda baixa. Ele praguejou, sabendo que o erro fora dele. Eu desci meus punhos rapidamente sobre ele e acertei um golpe forte em sua barriga, para em seguida acertar seu pescoço com um golpe rápido, enquanto pedia desculpas. Ele fechou os olhos, entregando-se, pois sabia que se ele fosse humano eu o teria derrotado. Mas Chronos se aproveitou dessa pequena luta e lançou contra mim uma dezena de flechas, me obrigando a me esquivar e conjurar escudos. Eu tentei ganhar terreno me afastando dele, mas ele logo me seguia, sem me dar trégua. Enquanto isso,Eddie voltava para fora da barreira do salão de treinamento, juntando-se a mamãe e Tuor. Mamãe assistia a luta animada e orgulhosa, eu podia sentir isso, e Tuor, por mais animado que estivesse, continuava preocupado comigo. Fidelus estava com eles, deitado e me observando de forma curiosa. Vi que ele queria estar lutando ao meu lado, mas sabia que eu precisava treinar sozinha. - Ela está ficando boa, Mirian, muito boa. A evolução de seus poderes é de uma forma como eu nunca vi. – Eddi falou e mamãe sorriu, enquanto Fidelus parecia encher o peito. - Sim, e ela cresce cada vez mais... Eu estava cansada era verdade, mas queria continuar lutando o máximo que eu pudesse. Minhas espadas surgiram em minhas mãos e iniciei uma série de golpes contra Chronos, e, seguindo as recomendações dele, comecei a me mexer mais. Cada golpe meu era fluído e seguido por um logo em seguida, tentando abrir brechas. Mas Chronos era um lutador fenomenal e bloqueava meus golpes apenas com as mãos, que brilhavam em dourado. Eu aprendi que a cor de seus punhos influenciava na potência deles: o vermelho era o punho ofensivo, o verde o de cura, o azul de agilidade, o dourado de proteção, o branco de intensidade. Finalmente consegui abrir uma brecha e cortei com as duas espadas lateralmente, mas no último instante modifiquei a trajetória de uma delas em poucos graus e Chronos foi obrigado a sacar Lognus para se proteger. Ele me deu um empurrão para ganhar terreno e quando eu investi contra ele novamente, ele pulou para o alto, alçando vôo. - Isso não vale! – Eu falei, indignada, enquanto ele flutuava acima de mim. Ele sorria. - Por que não? Estou usando minhas habilidades. - Pelo menos te fiz sacar sua arma. Ponto para mim. – Eu falei alegre e ele sorriu, concordando. - Concordo, está ficando boa. Assim que ele terminava de falar, a água da chuva que cai o tempo todo no salão, transformou-se em agulhas e voou com força contra ele. Ele girou a lança para se proteger, mas agora turbilhões de água subiam do chão até ele e 3 ou 4 furacões de água o cercavam. Eles começaram a atacá-lo como serpentes, e ele cortava-os com a lança, ou evitava os golpes. Então eu surgi acima dele, ao usar os pilares da sala como escoras para pular de pilar a pilar. Golpeei com as duas espadas de baixo para cima e ele bloqueou com a lança e do choque das três armas saíram faíscas. Ele foi jogado ao chão e eu fui jogada para longe também, caindo com força no chão, mas sendo amortecida pela água. Como eu estava cansada! - Você foi ótima! – Chronos falou, sorrindo acima de mim, esticando a mão para me ajudar a levantar. – Perfeita. - Obrigada, mas estou morta! - Vamos descansar. – Ele falou e mamãe já se juntava a nós, trazendo um cálice com água sagrada e sangue de Fidelus, para tratar de meus ferimentos. ---------------------------------- - Arte, você já pensou se suas asas são funcionais? – Eddie perguntou de repente, enquanto almoçávamos. Estávamos sentados no salão de Camelot e eu ainda estava toda dolorida e cansada, apesar dos cuidados de mamãe e da ajuda de Fidelus. - Não entendi. - Suas asas. As asas que você usa para nos teleportar. Elas são capazes de sustentar seu peso? - Nunca tentei. – Falei sincera e surpresa. - Seria demais, porque se você pudesse voar também, estaria em igualdade com Chronos. – Tuor falou. - E os vampiros também, pois poderia aumentar sua velocidade. – Mamãe comentou e todos olhamos para Chronos que nos observava calado. - É possível. – Ele falou e foi o suficiente. Eu me levantei, ainda dolorida, e subi até a torre mais alta, onde eu sabia que Arturia costumava observar a Ilha. Ela tinha uma janela enorme, na verdade era como se não tivesse uma das paredes no topo, para permitir que Arturia montasse em seus dragões dali. Os outros me seguiram, também animados, e eu fui logo para a ponta da janela. Fidelus voava ali por perto curioso e preocupado comigo. Eu lhe pedi que me pegasse se desse errado, mas só se fosse muito tarde, pois eu queria tentar. Animada pela lembrança de voar em Fidelus e pela curiosidade abri meus braços sem medo e convoquei as minhas asas brancas. O par de asas surgiu às minhas costas, ligadas ao meu corpo de uma forma invisível e através da minha roupa. - Arte, tem certeza que quer tentar assim? – Tuor perguntou, preocupado, olhando para os mais de 70 metros de altura. - Também não acho que seja uma boa idéia. – Mamãe emendou, já se aproximando de mim. Chronos apenas sorria, sabendo como eu era impetuosa. Na verdade mamãe estava preocupada justamente por saber que sou impetuosa. - É agora ou nunca! – Eu falei e pisquei os olhos. Fechei os olhos e me joguei do alto da torre, e pude ouvir mamãe, Tuor e Eddie gritando. Senti o vento batendo no meu rosto e me concentrei nas minhas asas. As fechei de início, pois sabia que se as abrisse agora, poderia desestabilizar o meu vôo. Fiquei em queda livre por alguns segundos e via o chão se aproximando, assim como Fidelus que voava perto de mim, preocupado, mas me incentivando. Abrir então as asas e senti a força delas. Era minha própria força. As asas diminuíram minha velocidade, mas ainda não estava voando, apenas caindo mais lentamente, mas ainda rápido. Inclinei meu corpo para frente e controlei as rajadas de vento para me empurrarem um pouco a frente e bati as asas. E elas me seguraram. Sincronizei as batidas e me mantive no ar, voando um pouco desengonçada, mas estava voando!! Dei um grito cheio de alegria quando percebi isso e comecei a voar ao redor da torre, subindo com batidas rápidas das asas. Fidelus voava junto de mim, rodopiando ao meu redor. Passei pela janela da torre e vi que eles me acenavam aliviados e alegres e acenei de volta. Mas ainda estava fraca. As asas começaram a bater mais fracas e comecei a perder altura. Em dado momento percebi que não daria mais, e fiquei com medo, pois não conseguiria sustentar o vôo por mais tempo. As asas sumiram e ouvi todos gritando, enquanto eu caia em queda livre. Mas senti quando Fidelus me pegou no ar, assim como as magias de mamãe, Tuor e Eddie, como o próprio Chronos que me segurava no ar. Fidelus e ele me levaram até o chão e ele me olhou severo, mas sorri para ele e ele não resistiu, sorrindo de volta. Poucos minutos depois os outros chegaram, e mamãe me deu uma bronca como não me dava a muito tempo. Depois de me abraçar e me beijar, enquanto eu tentava acalmá-la. Nesse momento fiquei sem jeito, por ter deixado-a tão preocupada e amedrontada. Tuor me abraçou com força e não falou nada, apenas me apertou em seus braços enquanto respirava aliviado. Eddie me abraçou também, rindo e me chamando de louca. Eu podia ser louca. Mas era uma louca que podia voar! |