Thursday, July 21, 2011


Londres, Julho de 2015

Estava no final do primeiro mês de férias e ao contrário dos outros anos, onde só viajo para a casa do tio George em agosto, já estava em Londres. O motivo da antecipação da viagem foi uma visita a Arte com as meninas, o casamento de Ethan e Brianna e a festa para receber Connor. Levei um baita susto quando Nick ligou dizendo que ele havia levado um tiro, mas depois de passar alguns dias internado, já ia receber alta e poder ir para casa.

Estávamos todos amontoados no apartamento de Nick e Connor no West End enchendo balões e pendurando uma faixa de boas vindas quando Becky chegou. Não notei de imediato, mas quando ela passou por mim indo direto para o quarto de Nick notei que estava meio atordoada. Larguei os balões que segurava na mão de JJ e fui atrás dela.

- O dia hoje é pra ser de festa, por que essa cara de velório? – perguntei entrando no quarto e ela desviou o olhar da janela.
- Terminei com Alex. Agora pouco.
- Por quê? – reagi surpresa – O que aconteceu?
- Não dá mais, desde que ele me pediu em casamento ando surtada e não consigo parar de pensar no Connor.
- Ok, pare ai mesmo – agora estava perdida – Ele pediu você em casamento? Quando foi isso?
- No dia de St. Patrick – ela se largou na cama – E Connor bebeu todas nesse dia e não parava de me ligar e dizer que me ama.
- Obrigada por me contar isso tudo meses depois!
- Desculpa, pensei em escrever, mas não sabia nem por onde começar. E eu disse não a Alex, disse que não era hora disso ainda.
- E você se sentiu culpada por nunca ter dito ao Connor que gosta dele quando ele quase morreu e decidiu que não vai mais esconder isso?
- Não cheguei a dizer isso ao Alex, mas sim. Ele sabe, é claro, não é idiota.
- E como ele reagiu?
- Foi horrível. Ele chorou, me abraçou, pediu outra chance de me fazer feliz e esquecer o Connor. Quase cedi, mas fui até lá decidida a terminar com ele e não voltei atrás. Doeu, sabe? Eu gosto dele de verdade, mas não é ele que eu amo. Não é justo continuar com ele pensando em outro.
- Bom, eu sempre torci por vocês dois juntos, mas achei que nunca ia acontecer quando você engatou nesse namoro serio com o Alex. Que bom que acordou!
- Beijei-o no dia que ele acordou, no hospital. Ainda estava com Alex, mas não consegui me controlar. Estava me sentindo culpada e apavorada com a idéia de que ele podia ter morrido sem saber o que eu sentia. Foi só isso, no entanto. Fui embora logo depois porque o irmão dele tinha chegado e todas as vezes que voltei lá, estava cheio de gente.
- Ainda bem que Nick me avisou dessa festa de boas vindas, ia me odiar se tivesse perdido toda essa novela ao vivo! – brinquei e ela riu, já menos atordoada.
- Está rindo do que? Até onde sei, sua novela é bem mais movimentada que a minha.
- Não tem movimentação nenhuma na minha novela, dei um basta nela. Não tenho tempo pra isso.
- Ah conta outra! – ela riu – Você pode ter encontrado uma solução temporária pra se manter afastada da tentação, mas a menos que seja um namoro sério de cinco anos com alguém que você nunca tinha notado, não vai durar.
- Não precisa jogar praga.
- Não é praga – ela apertou minha bochecha rindo e levantou, parando na porta do quarto - É experiência própria.

Levantei atrás dela espantando a idéia de que minha tática de exercícios exagerados não ia durar e voltei pra sala bem a tempo. Ethan e Nick estavam chegando naquele momento com Connor. Ele parecia aliviado por estar em casa outra vez e feliz por todos os seus amigos estarem amontoados na sala para recebê-lo. Todo mundo queria abraçá-lo ao mesmo tempo e foi uma confusão, mas percebi que ele cumprimentava todos que iam ao seu encontro sem muito foco. Seus olhos não paravam de percorrer a sala a procura de alguém, e não demorou para que eu encontrasse quem era.

O olhar de Connor fixou em Becky quando a encontrou e vi minha prima sorrir e ir de encontro a ele. O abraço que eles deram foi tão longo e cheio de carinho que as pessoas começaram a se afastar devagar, sem saber bem o que fazer. Quando o abraço terminou, Connor segurou Becky pela cintura e dei-lhe um beijo digno de cinema. Nick olhou pra mim rindo e jogou as mãos pro alto.

- Foi preciso um tiro para esse beijo sair, então vamos torcer que ninguém precise ter um membro decepado pra acontecer o casamento – ele falou alto e todo mundo riu, até Connor e Becky.

Os dois se afastaram do abraço, mas não soltaram as mãos pelo resto do dia. Eles ainda teriam muito que conversar, mas agora Connor finalmente fazia parte da nossa família.

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Nottingham, Agosto de 2015 - Sherwood Forest


As férias já estavam quase chegando ao fim e depois de uma festa de aniversario para comemorar meus 16 anos em Londres, viajei com tio Scott, meu irmão e a família dele para Nottingham. Cada um tinha seus motivos para ir até lá. Tio Scott queria conhecer alguns restaurantes da região para terminar seu livro, Maddie porque meu irmão havia transformado ela em uma maníaca por história e queria conhecer a cidade e as crianças porque só queriam passear. E eu fui porque não tinha nada melhor pra fazer em casa e queria visitar algum lugar diferente.

Íamos voltar para Londres no dia seguinte e enquanto meu irmão e Maddie foram com as gêmeas visitar museus, fui com tio Scott e Evan conhecer a Sherwood Forest, famosa por causa das historias do Robin Hood. Não tinha muito que se fazer por lá, mas era um lugar bonito com muito verde e Evan, que agora estava com cinco anos, não sabia pra que lado corria primeiro. Já era quase fim de tardequando tio Scott nos deixou próximos a um parquinho onde ele estava se pendurando nas coisas feito um macaco e foi conversar com o dono de um restaurante local. Estava rindo vendo Evan brincar com um garoto da idade dele que apareceu de repente quando senti alguém sentar do meu lado. Antes que pudesse virar para ver quem era, a pessoa passou a mão pelo meu ombro e me puxou pra perto.

- Senti sua falta – James falou no meu ouvido e o afastei.
- Sabia que podia ter jogado você no chão pensando que era um maluco? – ele riu, mas continuei séria – Não gosto quando aparece de repente.
- O que está fazendo nesse fim de mundo? – ele ignorou meu comentário.
- Férias com a família, e você?
- Mamãe morava aqui quando criança, sempre passamos algumas semanas de agosto na antiga casa dela – ele olhou pro balanço do parque – Quem é aquele brincando com meu irmão?
- Meu sobrinho, Evan. Aquele é o Blake? – me espantei. Lembrava dele falando do irmão, mas achava que ainda era um bebê – Do jeito que você fala, achava que ele tinha dois anos.
- É meu irmão caçula e vai ser sempre um bebê pra mim, mas ele já tem cinco anos.

Ia zombar dele, mas minha atenção foi desviada quando ouvi um uivo vindo de dentro da floresta. Era o mesmo uivo que Justin e eu sempre ouvíamos quando estávamos na floresta de Hogwarts. Fiquei de pé na mesma hora, atenta, tentando descobrir de que lado ele estava vindo.

- O que houve? – James ficou de pé ao meu lado e soava assustado – Que barulho é esse?
- Você ouviu também?
- Claro, isso é um lobo! Não sabia que tinham lobos aqui, melhor irmos embora.
- Preciso ver quem é – falei tirando os sapatos e jogando em cima do banco – Fica de olho no Evan pra mim? Meu tio está logo ali do outro lado da rua.
- Aonde você vai?
- Longa história.

Sai correndo na direção da entrada da floresta e larguei James para trás. Ainda estava a vista dele quando dei um salto e me transformei em lobo, mas precisava ser rápida ou ia perder a trilha do dono do uivo, podia explicar a ele depois. Corri mais rápido do que nunca para dentro da floresta cortando as árvores altas sem me preocupar com os galhos e nem se encontraria o caminho de volta. Se me perdesse, James sabia pra onde tinha ido e alguém ia me encontrar.

O lobo uivou outra vez e percebi que estava perto. Diminui o ritmo para tentar me aproximar o mais silenciosa possível e depois de alguns minutos me guiando apenas pelo faro de outro animal, me deparei com ele. Era um logo enorme, tão grande quanto eu, com o pêlo marrom claro. Estava deitado no chão destruindo algo com os dentes e uma olhada melhor me deixou ver que era uma goles de couro. O lobo rasgava a goles com tanta vontade que parecia estar se divertindo em destruir o brinquedo.

Aproximei-me mais e sem querer pisei em um galho, chamando a atenção dele. Ele me olhou em alerta e quanto fez menção de correr, saltei pra cima dele e o derrubei, prendendo-o no chão. O lobo tentou se livrar das minhas patas me mordendo, mas eu era mais forte e o mantive preso. Só quando ele parou de rosnar e morder foi que consegui invadir sua mente. O que vi me deu um susto tão grande que recuei. E ele, quer dizer, ela, também devia saber ler mentes, porque quando me afastei ela não correu, mas voltou a sua forma normal. Era Penny.

- Mas que diabos...? – voltei a minha forma humana ficamos nos encarando por alguns segundos.
- Você é um animago? – Penny perguntou depois de algum tempo tentando formar sentenças.
- Não, um transmorfo. E você?
- Também. Desde quando?
- Começou quando tinha 13 anos, em Hogwarts.
- O meu também, acho que é sempre aos 13.
- Como eu nunca vi você na enfermaria?
- Nunca fui pra lá, papai me ensinou a controlar as transformações, assim não teria problemas em Hogwarts.
- Seu pai? Ele também é um transmorfo?
- Sim, o primeiro até onde sabemos. Agora sei que não somos os únicos, mas ainda acho que ele foi o primeiro da espécie.
- Achei que só Devon e eu fossemos transmorfos.
- Meu irmão também é, você conhece ele, não? Começou esse ano, ele enfrentou um pouco mais de dificuldade, mas estava lá para ajudá-lo e não tivemos acidentes.
- Patrick, da Lufa-Lufa. Sim, conheço seu irmão, ele é um bagunceiro de marca maior.
- Clara, não conte pra ninguém sobre mim, ok? – Penny parecia apreensiva – Não acho que McGonagall vai gostar de saber que tem um bando de lobos soltos por Hogwarts, mesmo que tenhamos total controle sobre isso.
- Não vou contar, pode deixar. Guardar segredo é minha especialidade.

Ficamos conversando por um tempo ali mesmo. Ela contou que se mudou para Nottingham com a família aos 12 anos, para poder ter aquela floresta para aprender a se controlar e explicou que a goles que ela destruía era do irmão, que tinha quebrado seu kit de poções e ela estava revidando. Conversamos também sobre as vezes que quase nos esbarramos na floresta por dois anos inteiros, mas não contei sobre Justin. Ainda não sabia até onde ele estava disposto a explicar o que era, então achei melhor pular essa parte. Já ameaçava escurecer e voltei à forma de lobo, correndo de volta para a orla da floresta enquanto ela ia para o outro lado em direção a sua casa. Quando voltei à forma humana, James estava parado no mesmo lugar segurando meus sapatos com uma cara de quem tinha acabado de ver um cadáver.

- Você... você... – ele tentou formar frases quando me aproximei dele outra vez e peguei meus sapatos – Como?
- Há tantas coisas sobre mim que você não sabe... – brinquei, mas ele ainda estava perplexo – Não é você mesmo que diz que temos que manter o mistério na relação?
- Clara, não estou achando graça. Você virou um lobo! Você é um animago ilegal?
- Não é tão simples assim, mas não tenho tempo de explicar agora, tio Scott já está acenando do outro lado da rua e temos que ir.
- O que? Não! – ele segurou meu braço, mas sem muita força – Você precisa me contar o que acabou de acontecer aqui.
- Vou contar, mas não aqui e não agora – me aproximei dele e o beijei de leve – Quando voltarmos a Hogwarts, prometo explicar tudo.

Chamei Evan, que se despediu de Blake um pouco relutante antes de correr até mim, e fomos ao encontro do tio Scott do outro lado da rua. James ainda me olhava com uma expressão de choque estampada no rosto, mas sabia que por mais assustado que ele estivesse, podia contar que não ia espalhar o que tinha visto e ia esperar pacientemente até ouvir minha história. Ele era um verdadeiro Buda quando o assunto era ter paciência, disso eu sabia muito bem.