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Por Jamal Shacklebolt

Depois que a confusão causada pelo ataque dos vampiros acabou Hogwarts tentava voltar à rotina normal. As campeãs para o Torneio Tribruxo haviam sido escolhidas e Arte estava entre elas, o que deu a todos nós a esperança de que logo ela ia sair do coma e voltar para a escola. A segurança havia sido triplicada, então muitos aurores do Clã e do Ministério ainda circulavam pelos corredores. Não tinha uma única troca de sala que não fosse acompanhada atentamente por um deles, sempre nos vigiando e alertas a qualquer barulho fora do comum.

Meu pai estava por lá o tempo todo, sempre em conversas sérias e urgentes com McGonagall, tio Ben e tio George. O que quer que fosse, não era bom. Consegui pará-lo no corredor em uma das idas e vindas, mas ele não disse o que tanto conversavam. Perguntei então quando íamos poder visitar Artemis, mas ele também não deu um data. Disse apenas que em breve a veríamos, mas que tínhamos que ter paciência. Ela estava sendo bem cuidada e ainda estava frágil, quando pudesse receber visitas ele mesmo viria até Hogwarts nos buscar, então só nos restava esperar.

Eu tentava voltar à rotina sem pensar nas conseqüências do ataque, então achei que a melhor forma de fazer isso era me mantendo ocupado. E se precisava de trabalho, então era hora de reunir o grupo que ia fazer o Livro do Ano. Apesar de ter sido criado no ano passado, ainda não tínhamos feito nenhuma reunião. O grupo era formado por JJ, Penny, Kaley, MJ, Chelsea, Lena, Graham e eu, e como era muita coisa a ser feita e Penny ainda estava hospitalizada, combinei com cada um que íamos nos reunir depois das aulas na enfermaria.

Fui o primeiro a chegar e ela sorriu animada ao me ver, deitada na cama com uma atadura enorme envolvendo sua cintura. Tinha quebrado algumas costelas na luta e por mais que as poções fossem boas, levaria um tempo até estar em forma outra vez. Beijei sua teste e deitei ao seu lado, e logo em seguida o resto do grupo começou a chegar. MJ veio por último, trazendo Devon e Lenneth com ele. Todos se acomodaram pelas camas ao lado e cadeiras perdidas e puxei o bloco de anotações da mochila.

- Então vai ser um Livro do Ano só? – perguntei, apontando para os dois convidados estrangeiros – Hogwarts, Beauxbatons e Durmstrang?
- MJ procurou nossas delegações e perguntou se íamos montar nossa própria equipe ou se juntar a de vocês, mas nossas memórias do último ano vão ver as mesmas, faz mais sentido nos juntarmos a vocês – Devon deu de ombros e Lenneth assentiu.
- Sim, vai ser menos trabalhoso. Todos votaram e Devon e eu fomos os escolhidos para representar nossas escolas, porque somos os que conhecem todo mundo.
- Ótimo, então a equipe está fechada – MJ bateu um martelo imaginário na beira da cama – Vamos às idéias. Alguém já tem alguma?
- Precisamos colocar citações – Lena sugeriu enquanto se balançava na cadeira, os pés apoiados na cama do lado – E de preferência engraçada, pra cada formando.
- Cada um? – Graham gemeu jogado na cama do lado – Mas são muitos alunos. E nem conhecemos todo mundo tão bem assim.
- É por isso que temos ao menos um aluno de cada casa aqui – Chelsea respondeu ignorando a reclamação.
- Como seriam essas citações? – perguntei.
- Alguma frase, palavra, qualquer coisa, que o aluno diga sempre – Kaley explicou e Lena assentiu.
- Ah, então a do Sheldon pode ser “Bazinga!” – JJ sugeriu e todo mundo começou a rir.

Penny riu deitada do meu lado, mas então começou a gemer. Seu rosto era um misto de dor e divertimento. Ela tentava sorrir, mas fazia caretas e as bochechas já estavam molhadas de lágrima. Sentei depressa, apavorado. Já ia gritar pela enfermeira, mas ela tocou meu braço fazendo sinal de que não precisava.

- Se chamar ela, vou ter que tomar mais poção – ela tentou sentar na cama, mas não tinha forças e só não caiu porque a amparei.
- Se está com dor, tem que tomar as poções – Kaley insistiu.
- Não, elas me deixam tonta – ela fez outra careta – Só não posso rir muito.
- Penny, você quebrou três costelas. Deixe de ser teimosa e tome a poção.
- Eu estou bem! – ela disse firme, se esforçando pra não fazer mais caretas de dor. Era teimosa feito uma mula – Quebrei três costelas, mas faria tudo outra vez. Valeu à pena.
- É, valeu mesmo à pena sair machucada – Lena abriu um sorriso sinistro – Arte quase morreu de vez, saímos todos quebrados, mas matamos muitas daquelas coisas nojentas.
- Ao menos vocês puderam lutar – Graham disse em um tom de voz chateado – Eu me senti menos que inútil. Quando o ataque começou estava perto dos portões. Antes que pudesse saber o que estava acontecendo o professor Longbottom já tinha me arrastado pra dentro do castelo.
- É, eu também só soube o que estava acontecendo quando cheguei no salão principal – Chelsea comentou, mas menos chateada que Graham – Estava com Tommy no Três Vassouras e segundos depois que a voz da mãe da Artemis ecoou no vilarejo a professora Bones entrou e tirou todo mundo de lá.
- Eu queria lutar! Queria ter ajudado, mas não nos deixavam sair – Graham estava realmente frustrado.
- Se enfrentasse os vampiros sem preparo teria morrido em menos de cinco segundos, melhor ficar feliz por ter estado em segurança aqui – MJ o repreendeu.
- Vocês sabiam o que fazer, Dean contou o que aconteceu. Vocês sabiam exatamente o que fazer.
- É verdade, vocês estavam preparados – agora Kaley se juntou a ele – Ouvi quando Arte gritou um monte de instruções que não entendemos nada, mas vocês entenderam. Vocês obedeceram ao comando dela e isso ajudou a nos manter vivos.
- Nunca vimos aqueles feitiços nas aulas do professor Storm, onde aprenderam eles? – agora era Penny que falava.

Troquei um olhar preocupado com MJ, Lena e JJ, mas mesmo que não tivéssemos dito uma única palavra, sabíamos exatamente o que cada um pensava e o que deveria ser feito. O ataque em Hogsmeade, a ousadia dos vampiros em vir até aqui, a quase morte da Arte. Não podíamos mais fingir que todos estavam seguros em Hogwarts. Era hora de admitir que todos corriam risco e precisávamos estar preparados para o pior. Lena caminhou em volta das camas repetindo “Abaffiato” protegendo a conversa e ficou comigo a responsabilidade de começar aquilo.

- Vocês querem mesmo aprender? – perguntei sério, olhando cada um – Estão certos de que querem enfrentar um exercito de vampiros, mesmo que isso signifique perder a vida?
- Prefiro morrer lutando a morrer debaixo da mesa do salão principal, em segurança – Graham respondeu e todos o apoiaram.
- Arte vem nos ensinando a lutar contra eles desde o início do ano, em segredo. Nossos pais nos proibiram de se envolver com a guerra depois do ataque em Londres, mas não podemos simplesmente ficar de braços cruzados – JJ falou e buscou nosso apoio.
- Nosso conhecimento ainda é básico, mas sem ele teríamos morrido domingo – Lena completou e assentimos – O que Arte nos ensinou até agora não é nem metade do que ela sabe, mas salvou nossas vidas.
- Isso não pode se tornar público, precisa ser mantido em segredo absoluto – MJ falava agora – Se algum professor descobrir...
- Podemos ensinar o que já aprendemos e quando Arte acordar, assume novamente o controle das aulas – falei e os três me olharam, concordando em silêncio – Se quiserem avisar a algum amigo, tudo bem, mas certifiquem-se de que a pessoa quer mesmo lutar. Não podemos ter ninguém indeciso, isso pode colocar tudo a perder.
- E aonde vamos nos reunir? – Kaley perguntou ansiosa. Podia ver em seu rosto o quanto ela queria lutar.
- Quando soubermos, avisamos. Temos um lugar, mas precisamos de um plano para levar todos até lá sem sermos notados.

Todos assentiram e a conversa morreu. Todos sabiam o que fazer, não precisávamos mais falar sobre isso e arriscar sermos ouvidos, então voltamos para o assunto do Livro do Ano. Se era guerra que os vampiros queriam, então era pra isso que íamos nos preparar. Podíamos não ter como lutar com eles em pé de igualdade, mas sem dúvida íamos dar a eles muito trabalho. Seríamos o elemento surpresa, afinal, quem espera que um bando de alunos saiba como incinerar um vampiro?