Tuesday, July 05, 2011 - Pronta? – Arte perguntou girando as espadas. Assenti com a cabeça segurando firme o bastão e ela partiu pra cima de mim sem dó nem piedade. Já era final de Maio e desde que passamos a correr de manhã cedo andávamos muito mais dispostas. No inicio do mês começamos a dividir o tempo da corrida com praticas de artes marciais. Todo dia encerrávamos a corrida às 6h e treinávamos na beira do lago. Enquanto eu ensinava a ela um pouco de Tae-kwon-do, ela me ensinava Kung Fu. E sempre terminávamos o treino com ela praticando com suas espadas. Claro que não queríamos nenhum acidente, então ela usava duas espadas de madeira e eu ia contendo seus golpes com um bastão improvisado que fiz com um cabo de vassoura raptado da cozinha. Arte desferia golpes com aquelas espadas numa velocidade assustadora, quase não conseguia conter suas investidas. Tudo que eu tinha que fazer era impedir que ela esmagasse meu crânio com elas e usava o bastão para bloquear os golpes. Não podia piscar, mas no final do treino daquele dia, eu pisquei. No breve segundo que fechei meus olhos, uma das espadas acertou meu pulso com força. O impacto foi tão bruto que larguei o bastão gritando de dor e não via a possibilidade dos ossos não terem se partido. Arte largou as espadas assustada na mesma hora e correu pro meu lado. - Ai meu Merlin, desculpa! – ela não sabia se pegava meu pulso mole ou tentava me levantar – Desculpa, desculpa! - Calma Arte, não estou morrendo, foi só uma pancada – tentei soar indiferente, mas minhas caretas de dor não ajudavam a convencer – Sorte que não eram espadas de verdade, não? - Não faça piadas, não tem graça! – ela brigou – Acho que quebrei seu pulso. - Não quebrou não, olha – e girei o pulso devagar. Dor não define o que senti – Se tivesse quebrado, não estaria mexendo. - Ainda assim, melhor irmos até a enfermaria – ela me puxou do chão desajeitada. - Não precisa, ela vai fazer o maior drama. Um pouco de ungüento e vou estar nova amanhã. - Isso não vai resolver com ungüento – Arte protestou. - Não vou à enfermaria, estou bem, já disse. Ela ainda resmungou um pouco, mas se ela era teimosa, eu era dez vezes mais. Encerramos o treino pelo dia e voltamos pro castelo. Meu pulso latejava e estava vermelho como um tomate, mas deixei-o alguns minutos de molho no ungüento quando cheguei ao salão comunal e quando sai pro café da manhã a dor já havia diminuído. Só precisava ter cuidado e ele ia ficar bom logo. ºººººº Dois dias depois do acidente com as espadas meu pulso ainda doía. Não como antes, mas ainda sentia um incomodo. Nada que me fizesse querer procurar a enfermeira, mas ainda não conseguia fazer movimentos bruscos com a mão direita e aquilo estava prestes a se tornar um problema. A final do campeonato de quadribol seria no próximo sábado e eu não fazia idéia de como ia manejar o bastão se não tinha firmeza na mão. Damon havia marcado um treino de emergência naquela noite e tinha que estar bem, ou ele ia me cortar do time. Assim que as aulas acabaram fui até o campo de quadribol. Tirei meu bastão do armário e, em pé no meio do campo, comecei a praticar os movimentos necessários com ele. Comecei devagar, não queria me precipitar, e estava me saindo bem. Já conseguia girar o pulso e aquilo era tudo que eu precisava para rebater os balaços. Devia estar parecendo uma maluca no meio do gramado girando um bastão em câmera lenta, mas continuei com o exercício por quase meia hora, até ser interrompida. - Se pretende rebater os balaços nesse ritmo, então vou mudar minha aposta para Corvinal – a voz de James me distraiu e deixei o bastão cair. Droga. - O que está fazendo aqui? Seu time já foi eliminado, não tem mais nada pra fazer no campo. - Posso vir aqui quando quiser – ele rebateu se aproximando mais – E se Maomé não vai até a montanha, a montanha vai até Maomé. - Não gosto de montanha, prefiro praia – respondi o encarando, mas um sorriso idiota sempre insistia sem aparecer no meu rosto. Me odiava por isso. - Praia não é tão aconchegante quando montanha – ele se aproximou tão depressa que não percebi. Já estava atrás de mim e afastou o cabelo do meu pescoço - Quando está frio, todos correm pros braços da montanha. - Se der mais um passo bato com o bastão na sua cabeça – disse em tom de aviso. - Bate nada, porque depois vai ficar cheia de remorso por ter matado seu melhor pretendente. - Estou falando sério, James. Não dê mais um passo. - Não preciso dar nenhum passo, já estou onde preciso – e me agarrou pela cintura, beijando meu pescoço. Meu reflexo foi girar o bastão para acertá-lo, mas não na cabeça, claro. E quando tentei atingir sua cintura, a força que impus no movimento me fez largar o bastão gritando de dor. Minhas pernas cederam na mesma hora e se ele não tivesse me agarrando pela cintura teria desabado. - O que houve? – James me soltou depressa e se ajoelhou ao meu lado – O que eu fiz? - Nada, não foi você – minha voz era quase chorosa, o que era patético, mas doía demais – Eu me machuquei outro dia, não foi nada demais. - Quem fez isso com você? – a voz dele ficou séria quando viu meu pulso já colorido. - Eu mesma, foi um acidente – respondi enfezada – Não tente bancar o protetor, não preciso disso. E além do mais, é ridículo. - Desculpa, foi reflexo – ele me ajudou a levantar, já sem o tom de voz sério – Melhor ir até a enfermaria, isso está muito feio. - Não precisa, ungüento resolve. - Você ainda não é curandeira pra determinar isso. E não estou perguntando se quer ir, estou dizendo que você vai. E não adianta esse olhar zangado. Tentei intimidá-lo com ameaças, mas nada funcionou. Sem forças pra me manter parada onde estava, me vi obrigada a deixá-lo me arrastar até a enfermaria. A mulher levou um susto quando viu meu pulso e imediatamente olhou pro bastão na mão de James, mas contei o que havia acontecido e ela só resmungou algo sobre proibir lutas em Hogwarts enquanto emplastava meu pulso com uma mistura fedorenta e enchia de ataduras. - Não quebrou nada, foi apenas uma luxação – disse prendendo um esparadrapo na atadura – Alguns dias e já vai estar boa. - Alguns dias? Não tenho alguns dias, a final do campeonato de quadribol é sábado! - Vai ter que assistir a final da arquibancada. Se um balaço ou até mesmo uma goles bater nesse pulso, vai voltar aqui com ele partido e precisar de muito mais que alguns dias pra consertar. - É, acho que vou mudar minha aposta pra Corvinal mesmo – James comentou girando o bastão na mão. Olhei para ele furiosa, mas era completamente desajeitada com a mão esquerda, não podia nem acertar-lhe um tapa para aliviar a frustração. Dei meu sangue nos jogos durante o ano inteiro e não ia jogar justo na final? Onde está a justiça desse mundo? ºººººº Fui ao campo de quadribol à noite para contar a Damon o que a enfermeira tinha dito, mas nem foi preciso dizer muita coisa. Assim que me viu chegar ao vestiário com o braço enfaixado, Damon começou a andar de um lado pro outro feito uma barata tonta, praguejando em italiano. Ainda tentei encontrar um jeito de jogar, mas ele mesmo, apesar de contrariado, me vetou. Ele não podia arriscar me machucar mais e ainda carregar a culpa de ter escalado uma batedora capenga pra final. O treino naquela noite foi um caos. Nosso batedor reserva, Jack Goyle, não estava nem um pouco preparado para aquela partida. Ele era um garoto legal, mas não tinha sido escalado pro time por suas habilidades com o bastão na mão. Jack era do 3º ano, mas era muito maior que a maioria dos garotos do 5º. Tinha ombros largos, pés grandes, braços que pareciam os de um gorila, cabelos pretos num corte arrepiado e uma eterna cara de tédio. Assustava quem nao o conhecia e sabia que era inofensivo. E tinhamos que rezar para que isso nos ajudasse em campo. ºººººº Sábado, 2 de Junho. Final do Campeonato de Quadribol, Corvinal x Sonserina. Desastre. Essa era a única palavra que conseguia encontrar para descrever a atuação do meu substituto em campo durante a final. Acordei cedo e acompanhei o time durante o café e preleção no vestiário, mas quando todos montaram as vassouras em posição para entrar em campo me vi obrigada a subir para as arquibancadas e encontrar Jamal e Hiro. Era o pior lugar do mundo para se estar, depois que você experimentou fazer parte do time. Achei que fosse ter um ataque cardíaco vendo Jack jogar. Mais uma vez, ele era um ótimo menino, mas não sabia o que estava fazendo montado naquela vassoura. Parecia uma criança que roubou uma vassoura numa loja de departamentos, saiu voando pra longe dos pais e se perdeu no meio de uma partida de quadribol. Keiko parecia uma louca desequilibrada berrando com ele e tudo que Jack fazia era encolher os ombros, intimidado, e tentar sem muito sucesso rebater os balaços com mais precisão. Não vou ser cruel, ele acertou alguns balaços muito bons pra cima dos artilheiros da Corvinal, mas era 1 em 10, o que não adiantava muito. Com basicamente só um batedor em campo, não tivemos a cobertura necessária para parar o ataque das águias azuis, como eles se autodenominavam. A torcida deles entoava uma música sobre a superioridade da águia e de como ela voa mais alto que qualquer outra ave, e isso só incentivava ainda mais o time. Julian estava incontrolável em campo e não parava de rebater balaços pra cima de Haley, ela mal conseguia tocar na goles. Ele tinha uma música só dele, e cada vez que a torcida a cantava, Julian encontrava mais gás e parecia ganhar braços extras. Mas Rupert foi quem mais me surpreendeu. Apesar de ter levado muitos gols, defendeu a maioria deles. A cada defesa sua a massa azul na arquibancada ia ao delírio. Também tinha uma música só dele, mas não conseguia entender direito o que estavam cantando. Estava ocupada demais tentando não desmaiar de tanta aflição. Não jogamos mal, de jeito nenhum. A partida estava 140 x 90 pra Corvinal e bastava que Josh Penner, nosso apanhador, capturasse o pomo. O problema foi que Brendan Hutcherson o viu primeiro. Quando Josh percebeu que ele estava voando a toda velocidade para o alto já era tarde demais. Ele ainda conseguiu alcançar Hutcherson, mas ele estava quase um corpo a sua frente e fechou as mãos no pomo mais depressa. O mar azul na arquibancada oposta explodiu em gritos enlouquecidos e perdemos Justin de visto no meio daquele monte de bandeiras. Sentei no banco e enterrei as mãos no rosto. Eu não era uma garota que costumava chorar, mas não consegui impedir que algumas lágrimas escorressem. Eu realmente queria aquela taça. |