Friday, October 21, 2011


A reunião da Senior Prank Night acabou depois de meia noite, mas sábado cedo todos os veteranos já estavam fora da cama. Cada um tinha uma tarefa para fazer e tínhamos menos de 48h para descobrir como executá-las sem erros. Ainda pela manhã Amber, JJ, Clara e eu fomos para o banheiro da Murta, munidos de dois caldeirões, um livro de poções e uma mochila cheia de ingredientes. Felizmente as poções não exigiam dias de preparo, apenas algumas horas a mais. Se não cometêssemos erros, amanhã à tarde estariam pontas. E nós nunca cometemos erros.

- Bom, a primeira parte da poção explosiva está pronta – Amber disse depois de mexer a poção três vezes no sentido horário – Tudo que temos que fazer é mantê-la descansando por 32 horas e então acrescentar duas gotas de Líquido Explosivo e quatro folhas de figueiras cáusticas da Abissínia. Elas precisam ser colhidas na hora, então amanhã alguém precisa ir comigo arrombar a estufa nº 3.
- Arrombar a estufa? – olhei pra ela como se não a conhecesse mais – Quem é você e o que fez com a minha amiga?
- Também posso conseguir uma detenção por fazer besteiras, Rupert. Só não faço porque não quero, minha mente é bem criativa quando o assunto é maneiras de causar confusão.
- Sabe Amber, estou olhando para você com outros olhos agora. Sinto que podemos nos dar muito melhor do que eu pensava – Clara despejou um punhado de Hemeróbios no caldeirão e ele soltou um silvo alto – Essa está pronta por hoje, amanhã cedo só precisa acrescentar as seis patas de aranha e mexer mais duas vezes.
- Então vamos embora, já está na hora do almoço e depois tem a tal palestra do tio Harry – JJ forçou um bocejo e rimos – Odeio palestras.

Movemos os caldeirões para dentro de uma das cabines do banheiro, colamos um post-it na frente de cada um para sabermos qual era qual e fomos embora. O salão principal já estava lotado, as únicas ausências eram os alunos do 7º ano, que iam chegando aos poucos, em pequenos grupos. Um em particular, o que saiu à caça dos pelúcios, aparentava cansaço. Zach e Haley passaram de mão dada por mim na mesa da Corvinal com os rostos sujos de terra e um pouco descabelados, mas a fome devia ser maior que a preocupação com a aparência, pois ambos se largaram na mesa da Lufa-Lufa e abraçaram um prato de ensopado de carne como se fosse à última refeição antes da cadeira elétrica.

Voltei a Corvinal quando terminei de almoçar para guardar a mochila e o salão principal já estava completamente diferente quando voltei. As mesas tinham sumido, dando lugar a dois blocos de cadeiras, separadas por um corredor com espaço suficiente para apenas duas pessoas passarem lado a lado. Cada bloco tinha fileiras de oito lugares e se estendiam por todo o salão. Na frente, a mesa dos professores se mantinha intacta. Papai e tio Ben iam organizando os alunos conforme eles iam chegando e sentei na ponta do bloco da esquerda, ao lado de Julian. MJ estava atrás de mim, com Dean. Amber chegou logo depois e sentou na mesma fileira que eu, mas no lado direito e também na ponta, ao lado de Rick.

Estávamos a uma distancia considerável da mesa dos professores, talvez na 20ª fileira, mas meia hora depois quando tio Harry entrou no salão principal, se dirigiu a ela e deu boa tarde, vi que íamos poder ouvir tão bem quanto quem estava lá na frente. As palestras dele eram algo comum em Hogwarts, mas dessa vez ele veio falar sobre a importância de se manter unido em tempos de guerra. Não era preciso ser muito inteligente para imaginar que ele se referia a guerra contra os vampiros, mas era divertido saber que nem ele nem nenhum professor de pé ao lado dele faziam idéia do quanto estávamos levando aquilo a sério.

O assunto era interessante, então mesmo quem não tinha paciência para palestras, como JJ, estava prestando atenção. Cerca de uma hora depois de falar sobre como os alunos de Hogwarts conseguiram lutar de igual pra igual com comensais da morte se unindo, ele começou a falar sobre a Armada de Dumbledore. McGonagall logo se alarmou. Tudo que ela não queria era alunos pensando em criar um grupo secreto de combate, mas aquele barco já havia naufragado. Felizmente, eles não faziam a menor idéia disso também. Ele e o professor Longbottom exibiam suas moedas e mostravam como elas funcionavam quando um prendedor de cabelo voou pro meu colo.

- O que? – sussurrei para Amber quando vi que o prendedor pertencia a dela.
- Acha que devíamos estar treinando contra esses vampiros? – ela perguntou também sussurrando.
- Por que pergunta isso?
- Eles já atacaram vocês, o que o faz pensar que não vão atacar de novo?
- Não deve se preocupar com isso – menti, mas o que ia dizer? “Ei, já temos um grupo, estamos aprendendo a incinerar vampiros com feitiços mega potentes, quer participar?”. McGonagall pigarreou e sussurrei mais baixo – Eles não ousariam atacar em Hogwarts, estamos seguros aqui.
- E quando sairmos daqui? – ela insistiu – Realmente acho que deveríamos nos preparar melhor.
- Está dizendo que quer começar um grupo secreto debaixo do nariz da McGonagall? – tentei não rir – O que aconteceu com você?
- Acho que minha amizade com você me fez mais rebelde, você é má influencia – notei que ela não falava realmente sério, porque estava sorrindo do jeito que fazia quando tentava usar sarcasmo.
- Não jogue a culpa em mim, provavelmente só despertei um lado seu que sempre existiu – devolvi e ela fez uma careta descrente. McGonagall pigarreou outra vez, agora mais alto.
- Com licença, Harry – ela interrompeu tio Harry e olhou na nossa direção – Sr. Storm, troque de lugar com o Sr. McGregor. Srta. Beckett, troque de lugar com o Sr. Tyrell. Não sussurram tão baixo quanto pensam.

Julian sufocou uma risada e acertei seu braço com um soco enquanto trocávamos de lugar. Quando já estávamos nos lugares novos tio Harry continuou a palestra. MJ me cutucou e virei para trás. Ele tinha um bloco de papel na mão e virou pra mim. Era uma caricatura do tio Harry tão perfeita que podia muito bem ser confundida com um retrato. Definitivamente ele ia fazer minhas ilustrações. Peguei o caderno da mão dele e Julian me cutucou, apontando para o outro lado das cadeiras. Rick estava dando espaço para Amber, que gesticulava para eu mostrar o desenho. Virei o caderno pra ela, que fez sinal de positivo, e McGonagall não pigarreou, mas me lançou um olhar tão cruel que puxei o caderno depressa e devolvi a MJ, não me movendo mais até o fim da palestra.

A palestra acabou por volta das 16h. Os alunos começaram a debandar do salão principal em ordem, fileira por fileira, controlados por tio Yoshi e meu pai. Sai junto com a minha e parei perto da escadaria. Não demorou e Amber chegou com Rick.

- Acho que devemos um pedido de desculpas a diretora e ao Sr. Potter – ela falou séria.
- Sim, parei aqui com a mesma intenção. Eles estão vindo, vamos lá.

Caminhamos de encontro a eles, que ainda estavam na porta do salão principal, e Rick ficou esperando na escada. McGonagall parecia que ia nos fritar com o olhar, mas tio Harry estava achando graça. O professor Longbottom estava o lado dele e também parecia estar se divertindo com a fúria da diretora.

- Queremos pedir desculpas, Sr. Potter – Amber falou sem graça e tio Harry sorriu – Estávamos prestando atenção à palestra, só estávamos comentando alguns pontos.
- Sim, pudemos ouvir os tópicos abordados – McGonagall respondeu ainda braba.
- Não tem problema, eu mesmo nunca prestava atenção nas palestras que ouvia aqui. Se vocês conseguiram absorver o que eu falei, acho que é um ponto positivo.
- De qualquer forma, desculpa – falei – Não vai se repetir.
- Está certo. Imagino que já tenha recebido noticias de Gabriel sobre o livro? – ele me perguntou animado.
- Sim, já comecei a ouvir muitas histórias do professor Hagrid, meu caderno já está cheio de anotações.
- E ainda tem muitas histórias minhas pra ouvir – o professor Longbottom falou ainda mais animado – Nossa vida acadêmica foi bastante agitada.
- Nem me fale. Mas então Rupert, está ocupado agora? Tem alguma coisa para fazer?
- Não, ia voltar pro salão comunal.
- Ótimo, então o que acha de me acompanhar até Hogsmeade? Tenho um bocado de história sobre minha vida pré-Hogwarts que precisa ouvir.
- Adoraria, mas acho que não posso sair de Hogwarts esse fim de semana, só podemos ir a Hogsmeade semana que vem.
- Tudo bem, já falei com a Minerva, ela autorizou – e a diretora assentiu ao lado dele.
- Se importa se Amber for também? – perguntei aos dois.
- Ah Rupert, não tem problema, você me conta depois – ela falou depressa.
- Está me ajudando com o livro, quero que ouça todas as histórias.
- Não tem problema, ela é muito bem vinda – tio Harry acrescentou e olhou para a diretora – Tudo bem por você, Minerva?
- Não, sem problemas, a Srta. Beckett pode acompanhá-los. Só estejam de volta até das 20h.
- Serão devolvidos dentro do prazo – tio Harry disse – Vamos?

Ele se despediu o professor Longbottom e dos filhos e sobrinhos, que estavam no saguão esperando para falar com ele, Amber foi avisar a Rick que ia sair conosco e atravessamos os terrenos da escola em direção ao vilarejo. Era estranho ir a Hogsmeade saindo pelo portão da frente quando o resto da escola não estava junto. As ruas estavam relativamente calmas para uma tarde de sábado e fomos direto para um pub novo que havia aberto a menos de um ano, chamado The Old Haunt.

O pub tinha uma iluminação baixa, mas suficiente para que pudéssemos ler os cardápios, mesas redondas com sofás de canto em todas elas e fotografias em molduras nas paredes que com uma rápida olhada percebi que eram de escritores bruxos famosos. Tinha de todos os tipos, até mesmo uma de tio Scott com seu livro de culinária mais famoso. Ele sorria na foto com o livro na mão, abraçado ao dono do pub, que era o mesmo senhor que estava atrás do balcão limpando copos. Sentamos em uma das mesas e enquanto tio Harry e Amber pediam bebidas, minha mente viajava pra bem longe. Olhando pras fotografias nas paredes, de repente soube que um dia a minha também estaria ali.