Saturday, December 17, 2011

Baile de Inverno

Lembranças de Artemis A. C. Chronos

Véspera do Baile de Inverno

- Você vai sozinho? – Eu perguntei, admirada, olhando para Tuor. Estávamos tomando café da manhã juntos e era a segunda vez que eu perguntava com quem ele ia ao baile, só hoje.
- Vou, não quis convidar ninguém. – Ele deu de ombros rindo, já acostumado com minhas mil perguntas diárias sobre isso. Mas era a primeira vez que ele dizia que ia sozinho.
- Mas não pode. Todos terão um par. E você pode conseguir ficar com alguém ou mesmo uma namorada no baile. – Eu falei e ele largou a colher no pote de sucrilhos. Ele me olhou de uma forma engraçada e sorriu.
- Eu não quero ninguém.
- Por que? Está gostando de alguém? – Eu perguntei curiosa e ele fez que sim com a cabeça e eu fiquei animada. – Então por que não convida ela? Ou... POR MERLIN! É ELE?!
- Não! – Ele cuspiu leite enquanto falava e começou a tossir, enquanto eu ria. – Não! Eu sou hetero! – Ele falou chocado, enquanto eu ria. Ele recuperou o fôlego e baixou a colher novamente, virando-se para mim. – Não posso chamar quem eu queria. É uma história complexa e difícil.
- Ela já tem namorado?
- Mais ou menos... Digamos que sim, mas ela não o considera como namorado. É difícil... – Ele falou evasivo.
- Tudo bem, se precisar de minha ajuda me diz, tá? – Eu falei, colocando a mão em seu ombro e ele assentiu. – Mas não pode ir sozinho, não vou deixar. Por que não chama uma das minhas sobrinhas?
- Bom a Bela vai com o Patrick. – Ele falou e eu me lembrei que tinha sido um choque saber disso. – E por mais que eu não me importe de convidar ou a Luthien ou a Mina, se eu levar uma das duas, a outra vai ficar sem ter como vir. Acho injusto. Então, eu vou sozinho.
- E se eu arranjar alguém para ir com você. – Ele me olhou chocado e depois sorriu. – Que foi?
- Nada... Duvido que consiga, todo mundo já tem par.
- Eu consigo! – Eu me aproximei dele e apontei para uma garota que conversava com algumas garotas na mesa da Sonserina. – Está vendo ela? É a Annie, amiga de Lenneth. Está sem par, na verdade, ela está de olho em você.
- Ótimo, tudo que eu preciso, um par que quer ficar comigo. – Ele disse, balançando a cabeça. – Obrigado, Arte, mas vou sozinho.
- Ah não vai mesmo! – Eu falei e gritei. – Annie! Vem cá! – Ela me olhou curiosa e se levantou vindo até nós. Tuor me puxou para a cadeira.
- Está ficando doida?!
- Não! – Eu sorri e Annie se sentou do meu lado. – Annie, o Tuor está sem par e ele é tímido demais para convidar alguém. Aceita ir com ele? – Eu falei rapidamente e os dois arregalaram os olhos. Ela olhou para ele sem jeito e ele conseguiu achar algo de muito interessante na colher.
- Eu adoraria. – Ela falou e Tuor olhou chocado para nós duas.
- Feito, não é, Tuor? – Eu perguntei e sabia que ele não negaria.
- Tudo bem. Você está na Grifinória, não é? – Ele perguntou e ela fez que sim. – Eu te espero no salão comunal amanhã às 7 então.
- Vou deixar vocês a sós! – Falei e sai rapidamente. Reparei nos olhares chocados de meus amigos, mas não conseguia entender porque.
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- Annie, você sabe da minha situação, não sabe? Tenho certeza que a Lenneth já te explicou. – Tuor falou baixinho, quando Artemis se afastou.
- Sobre vocês dois? – Ela falou, se aproximando de Tuor. – Sei e não me importo.
- Mas eu sim. Me desculpa, você é uma garota linda e não queria dizer isso, mas vou com você ao baile para ela parar. – Ele falou e ela continuou encarando-o.
- Mas nada te impede de se divertir. E eu posso fazê-lo esquecê-la. – Ela falou mais próxima dele. Tuor, porém, se afastou delicadamente.
- Acredite, não vai conseguir... Não vamos ter nada no Baile, já estou deixando avisado com antecedência. Seria até melhor que você arranjasse outro par ou logo alguém para te fazer companhia. Junto comigo você não vai aproveitar nada. – Ele falou e levantou-se em seguida, sem esperar resposta. Mas Annie sorriu, olhando-o sair.
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Baile de Inverno – 17 de Dezembro

- Você está linda! – Justin falou, quando eu sai do retrato da Mulher Gorda. Eu corei e sorri para ele.
- Sério, Arte, você está muito bonita! – MJ falou, assoviando. – Ok, está difícil decidir, você também está linda, Lenneth.
Eu tinha escolhido um vestido longo e muito bonito, de cor azul. Ele tinha uma alça só e a saia era longa, mas com várias ondulações e me permitia tirar os pedaços da ponta, para torná-lo mais curto. Justin estava vestido com um smoking preto e uma camisa branca, com gravata azul para combinar com meu vestido. E estava um gato. MJ ia com um smoking preto e gravata vermelha. Tuor, Lenneth e Annie saíram logo depois e descemos nós seis juntos.
- Você está demais também. Caprichou! – Eu falei, dando o braço para ele.
- Eu estou acompanhando a Campeã mais bonita da escola, tenho que estar a altura. – Ele falou rindo e rimos juntos.
- Já eu acho que eu estou acompanhando a Campeã mais bonita. – MJ falou e Lenneth riu. – Desculpa, Arte, mas ela é meu par hoje!
Tuor e Justin trocaram um olhar e começaram a rir e não queriam nos dizer porque. Tuor usava um smoking azul escuro, com uma gravata cinza, enquanto Annie usava um vestido curto de cor vermelha. Já Lenneth usava um vestido longo como o meu, e era de um tom leve de um tom claro de rosa, que combinava perfeitamente com seus cabelos.
Descemos o salão conversando, animados com o início do baile. Como eu e Lenneth éramos campeãs, tínhamos que chegar mais cedo do que os outros e Tuor e Annie aproveitaram para descer conosco. Quando chegamos no saguão de entrada, porém, ele já estava lotado de casais que aguardavam a abertura das portas do salão principal.
Assim que chegamos, Tio Ben nos chamou e parabenizou meu vestido, dizendo que estava linda. Ele também parabenizou Lenneth e sorriu para MJ e Justin. Ele nos disse que dentro de alguns minutos as portas seriam abertas e todos os alunos seriam chamados para entrar. Depois disso, seria a nossa vez e entraríamos em um cortejo, acompanhados dos diretores das escolas e funcionários dos ministérios. Ele disse inclusive que meus pais e Tia Celas e Tio Isaac fariam parte do cortejo.
A ordem de entrada seria primeiro os diretores, acompanhados por seus pares, depois os funcionários, com meus pais e tios logo antes das campeãs e seus pares. Por sermos a escola sede, eu e Justin entraríamos primeiro, seguidos por Gabriela e Jamal, já que Beauxbatons seria a próxima sede e por fim Lenneth e MJ, representando Durmstrang. O cortejo seria fechado por Minerva e Tio Ben.
Às 7 e meia, as portas se abriram e os alunos começaram a entrar animados. Ouvíamos exclamações admiradas e não víamos a hora de entrar também, curiosos com a decoração do salão. Logo depois, todos os diretores e funcionários chegaram e meus pais e tios vieram falar conosco, animados. Tio Ben deu o braço a Minerva e ela deu o sinal para que a música começasse a tocar. Era uma música lenta e calma, mas muito bonita, e o diretor de Durmstrang abriu o cortejo, acompanhado por sua esposa.
Quando entrei no salão, acompanhada por Justin e com a centena de olhos em nós, quase levei um susto. O salão estava lindo, todo enfeitado na temática de gelo e neve, como se fosse um baile na Sibéria. Haviam lustres de gelo nas mesas e estalactites presas ao teto, que mostrava o céu noturno, cheio de estrelas.
A música tomou a direção de uma valsa e os pares se posicionaram na pista de dança. Eu dei a mão a Justin e ele colocou a mão em minha cintura e nos aproximamos. Ele sorriu para mim e eu sorri de volta, mas me senti ficando vermelha. Começamos a dançar e ele dançava muito bem, sabendo me guiar com perfeição e beleza. Depois de um tempo, os pares foram trocados e comecei a dançar com Jamal que me fazia rir com brincadeiras e comentários, depois passei a dançar com MJ que dançava melhor que Justin, por incrível que possa ser. Na última troca de casais, cada campeã dançou com um membro de seu governo ou escola e dancei com Tio Ben, sempre muito alegre. Depois voltei a dançar com Justin que brincou, dizendo que Gabriela dançava melhor que eu e levou um tapa de leve no ombro.
Depois de um tempo, a música mudou e começou a tocar outra valsa e todos os outros pares começaram a dançar conosco. Eu e Justin rodopiávamos e dançávamos rindo e conversando com vários ao mesmo tempo. Estava muito animada e feliz.
A terceira valsa começou a tocar, agora mais lenta, e eu me aproximei mais de Justin, colocando meus braços em volta de seu pescoço, enquanto ele segurava minha cintura. Não falávamos nada, mas mantínhamos nossos olhos fixos.
Comecei a sentir várias coisas. Os olhos dele eram profundos e pareciam sábios e até mais velhos do que realmente. Achei-os muito belos e cheio de um mistério que me atraia de alguma forma.
Sem que percebêssemos, nos aproximamos mais e quando percebi, estávamos nos beijando. Ele segurou minha cintura enquanto parávamos de dançar e o beijo durou poucos segundos, os dois de olhos fechados. Então abrimos os olhos e sorrimos, juntos. Ele encostou sua testa na minha e continuamos a sorrir.
- Foi só eu que achou isso estranho? – Ele perguntou rindo e eu também ri.
- Ahan, parece que beijei meu irmão. Eca.
- Mas é isso que você é! – Ele falou, beijando minha testa com carinho. – Minha melhor amiga e como uma irmã pra mim. Sempre vai ser.
- Agora eu vejo isso também. – Eu falei e o abracei com força. – Estou me lembrando de algumas coisas... Nossa Justin, obrigado por tudo e por sempre me apoiar... A gente se completa, mas não dá para termos algo.
- Não dá mesmo! – Ele falou rindo. – Você tem alguém especial te esperando.
O modo como ele falou me fez pensar, mas não conseguia pensar em ninguém, mas de alguma forma fez sentido para mim.
Estava me sentindo feliz. O beijo com ele foi estranho, mas serviu para me mostrar que ele sempre foi um grande amigo pra mim, mas apenas isso. A atração que eu sentia por ele era a admiração e companheirismo que eu sentia pelos meus irmãos.
E também várias memórias invadiram minha mente. Estava quase me lembrando de uma visita a sua aldeia, mas ainda parecia vaga e longe.
Depois desse beijo, saímos da pista de dança e vimos que os nossos amigos nos olhavam chocados. Nos sentamos em uma mesa e ficamos observando os outros casais dançando. Nossos amigos ainda dançavam, mas eu estava um pouco cansada, invadida por milhares de memórias e Justin decidiu me fazer companhia.
- Arte! – Lenneth falou, correndo até mim. Eu e Justin nos levantamos sorrindo para ela e vi que estava acompanhada por um garoto alto e de olhos azuis, muito bonito. Eles estavam de mãos dadas e a forma como eles se olhavam era de puro amor e carinho. Ela veio acompanhada por mais algumas pessoas, três garotas e cinco garotos. – Quero que conheça algumas pessoas! Eles vieram me fazer uma visita! São meus amigos e esse é o Lucian, meu namorado! – Ela falou com orgulho e eu o abracei com força.
- Você é o famoso Lucian! Fico muito feliz de te conhecer! Sua namorada é uma ótima amiga!
- Obrigado. Finalmente conheço a Arte! Sempre ouvi falar de você. Soube que você que dava alguns puxões de orelha nela. – Ele falou abraçando Lenneth e sorrimos.
- Essas são Parvati, Leonora e Julie. – Ela apresentou as meninas, mas Leonora disse que já nos conhecíamos.
- Conhecemos? – Eu perguntei e ela me olhou sem entender, mas Lenneth se apressou a dizer.
- Leo, ela perdeu a memória recentemente, ela não lembra das Olimpíadas.
- Ah sim! Então está perdoada. Arranjou um par lindo hein, resolveu deixar o Damon pra mim? – Ela brincou e eu não entendi direito, mas ela me abraçou sorrindo. – Desculpe por tudo que fiz da outra vez.
- Eu não lembro de nada, mas está perdoada. Ouvi falar muito de vocês. – Eu falei, abraçando Parvati e Julie. Parvati me olhou de uma forma curiosa e depois olhou para os garotos, que também me olhavam de forma diferente.
- Esses são Ozzy, Alec, Oleg, Robbie e Mitchell!– Lenneth apresentou e eu abracei cada um deles. Os três, Ozzy, Alec e Olge me cumprimentaram normalmente, mas me olhavam curiosos. – E esses são Artemis e Justin.
Todos se cumprimentaram e conversaram animados sobre a festa. Depois de um tempo, eles voltaram a se dispersar, pois Lenneth queria passar um tempo com seu namorado e os outros iam andar pela festa. Voltei a ficar sozinha com Justin e continuamos a conversar, e a mesa continuou vazia, pois todos ainda dançavam as músicas calmas e lentas da banda.
Então, a música parou e todos começaram a se perguntar o que tinha acontecido. A banda começou a arrumar as coisas e sair do palco e este mergulhou no escuro. De repente, uma voz começou a cantar uma música muito bonita e calma de início, mas depois de um tempo, a música ficou mais agitada e luz explodiu no palco, revelando uma banda jovem. O vocalista saldou o público no microfone.
- Boa noite Hogwarts! Eu sou Derek Midgar e nós somos os BlackHippogriffs!
As pessoas logo começaram a cantar e dançar animadas, principalmente os alunos de Durmstrang, e Justin me explicou que essa banda era originária de Durmstrang e fazia muito sucesso no mundo bruxo. Eu perguntei se ele queria ir dançar e disse que ficaria bem sozinha, mas ele disse que não e continuamos conversando.
Depois de umas duas ou três músicas, a segunda voz da banda, uma garota muito bonita que agora estava sentada no piano, começou a falar no microfone.
- Hoje foi uma surpresa para todos vocês, mas principalmente para nossa Campeã! – Ele gritou e a torcida de Durmstrang gritou junto. – E temos mais uma surpresa! Lenneth queremos que cante conosco! Já te demos tempo demais com seu namorado! – Ela falou rindo.
Eu vi quando Lucian sorriu para Lenneth e ela brigou com ele, dizendo que ele sabia, mas ela o beijou e subiu ao palco. Ela abraçou a vocalista e saldou o resto da banda, pegando o microfone. Deixaram um violão e uma cadeira ao seu lado.
- Se eu vou cantar, quero a ajuda de mais alguém! MJ, faça o favor de subir ao palco! – Ela falou e vi quando MJ engasgou. Ele estava encostado em um canto conversando com Robbie e Ozzy e os dois o obrigaram a subir no palco. Quando ele se sentou ao lado dela e pegou o violão, eles trocaram olhares e conversaram rapidamente com o restante da banda e Lenneth voltou a falar com o público. – Vamos começar com um clássico. Dedico essa música ao meu namorado e todos os casais da festa.

So close no matter how far
Couldn't be much more from the heart
Forever trusting who we are
And nothing else matters
Never opened myself this way
Life is ours, we live it our way
All these words I don't just say
And nothing else matters

Lenneth começou a cantar e eu me lembrei de como sua voz ela linda. Ela cantava com suavidade, agora acostumada ao microfone e a cantar e sua voz parecia cheia de energia. Cheguei a sentir arrepios. Justin segurou minha mão, pois percebeu que algo acontecia comigo.
Essa festa estava me trazendo muitas memórias, rápido demais. Não estava sendo doloroso, mas era difícil me concentrar em dividir mundo real das memórias.
Quando percebi, eu estava olhando para Tuor e Annie. Eles tinham ficado sentados a maior parte da festa, mas agora dançavam juntos e lentamente. Vi como Annie se insinuava para ele e vi que aos poucos ela estava ganhando dele. Então os dois se beijaram, lentamente e por algum tempo.
Eu sorri.
Mas então percebi que chorava. Lágrimas desciam pelo meu rosto, sem que eu soubesse o porquê ou como controlar, apesar de ainda sorrir. Senti um aperto no peito então e percebi que me sentia incomodada com o beijo dos dois.
Justin me perguntou o que houve, preocupado, mas eu não conseguia responder. Eu não conseguia tirar os olhos dos dois e uma dor no peito começou a surgir, lentamente, mas crescente. Tuor então afastou-a e virou-lhe as costas, desaparecendo no meio das outras pessoas. Ele estava alarmado. E eu me sentia estranha... Triste.
Então não resisti mais e levantei da mesa, saindo correndo na direção dos jardins. Minhas lágrimas agora eram soluços e passei correndo por todos. Ao chegar no jardim, encontrei um banco vazio e me sentei, olhando as estrelas, deixando as lágrimas escorrerem.
- Arte, o que houve? – Justin perguntou preocupado, do meu lado. Ele se sentou e pegou minha mão. Eu a apertei e depois me joguei em seus braços, chorando. Demorei um pouco para conseguir falar e percebi que haviam mais pessoas ao nosso redor.
- Eu não sei... – Consegui dizer. – Comecei a me sentir estranha.
- Ei fica calma... Devem ser memórias demais. – Ele falou e me deu um lenço e eu comecei a me acalmar. Vi que Alec, Oleg e Ozzy estavam conosco e vi que Parvati me olhava de longe.
- Aconteceu alguma coisa? – Oleg perguntou preocupado. Ele se sentou do meu lado e pegou minha mão também. Mal o conhecia, mas senti empatia por ele.
- Não sei... – Eu disse. – Uma tristeza enorme simplesmente invadiu meu peito e não consigo controlar.
- Desculpem a pergunta direta, mas estou curioso e pode ter a ver com o que sentiu. – Ozzy começou a falar. – O que são vocês? – Ele perguntou direto e eu o olhei sem entender, Justin sorriu antes de responder.
- Vejo que também são... Especiais. – Ele procurou a palavra certa. – Digamos que nós também.
- Eu não sou. – Eu falei.
- Você é mais do que eu. – Justin falou rindo. – Eu sou um Shaman e ela era uma Sacerdotisa. – Aquela palavra mexeu comigo e Justin apertou minha mão. – Ela perdeu a memória recentemente.
- Ela voltou dos mortos, não foi? – Alec perguntou.
- Como você sabe? – Justin perguntou, curioso. Nesse momento, Parvati se aproximou e pediu que eu me afastasse. Ela me acompanhou até outro banco, explicando que poderia fazer mal ao meu estado ouvir a conversa deles.

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- Nós somos das famílias Imortais da Bulgária. – Ozzy explicou e indicou Parvati com a cabeça, que agora conversava calmamente com Artemis. – Sabemos ver uma pessoa como nós. E eu e Parvati estávamos curiosos por não sermos capazes de ler a mente da Artemis.
- Sabia que estavam lendo minha mente. – Justin falou. – E agradeço por tirarem Artemis de perto. A situação dela é muito complicada. Sempre que é exposta a memórias e informações demais, ela passa mal. E achei interessante dizer que não podem ler a mente dela...
- Poderia nos explicar o que aconteceu? – Alec perguntou e Justin assentiu.
- Primeiro, Artemis era, ou ainda é pelo visto, uma Sacerdotisa. Ela é poderosa, muito mais do que eu. Porém, ela perdeu seus poderes e suas memórias. Artemis faleceu há dois meses atrás. – Ele começou a explicar. – Fomos atacados por vampiros e ela se sacrificou para nos salvar. Seu corpo não resistiu aos ferimentos e ela faleceu.
- O que aconteceu depois? – Ozzy perguntou, curioso.
- Ela passou 12 horas morta. – Ele falou e os três se assustaram. Parvati, mesmo ao longe também se sobressaltou.
- Doze horas?! Isso é impossível! – Alec falou.
- Não. Eu mesmo atestei sua morte... E foram as 12 horas mais longas de nossas vidas. – Justin continuou, suspirando.
- Como ela voltou à vida, quem realizou o Ritual? – Oleg perguntou e Justin olhou curioso para ele.
- Vocês tem um ritual?
- Sim, e o Oleg é o conhecedor do Ritual entre nós. – Ozzy respondeu e Oleg assentiu.
- Nosso Ritual deve ser feito logo após ser dada a morte da pessoa, pois a chance dela seguir em frente fica cada vez maior com o tempo que se demora... Artemis não devia ter feito a travessia ainda, seu espírito ainda devia estar preso a esse mundo.
- Não, Oleg. Ela fez a travessia. Nada de sua alma restava no mundo quando ela faleceu. – Eles voltaram a ficar alarmados. – Eu mesmo a vi fazendo a travessia...
- Quem a trouxe de volta? – Alec perguntou, até um pouco assustado.
- O namorado dela.
- Achei que era você. – Ozzy respondeu e Justin negou.
- Sou apenas amigo dela. O namorado dela se chama Tuor. Vocês podem tentar falar com ele depois, mas não recomendo agora. Ele está passando por dias difíceis. Artemis voltou à vida, mas perdeu todas suas memórias. Principalmente as relacionadas a ele. Até mesmo o mundo físico foi afetado: coisas que lembrariam que os dois eram namorados simplesmente sumiram. Fotos, cartas, pingentes, tudo desapareceu...
- O Ritual não foi completo, não foi perfeito... E isso de agir no mundo físico, eu nunca vi...– Oleg falou, pensando alto. – Gostaria de conversar com ele.
- Eu posso apresentá-los depois. Mas ele me contou um pouco do que aconteceu. – Justin explicou. – Tuor me disse que viu uma das antepassadas de Artemis, a primeira Rainha, Arturia, e após vê-la, ele conseguiu trazer Artemis de volta.
- Isso é totalmente diferente do Ritual que fazemos. – Alec comentou e os outros assentiram.
- Mas ela se tornou uma Imortal? – Justin perguntou.
- Não. – Oleg falou, olhando para Artemis que continuava a conversar com Parvati. – Isso é o mais estranho. Ela voltou a vida, mas não como Imortal. É um caso totalmente diferente. E isso dela ter perdido as memórias e os poderes, é algo que nunca ouvi falar. Mas o mais estranho é a forma como o mundo físico foi afetado por isso. Se fossem apenas as memórias das pessoas, eu entenderia... Mas objetos desaparecerem? Preciso conversar com Vovô.
- Vocês conhecem alguém que pode ajudar? – Justin perguntou esperançoso e eles assentiram.
- Sim, o meu avô é o Ancião da família, o responsável pelos Rituais enquanto treina meu irmão. – Alec respondeu.
- Eu seria eternamente grato se vocês nos ajudassem. – Justin falou sincero.
- Vamos ajudá-los, no que for possível. Fiquei curioso com ela. – Ozzy falou. – Por que não consigo ler sua mente?
- Isso me prova que os poderes dela ainda estão adormecidos, e não apagados. – Justin falou sorrindo. – Como falei, ela pode parecer frágil agora, mas ela é mais poderosa que qualquer um de nós.

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- Foi bom conversar com você, Parvati. Obrigada. – Eu agradeci, abraçando-a uma vez mais.
- Não foi nada. Lenneth sempre falou muito bem de você e se precisa de ajuda, é claro que vou ajudar.
- Vamos voltar para a festa, mas mantemos contato. – Oleg falou, apertando a mão de Justin e este assentiu.
- Obrigado mais uma vez... Arte, o que quer fazer? – Justin perguntou quando os outros foram embora.
- Eu estou cansada Justin... Não estou me sentindo bem. Calma, não é nada demais. Preciso apenas de um tempo. Você pode me levar para a Grifinória?
- É claro.
- Desculpa, você não aproveitou em nada do baile. – Eu falei e ele sorriu.
- Não, você foi uma excelente companhia e aproveitei muito sim. Posso falar pros meus netos que beijei Artemis Chronos! – Ele falou e rimos juntos, enquanto ele me acompanhava até a torre.
Eu me despedi com um abraço e entrei no salão comunal, que estava deserto, pois todos estavam no baile e os alunos mais novos já tinham embarcado para casa essa tarde, ou então dormiam. Ainda era cedo, não devia passar das 22 horas.
Mas eu estava me sentindo cansada... Tinha muitas coisas para pensar, muitas memórias para organizar.
E pensar também o porque de ter ficado tão abalada com o que eu vi...
Subi para meu dormitório lentamente e lá tirei meu vestido de festa. Tomei um banho gelado, mergulhando minha cabeça longamente debaixo da água na banheira e me senti um pouco melhor.
Voltei para meu dormitório e me deitei na cama, mas não conseguia dormir e fiquei olhando as estrelas pela janela.
Depois de um tempo ouvi um barulho no salão comunal e sai para ver quem era. Não sei porque quis levantar, pois normalmente teria ignorado. Me debrucei no parapeito da escada e o vi.
Era Tuor. Ele estava jogado em um dos sofás, olhando para a lareira pensativamente. Ele parecia triste, os olhos inchados, como se chorasse.
Eu senti uma vontade louca de falar com ele, mas algo me impedia de me mover e ir até ele, e me escondi, ainda olhando-o. Ele levantou-se e foi até a janela.
Vi então que tinha algo na mão, uma foto, talvez da garota que gostava. Ele encarou a foto com um misto de tristeza e carinho e murmurou algo que eu não pude ouvir. Então ele virou-se na minha direção e passou andando pela lareira, socando-a na lateral. Ele começou a subir as escadas e eu corri para me esconder, mas o vi sumir nas escadas que levavam ao dormitório masculino.
Eu escorreguei lentamente para o chão e voltei a chorar, sem saber o porque novamente. Era horrível não controlar meu corpo e emoções e não saber porque me sentia tão triste!
Voltei para minha cama e demorei a adormecer, ainda com lágrimas lentas descendo pelo rosto...

In this world you tried
Not leaving me alone behind
There's no other way
I prayed to the gods let him stay
The memories ease the pain inside, now I know why

All of my memories keep you near
In silent moments imagine you be here
All of my memories keep you near
Your silent whispers, silent tears

Made me promise I'd try
To find my way back in this life
I hope there is a way
To give me a sign you're ok
Reminds me again it's worth it all, so I can go home

All of my memories keep you near
In silent moments imagine you be here
All of my memories keep you near
Your silent whispers, silent tears

Together in all these memories
I see your smile
All the memories I hold dear
Darling, you know I will love you 'til the end of time

Na manhã seguinte, Artemis acordou sem se lembrar de ter chorado.
Ela acordou com uma sensação estranha no peito, uma certa tristeza, mas que ela não conseguia entender ou explicar. Ela apenas se lembrava, vagamente, de ter se sentido incomodada com o beijo de Tuor.

N.A.: Nothing Else Matters, Metallica e Memories, Within Temptation.