Saturday, September 17, 2011 Era madrugada de uma sexta-feira. Toda a casa já havia se recolhido, mas estava difícil conseguir dormir. Do lado de fora uma tempestade assustadora caia, era o que parecia a última chuva daquele verão. Os raios passavam tão perto das torres da Corvinal que o som dos trovões faziam as coisas tremerem e os relâmpagos iluminavam todos os quartos. Eu estava deitado há horas, mas não estava conseguindo manter os olhos fechados. A cada trovão eu saltava da cama. - Desisto! – Jamie gritou da cama dele próxima a porta e abriu as cortinas dela. Joguei as cobertas pro lado, sentando na minha cama, e Justin, Julian e Sebastian fizeram o mesmo. - O que vamos fazer? Sair? – Julian já perguntou animado, puxando o mapa. - Se não quiser morrer tostado por um raio, guarda isso – Justin tomou o mapa da mão dele e jogou na gaveta. - Que tal descer pro salão comunal e encontrar uma maneira de passar o tempo – disse levantando da cama e já com a mão na maçaneta – Vocês vêm ou não? Quando abri a porta vi que não tinha sido o único a ter aquela idéia. A maioria das portas dos dormitórios estavam abertas e seus ocupantes saindo de pijamas e caras de sono em direção ao salão comunal. A tempestade não estava deixando ninguém dormir na Corvinal e os alunos da Grifinória deviam estar com o mesmo problema. Nessas horas, e apenas nessas horas, sinto certa inveja de quem mora na Sonserina e na Lufa-Lufa. Nenhum barulho chega lá embaixo e nada consegue atrapalhar a noite de sono deles. Quem mora nas torres do castelo sofre toda vez quem tem uma tempestade. - Com a quantidade de gente aqui dá pra fazer uma festa – Julian comentou quando chegamos ao salão comunal e nos deparamos com mais da metade da casa espalhada nele. - Se tivesse algum lufo aqui, já teríamos música e bebida – Justin parou em frente à janela, onde um raio iluminou todo o salão – Olha o raio como passou perto! - 1, 2, 3, 4, 5... – Julian começou a contar e um trovão altíssimo fez tremer o vidro da janela – Só cinco segundos, estão muito perto! - Cinco segundos multiplicados por 340 é igual a 1.700 metros – parei ao lado deles olhando hipnotizado para a tempestade – Estamos a 1,7 km de distância da trovoada. - Mais quatro raios e vamos estar a menos de 500 metros de distancia. Isso pede algum tipo de experimento – Justin começou a puxar livros das prateleiras e empilhá-los – Quantos livros um trovão consegue derrubar da torre? - Coloca eles em pé, se deitar no chão não vão cair – Julian começou a ajudá-lo com a torre de livros. - Ai vem mais um... – olhei pela janela e outro relâmpago iluminou o salão. Contei até quatro e o barulho foi tão forte que parecia uma explosão. Três livros da torre deles caíram e eu não consegui impedir meu corpo de tremer um pouco com o som do trovão. Não gostava nem um pouco de tempestades. - Que bom que não escolheu seguir carreira como auror, porque não leva o menor jeito – Amber parou do meu lado rindo da minha cara pálida – Não ia capturar ninguém em dias de chuva. - Estou rindo por dentro – respondi sério e Justin e Julian começaram a rir – Não gosto de tempestades. - Seu sobrenome é tempestade e tem medo delas? – Amber continuou a me provocar. - Não disse que tenho medo, disse apenas que não gosto delas. Há uma grande diferença. - Relaxe, só estou brincando. Também não gosto muito, esses trovões são assustadores. - Enquanto eles estiverem a mais de 500 metros de distancia, estamos seguros. – Julian falou despreocupado – Agora quando contarmos só um segundo entre o raio e ele... Bom, talvez seja melhor sairmos de perto da janela. - É, boa idéia – Justin pegou os livros do chão com uma braçada só – Quanto mais longe da janela, melhor. Justin moveu seu experimento para o lado oposto do salão comunal e o acompanhamos. Passamos a maior parte da noite conversando e empilhando livros para calcular quantos caiam em quais distancias. Quando o raio caiu a 340 metros de distancia, o estrondo foi tão violento que achei que as janelas fossem se partir. Todo mundo gritou assustado e a torre de livros foi toda ao chão. Os alunos do 1º ano estavam apavorados e era até engraçado vê-los tentando transformar a tempestade monstruosa em algo racional, para diminuir o pânico. Não demorou muito para alguém querer atrair os raios para uma das janelas, com a intenção de fazer nela uma figura de Lichtenberg. Gastaram uns bons minutos examinando a janela para se certificarem de que o vidro era suficientemente grosso e resistente, então a abriram rapidamente e plantaram um pára-raios tão rente a ela que no instante que o raio tocasse sua ponta, uma descarga elétrica seria transferida para o vidro. O único problema do experimento foi que 90% do pára-raios precisou ficar do lado de dentro da janela e quando a descarga elétrica aconteceu, quem estava próximo levou a pior. Um garoto do 5º ano foi arremessado com tanta força para cima da estante que chegou a perder a consciência, mas acordou minutos depois de cabelos em pé e rosto chamuscado querendo saber se tinha funcionado. - Tem uma coisa que preciso lhe contar, mas antes tem que prometer que não vai caçoar de mim – Amber falou me olhando desconfiada. Conversávamos no sofá enquanto Julian e Justin travavam uma complicada partida de gamão no chão. - Eu nunca caçôo de você – ela fez uma careta que me fez rir – Prometo não fazer nenhuma piada. Pode falar. - Richard Tyrell me chamou para sair – ela fez uma pausa para ver se eu não ia mesmo rir antes de continuar – Estou pensando em aceitar, o que acha? Nesse momento vi que os dois já não estavam mais tão concentrados na partida de gamão, mas agradeci mentalmente por ao menos terem a decência de tentar disfarçar. - Kaley diz que devo aceitar, mas ela é amiga dele e não posso dar muito credito, por isso queria outra opinião. E confio em sua opinião. Acha que devo aceitar? - Richard é um cara legal e paciente, acho que deve dar uma chance a ele. - Não sou muito boa com isso, você sabe. Nunca sai com ninguém. - Eu sei, você era fortaleza de gelo antes – ela riu – Mas como disse, Richard é paciente e vai respeitar o seu ritmo. Digo que deve aceitar. - Ok, então eu vou – ela sorriu pra mim e levantou do sofá – A tempestade já passou, vou dormir antes que amanheça. Boa noite. - Boa noite. Justin e Julian deram boa noite a ela também e fiquei a observando subir as escadas de volta aos dormitórios. A maioria dos alunos começava a fazer o mesmo e não demorou muito para ficarem poucos sobreviventes da tempestade. - A surra que levou da Arte no ultimo treino soltou alguns parafusos na sua cabeça ou você é mesmo tapado? – Justin me encarou com uma cara incrédula. - Cara, a garota estava pedindo permissão pra você para sair com outro! – Julian sentou do meu lado no sofá e estava tão chocado quanto o outro – O que ela queria ouvir era um “não Amber, não saia com ele, saia comigo”! - Não me diga que não percebeu isso – Justin sentou do outro lado, me encurralando. - Claro que percebi, não sou tão lerdo assim – os dois continuaram me olhando como se eu fosse retardado e continuei – Sei que todo mundo acha que devia chamá-la pra sair e isso também já passou pela minha cabeça, mas pensei bem e não acho que é uma boa idéia. - Ah, você parou pra analisar. O problema que assola 87,4% dos corvinais – Julian revirou os olhos. - Espero que tenha uma boa explicação, porque não estamos convencidos. - A amizade que criei com Amber é muito delicada. Somos parecidos demais e isso gera conflitos diários. Qualquer coisa é motivo pra uma discussão e elas nunca tem fim, porque nenhum quer ceder. Geralmente deixamos pra lá e esquecemos o assunto, damos risada depois, mas se estivermos namorando não vai ser assim. Não vamos conseguir simplesmente deixar pra lá e um floco vai virar uma bola de neve. Não vou pôr em risco o que temos por um namoro que está fadado a dar errado. Prefiro as coisas do jeito que estão, gosto dela e não quero que a gente acabe se afastado. - Isso é a maior besteira que já ouvi! – Justin começou a rir – Você não sabe se vai dar errado, precisa arriscar! Se der errado, depois você se recupera e tudo volta ao normal. - Ah sim, do mesmo jeito que você e Haley são melhores amigos agora? Diga, valeu à pena? - Sim, valeu! E essa rusga entre nós dois é uma questão de tempo, ela vai me perdoar. - Não estamos apaixonados um pelo outro, não é a mesma coisa. Sempre vale a pena arriscar quando se está apaixonado - ele abriu a boca para dizer alguma coisa, mas optou por cruzar os braços e não dizer mais nada. - Não concordo com sua linha de pensamento, mas não acho que tenho o direito de dizer que está errado – Julian começou a falar – Sei o quanto batalhou para quebrar o gelo com Amber e não quer perder isso, mas se um dia você mudar de idéia, torço para que não seja tarde demais. - É, eu também – fui sincero – Ainda assim, prefiro não correr riscos. O assunto morreu e como os poucos alunos que restavam começaram a subir, Julian recolheu o jogo incompleto do chão e fizemos o mesmo. Já passava das 4 da manhã e todo mundo adormeceu assim que as cabeças encostaram nos travesseiros, mas eu não consegui pregar o olho até que o dia já estivesse claro. As últimas palavras de Julian ainda martelavam na minha cabeça e embora já tenha tomado uma decisão, não podia deixar de concordar com ele. Se um dia eu mudasse de idéia, teria que torcer para não ser tarde demais. |